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CHAVES

Olhares sobre o "Reino Maravilhoso"

09
Abr21

O Barroso aqui tão perto - Póvoa

Aldeias do Barroso - Concelho de Montalegre


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PÓVOA

Salto - Montalegre

 

Continuando a cumprir a nossa falta para com as aldeias que, aquando dos seus posts neste blog, não tiveram o resumo fotográfico em vídeo, trazemos hoje esse resumo para a aldeia de PÓVOA, freguesia de Salto, concelho de Montalegre.

 

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Vamos mais uma vez até o Barroso verde já com um cheirinho ao Alto Minho, até à freguesia de Salto e a sua Póvoa.

 

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Terras verdes também onde D. Nuno Alvarez Pereira cavalgou e diz-se que treinou as suas tropas e onde casou numa aldeia próxima (Reboreda)  com a barrosã Leonor de Alvim,

 

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Mas hoje estamos aqui pela Póvoa e pelo seu vídeo que não teve aquando do seu post (link no final), aproveitando a ocasião para deixar mais algumas imagens que escaparam à anterior seleção.

 

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Vamos então ao vídeo com todas as imagens da aldeia de PÓVOA que foram publicadas até hoje neste blog. Vídeo que poderão ver aqui no blog, mas também no You Tube e MeoKanal. Espero que gostem.

 

Aqui fica:

 

 

E também  MEO KANAL  Nº 895 607

 

Post do blog Chaves dedicados à aldeia de PÓVOA:

 

https://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-povoa-1680003

 

 

E quanto a aldeias de Montalegre, despedimo-nos até à próxima sexta-feira em que teremos aqui a aldeia de Rebordelo.

 

 

05
Mar21

O Barroso aqui tão perto - Pincães C/Vídeo

Aldeias do Barroso - Concelho de Montalegre


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Continuando a cumprir a nossa falta para com as aldeias que, aquando dos seus posts neste blog, não tiveram o resumo fotográfico em vídeo, trazemos hoje esse resumo para a aldeia de PINCÃES, concelho de Montalegre.

 

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Uma aldeias de visita obrigatória, não só por pertencer ao Barroso, mas também por fazer parte das aldeias do Parque Nacional da Peneda-Gerês, e principalmente porque é uma das aldeias que também faz parte do roteiro das cascatas do Barroso e do Gerês. Cascatas que só têm acesso pedonal, dai, há que contar com mais tempo do que o tempo habitual para visitar uma aldeia, embora o acesso pedonal até nem seja complicado.

 

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Mas hoje não estamos aqui para falar de Pincães, pois isso já o fizemos no post que em tempo lhe dedicámos (com link no final), hoje estamos aqui pelo vídeo que faltou nesse post, com todas as fotografias de Pincães publicadas até à presente data. Vamos então ao vídeo, que espero que gostem.

Aqui fica:

 

 

 

Agora também pode ver este e outros vídeos no MEO KANAL Nº 895 607

 

 

Post do blog Chaves dedicados à aldeia de PINCÃES:

 

https://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-pincaes-1694637

 

 

 

E quanto a aldeias de Montalegre, despedimo-nos até ao próximo sábado em que teremos aqui a aldeia de Pitões das Júnias.

 

 

 

 

05
Fev21

O Barroso aqui tão perto - Pedrário

Aldeias do Barroso - Com Vídeo


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Pedrário - Montalegre

 

Continuando a cumprir a nossa falta para com as aldeias que, aquando dos seus posts neste blog, não tiveram o resumo fotográfico em vídeo, trazemos hoje esse resumo para a aldeia de PEDRÁRIO, concelho de Montalegre.

 

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Intitulámos esta rubrica de “O Barroso aqui tão perto” por ser um tesouro do Reino Maravilhoso aqui ao lado de Chaves que muitos desconhecem, mas o aqui tão perto, às vezes é mesmo perto e a nossa aldeia de hoje é a segunda aldeia do Barroso de Montalegre que mais perto fica da cidade de Chaves, logo a seguir à aldeia de Meixide, a pouco mais de 20Km, mais ou menos a meio do caminho que nos leva até Montalegre, no entanto, não se espante se alguma vez foi a Montalegre (via estrada do São Caetano) e não passou por esta aldeia.

 

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Pois é, para se ir a Pedrário temos de tomar a estrada alternativa à que habitualmente a grande maioria toma para ir a Montalegre, e isso, temos de o fazer logo na primeira aldeia do concelho de Montalegre, Meixide, mesmo no final da aldeia há lá um desvio à esquerda com placas a indicarem São Mateus, Cepeda, Serraquinhos e Pedrário, é por essa estrada que deve ir, e pode crer que não se vai arrepender, pois embora esta estrada se vá desenvolvendo em paralelo à outra que nos leva até Montalegre e entre elas a distância não seja muito grande (no máximo 4km) a verdade é que há uma montanha entre elas que em termos de paisagem faz toda a diferença, deixa-se para trás o grande planalto da Serra do Larouco para se começar a entrar em terras da Chã.

 

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Quanto a Pedrário, o topónimo até pode nem ter nada a ver com as pedras e pedregulhos, mas que os há por lá, há, quer em tamanho, quer em abundância e até alguns curiosos mesmo à beirinha da estrada, como o da foto que a seguir fica em que nele se pode ver a cabeça de um grande gorila, tipo King Kong. Claro que esta “visão” só ocorre quando há sol e a determinada hora do dia em que as formas e sombras do penedo podem aparentar a tal cabeça de gorila. Nós tivemos a sorte de passar por lá na hora certa.

 

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Mas Pedrário tem muito mais, para mim é uma das aldeias mais interessantes do Alto Barroso, por um lado com o verde das pastagens e arvoredo, pelo outro a montanha, onde no cimo tem um monumento em pedra que é digno de ser apreciado, não cá de baixo desde onde apenas parece um marco geodésico, mas mesmo ao pé dele os se vê toda a sua grandeza, numa das fotos que aparece no vídeo e no post que em tempos dedicámos à aldeia, pode-se notar essa grandeza.

 

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Entre o verde dos pastos e a montanha, temos então Pedrário, com o seu forno típico do Alto Barroso, cuja arquitetura se repete um bocadinho pelos fornos da maioria das aldeias do Alto Barroso, uma igreja muito interessante e o conjunto do casario a manter toda a integridade da antiga aldeia e as cruzes do calvário ao longo da aldeia. Tudo isto, pormenores e conjunto, fazem dela uma das aldeias mais interessantes do Alto Barroso e de todo o Barroso, aliás para poder dizer que se conhece o Barroso, tem de obrigatoriamente conhecer e visitar Pedrário, mas mais, as restantes aldeias que vai encontrar nesta estrada alternativa para Montalegre, também se recomendam (com Serraquinhos e Cepeda, mesmo à beira da estrada).

 

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Mas hoje não estamos aqui para falar de Pedrário, isso já o fomos fazendo no post que lhe dedicámos, para o qual fica link no final, hoje estamos aqui pelo seu vídeo, com todas as imagens de Pedrário publicadas até hoje neste blog, mas ainda temos muitas mais em arquivo, pelo que, Pedrário pela certa passará por aqui outra vez. Vamos então ao vídeo. Espero que gostem.

 

Aqui fica:

 

Agora também pode ver este e outros vídeos no MEO KANAL Nº 895 607

 

Post do blog Chaves dedicados à aldeia de PEDRÁRIO:

 

https://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-pedrario-1398344

 

E quanto a aldeias do Barroso de Montalegre, despedimo-nos até à próxima sexta-feira em que termos aqui as três Penedas.

 

 

24
Jan21

O Barroso aqui tão perto - Vilarinho da Mó


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VILARINHO DA MÓ - BOTICAS

 

O nosso destino de hoje no Barroso aqui tão perto, é mais uma aldeia da freguesia de Beça, do concelho de Boticas, a última aldeia da freguesia a abordar, isto se não consideramos a Carreira da Lebre como uma aldeia, caso contrário é a penúltima aldeia cujo topónimo é Vilarinho da Mó.

 

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Vamos já ao itinerário para lá chegar, que como é habitual saímos da cidade de Chaves pela EN103 (estrada de Braga), mas só até Sapiãos, onde devemos tomar o caminho de Boticas, logo à entrada, na primeira rotunda, seguimos as placas que indicam Cabeceiras de Basto e Ribeira de Pena, na segunda e terceira rotundas, idem, nesta última teremos pela frente o Centro de Artes Nadir Afonso, que deveremos contornar e já estamos na R311, que atravessa todo o concelho de Boticas, seguimos por ela até à Carreira da Lebre que também tem uma rotunda quase no final desta localidade, onde devemos seguir em frente, mas apenas por mais 1 Km, depois de atravessarmos a ponte sobre o Rio Beça e logo a seguir viramos à direita em direção a Carvalhelhos onde, na rotunda com a santa das águas no meio, seguimos em frente sempre por essa estrada até vermos em frente a empresa das águas de Carvalhelhos, aí tomamos um desvio à direita deixarmos Carvalhelhos para trás, seguimos sempre por essa estrada que a menos de 2K estamos no nosso destino. Ficam os nossos mapas para melhor localização.

