Pedra de Toque - A Menina Dança?
A MENINA DANÇA?
Os olhos dela subiam em direcção aos dele e neles lia-se muita ansiedade, enorme desejo.
Levantava-se da cadeira, e, nos braços um do outro, dançavam.
O tango, a valsa, o bolero, entravam nos corpos e embebedavam-nos de sonhos.
Instintivamente, deslizavam para o meio do salão, festivamente decorado.
Misturados com outros pares, fugiam deste modo, aos olhares vigilantes dos pais, das tias, demasiado atentas.
E eram então que, as faces perfumadas e ruborizadas nervosamente se tocavam deslizando o contacto pelo corpo todo.
Depois, no meio de um passo, no requebro de uma volta, a mão dele apertava a dela, na espera angustiante, da resposta dela apertando a dele.
Quando tal acontecia, abruptamente crescia uma intransponível muralha a cercar toda a ternura.
Com a magia do momento, esqueciam os outros e subiam muito alto e juntinhas nas cordas da melodia.
Ai, como acabava depressa o bolero cantado num castelhano quente e romântico feito com palavras doces prenhes de sensualidade.
.
De mão na mão cruzavam o salão a caminho da mesa dos pais da menina, princesa dos amores dele.
Com uma vénia discreta, dirigida à matriarca, ele deixava um obrigado que ela agradecia com um sorriso e delicioso aperto de mão que o fazia estremecer.
Estava aberto, assim, o caminho para no próximo tango lhe declarar amor e lhe pedir namoro.
António Roque