Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]

CHAVES

Olhares sobre o "Reino Maravilhoso"

23
Jul11

Galego-Português, Português antigo e Português/Galego actuais


 

 “As imagens também nos falam, dizem-nos coisas, contam-nos estórias e história. Esta sugere-me e leva-me por aí fora, desperta sentimentos, contos  de amor e ódio e tantas outras coisas, mas agora, fico-me por aqui. Mais logo virá a mesma imagem com as palavras que em mim despertou. Para já apenas esta imagem e, já a seguir, os Pecados e Picardias de Isabel Seixas.”

 

Foi assim que terminei o penúltimo post e, como não sou político e ainda cumpro as minhas promessas, aqui estou com o post prometido, que sei desde já, que será apoiado por uns, incompreendido por outros e contestado por muitos, mas a mim pouco me interessa o que fiquem a pensar deste post, pois é o que eu penso e sou teimoso, e sou flaviense, e sou um português do Norte ou um Galego-Português - que vem a ser a mesma coisa e, quem não pensar assim, paciência, pode abandonar a carruagem ou então, ponham-me fora dela, que a mim, já disse – tanto me faz e depois, lá diz o povo que mais vale só… e o povo sabe sempre o que diz,  e o povo tem sempre razão, e eu sou do povo.

 

Então aqui fica a imagem que despertou esta prosa e toda a que se segue:

 

 

 

 

As guerras entre vizinhos sempre existiram. Quer sejam daquelas mesmo a sério, com pancada, mortes e tiros ou das outras mais suaves, simples picardias, arrufos e troca de galhardetes. São, todas elas, guerras de território, de domínio, de interesses, de influência, de castas e famílias ou simplesmente de estar. São, ao fim e ao cabo, o lado animalesco da civilização humana de marcar e possuir territórios, tal como o nosso cão vai marcando os muros e as esquinas das nossas casas com o seu chichi… Tudo isto, para dizer que há por aí muita boa gente a quem é comum ouvir dizer que não gosta de espanhóis, precisamente, e quase apenas, por serem vizinhos, onde o argumento das guerras e invasões e divisões do passado servem e chegam para justificar o seu sentimento e, felizmente que só conhecem a história mais recente, senão, não gostariam de meio mundo e abominariam toda a Europa à qual pertencemos, pois segundo reza a história conhecida, desde os celtas, aos romanos, aos bárbaros, mouros e mais recentemente os franceses com as suas invasões, vierem aqui meter o bedelho metendo-se com quem cá estava. E quem é que estava cá? – Curiosamente, também reza a história que somos feitos de um pouco de todos os que nos invadiram, pois a raça portuguesa nem sequer existe, não tem certificado de origem, não tem pedigree… mas não entristeçamos nem se ponham praí a ouvir ou cantar fados, pois para nosso contentamento poucos serão os povos neste planeta que se possam honrar da sua genuinidade de raça, e depois,  sempre temos a nossa cultura e ia dizer também  a língua, mas essa, felizmente,  já não é só nossa.

 

Cambedo - (Dizem os mais velhos que o prédio da foto era traçado a meio pela fronteira entre Portugal e Espanha)

 

 

Pois foi a imagem inicial que me levou até estas palavras de introdução mas também às seguintes.

 

Observando bem a imagem, o céu é azul é uniforme, as montanhas estendem-se sem interrupção no horizonte mais distante e, mais perto do observador, alguma montanha com ou sem floresta. Um pouco menos perceptível, mais ou menos confundidas com a paisagem, estão 11 aldeias com pessoas dentro que respiram o mesmo ar, são iluminadas pelo mesmo sol, olham o mesmo azul céu, servem-se e bebem das mesmas fontes e falam a mesma língua. Mas por entre estas aldeias há uma linha imaginária, guiada aqui e ali por marcos de pedra  que dividem duas nacionalidades. De um lado espanhóis embora sejam galegos e do outro portugueses que não são galegos nem espanhóis e cuja diferença é tanta entre portugueses (do Norte) e galegos, que a primeira aldeia que se vê na fotografia, em tempos não muito distantes (até 1864), era dividida a meio pela tal linha de fronteira que separava famílias de um mesmo povo com a mesma língua de origem – o Galego-Português ou Português Antigo que inicialmente era falado em toda a Galiza actual, todo o Norte de Portugal (excepção para o Mirandês) e parte da zona centro de Portugal com limite geográfico conhecido na Ria de Aveiro, e assim foi até que evoluiu para o Galego actual na Galiza e para o Português actual em Portugal, mas ambas não muito diferentes do Português Antigo, tanto, que há estudiosos da língua que dizem hoje em dia que, tal como é chamado o Português de Portugal e o Português do Brasil, também deveríamos chamar ao Galego,  o Português da Galiza.

 

(Apenas um pedaço de granito ao alto separa Galegos e Portugueses)

 

Mas toda esta discussão do galego ser português da Galiza, curiosamente é discutida na Galiza e os Portugueses pouco ou nada sabem dessa discussão e se sabem, pouco lhe ligam. De facto na Galiza a discussão está lançada quer a nível de academias quer a nível político e partidário. Assim,  se o Galego (língua) fosse grafado seguindo o Acordo Ortográfico adoptado pela Academia Galega da Língua Portuguesa, que tem adeptos em grupos e partidos políticos nacionalistas galegos, onde até a União Europeia acabou por aceitar o galego como oralmente sendo português nas intervenções de alguns ex-eurodeputados galegos, dizia eu que a ser aceite esse Galego, pouco diferença faria do actual Português. No entanto, a Real Academia Galega apoiada pelos partidos políticos espanhóis como o PSOE e o PP, já defendem outro Galego, o que actualmente é oficial na administração galega, este já com influências do castelhano e com algumas diferenças em relação ao Português actual e ao outro Galego defendido que é quase Português.