 

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Chegados lá, desfrute da aldeia, do seu casario, visite a capela de São Mamede e o Forno do Povo, esteja por lá o tempo que tiver de estar, a paisagem envolvente também se recomenda, os tanque e fontes, a vida da aldeia que ainda tem. É uma aldeia com o seu núcleo mais antigo bem conservado, sem grandes atentados pelo meio, com o casario novo ao longo das entradas da aldeia, como deve de ser, se for por lá no dia 17 de agosto, vai no dia da festa de S.Mamede.

 

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Depois de visitar a aldeia, não volte para trás, saia da aldeia em direção a Beça e aí, depois de atravessar a aldeia, na estrada, vire à esquerda que uns quilómetros mais à frente terá a EN103, no Alto Fontão, ai vire à direita em direção a Chaves, mas se quiser e ainda tiver tempo disponível, no mesmo Alto Fontão tem o acesso à serra do Leiranco, com vistas para a cidade de Chaves.

 

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Agora passamos à parte em que abordamos aquilo que se diz de Vilarinho da Mó nos documentos que temos e nas pesquisas que fizemos sobre a aldeia, pouca coisa mas foi o que encontrámos, com uma referência ao “altura” do São João e do São Pedro, isto na monografia  “Preservação dos Hábitos Comunitários nas Aldeias do Concelho de Boticas”:

 

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Por altura do S. João (24 de Junho) e do S. Pedro (29 de Junho), em algumas aldeias do concelho ainda fazem as tranquilhas das ruas com paus e cancelas. Particularmente na freguesia de Beça, onde lhe chamam as trancheiras, para além de trancarem as ruas, também é costume colocarem os arados de pau e as grades, que apanham, na torre da Igreja. Por altura do S. Pedro roubam os vasos das flores às mulheres e colocam-nos nos largos junto aos poços, na igreja, capelas ou cruzeiros como nos disse um informante de Torneiros “no S. Pedro, que é o santo mais maroto, às vezes quando as raparigas se esquecem dos vasos, daquelas flores e assim, os rapazes apanham-nas e levam-nas lá p’ra capela e depois elas tem que as ir lá buscar”, de tal forma que algumas mulheres nesses dias escondem os seus vasos.

 

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Noutras aldeias, tinham por hábito colocar os carros dos bois nos tanques das aldeias, em especial quando os donos, tentando impedir que lhos roubassem nesse dia, dormiam em cima deles. Cansados de mais um dia de labutas, adormeciam profundamente. Juntava-se, então, um grupo de rapazes, pegavam no carro e colocavam-no dentro do poço, com o dono a dormir, em cima.

 

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Outros iam buscar os rebanhos das ovelhas às cortes, roubavam as cancelas das cortinhas e faziam uma cancelada no largo das aldeias; também os burros não estavam a salvo, por vezes iam buscar um à corte e prendiam-no à gramalheira do sino da igreja ou das capelas e punham-lhe um molho de erva para ele se baixar a comer e assim tocar o sino.

Em Beça e Vilarinho da Mó, por altura do S. Pedro também era hábito fazer um S. Pedro em palha, vestiam-no e colocavam-no junto ao principal tanque da aldeia com uma cana (por vezes com uma sardinha na ponta) a pescar.

 

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E agora, porque é (ou era) uma das atividades da época, um pouco comum a todas as aldeias do Barroso e de Trás-os-Montes, vamos abordar um dos seus temas. Assim, e com vossa licença, vamos à matança do porco.

 

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Mas antes exige-se uma pequena explicação para o “com vossa licença” que deixei no último parágrafo. O respeitinho sempre foi muito lindo, ensinavam-nos os mais velhos, e esta do “com vossa licença” também era uma forma de respeito, pelo ambiente em que se estava e por trazer o porco à conversa. Hoje em dia a tradição da matança do porco está cada vez mais em desuso, mas há poucas dezenas de anos rara era a família das aldeias que não tinham um ou mais porcos para matar. Era então comum as pessoas, sobretudo entre os mais idosos,  quando se referiam ao porco, pedirem sempre licença. Embora nunca tivesse perguntado o porquê desse pedir licença, penso que tinha a ver com a associação que se fazia do porco ao ele ser mesmo porco, viver num ambiente quase sempre sujo e cheio de porcaria. Porco que por muitas pessoas também era denominado por reco ou ceva (por cá – ceba), no caso deste último termo, vinha do cevar (cebar) o porco, ou seja, alimentar o porco para engordar e ter mais uns quilos na matança, mas também para as carnes ganharem camadas de gordura, que faziam toda a diferença para ser ter bom fumeiro e bons presuntos.

 

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Feita esta ressalva que serve também de introdução à “Matança do Porco” que vamos transcrever da  “Preservação dos Hábitos Comunitários nas Aldeias do Concelho de Boticas”

 

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A Matança do Porco

 

A matança do porco assume uma grande importância no ciclo anual das tarefas agrícolas e festivas, pois é simultaneamente uma tarefa produtiva e uma festa lúdica. A carne de porco é um dos alimentos base da gastronomia local, pelo que a matança do porco é vital para a economia familiar, assegurando grande parte das provisões de carne, além de constituir uma festa familiar e vicinal por excelência. A época da matança do porco decorre de Novembro a Janeiro, uma vez que o frio é um factor essencial para a conservação da carne.

 

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Dada a importância que o porco assume na dieta alimentar dos agregados familiares exige especiais cuidados na sua criação e ceva, nomeadamente nos meses que antecedem a matança. Assim, as mulheres desvelam-se em mil cuidados no que se refere à sua alimentação que consiste fundamentalmente em alimentos produzidos localmente como centeio, batatas, couves e nabos. Tal é a preocupação constante que rodeia o trato deste animal que muitas vezes se prometem oferendas ao Santo António (Santo protector dos animais) para que o proteja das doenças e males ruins.

 

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O dia da matança combina-se com antecedência. Convidam-se os familiares mais próximos, vizinhos e amigos que mais tarde retribuirão o convite por altura da matança dos seus porcos. Este aspecto insere a matança do porco no contexto da entreajuda tão característica desta região. No dia que antecede a matança se aos homens compete o arranjo do espaço onde vai decorrer a matança do porco e a loja onde serão dependurados depois de mortos, às mulheres compete toda a azáfama dos restantes preparativos: preparar os alguidares e restantes utensílios utilizados no decorrer da matança do porco. No final desse dia não se deita comida aos porcos para as tripas estarem limpas.

 

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Todas as matanças são tristes, mas o dia da matança do porco é uma festa de comida, alegria e convívio. Como que um funeral invertido onde se celebra a morte, que garante o armazenamento de um alimento essencial para a subsistência.

Esse dia é especialmente trabalhoso para as mulheres da casa, vale nesses apertos a ajuda de familiares e vizinhas que dão uma mãozinha. Mais tarde essa ajuda será retribuída quando fizerem a matança dos seus porcos. Numa azáfama constante as mulheres preparam a parva ou mata-bicho para forrar o estômago aos convivas. Dispõem na mesa da cozinha um repasto variado (pão, queijo, carne, pataniscas de bacalhau, sopa, etc.) onde não falta o vinho e a aguardente para empurrar a comida e aquecer o corpo.

 

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Terminada esta refeição matinal, os convivas dirigem-se para junto da corte onde se encontram os porcos, ajeitam-se as ferramentas (o banco de madeira, as facas), arregaçam as mangas e dão inicio à festa. Enquanto um homem guarda a porta para não deixar fugir os animais, os restantes entram na corte agarram um porco e levam-no até ao altar do sacrifício, o banco onde será morto. Quando junto às cortes existem pátios fechados, soltam os animais para fora da corte e é ver os homens a correr atrás deles tentando apanhá-los, um agarra uma perna, outro o rabo, outro as orelhas e o focinho até que finalmente capturam o animal e o matam. Entre estes convivas é ao sangrador que cabe o papel de mestre de cerimónias e imolar o animal, uma mulher acompanha o desenrolar da matança e apara o sangue para um alguidar.

 

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Enquanto isso, em casa, as restantes mulheres preparam o almoço da festa, dividindo as tarefas “uma tira o testo, outra mete a colher e outra deita o sal”. A mulher que recolheu o sangue regressa a casa com o alguidar, mexendo-o para evitar que coagule e prepara o sarrabulho. Este petisco muito apreciado nas terras do concelho, consiste no sangue cozido temperado com sal e que depois é servido partido aos pedaços com cebola cortada às rodelas ou alho cortado aos bocadinhos e temperado com azeite.

 

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Depois de mortos, os porcos são chamuscados (queimam-lhe o pelo), outrora com palha, carquejas ou giestas, agora utilizam um maçarico a gás e raspam a pele com uma faca ou lâmina. Em seguida lavam-nos com água, sabão, esfregam muito bem a pele e deitam água para limpar todas as impurezas que possa ter. Depois abrem os porcos e retiram-lhes as entranhas. Mais tarde as mulheres estremam as tripas (retiram a gordura que as envolve, utilizando-a posteriormente para fazer rojões).

 

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Todo este processo decorre em alegre cavaqueira entre os convivas, mas foi grande o esforço exigido e é altura de recuperar energias. Uma mulher leva o sarrabulho, pão, vinho e coloca um pano sobre o porco, que se encontra em cima do banco, servindo de mesa onde é colocada a travessa com o sarrabulho para os convivas comerem.

