Quando a esmola é grande...
O Restauro das Igrejas Românicas do Douro e Tâmega
ou
Um Presente Envenenado?
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Alertado pelo Blog da Granjinha recebi, com satisfação, a notícia que a Capela da Românica da Granjinha ia ser recuperada, pois há muito que a capela pedia obras, algumas até urgentes. Mas no pacote dos arranjos estão também incluídas a Igreja de São Julião em São Julião de Montenegro, a Igreja de São João Baptista em Cimo da Vila de Castanheira, a Igreja de Santa Leocádia em Santa Leocádia e Igreja de Nossa Senhora da Azinheira em Outeiro Seco. Satisfação ainda maior, pois se a Igreja de Santa Leocádia até teve obras de restauro há poucos anos atrás, uns arranjos extras ou a conclusão dos arranjos são com certeza bem-vindos, mas quem agradece mesmo é a Igreja de S,Julião e a de São João Batista em Cimo de Vila da Castanheira e, também a Srª da Azinheira deve ter razões para agradecer, pois obras de restauro são sempre de agradecer.
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Recebi a notícia com tanta de satisfação como de admiração, ou surpreendido mesmo, pois a Grajinha e S.Julião há anos que pedem obras mas sem resposta e, Cimo de Vila, desde sempre as pediu, mesmo depois dos arranjos do telhado e a reconstrução possível que a Câmara Municipal fez há anos.
Surpreendido por assim de atacado, se restaurarem 5 igrejas românicas do concelho, e, quando a esmola é grande, o pobre desconfia, pois traz sempre água no bico.
Mas vamos esmiuçar a notícia, que foi notícia há dois dias na televisão e está publicada no site do Ministério da Cultura:
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( A azul a notícia, a sépia e itálico os meus considerandos, os sublinhados também são meus).
Ministério da Cultura
Ministério da Cultura de Portugal, a Junta de Castelo e Leão e a Fundação Iberdrola apresentam o projecto de restauro mais ambicioso da Arte Românica do Douro.
Fundação Iberdola!? Quem são eles!? Por mero acaso são os mesmos que vão construir as Barragens no Rio Tâmega.
O Ministério da Cultura de Portugal, a Junta de Castela e Leão e a Fundação Iberdrola subscreveram um acordo com base no qual as três instituições levarão a cabo o mais ambicioso projecto de restauro e manutenção de arte românica em ambos os países, que abrangerá 33 edificações religiosas deste estilo situadas nas imediações dos rios Douro e Tâmega.
Rio Tâmega para onde a Iberdola projecta o seu negócio com as Barragens do Tâmega!
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Das 33 igrejas que vão beneficiar do projecto, nove localizam-se na província de Zamora, sete no distrito português de Vila Real, seis no distrito do Porto, seis na província de Salamanca e cinco no distrito de Bragança. No desenho e execução técnica dos trabalhos participará a Fundação Santa Maria La Real, instituição de referência no âmbito do restauro de arte românica.
Tudo bem, o românico merece esta abrangência e não duvido que a Fundação Santa Maria La Real seja uma instituição de referência, mas não haverá mais instituições do género, também de referência, capazes de fazer o serviço!?
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Na cerimónia esteve também presente o Presidente da Iberdrola que destacou que «este acontecimento intensifica o forte compromisso existente entre a nossa Empresa e Castela e Leão - onde o Grupo nasceu há 110 anos - e com Portugal, terra com a que partilhamos um futuro repleto de importantes projectos». Ignacio Galán recordou também que a «Iberdrola Portugal iniciou o seu caminho já há alguns anos com o objectivo de ajudar a satisfazer as necessidades energéticas do país e de ser uma parte activa do seu progresso económico e social». «Conseguimos que a Iberdrola Portugal seja hoje o segundo comercializador de electricidade do País, (amor com amor se paga) contando já com uma importante carteira de clientes, aos quais a empresa presta serviços e oferece soluções à medida das suas necessidades», acrescentou.
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Compromisso da Iberdrola
O objectivo da Iberdrola ao participar nesta iniciativa é contribuir para o desenvolvimento económico e social das zonas onde desenvolve a sua actividade. Assim, o projecto de restauro terá lugar em Castela e Leão, uma comunidade na qual a Empresa mantém um vínculo histórico, e na zona do Tâmega, onde a Companhia desenvolve o Complexo Hidroeléctrico do Alto Tâmega, um dos últimos grandes aproveitamentos hidroeléctricos da Europa.
Areia para os olhos, pois ninguém dá nada sem receber muito mais em troca…
Esta grande instalação, que alcançará uma potência instalada de mais de 1000 megawatts (MW), constitui um dos maiores projectos com estas características levados a cabo nos últimos 25 anos em todo o continente. O complexo requererá um investimento por parte da Iberdrola de cerca de 1550 milhões de euros e deverá produzir, aproximadamente, 1800 gigawatts ao ano (GWh), valor que representa 3% do consumo eléctrico português (bastava controlar a electricidade mal gasta ou inutilmente gasta e desperdícios para a percentagem ser muito mais elevada) e que será suficiente para abastecer o consumo anual de aproximadamente um milhão de pessoas.
(areia para os olhos) – Porquê é que nestas coisas se fala sempre no esforço (investimento) das empresas e nunca se fala nos lucros que vão ter e nos prejuízos que causam (económicos, ambienteais e sociais) para obter os seus objectivos.
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Para ler a notícia completa fica aqui o link:
Que fique claro que nada tenho contra o restauro das Igrejas Românicas, antes pelo contrário, pois vai sendo o património mais valioso que temos, e que, constantemente deveria ser objecto de manutenção cuidada e restauros quando necessários, em vez de entregues a si próprias, esquecidas e algumas, mesmo em abandono total e ruínas durante anos (como foi o caso da Igreja de Cimo de Vila) e outras, onde as poucas obras que se iam fazendo, de boa vontade era a custos da população, que se faziam deficientemente sem qualquer apoio técnico de preservação , substituindo-se a população ao Estado, pois o Românico não é só património das populações, mas património do Estado e da Humanidade.
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Estranha-me é a promiscuidade entre o estado e os privados, principalmente quando estes (os privados) têm interesses económicos (que até são contestados pela população) nas regiões onde servem de “mecenas”. Ou seja, é um mecenato feito em nome de interesses económicos e não, em nome do património, ainda com a agravante, de tal mecenato, vir a servir de desculpa ou perdão para os males que vão ser feitos socialmente e ao ambiente.
Recebo com agrado todo este restauro do nosso Românico e do Românico da região, no entanto, a areia, já não me deixa ver com bons olhos a intervenção de interesses escondidos por trás do mecenato e todo este restauro, orçado em 4,5 milhões de euros vai sair muito mais caro que estes simples números de milhões, mas enfim, vamos ter de dar graças a Deus por todas estas obras, e o contentamento de uns, vai pela certa ser a desgraça de outros, os costume, não é !?