Saltar para: Post [1], Comentar [2], Pesquisa e Arquivos [3]

CHAVES

Olhares sobre o "Reino Maravilhoso"

27
Jul11

Palavras colhidas do vento... por Mário Esteves


 

Isto de computadores tem os seus “quês”, como os “Vila Real”, finos doutores de couro e sovela, com estabelecimento próprio no cimo da rua Direita, diziam acerca da sua nobre arte de fazer, remendar, pôr solas em toda a qualidade de calçado.

 

Razão tinha, também, o senhor Albino, oficial do registo civil, a reforma escancarada, ameaçar o conservador, que se lhe mandasse trocar a sua amantíssima cara-metade, a vetusta, mas olorosa e resplandecente Remington, por uma eléctrica, metia logo os papéis de aposentadoria.

 

Como o senhor Ribeiro, à beira do despacho de passagem à reserva, solicitou o mesmo destino para a sua fiel auxiliar, uma máquina de escrever, modelo a perder-se nas poeirentas estantes do arquivo da administração pública, de teclas tão gastas, cujo trabalhar sereno e cadenciado, era a nota dissonante e agradável na repartição.

 

 

E por inteira justiça e dedicação, ainda pedia para ela, que o seu retiro do serviço merecesse honras de publicação no boletim oficial.

 

Ou o amigo VVV, de idade indefinida como a máquina que tinha a seu serviço, mas tão sua amiga, que se amparavam de tal forma, que ao aproximar dos seus dedos, as teclas pareciam bater sozinhas no papel selado.

 

Ao contrário do vizinho da frente, que batia nas teclas como maço no linho. Um caso de violência no trabalho, que a imponente estátua no átrio do palácio de justiça, tinha artes de não ver, tão ensimesmado estava na oratória.

 

Não sei se os computadores merecerão amores tão correspondidos e leais.

 

Confesso que o meu, tecnologia “made in China”, parece ter vida própria, algumas vezes escreve o que não escrevo e já chegou ao topete de recusar-se a fazer o que pretendo…

 

Desconheço se é falta de destreza minha, coisas de iniciado ou então maquiavélica conspiração.

 

Muito “um país, dois sistemas”, muitas reverências ao estado democrático e aos direitos humanos, mas quando desaprovo em surdina as prisões arbitrárias ou a indigna exploração do trabalho infantil, notícias vindas nalgum jornal, é certo e sabido que se recusa a trabalhar por causa duma enigmática virose…

 

 

Há meses substituíram parte das lajes centrais do pavimento da rua Direita, muitas das quais e em alguns sítios, estavam partidas. O mesmo ocorre na rua do Poço, sensivelmente há tanto tempo, como antes na rua Direita, parecendo-me que naquela, mais que partidas estão esmigalhadas.

 

Não se compreende como numa foram reparadas e noutra ignoradas.

 

Parece haver diferentes classes de ruas, como antes nas carruagens do desaparecido comboio da linha do Corgo.

 

Primeira classe: cadeiras com estofos de veludo e cortinas a condizerem. Segunda classe: estofos em pele de napa grosseira e cortinas em algodão de cor ocre. Terceira classe: bancos corridos de ripas envernizadas e cortinas de tecido ou plástico de cor indecifrável.

 

Lembra o que contam de uma picaresca personagem da cidade, muito propalada pelos enredos jocosos nos quais se via envolvido.

 

Alguns aconteceram na realidade e outros a si atribuídos, de invenção anónima e popular.

 

Que existiu posso afiançar, pois conheci um descendente, que costumava abancar no comércio Paulo, roupa de cavalheiro, senhora e criança, na rua de Santo António, pouco antes do almoço, na pilhéria, últimas do futebol e politica, gastronomia vária de dentro e fora portas.

 

Vamos ao conto, que o tempo urge e o Fernando impacienta-se.

 

Uma alta individualidade do Estado visitaria Chaves e foi deliberado pela edilidade constituir uma comissão para preparar a recepção.

 

Nessa comissão o nosso protagonista ficou a cargo das ornamentações e iluminação das principais ruas da cidade.

 

 

A data da visita aproximava-se e se as ruas estavam na maior parte engalanadas, a única que tinha luminárias, era a rua dos Gatos, então paraninfo da prostituição da urbe.

 

Os colegas da comissão reuniram de urgência, preocupados pela falta da iluminação das ruas e perante o que consideravam mais uma toleima do seu homónimo.

 

“ O homem ensandeceste de vez! Então, Sua Excelência está quase a chegar e as ruas mais importantes estão às escuras; a única que tem iluminação é a rua dos Gatos, logo a rua que não devia ter…!” - Exclamaram, quase em uníssono.

 

“ Quem tem pressa compra um burro, tranquilizai-vos, tudo estará pronto quando chegar Sua Excelência.” - Intentou deitar água fria na fervura dos parceiros.

 

“ Mas, que ideia foi a tua de iluminares a rua dos Gatos?” - Protestaram .

 

 Um deles, tão arrogante como irado, atirou:

 

- “ A rua dos Gatos …! Além de néscio é insolente, que dirá Sua Excelência?”

 

A reunião estava a descambar para um altercado, de tal modo que as vozes exaltadas já se faziam escutar na rua, quando se ouviu no meio do clamor:

 

-“ Vós falais bem, mas esquecestes uma coisa. E se à noite, Sua Excelência quiser ir às p…!”

 

Mário Esteves

Comentar:

Mais

Se preenchido, o e-mail é usado apenas para notificação de respostas.

Este blog tem comentários moderados.

Este blog optou por gravar os IPs de quem comenta os seus posts.

Sobre mim

foto do autor

320-meokanal 895607.jpg

Pesquisar

Sigam-me

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

 

 

19-anos(34848)-1600

Links

As minhas páginas e blogs

  •  
  • FOTOGRAFIA

  •  
  • Flavienses Ilustres

  •  
  • Animação Sociocultural

  •  
  • Cidade de Chaves

  •  
  • De interesse

  •  
  • GALEGOS

  •  
  • Imprensa

  •  
  • Aldeias de Barroso

  •  
  • Páginas e Blogs

    A

    B

    C

    D

    E

    F

    G

    H

    I

    J

    L

    M

    N

    O

    P

    Q

    R

    S

    T

    U

    V

    X

    Z

    capa-livro-p-blog blog-logo

    Comentários recentes

    FB