 

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Recuperadas as forças e com o estômago mais aconchegado, pegam nos porcos, levam-nos para os baixos da casa onde os penduram e deixando-os assim um ou dois dias. Mesa de festa, mesa farta. O almoço é um autêntico banquete onde a tradição manda que se coma essencialmente carne do porco que se matou. Além do sarrabulho comem fígado frito, coração frito e rojões da costela. A esta junta-se um pouco da carne do porco que se matou no ano anterior, é sinal de bom governo da casa. Há ainda quem faça também um cozido com vitela, chouriça e frango. Como acompanhamento costuma fazer-se arroz e batatas. A este repasto não faltam muitas e variadas sobremesas: aletria, pão-de-ló, rabanadas, etc. Todavia, na freguesia de Fiães do Tâmega a refeição mais importante, de comemoração, é a refeição da noite, a ceia da matança, onde além dos manjares mencionados se come também o peito do porco que se matou, cozido.

 

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Após o almoço, os homens entretêm-se a jogar às cartas e depois vão tratar do gado. Por seu lado as mulheres dividem as tarefas entre si, enquanto umas ficam a lavar a louça e arrumar a cozinha, as outras vão lavar as tripas, consoante as aldeias lavam-nas nos rios, corgos ou lavadouros, construídos para o efeito. Depois de lavadas, as tripas são envoltas em sal e conservam-se assim até ao dia em que se fizer o fumeiro.

 

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Uma excelente descrição, apenas faltam as brincadeiras e partidas desta festa que envolviam também as crianças, pelo menos aqui ao lado, no concelho de Chaves, uma delas era quando o “matador” dizia ter-se esquecido de afiar a faca e pedia a um dos putos para ir a casa de “fulano tal” pedir a pedra de afiar. Os putos que assistiam à matança pela primeira vez caiam sempre nesta, e lá iam a casa de “fulano tal” para daí a pouco chegarem ao lugar da matança com um pedregulho às costas, mas as brincadeiras mais comuns, era a dos putos esperarem que arrancassem as unhas aos porcos para depois as “vestirem ou calçarem” nos seus dedos, a outra, era esperarem pela bexiga do porco para a encherem de ar e depois de darem um nó na ponta da tripa se regalarem com uma futebolada com a bexiga cheia até que esta furava, o que não era fácil. Entre as tarefas da matança, a única em que deixavam as crianças participar, era na lavagem do porco, com uma pequena pedra de granito… e, claro, também participavam no comer dos petiscos e do sarrubulho. Isto é o que guardo na memória do meu tempo de puto nas matanças a que assisti.

 

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E agora sim, o vídeo com todas as imagens da aldeia de Eiras que foram publicadas até hoje neste blog. Espero que gostem e para rever aquilo que foi dito sobre as Eiras ao longo do tempo de existência deste blog, a seguir ao vídeo, ficam links para esses posts.

Aqui fica:

 

 

 

Agora também pode ver este e outros vídeos no MEO KANAL Nº 895 607

 

E quanto a localidades do Barroso de Boticas, despedimo-nos até ao próximo domingo em que teremos aqui a Carreira da Lebre.

 

BIBLIOGRAFIA

CÂMARA MUNICIPAL DE BOTICAS, Preservação dos Hábitos Comunitários nas Aldeias do Concelho de Boticas - Câmara Municipal de Boticas, Boticas, 2006

 

WEBGRAFIA

http://www.cm-boticas.pt/

 

 

 

11
Jan21

O Barroso aqui tão perto - Torneiros

Aldeias do Barroso - Concelho de Boticas


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Vamos lá até mais uma aldeia do Barroso de Boticas, ainda na freguesia de Beça, mas muito próximos da sede de concelho, Boticas, a apenas 3,5km, embora no itinerário que nós vamos recomendar sejam mais umas centenas de metros.

 

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Iniciemos já pelo itinerário, como sempre com partida da cidade de Chaves. Tal como apelidamos esta rubrica de “O Barroso aqui tão perto”, andamos mesmo por terras do Barroso bem próximas, ficando a nossa aldeia de hoje, Torneiros, a apenas 29,8Km.

 

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Mais uma vez, é a EN103 (estrada de Braga) que deveremos tomar para irmos até Torneiros, mas apenas até Sapiãos, aí deveremos abandonar a EN103 e virar para Boticas onde, logo na rotunda de entrada, deveremos saír na segunda saída, seguindo as placas que indicam Cabeceiras, Ribeira de Pena, é esta a direção que deveremos tomar até sair de Boticas, aí já estaremos na R311, a subir em direção a Quintas que fica a 3.2Km de Boticas. Nesta aldeia deveremos abandonar a R311 e virar à esquerda, isto quando nso aparecer o desvio (à esquerda) em direção a Seirrãos, Torneiros e Miradouro.

 

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Depois é só seguir por essa estrada, atravessar Seirrãos e continuar em direção ao Miradouro, onde, imediatamente antes deste último, tem a saída para Torneiros. Chegados à nossa aldeia de hoje, desfrute dela sem menosprezar as vistas que desde a aldeia se lançam, foi isso o que eu fiz nas duas visitas que fiz à aldeia, na primeira e segunda descobertas, nomeadamente em 2011 e 2018, visitas das quais resultaram as imagens que hoje vos deixo e que traduzem um pouco daquilo que é Torneiros .

 

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A titulo de curiosidade, as tais vistas sobre o mar de montanhas que se avistam desde Torneiros, segundo o sítio na net valentim.org, avistam-se serras e localidades dos concelhos mais próximos, como o de Chaves, Vila Pouca de Aguiar, Montalegre e Ribeira de Pena, mas a nível do avistamento de serras, chega até serras de Bragança, Vila Real, Marco de Canavezes, Macedo de Cavaleiros, Vinhais, Alfandega da Fé, Amarante, Celorico de Basto e Mondim de Basto.

 

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Uma aldeia arrumadinha na encosta da montanha, em patamares, que faz com que a aldeia seja um autêntico miradouro com olhares lançados para o mar de montanhas que se perdem no horizonte, mas também um miradouro sobre si mesma, permitido pelos arruamentos que se desenvolvem em paralelo em diferentes cotas, todos com ligação a um pequeno largo centrar onde se encontra a capela e o núcleo mais antigo da aldeia.

 

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A aldeia é rodeada por pequena elevações no fundo das quais se forma um pequeno vale com cerca de 200m de largura por 900 metros de comprimento, um autêntico tapete verde de pastagens e terras de cultivo bordejado nos seus limites com pequenos conjuntos de arvoredo a contrastar com os cumes das pequenas elevações onde apenas existe uma vegetação rasteira, mais descolorida a contrastar por sua vez com manchas de esqueletos escuros que restam de pé,  de uma antiga floresta dizimada pelos incêndios.

 

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O casario, mais antigo, à volta do núcleo da capela,  é composto por construções de granito à vista com junta seca, hoje todos com telhados de telha cerâmica, maioritariamente em telha marselha vida das cerâmicas de Chaves, mas com alguns telhados a manterem as guias de granito que antigamente acomodavam o colmo das coberturas. O casario vai sendo interrompido por pátios e pequenas eiras com canastros, alguns totalmente em madeira e os restantes com estrutura em granito, com uma duas ou três secções. A quantidade de espigueiros traduzem bem a riqueza do pequeno vale que serve a aldeia.

 

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Torneiros é uma aldeia ainda com vida nas ruas, com o habitual transito do gado a ir ou vir das pastagens e crianças, que cada vez são menos nas nossas aldeias, algumas que captamos em imagem na primeira vez que fomos à aldeia, crianças que hoje com mais 10 anos em cima já são jovens a entrar na fase adulta, gente simpática sempre com um sorriso nos rostos.

 

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Ora para concluir, Torneiros é uma das aldeias do Barroso de visita obrigatória, fique por lá o tempo que a aldeia lhe pedir para ficar, embriague-se com as vistas, descanse o olhar deixando-o navegar no degradê do mar de montanhas e quando sair da aldeia, não dê a visita por terminada, pois ainda tem mais uma paragem obrigatória, o miradouro de Seirrãos/Torneiros ou de Boticas, desde onde se pode ver toda a vila.

 

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Quanto ao que nos diz a documentação sobre a aldeia, encontrámos na monografia de Boticas – Preservação dos Hábitos Comunitários nas Aldeias do Concelho de Boticas, que em Torneiros, no que toca a festas e romarias, é a Nossa Senhora de Fátima que é celebrada nos dias 13 de maio e no primeiro domingo de agosto.

 

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No mesmo documento, ficámos também a conhecer uma das tradições da aldeia:

“Por altura do S. João (24 de Junho) e do S. Pedro (29 de Junho), em algumas aldeias do concelho ainda fazem as tranquilhas das ruas com paus e cancelas.

