Castelo de Monforte de Rio Livre - Chaves - Portugal
Torga dizia que de vez em quando passava pela raia para ver se os marcos da fronteira estavam no sítio. A mim vai-me acontecendo o mesmo, mas em vez dos marcos da fronteira tenho os meus lugares de referência, onde de vez em quando também dou lá um pulo para ver se tudo está na mesma e, embora às vezes seja conveniente que tudo continue igual, outras vezes, o continuar tudo igual chega a meter dó, e temos pena.
Um desses lugares de referência por onde passo sempre que posso é o Castelo de Monforte, lugar conhecido pela aragem e ventos que por lá sempre sopram, ventos de Espanha por certo, pois nunca sopram eu seu favor.
E já que se falou de Torga e de Espanha, veja-se o que registou o poeta aquando de uma das suas visitas ao Castelo de Monforte em Setembro de 1961, há 50 anos, mas pela actualidade da escrita poderia ter sido hoje.
“(…) Também eu sinto neste momento não sei que despeitada revolta, que surdo desespero. Do lado de lá da fronteira, Monterrey, altaneiro, majestoso, ufano das suas aladas torres, do seu palácio senhorial, da sua igreja românica, cofre dum retábulo de pedra de cegar a gente; deste, quatro paredes toscas de desilusão, que a hera aguenta de pé por devoção à pátria. É, realmente, de um homem perder a paciência de vítima passiva do destino. Sempre pequenas muralhas de fraqueza e pobreza! Sempre um prato de figos ao fim de cada fome!”
Miguel Torga, in Diário IX