 

(Soutelinho da Raia em tempos foi uma aldeia promíscua dividida a meio pela fronteira)

 

Mas nem há como uma exemplo para melhor se entender. Tenhamos o início do “Pai nosso” como exemplo:

 

Em Português: Pai Nosso que estais no Céu, santificado seja o Vosso nome, venha a nós o Vosso reino, seja feita a Vossa vontade, assim na Terra como no céu.

 

Em Galego grafado de acordo com a Academia Galega da Língua Portuguesa: Nosso Pai que estás no Céu, santificado seja o Teu nome, venha a nós o Teu reino e seja feita a Tua vontade aqui na terra como nos Céus.

 

 Em Galego oficial segundo a Real Academia Galega: Noso Pai que estás no ceo, santificado sexa o teu nome, veña a nós o teu reino e fágase a tua vontade aqui na terra coma no ceo.

 

Já agora, para terminar e comparar, veja-se o que é grafado em Espanhol: Padre nuestro que estás en los cielos, santificado sea tu Nombre, venga a nosotros tu reino y hágase tu voluntad en la tierra como en el cielo.

 

Tirem daqui as Vossas conclusões que eu sobre o assunto não digo mais nada e se calha, aqueles que não gostam dos espanhóis, até tem as suas razões. Mas eu não quero falar de espanhóis, mas antes, isso sim,  de galegos e da sua língua.

 

(ainda hoje Soutelinho da Raia termina onde termina Portugal)

 

Por questão de três meses ou quatro que não nasci a uns metros da fronteira  entre Portugal e a Galiza, mais propriamente na fronteira entre Vila Verde da Raia e Feces de Abajo, talvez por isso, tenha um sentimento de irmandade para com o povo galego que, mesmo sendo espanhol, é mais português que a grande maioria do povo que habita Portugal, principalmente o do Sul. Os galegos, tal como nós transmontanos e Norte de Portugal, somos os descendentes do  povo do Norte que durante séculos resistiu e os mouros não conseguiram conquistar. Pena que as guerrinhas de território, interesses, castas e famílias não soubessem, quisessem  ou conseguissem manter a hegemonia  que reinou contra mouros e outros povos invasores e depois  partissem por esta península ibérica adentro repartindo-a em lotes, pena também que muito antes a Galaécia não tivesse resistido às invasões bárbaras. No entanto, resta-nos a consolação n(d)essa mesma Galaécia ter nascido e sobrevivido o Galego-Português.

 

E termino dizendo que tal como o Português da Galiza deveria ser considerado Língua Portuguesa, também eu me sinto um Português descendente da Gallaecia romana.

 

(Também Lamadarcos até 1864 estava dividida a meio pela fronteira)

 

Tudo isto por uma imagem inicial do Cambedo da Raia que acabou por trazer aqui outras imagens dos povos promíscuos de igual condição, antes do Tratado de Lisboa de 1864, data em que o Couto Misto foi cedido a Espanha ou à Galiza em troca de metade das povoações de Soutelinho da Raia, Cambedo da Raia e Lamadarcos. Sobre isto ( Couto Misto ) já escrevi em tempos no Blog Cambedo Maquis tudo que sabia e tinha a contar.

 

Ainda sobre a primeira foto que despertou esta prosa de galegos-portugueses e o seu romance, a primeira imagem que me sugere é a de Juan, natural de uma aldeia galega (Casas dos Montes) a escassos metros de onde a foto foi tomada e que no dia 20 de Dezembro de 1946 subiu esta encosta mais próxima, entalado entre Salazar e Franco, para de novo a descer e ser assassinado a uma centena de metros do Cambedo. Um herói, um mártir, um Juan do povo Galego-Português que apenas queria sobreviver a uma guerra civil e que ao lado de um senhor da guerrilha, o Demétrio,  teve o azar de pernoitar na noite de 19 para 20 de Dezembro na povoação do Cambedo. Já uma vez o disse e volto a dizê-lo, a par do flaviense Francisco Pizarro que as castas flavienses teimam em ignorar, trocando o seu ser flaviense, coragem e bravura  por um não flaviense que cobardemente virou costas ao povo de Chaves quando os franceses nos invadiam pela segunda vez, tenho o Juan como um mártir e o Demétrio como um senhor que combateram pela vida, justiça e liberdade. Eles são os meus heróis do passado que defenderei sempre enquanto os meus dedos tiverem forças para teclar.

 

Tudo isto por uma imagem.

 

 

3 comentários

Comentar post

Sobre mim

foto do autor

320-meokanal 895607.jpg

Pesquisar

Sigam-me

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

 

 

19-anos(34848)-1600

Links

As minhas páginas e blogs

  •  
  • FOTOGRAFIA

  •  
  • Flavienses Ilustres

  •  
  • Animação Sociocultural

  •  
  • Cidade de Chaves

  •  
  • De interesse

  •  
  • GALEGOS

  •  
  • Imprensa

  •  
  • Aldeias de Barroso

  •  
  • Páginas e Blogs

    A

    B

    C

    D

    E

    F

    G

    H

    I

    J

    L

    M

    N

    O

    P

    Q

    R

    S

    T

    U

    V

    X

    Z

    capa-livro-p-blog blog-logo

    Comentários recentes

    FB