Particularmente na freguesia de Beça, onde lhe chamam as trancheiras, para além de trancarem as ruas, também é costume colocarem os arados de pau e as grades, que apanham, na torre da Igreja. Por altura do S. Pedro roubam os vasos das flores às mulheres e colocam-nos nos largos junto aos poços, na igreja, capelas ou cruzeiros como nos disse um informante de Torneiros “no S. Pedro, que é o santo mais maroto, às vezes quando as raparigas se esquecem dos vasos, daquelas flores e assim, os rapazes apanham-nas e levam-nas lá p’ra capela e depois elas tem que as ir lá buscar”, de tal forma que algumas mulheres nesses dias escondem os seus vasos."

 

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E na ausência de mais informação disponível, vamos dando por terminado este post, apenas nos falta o habitual vídeo com todas as imagens publicadas até à presente data neste blog. Espero que gostem.

Aqui fica:

 

 

Agora também pode ver este e outros vídeos no MEO KANAL Nº 895 607

Post do blog Chaves dedicados à aldeia de Eiras:

 

 

E quanto a aldeias de Barroso, do concelho de Boticas, despedimo-nos até ao próximo domingo em que teremos aqui a última aldeia da freguesia de Beça, a aldeia de Vilarinho da Mó.

 

BIBLIOGRAFIA

CÂMARA MUNICIPAL DE BOTICAS, Preservação dos Hábitos Comunitários nas Aldeias do Concelho de Boticas - Câmara Municipal de Boticas, Boticas, 2006

 

WEBGRAFIA

http://www.cm-boticas.pt/

http://valentim.org/cume/1014

 

10
Jan21

O Barroso aqui tão perto - Parafita

Aldeias de Montalegre - C/Vìdeo


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PARAFITA - MONTALEGRE

 

Continuando a cumprir a nossa falta para com as aldeias que, aquando dos seus posts neste blog, não tiveram o resumo fotográfico em vídeo, trazemos hoje esse resumo para a aldeia de Parafita, do concelho de Montalegre.

 

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Hoje, excecionalmente, mais que um post-vídeo (em imagens e vídeo) é também um post dedicado a Banda de Música de Parafita e às histórias dos seus músicos, histórias essas que fazem a abertura do livro de Bento da Cruz – “Histórias de Lana-Caprina”, sendo elas as que abrem o livro com o capítulo 1, intitulado “Os de Parafita”. Apenas algumas, pois não há espaço para todas.

 

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E uma vez que dedicamos este post à Banda de Música de Parafita, a música do vídeo que poderão ver no final do post é de sua autoria, música e três imagens que retirámos da sua página na net, à qual recomendo uma visita. Fica link no final do post. Vamos então a algumas estórias de “Os de Parafita”

 

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OS DE PARAFITA

 

Todas as grandes terras têm o seu ex libris. Atenas tem a Acrópole; Jerusalém o Templo; Roma o Coliseu; Meca a Pedra; Paris a Torre; Londres o Relógio; Nova Iorque a Estátua; Nápoles o Vulcão; Rio de Janeiro o Carnaval; Madrid a Tourada; Viena a Valsa; Barcelos o Galo; Coimbra a Universidade; Parafita a Música.

 

Melhor dizendo: Parafita tinha a Música. A Música e muitos outros predicados que dão excelência às terras. A situação geográfica, por exemplo. Reclinada numa encosta fronteira à Serra das Alturas de Barroso, dir-se-ia repousar de cabeça na montanha e pés no rio.

 

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Outrora. Hoje continua de cabeça na montanha. Mas a água subiu-lhe até à cintura.

 

É, portanto, uma terra amputada. Amputada no corpo e na alma, se entendermos por corpo a paisagem, e por alma os habitantes.

 

A História Universal está cheia de histórias de terras que foram cabeças de reino e que, de repente, entraram em declínio e desapareceram: Cartago, Tróia, Palmira.

 

Na origem dessas catástrofes está sempre uma calamidade do género da fome, da peste e da guerra, três faces distintas dum só monstro verdadeiro.

 

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A desgraça de Parafita foi a albufeira.

 

Antes da construção da barragem dos Pisões, Parafita era uma das aldeias mais florescentes e conhecidas de Barroso.

 

Florescente, pela densidade populacional, largueza de terrenos baldios e de cultivo, abundância de gado vacum, cápreo, de ceva e de capoeira, de caça e pesca, de lenha, de sol, de artesãos: carpinteiros, alfaiates, tecedeiras, alveitares, dentistas, endireitas, capadores, correeiros de albardas, molhelhas, butes e tamancos, tudo do melhor que entre nós se fazia.

 

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Conhecida, pela Música, alma e glória de Parafita e, por que não dizê-lo?, de todo o Barroso.

 

As páginas seguintes são um repositório, forçosamente incompleto, do anedotário da Música de Parafita. Mas que ninguém fique a julgar que a Música de Parafita era algum bando de estarolas. Credo! A Música de Parafita era uma escola de civismo, de cultura, de fraternidade — de treino para a vida. Dizia-se mesmo: Vale mais um ano em Parafita do que cinco em Coimbra.

 

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A Música dava aos de Parafita aquele ar de artistas que os tornava simpáticos aos olhos de todo o mundo. Simplesmente encantador ver as crianças a solfejar as primeiras notas e os velhos a discutirem as vantagens da clave de sol sobre a de fá. Todo o Barroso se orgulhava deles. Pena foi que a praga da albufeira os haja dispersado pelas sete partidas.

 

Inteligentes e laboriosos como são, os filhos de Parafita depressa grangearam nome e fortuna nas terras adoptivas. Mas não esquecem a terra-mãe. Onde quer que dois desterrados de Parafita se juntem em Babilónia, é para carpir lembranças de Sião, saudosos da qual vivem e morrem.

 

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No último inverno, quatro deles passaram um fim-de-semana numa casa de férias situada na vertente marítima da Serra de Arga, donde se abarca todo o panorama da Foz do Minho, cuja beleza é um hino de permanente louvor ao Grande Arquitecto do Universo: o rio a espraiar-se entre margens edénicas e Ilhas de Amores, a silhueta grega do Monte de Santa Tecla do outro lado, à direita, o galeão de pedra que é a Fortaleza, em frente, ao fundo, a aguarela de areia, barcos e pinheiros, à esquerda, e, a toda a largura dos olhos, o luminoso estuário, verdadeiro milagre de cor e luz em constante movimento.

 

No sábado os quatro expatriados confecionaram urna taina com iguarias trazidas expressamente de Barroso, terra bendita, onde, no dizer de Camilo Castelo Branco, uma simples batata cozida com a tona e rolada numa escudela de sal sabe que nem manjar de anjos.

 

Passaram a noite a petiscar e a carpir lembranças de Parafita.

 

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Casualmente, um deles trazia no bolso um gravador de fabrico japonês, pouco maior do que um maço de tabaco, e ligou-o. Tive acesso à gravação. É dela que vou transcrever um naco da conversa dos alegres carpidores de lembranças. Só lamento não encontrar na escrita sinais gráficos correspondentes às saborosas gargalhadas da cassete. Paciência. Vai mesmo assim.

 

 

*

*        *

 

— Parafit-atrás Parafi-tá-trás ! Arroz p'r'ó-pote ! Arroz p'r'ó-pote! Cabra velha p'r'á caldeira! Cabra velha p'r'á caldeira! Vinho ! Vinho !

 

— Para vinho eram eles uns barras! Um ano foram tocar a S. Bento de Sexta-Freita, ali para as bandas da Roca da Ponteira. Em pleno Agosto. Um calor de amolecer pedras e tirar o fôlego a qualquer um. Com receio de que a fanfarra desfalecesse nos vivaces dos metais e nos rufos dos tambores, tão do agrado das multidões, o mordomo fez seguir na procissão, bem à vista dos músicos, uma guapa rapariga com um cântaro de vinho à cabeça. Tinha boa perna, a moça. Mas nenhum dos músicos lhe olhava para elas. Iam todos de olhos no cântaro do vinho, ansiosos por molhar a palheta. Entram capela dentro a passo acelerado, a dar as últimas. Ora enquanto assim estavam, os músicos nos acordes finais e a cachopa de cântaro à cabeça, o coto duma vela pegou fogo às saiolas do altar. Num gesto instintivo, a moça despeja o vinho nas chamas. Noutro, o Barral espeta-lhe uma bofetada e atira com ela de cangalhas e de cara à banda, desmaiada. Acode o mordomo, a família do mordomo, os vizinhos do mordomo: «Grandes malandros! Olha como puseram a criança! É fazer-lhes o mesmo...» «Vamos embora, rapazes!» ordenou o Mestre, vendo as coisas mal paradas. Ninguém foi manco. A pé, costa arriba, sob a torreira, mortos de fome, curtidos de sede... O Barral até chorava: «Ó companheiros, desculpai! Mas eu estava com um secão... Quando vi o vinho entornado, não me contive... Foi sem querer...»

 

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—        Coitados. No Verão, atiravam-se ao vinho para refrescar; no Inverno, à aguardente para aquecer.

 

—        Os ensaios eram à noite, no sobrado do Pinto, depois da ceia. Chegavam todos a tremer de frio, às escuras. «Acendei lá o petromax.» Mas ninguém se entendia com aquilo. Muitas vezes, quando chegavam a acender o candeeiro, era madrugada. Acabara a aula.

