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CHAVES

Olhares sobre o "Reino Maravilhoso"

12
Fev11

Requiem pelo Rio Tâmega - Mais um


 

Vila Meã - Onde o Tâmega entra em Portugal

 

Hoje vamos pelo nosso Rio Tâmega abaixo e sintamo-nos privilegiados por ainda o poder fazer.

 

Não sou radical como os ecologistas mais radicais que em questões de ambiente vêem em todos os nossos gestos o fim do mundo. Não o sou tanto mas também tenho as minhas preocupações ambientais e, custa-me ser obrigado a pertencer a uma geração e ter atravessado parte de dois séculos que na história futura vai ficar registada como não amiga do ambiente, principalmente em questões da água e da sua qualidade.

 

Não sei quantos milhões de anos tem este nosso Rio Tâmega, mas pela certa e tendo em conta que o nosso planeta tem cerca de 4,6 biliões de anos, o nosso Tâmega tem uns bons milhões de anos. Milhões de anos em que naturalmente, sem ninguém o molestar, foi escolhendo livremente o seu melhor caminho por entre serras e montanhas, tomando algum descanso nos vales até finalmente entrar triunfante no Rio Douro. Tive a honra de o conhecer assim, com uns bons milhões de anos em cima, mas ainda virgem na sua pureza e dignidade.

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Açude de Vila Verde da Raia - Antiga Praia Flaviense

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Infelizmente a nossa vida e a vida do Tâmega não faz parte de um filme onde um final feliz é ditado pelo argumentista. Assim, não sei qual irá ser o final do Rio Tâmega, mas sei que o homem na escrita do seu argumento começou a encaminhá-lo para um final pouco feliz, primeiro, com desculpas da modernidade e do avanço do progresso, começaram a esventrá-lo para dele tirar a matéria-prima das torres e mamarrachos das cidades, ou no nosso caso, da cidade de Chaves, decorriam os finais dos anos 70, continuou pelos anos 80 e 90 e só acabou já neste Século XXI. Curiosamente (penso não estar errado) foi com políticas ambientais do Ministro do Ambiente José Sócrates que se pôs fim à exploração clandestina de areias no Tâmega, a montante de Chaves. Em apenas 30 anos a virgindade e pureza de milhões de anos do Tâmega, apenas num instante da sua vida, via a sua dignidade violada. Acabaram-se os areais mas ficou a mazela e nunca mais o Tâmega foi igual, cristalino, puro, tanto mais que o “progresso” que ajudou a construir (torres e mamarrachos) esvaziaram as aldeias e encheram a cidade de novos inquilinos, um crescimento rápido para o qual a cidade não estava preparada em termos de infra-estruturas básicas, como o abastecimento de água e saneamento e é de novo o Rio Tâmega a ter de pagar a modernidade e o progresso, não só abastecendo de água a cidade ou melhor, emprestando água boa à cidade para lhe ser devolvida em forma de  saneamento, problema que ainda hoje não está bem resolvido, pois basta passar pelo desaguar do Ribelas numa noite de verão para se testemunhar isso mesmo.

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A partir daqui saiu muita torre e mamarracho - Mas ainda parou a tempo...

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Graças a José Sócrates o rio começou a recompor-se. O Ministro do ambiente começa a marcar pontos de simpatia ambientais, ganhou até a confiança do Rio Tâmega,  mal ele sabia que o mesmo José Sócrates, ganhando também a confiança dos portugueses, viria a ser Primeiro Ministro e depressa esqueceu as questões ambientais. O grande amigo do Tâmega, com poder, acabaria por tornar-se o seu anunciado carrasco ao permitir e incentivar a construção das barragens em cascata que (a serem construídas) começam praticamente na cidade de Chaves e só terminam em Amarante. Adeus rio Tâmega, pois de rio apenas restará um pequeno troço de cerca 30 quilómetro que vão desde a sua nascente até Vilela do Tâmega, pois a partir de aí passará a ser barragem, ou melhor – barragens.

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Este ainda é o nosso Tâmega

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Se José Sócrates é o principal carrasco do Rio Tâmega, na história não ficará registado como o único, pois todos os municípios ribeirinhos do Tâmega (leia-se políticos que estão à sua frente), os nossos representantes políticos (leia-se deputados e outros afins) também enfiam a carapuça do carrasco ao deixarem sacrificar um rio a troco de algum mísero lucro que possa dar para a região. Dinheiro envenenado que nem sequer chegará para sepultura do Tâmega. Mas também nós, todos nós, não estamos isentos de culpas ao ignorarmos e ficarmos indiferentes a morte de nosso rio, porque afinal Rio Tâmega não é do Sócrates, nem dos Câmaras os dos deputados, o rio é nosso, de todos nós, é da humanidade e já nem quero falar de outros que também o têm como seu. Enfim, mais um grande negócio entre quem manda e os políticos, com o povo a ajoelhar e a dizer ámen!

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Ao passar por Chaves faz as delicias dos Flavienses e não só

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Vamos acreditar nesta crise e esperar que ela traga alguns benefícios, pelo menos acreditar que vai poder adiar por uns tempos a morte do Tâmega e sonhar que talvez desperte consciências  para continuarmos a poder ter um rio chamado Tâmega, tal como o tem sido durante milhões de anos.  Não queria ter de dar razão aos ambientalistas radicais nem fazer parte de uma geração que iniciou o início do fim. Exija-se, pelo menos, que se digam com isenção quais os benefícios e malefícios de uma barragem ou de um conjunto de barragens, como é o caso. Ponham-se nos pratos da balança os anunciados prós e os eternos contras, veja-se para onde pende a balança. Exija-se sinceridade e não a habitual mentira política e de interesses, que neste caso, começou logo pela tomada de decisão de construção destas barragens e os estudos a ela associados, como o do Impacto Ambiental estar a cargo dos donos das barragens e não de uma entidade independente e isenta de interesses na obra.

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Curalha - Aqui começa a correr apressado... quase parece suspeitar de uma morte anunciada

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Já sei que de pouco valem estes meus escritos, mas pelo menos fica registado que não ajoelho em todas as procissões nem digo ámen a tudo que me querem impingir e tudo isto, como flaviense, pois costumo dizer por aqui que o nevoeiro de Chaves corre nas nossas veias, mas o Rio Tâmega faz parte da nossa alma e do nosso ser. Devemos-lhe o ser flaviense e até o cantamos em hino. Sejamos também os seus verdadeiros amantes, pois só estes é que se beijam…”Ó Chaves linda cidade pelo Tâmega beijada…” – Sejamos flavienses!

 

Por hoje ficam apenas imagens do Rio até Curalha. Mais oportunidades surgirão de trazer aqui o restante rio, aquele que vai ser assassinado caso as barragens sejam construídas, imagens para memória futura.

 


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