 

E o garrafão? «Oh, rapazes, que frio está! E se fôssemos buscar um garrafão de aguardente para aquecer?» Como não havia copo, bebiam pelo gargalo, cada um seu gole. Vigiavam-se uns aos outros. Ai daquele que se alargasse... Um dia um deles botou dois tragos...Pegaram-se... Espatifaram tudo...

 

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—        O busílis é que passavam o tempo frio a beber fiado e o quente a tocar para o calote.

—        E sempre empenhados.

—        Apesar de não dispenderem um tostão na farda ou no transporte.

—        Farda não usavam; transporte era o burro: cada qual o seu.

—        Daí o dito: dez músicos, vinte figuras...

—        O que trazia problemas de aboletamento nas aldeias a cujas festividades iam tocar: «Ai eu quero ir para casa de fulano, que é bom tratador...»

 

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—        O boleto dos músicos trazia sempre problemas. Um dos mais bicudos advinha do sestro que os hospedeiros tinham de, no fim dos banquetes, pedirem aos hóspedes filarmónicas para tocarem qualquer coisa: «Agora, que estão de papo cheio, botem lá uma peça para a gente apreciar.» Mas que alguns não tocavam a ponta dum corno... Esses tinham de ir sempre acompanhados por alguém que salvasse a honra do convento.

—        O que nem sempre acontecia. Uma ocasião, um foi parar a casa de certa cerimónia, com talheres individuais à mesa. Puseram-lhe uma travessa de cozido à frente, para ele se servir. Mas o indígena, que não estava habituado àquilo? Começou a comer directamente da travessa... «O senhor não se serve?» — acudiu a dona da casa. «Ai eu bem servido estou...» — respondeu o alarve, puxando a gamela para debaixo dos queixos...

 

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— Lembrais-vos de quando mestre Angelino tentou pô-los a marchar direitos e alinhados, ao som da caixa?

 

— Moeu tardes inteiras a treiná-los na eira. Escusado. Se um ia para a direita, outro cambava para a esquerda. Desistiu.

 

— Esse mestre Angelino, reformado não sei de quê, vindo de Braga, era um atadinho do caraças. Tudo lhe metia medo. E montar um jumento? Um espectáculo. Entrava por um lado da albarda, saía pelo outro. Agenciaram-lhe um burro grande, desses da Ribeira, ajaezado com selim e acessórios correlativos. Foram tocar a Pitões. Ao subir a Mourela, com a vereda quase a pique e o burro muito traseiro, mestre Angelina escorrega pela rabeira da montada, vai parar ao chão a cavalo no selim e ali fica, atarantado, sem atinar com uma saída para tamanha desgraça. Nisto chega o Manuel do Pinto, o Capador, montado num bom cavalo. Diz-lhe o Angelino: «Ó senhor Manuel! Foi por Deus o senhor aparecer... Acabou-se-me o burro...»

 

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—        O Manuel do Pinto era tangedor de pratos substituto. Um dia, durante uma exibição de muita responsabilidade, adormeceu e atrasou-se no compasso. O do bombo chincou-o. Ele sacudiu o sono e disparou sozinho por ali fora: Changla! Changla! Changla!: lá se foi o êxito da audição p'ró galheiro.

 

—        Os da pancada (bombo, pratos e caixa) eram os do couce. Ora o titular dos pratos, o Manuel do Cabra, tinha a mania de empiscar às moças. Um ano, nas Alturas, durante a procissão, as de Atilhó, que passavam o Inverno na pedincha, por terras de Espanha, umas sabidonas, vinham por trás e apalpavam-no... Era um pratinho ver o velho Manuel do Cabra a bater pratos e a furtar-se às apalpadelas, aos saltinhos dum lado para o outro, ante a risota das moças e o espanto do mestre, que não percebia o que se estava a passar.

 

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Imagens retiradas da página da Internet da Banda de Música de Parafita

 

—        Esse Manuel do Cabra não era o do revólver de madre-pérola?

 

—        Não. O do revólver chamava-se Manuel da Porta e tocava bombo. Um dia, ao rebaixar o salão duma corte, encontrou um revólver antigo, com a fecharia e o cano desfeitos, mas a coronha, de madre-pérola, intacta. Limpou aquilo muito bem limpinho e apareceu na festa de Veade de coronha a sobressair ostensivamente do bolso de trás das calças. As aldeias andavam despicadas por causa duma chega de bois, os de Veade viram aquilo, ficaram de cabelos em pé e foram avisar a guarda, antes que fosse tarde. E o Manuel da Porta, um pantomineiro de marca maior, a bater no bombo e a olhar para o outro lado, a fingir que não via nada... Um dos guardas aproxima-se por trás, deita a mão à coronha de madre-pérola, puxa, vê aquela porcaria a desfazer-se em ferrugem, mas não se dá por achado. Recua e diz para os delatores, que o aguardavam atónitos: «Eu nunca vi objecto assim! Mas que perigo... Nem me atrevo a tocar-lhe... Lixe-se lá o homem!»

 

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—        Para mim, uma das melhores é a do foguete...

—        Na Senhora da Saúde? Ai eu vi. Estava lá.

—        Iam a tocar na procissão, a caminho da capela da Senhora da Saúde. A calhelha é estreita e funda e os devotos formavam alas dum lado e doutro, de palanque nos campos. Nisto vem a cana dum foguete, viumvê...vvv..., espeta-se no carrulo ao Amadeu da Marcolina e ali fica ao alto, erecta e vibrátil como antena de extraterrestre. Vai o Serafim da Benta, que o seguia na forma, deita-lhe a unha, zás!, arranca-lhe a farpa. Poucos se aperceberam da manobra e a procissão continuou, na boa compostura. O melhor veio depois: o assombro do povo que não compreendia porque é que os músicos, sempre que estoirava um foguete, empinavam os trombones para o céu, pó, pó, pó-ró, girando ângulos de trezentos e sessenta graus sobre os calcanhares, atentos ao trajecto da cana... Porra!

(…)

In “História de Lan-Caprina” de Bento da Cruz, Editorial Notícias, Lisboa, Maio de 1998

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Ficamo-nos por aqui, na página 15 das “História de Lana-Caprina” de Bento da Cruz, no 1º capítulo do livro - “Os de Parafita”, que dedica aos músicos de Parafita, e ficamos por aqui não por se acabarem as histórias sobre os de Parafita, pois essas continuam livro adentro até à página 60, mas porque são em demasia para este espaço do blog, mas pela certa que de futuro teremos por aqui mais algumas destas histórias.

 

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E agora sim, o vídeo com todas as imagens da aldeia de Parafita que foram publicadas até hoje neste blog. Espero que gostem e para rever aquilo que foi dito sobre as Parafita ao longo do tempo de existência deste blog, a seguir ao vídeo, ficam link para esses post, onde por sinal contém mais histórias sobre os de Parafita, mas de um outro livro, “ Histórias da Vermelhinha”, também de autoria de Bento da Cruz.

 

Aqui fica o vídeo:

 

 

Agora também pode ver este e outros vídeos no MEO KANAL Nº 895 607

 

Post do blog Chaves dedicados à aldeia de Parafita:

 

https://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-parafita-1443308

 

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Imagem retirada da página da Internet da Banda de Música de Parafita

 

Link para a página da Banda de Música de Parafita (de visita obrigatória):

 

https://www.bandaparafita.net/cms/

 

 

E quanto a aldeias do Barroso, despedimo-nos até amanhã, desta vez calhou assim, em que teremos aqui a aldeia de Torneiros, do concelho de Boticas.

 

05
Dez20

O Barroso aqui tão perto - Parada

Aldeias do Barroso do Concelho de Montalegre


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PARADA - MONTALEGRE

 

 

Há pecado leves, sem importância nenhuma, que se cometermos um, ninguém leva a mal,  quanto aos graves, esses, são imperdoáveis, de levar mesmo a mal, e quem sentir isso, têm toda a razão, mesmo que o pecado seja cometido sem premeditação, é na mesma pecado. Pois eu ia cometendo um, felizmente que dei conta ainda a tempo, ainda dentro de prazo, mesmo que um pouco deslocado, mas o que interessa, é não ter cometido esse pecado, e este, seria mesmo imperdoável, pois quem seria lesado, não o merece, antes pelo contrário.

 

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Aquando da publicação do post das aldeias dos colonos do Barroso, dei como encerrada a abordagem das aldeias do Barroso de Montalegre, ficaria apenas a vila sem post, para em tempo oportuno vir por aqui. No entanto há dias, á procura de uma foto no meu arquivo das aldeias de Montalegre, entrei na aldeia de Parada, e para espanto meu, dei-me conta que tinha passado por cima desta aldeia sem a abordar.

 

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Não sei como aconteceu, tanto mais que levava a abordagem das aldeias por ordem alfabética, mas a verdade é que aconteceu, e seria pena não termos aqui Parada, pois lá paradinha no seu sítio, é uma das aldeias mais bonitas de Montalegre, não só que em vê na sua intimidade, mas também que a vê à distância, mas também e ainda há a acrescentar a beleza dos olhares que desde lá se podem lançar, quer para a barragem de Paradela, quer para a Serra do Gerês, e até as aldeias vizinhas ganham em beleza quando vistas de Parada, tal como acontece com a aldeia de  Outeiro.

 

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Agora sim, o concelho de Montalegre, quanto ás suas aldeias, fica completo, com todas as aldeias com espaço neste blog. Claro que vamos continuar pelo concelho, não só com a vila de Montalegre, mas também com alguns lugares e pormenores que ainda queremos visitar e registar, além dos dias de neve que sempre nos atraem até lá, algumas sextas-feiras 13, etc. Motivos nas nos faltam, muitas vezes, ou quase sempre, falta é o tempo.

 

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Mas hoje o tempo do blog é para a aldeia de Parada, ainda para mais que tem o mesmo topónimo da aldeia de toda a minha família paterna, o que agravava ainda mais o pecado de não a trazer aqui.

 

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Vamos então até Parada de Montalegre, com partida, como sempre, da cidade de Chaves e pelas estradas que mais gostamos de percorrer, ou seja a nossa estrada do S. Caetano, com passagem por Soutelinho da Raia para logo de seguida fazermos a entrada no concelho de Montalegre, com Meixide a surgir-nos no horizonte mais próximo, embora a nossa atenção vá sempre para o horizonte um pouco mais distantes, para a serra do Larouco, desde onde se vê com toda a sua imponência e que desde que passaram por aqui as crónicas de António Granjo, passei a ver também a imagem que ele via no Larouco, a de um grande lagarto com a cabeça virada para Montalegre e a longa cauda a entrar pela Galiza adentro. Quando forem de Chaves por este trajeto, mesmo na entrada do concelho de Montalegre, deitem um olhar para o Larouco e vejam se realmente está lá o lagarto ou não, sem ser necessária muita imaginação, desde que não seja e dia de neve, que aí, camuflado de branco, ninguém dá por ele…

 

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Atrás ficámos em Meixide onde, para chegar a Montalegre, pode optar ir por Pedrário, Sarraquinos… oui então por Vilar de Perdizes, Solveira, etc. Este último trajeto tem melhor estrada, no entanto o outro troço, como se tem de fazer com menor velocidade, aprecia-se melhor a paisagem, e as suas aldeias.

 

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Chegado a Montalegre, continua-se para o Baixo Barroso, em direção ao campo de futebol/Sr. da Piedade, sempre sem enganar até Sezelhe, onde o cruzamento poderá suscitar algumas dúvidas, mas basta seguir em frente, as placas ajudam,  e lá aparece uma a indicar Parada, conjuntamente com Tourém, Pitões, Outeiro, Paredes, Covelães e Travassos, apenas alguns dos muitos destinos do Barroso que ainda há pela frente.

 

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Logo a seguir a Sezelhe, temos que atravessar o ribeiro de Lamachã, muito discreto e perdido entre lameiros, mas a marcar a entrada no Parque Nacional da Peneda-Gerês, estamos a entrar noutro mundo, embora ainda Barroso, mas com uma forte presença da Serra do Gerês, por um lado a impor-se como uma barreira natural que por sua vez impõe outros modos de vida e até algumas regras a cumprir, regras de conservação e preservação da natureza, algumas delas de interdição a determinadas áreas ou limitadas a número de pessoas, sendo nalguns casos necessária autorização prévia para aceder a elas, mas não é o caso do acesso às aldeias do Parque Nacional, na qual também está incluída a aldeia de Parada, as regras mais restritas, vão aumentando conforme se sobe em altura na Serra do Gerês.

 

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Isto das regras de circulação e acessos à Serra do Gerês, é uma coisa a ter em conta, pois corre o risco de ver frustrado um passeio pela serra, ou se transgredir, a ser multado por andar onde não deve, assim, se o seu destino for para ir pela serra acima, convém informar-se previamente num posto de informação do parque, em Montalegre, há um no Ecomuseu de Barroso, ou então na internet na página oficial do parque. Digo isto porque estando em Parada, ou noutra aldeia das faldas da Serra do Gerês, há caminhos para subir a serra, e às vezes podem ser uma tentação para entrar neles e subir à descoberta, tanto mais que a paisagem convida.

 

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Regressemos ao nosso itinerário, depois de Sezelhe e de fazermos a entrada no Parque Nacional, temos pela frente as aldeias de Travassos do Rio, Covelães, Paredes do Rio e Outeiro, logo a seguir, a menos de 1Km, temos a nossa aldeia de hoje – Parada. Atenção em Outeiro, no cruzamento de entrada desta aldeia, devemos seguir em frente e passar-lhe ao lado. Parada é fim de linha, a estrada termina na aldeia, a partir de aí só o caminho para a Serra do Gerês, ou seja, depois de visitar a aldeia, terá que voltar para trás. Mas para ter uma ideia e melhor localização, ficam os nossos mapas:

 

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Quem acompanha o blog e estes nossos destinos do Barroso, sabe que em geral nunca voltamos a casa pelo mesmo caminho, assim, depois de visitar Parada, regresse a Outeiro e aqui, agora sim, abandone a estrada e entre na entrada da aldeia, numa descida um pouco acentuada e em curva contra curva e em frente à igreja, siga com destino a Paradela do Rio, numa estrada sempre sobranceira à barragem. Em Paradela, no cruzamento de entrada da aldeia, siga em direção a Loivos, Fiães do Rio, Vilaça e São Pedro. Já estamos no regresso a casa pela M514. Em São Pedro vamos entrar no CM1011, nesta devemos seguir à direita, para a esquerda regressaríamos a Sezelhe e Montalegre, mas nós voltamos à direita, em direção Contim e Brandim, logo a seguir entramos na N103 (estrada de Braga-Chaves), mesmo em frente à Barragem dos Pisões, a partir de aí, todos os caminhos vão dar a Roma, mas se quiser regressar a Chaves mais direto, basta seguir à esquerda pela N103 até Chaves.

 

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Sobre a aldeia, daquilo que vimos, gostámos. Logo na entrada e num dos pontos mais altos da aldeia, existe um largo/miradouro desde onde se podem lançar olhares para a aldeia, mas também para a barragem de Paradela e para a Serra do Gerês. O casario da aldeia é de povoamento concentrado num antigo núcleo, com casas tipicamente barrosãs, de granito à vista assente com junta seca e os telhados ainda com o murete de pedra que servia amparo às antigas coberturas de colmo. Também existem alguns canastros (espigueiros se preferirem) e latadas de videiras sobre algumas ruas, o que, para além de nos indicar um dos modos de vida da aldeia, a agricultura, dá um mais castiço a estas aldeias Barrosãs, que as diferencia das aldeias do Alto-Barroso.

 

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Estamos no Baixo-Barroso, mas que ao contrário do Alto-Barroso com características bem definidas, quer no tipo de aldeamento quer na paisagem, o Baixo-Barroso vai-se alterando conforme as serras que tem na proximidade. Esta aldeia de Parada já está naquele Barroso bem singular da Serra do Gerês que se vai estendendo desde Pitões das Júnias até Fafião, aldeias implantadas mesmo ao lado do grande rochedo despido e bruto do Gerês, mas aproveitando o aconchego entre montanhas, nas vertentes das terras mais baixas onde as manchas pintadas com o verde dos campos cultivados e das pastagens se torna mais intenso, dando uma beleza única a todo este Barroso. É por isso que o Barroso apaixona todos os que gostam da natureza, não só da selvagem e natural, mas também da natureza humana que o povoa.

 

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E fico-me por aqui na descrição daquilo que vi na aldeia e nas redondezas, pois por mais que insista em procurar palavras para descrever todo este pequeno mundo, ficarei sempre aquém da realidade, e depois aquilo que os meus olhos veem, são indiscritíveis em palavras e pela certa, diferentes dos olhares de cada um.

 

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Para além daquilo que os nossos olhos veem, há também aquilo que eles não veem, não por estarem distraídos com outros olhares, mas porque só se vê aquilo que é visível, e para ser visível temos que ir aos locais de onde se veem, e às vezes não vamos, acontece-nos frequentemente, isto porque gostamos de entrar nestas terras com o olhar virgem para deixar que a descoberta nos surpreenda, nos impressione. Nunca vamos à procura de nada, mas apenas daquilo que encontramos, deixando que a curiosidade do olhar conduza os nossos passos para a descoberta deste lugares e aldeias.

 

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Claro que ser, estar e agir, tem as suas vantagens, mas também os seus inconvenientes e quando chegamos à hora da feitura destes posts e procuramos alguma informação sobre estes lugares e aldeias, às vezes apercebemo-nos de que algo de importante ou interessante nos escapou, que por não sabermos da sua existência não fomos a esses lugares, não lançamos o nosso olhar, não fizemos o registo. Aqui em Parada, pelo menos, sei-o agora, não estivemos num lugar que deveríamos ter visitado – O fojo do lobo.

 

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Não fomos lá, mas fica aqui a descrição dele, tal qual a encontrámos na página oficial da Câmara Municipal de Montalegre, online na internet (consulta de hoje):

 

Monumento localizado a uma altitude média de 890 metros, no interior do Parque Nacional da Peneda-Gerês. A vegetação é densa, tendo o fojo ardido recentemente. Trata-se de um muro em granito, fechado em redor de um grande penedo, que forma um recinto apenas acessível pelo lado exterior. Tem uma porta, antigamente utilizada pelos populares para colocar o isco, proceder a operações de manutenção e limpeza, e para entrar no interior da área murada quando um lobo aí era encurralado. Com cerca de 60 metros de diâmetro médio, é o maior fojo deste tipo na península ibérica. Uma das suas particularidades estruturais é o reservatório de forma quadrangular escavado no afloramento rochoso no qual assenta o penedo central, que assumia a função de bebedouro para o animal, utilizado como isco. O chamariz utilizado podia também ser uma cabra viva, oferecida pelos moradores da freguesia de Outeiro interessados na captura.

 

Coordenadas GPS: 41.815289 e -7.953511

Altura: 886 m

 

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Mas esta de não ir a estes lugares por os desconhecer é também uma tática nossa, embora não propositada, mas que nos serve de desculpa ou pretexto, para fazer uma nova visita a aldeia e registarmos aquilo que nos escapou.

 

E estamos quase a concluir este post, com um pedido de desculpas à aldeia de Parada por só agora a trazermos aqui, mas mais vale tarde que nunca, mas para compensar este atraso e o ter saído da “caixa” das restantes aldeias do concelho de Montalegre, prometemos que em breve e/ou logo que esta coisa da pandemia desapareça, voltamos a Parada para novos registos, para irmos ao fojo do lobo e se possível, pois não sei se é transitável e permitido, subir um bocadinho na Serra do Gerês para mais uma foto mais de perto, embora à distância, da capela do São João da Fraga. Fica prometido.

 

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E agora para terminar, o nosso habitual vídeo com todas as imagens da aldeia de Parada que foram publicadas hoje neste blog.  Vídeo que podem ver aqui, no meu canal do YouTube e agora também, este e outros vídeos no MEO KANAL Nº 895 607

Aqui fica o vídeo, espero que gostem:

 

 

Quanto às aldeias do Barroso de Montalegre, voltaremos aqui na próxima sexta-feira com mais um vídeo e algumas imagens da aldeia de Paradela do Rio.

 

 

29
Nov20

O Barroso aqui tão perto - Pinhal Novo

Al deias do Barroso do Concelho de Boticas


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PINHAL NOVO

 

Nesta rubrica de O Barroso aqui tão perto, vamos continuar até concluir, as aldeias da freguesia de Beça, ficando aqui hoje a aldeia de Pinhal Novo.

 

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Estivemos quase para não trazer aqui esta aldeia, e o porquê ou razão é muito simples, já a tínhamos abordado anteriormente neste blog, mas foi num post especial, um post conjunto dedicado a várias aldeias, mais precisamente às aldeias de Salazar da Colónia do Barroso da Junta de Colonização Interna, da qual Pinhal Novo faz parte. No entanto seria injusto não ter uma abordagem particular, mesmo porque no referido post conjunto foi integrada nos posts dedicados às aldeias do concelho de Montalegre, e embora o Pinhal Novo faça parte desse conjunto da colónia do Barroso, é a única que pertence ao concelho de Boticas, e como tal, terá aqui o seu post, incluindo o seu vídeo. Vai ser pouca coisa e tudo muito parecido, mas a aldeia também é pequena e as casas originais da aldeia eram e ainda são, mais ou menos,  todas iguais.

 

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Embora tenha aqui o seu post, não vamos repetir aquilo que já dissemos sobre ela, principalmente sobre a sua origem e história, ou melhor, vamos repetir sim, mas recorrendo ao que sobre ela dissemos no tal post especial dedicado às aldeias de Salazar da Colónia do Barroso, mas antes, vamos deixar aqui, muito resumidamente, a história da origem desta e das restantes aldeias e colónias internas de Salazar.

 

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O designado Estado Novo de Salazar cria em 1936 a Junta de Colonização Interna (JCI), que, em síntese, visava povoar as zonas mais despovoadas de Portugal, construindo nelas aldeias novas destinadas a colonos, aos quais seriam entregues grandes áreas de terrenos, sobretudo constituídos por baldios existentes, Ideia que na época, não foi bem aceite pelas populações locais, sobretudo porque eram elas que administravam esses baldios e que deles tiravam, o que para muitos era o seu único rendimento e áreas de pastagem, embora, teoricamente, para a ocupação dessas novas aldeias fosse dada a preferência à população local, coisa que não aconteceu, pois foram maioritariamente ocupadas por casais (condição necessária) de vários pontos de Portugal. No entanto, a pobreza e necessidade da época fez com que alguma população trabalhasse para a JCI na construção desses novos aldeamentos, com alguns boicotes pelo meio, como o de plantarem árvores ao contrário (com as raízes para cima), segundo rezam alguns documentos da altura.

 

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Ao todo a JCI projetou para Portugal 7 colónias internas, sendo as mais próximas a Colónia do Barroso e a do Alvão, em Vila Pouca de Aguiar. Na Colónia do Barroso foram construídas 7 aldeias de colonos (ou colónios como dizia a população local) e ainda um Centro Administrativo para alojar técnicos e funcionários da JCI, centro este onde se localizava também o apoio administrativo às aldeias dos colonos, a fiscalização, sobretudo do cultivo e colheitas que os colonos tinham de entregar ao Estado, ou seja, em 7 partes da colheita, 6 eram para o Estado, e uma para seu sustento, destinando-se as 6 partes do Estado a amortizar empréstimos concedidos aos colonos, bem como a amortização do custo de cada casal (terrenos e habitação dos colonos), que a não ter sido o 25 de abril, hoje,  a segunda geração desses colonos, ainda estariam a amortizar.

 

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Colonização Interna que foi um fracasso, principalmente a do Barroso, começando logo pelas aldeias de colonos de Criande e Aldeia Nova que viu a maioria dos terrenos destinados aos casais dos colonos a serem inundados pela barragem do Alto Rabagão, para além de os terrenos que os colonos ocuparam serem maioritariamente impróprios para a agricultura, com a agravante de os terrenos cultiváveis estarem sujeitos a um clima hostil e pouco produtivos.

 

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A barragem invadiu parte da aldeia dos colonos de Criande e todos os seus terrenos de cultivo

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Com o 25 de abril as coisas alteraram-se e foi permitido aos colonos resolverem as obrigações que tinham com o Estado, podendo adquirir os casais que cultivavam ou abandoná-los, passando-lhes também a ser permitido vender o casal após a sua aquisição, coisa que não era permitida anteriormente, pois as obrigações do casal obrigatoriamente tinham de passar na totalidade para um e só um dos herdeiros dos colonos, de modo a que a propriedade não fosse dividida.

 

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De realçar que toda esta colonização interna era enaltecida pelo Secretariado da Propaganda Nacional, com constantes campanhas para a produção nacional e mostrando estas colónias como locais paradisíacos, produtivos e ocupados por famílias felizes, que na realidade não eram mais que escravos do estado e do sistema, além de mal queridos e até difamados pelas populações locais, porque afinal de contas, sem culpa, tinha tirado parte do rendimento e muitas vezes todo o rendimento ou sustento das populações locais. Hoje em dia, estas aldeias dos colonos encontram-se com alguns casais abandonados, outros foram vendidos e recuperados por não colonos tal como aconteceu nos Casais da Veiga de Montalegre, e nalguns, poucos,  ainda se mantêm os “colónios”, hoje, parece-me, já perfeitamente integrados e aceites nas populações locais.

 

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Pois Pinhal Novo é uma dessas aldeias de colonos, onde inicialmente foram construídas 10 habitações e constituídos os respetivos casais (casa+logradouro+terreno) e posteriormente uma escola. Estas aldeias que pela sua arquitetura e organização, nada têm a ver com as aldeias típicas do Barroso, eram constituídas por moradias isoladas com logradouro e tinham para a época já algumas condições de habitabilidade, além de todas elas serem servidas com as infraestruturas mínimas, ainda com um tanque e chafariz público, e áreas verdes envolventes, algumas com escola, e no caso da Aldeia Nova de Montalegre, tinha igreja, miradouro e posto da GNR, além da escola e espaços verdes.

 

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Hoje em dia ainda existem no Pinhal Novo as 10 construções iniciais, dessas, pelo menos 7 foram reconstruídas e/ou ampliadas, 3 mantêm a traça inicial e penso que estão abandonadas e dentro do espaço do aldeamento já nasceram pelo menos 3 novas construções/habitações e na proximidade outros tantos armazéns agrícolas.  

 

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Agora passamos àquilo que dissemos sobre o Pinhal Novo no tal post conjunto dedicado a todas as aldeias da colónia do Barroso:

 

As aldeias de Salazar – Aldeias Jardim

 

(…)

Esta aldeia, conjuntamente com a de Criande, Vidoeiro e Pinhal Novo, fazem parte de uma segunda fase de aldeias de colonos, decidida pela LCI em 1945.

(…)

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7 - Pinhal Novo

Esta aldeia foi implantada a apenas 1,5km da aldeia do Fontão, foi-lhe atribuído o topónimo de Pinhal Novo, talvez pela mesma razão das anteriores adotarem o nome do lugar. É a única aldeia da colónia de Barroso que foi construída no concelho de Boticas.

 

O Lugar de Pinhal Novo: «[…] com 10 casais, ficará situado já na freguesia de Beça, limite da aldeia do mesmo nome, na encosta Oeste do Alto das Pias. Para lhe dar acesso projectou-se a construção duma estrada principiando na E.N. - 4 - 1ª. no local denominado Alto do Fontão e terminando na povoação de Beça, do concelho de Boticas; prevê-se a continuação desta estrada para as termas de Carvalhelhos e para Boticas, sede do concelho do mesmo nome.» (J.C.I., 1945: 98). (…) A Escola e Capela: «Pinhal Novo, com 10 casais, ficará situado a cerca de 1.500m. de Beça, sede de freguesia, de que dependerá quanto à capela e escola.» (J.C.I., 1945: 99).

COSTA (2017)

 

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O terreno para implantação das moradias é retangular, com um arruamento de entrada, ao centro, que depois bifurca para dois arruamentos que acabam por se unir em curva no lado oposto à entrada. As moradias foram implantadas 5 de cada lado ao longo dos lados mais compridos do retângulo a confrontar com os arruamentos, entre os quais ficou uma zona verde, onde mais tarde se decidiu construir a escola, mesmo ao centro desta zona verde.

 

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Nos documentos acedidos, não se encontrou qualquer referência à área agrícola e florestal pertencente a cada casal nestas duas colónias. Supõe-se que no caso do Lugar do Pinhal Novo dado o número de casais ter permanecido inalterável, a área agrícola e florestal também terá permanecido. Já no caso do Lugar do Fontão, a redução do número de casais pode estar na origem da divisão da área agrícola estando, contudo, a área atribuída inicialmente a esta colónia dentro da média (14,5 a 25 ha) da área agrícola da colonização do Barroso.

COSTA (2017)

 

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Quantos aos projetos tipo adotados para a colónia de Barroso, a autoria é atribuída a mais que um arquiteto. Nalguns documentos que consultei, o arquiteto autor do projeto tipo das aldeias de colonos de Montalegre, à exceção da do Fontão é atribuída ao arquiteto Eugénio Corrêa (?), mas sempre com o ponto de interrogação à frente. Já quanto aos autores dos projetos da aldeia de Fontão e Pinhal Novos, temos o seguinte (no final também fica uma interrogação, mas por outros motivos:

 

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Fevereiro 1961: Projecto de Adaptação das Instalações Agrícolas do Casal a Posto Escolar. O projeto foi desenhado, pelo arquiteto António Trigo, para o Lugar do Pinhal Novo. O plano desta colónia também foi alterado, e a escola acabou por integrar a nova disposição no assentamento. O casal agrícola adotado, para o Lugar do Pinhal Novo, foi o mesmo desenhado pelo arquiteto Maurício Trindade Chagas para o Lugar do Fontão em Janeiro de 1951, e não o casal inicialmente pensado para esta colónia, o casal tipo desenhado para o Barroso, de 1943. Neste projeto, também se faz a adaptação do casal agrícola a posto escolar mas o edifício ao contrário do esperado foi construído de raiz no centro do largo que organiza os restantes casais agrícolas. Ainda mais intrigante é que o mesmo projeto foi replicado com a mesma disposição dentro da colónia de Lugar de S.Mateus — Seriam estes projetos destinados a casais desocupados e por não existir nenhum nessa condição tenham optado por construir uma cópia do projeto de adaptação?.

 COSTA (2017)

 

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Ainda antes de terminar este post e passarmos ao vídeo, vamos até ao itinerário para chegar ao Pinhal Novo, este, feito quase até ao destino pela N103 (estrada de Braga), com partida de Chaves e passagem por Curalha, Casas Novas, São Domingos, Sapelos e Sapiãos, a seguir a esta última aldeia, mesmo onde termina a longa subida, num cruzamento onde aparecem algumas construções, vira à esquerda em direção a Beça, e logo a seguir, a 1470m, num total de meia hora de viagem, num percurso de 26,3Km, temos Pinhal Novo. Ficam os nossos mapas

 

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Para quem quiser saber mais sobre as aldeias de Salazar também conhecidas popularmente como as aldeias dos “colónios”, fica aqui, na integra, em PDF, o que escrevemos e imagens sobre o assunto, basta clicar na imagem. Podem guardar e utilizar, desde que não seja para fins comerciais ou publicação na íntegra, e claro, como mandam as regras e eticamente o mais correto, caso utilizem em publicações ou trabalhos, por favor deem créditos à autoria.

Clicar na ligação:

aldeias jardim-Colonia do Barroso.pdf

 

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E agora sim, chegamos ao fim deste post, apenas nos falta o vídeo, aquele que nos foi possível

Fazer com as imagens disponíveis.  Mesmo assim, espero que gostem.

 

Aqui fica:

 

 

 

Este e outros vídeos, agora, também podem ser vistos no Meo Kanal nº  895 607

 

 

 

BIBLIOGRAFIA

- COSTA, Ana Mafalda Almeida Guimarães. ARQUITETURA AGRÍCOLA As Colónias do Estado Novo para o Barroso. Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em Arquitetura, Universidade Lusíada do Porto, Porto 2017

 

 

 

 

21
Nov20

O Barroso aqui tão perto - Padroso C/Vídeo

Aldeias do Barroso - Montalegre


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PADROSO -  MONTALEGRE

 

Continuando a cumprir a nossa falta para com as aldeias que, aquando dos seus posts neste blog, não tiveram o resumo fotográfico em vídeo, trazemos hoje esse resumo para a aldeia de Padroso.

 

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Padroso que é uma das aldeias que já está implantada em plena Serra do Larouco e que faz parte de um conjunto de aldeias que rodeiam a serra, que do lado português da mesma, em plena serra ou nas suas faldas tem Sendim, Padroso, Padornelos, Gralhas e Santo André.

 

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As três primeiras aldeias, Sendim, Padroso e Padornelos estão todas localizadas acima dos mil metros de altitude, no entanto a mais alta é Sendim, que não só e a mais alta do concelho de Montalegre, como também é a mais alta do Barroso e de Portugal ao atingir os 1170 metros de altitude junto ao que me parece ser uma antiga casa florestal. Isto a considerar as construções hoje existentes, pois se recuarmos no tempo até ao tempo em que Sendim tinha o seu castelo, então aí atingia os 1268m de altitude. Mas hoje estamos aqui por Padroso, que fica mesmo ao lado de Sendim, a apenas uma reta de distância (na estrada principal) e numa cota ligeiramente mais baixa, pois Padroso, no ponto mais alto da aldeia, atinge os 1045m de altitude.   

 

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Terras altas, terras frias, estas sim, sem qualquer dúvida são aldeias do Alto-Barroso, onde nasce o Rio Cávado que irá atravessar todo o Barroso para depois seguir a sua vida por terras minhotas e atravessar 9 concelhos, muitas aldeias, algumas vilas e cidades até desaguar no oceano atlântico junto a Esposende, mas a primeira aldeia que o Cávado conhece é aldeia de Padroso, implantada na sua margem direita.

 

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Rio Cávado que é um dos principais rios portugueses nascidos em Portugal e que corre livre e feliz pelo menos até Sezelhe, onde é aprisionado pela primeira vez, depois a cantiga é outra e em menos de 100km, alimenta meia-dúzia de barragens, 3 ou 4, se considerarmos a de Sezelhe, são no concelho de Montalegre (Paradela, Venda Nova e Salamonde).

 

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Voltando outra vez à aldeia de Padroso, gostámos do que vimos, e pelos visto não vimos tudo. Tem o seu núcleo antigo perfeitamente definido e a manter a sua integridade como aldeia típica barrosã, com os seus elementos mais típicos, como o forno do povo. A aldeia “nova”, desenvolveu-se ao longo da estrada de acesso à aldeia antiga, tal como deveria acontecer na maioria das aldeias. Claro que a aldeia antiga também tem alguns pecados cometidos no seu seio, mas quem não os comete, também nós cometemos um, e ainda bem, pois assim temos um pretexto para voltar a Padroso, pois é imperdoável não termos imagens da igreja e mais uns pormenores que entretanto soube que tem por lá, como umas alminhas que faltam na minha coleção. Assim, quem sabe se na próxima nevada não vamos por lá, isso se entretanto a porcaria do bicho que anda por cá nos deixar sair do concelho…  

 

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E agora sim, o vídeo com todas as imagens da aldeia de Padroso que foram publicadas até hoje neste blog. Espero que gostem e para rever aquilo que foi dito sobre a aldeia no post que lhe dedicámos, fica um link para o post logo após o vídeo, ao qual passamos de imediato. Espero que gostem.

Aqui fica:

 

 

 

Agora também pode ver este e outros vídeos no MEO KANAL Nº 895 607

 

Post do blog Chaves dedicado à aldeia de Padroso:

https://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-padroso-1384428

 

 

E quanto a aldeias do Barroso de Montalegre, despedimo-nos até à próxima sexta-feira em que teremos aqui a aldeia de Pai(o) Afonso.

 

 

09
Nov20

O Barroso aqui tão perto - Lavradas

Aldeias do Barroso - Concelho de Boticas


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LAVRADAS

 

Cá estamos de novo para continuar a nossa viagem pelo Barroso do concelho de Boticas. Temos abordado as aldeias freguesia a freguesia, pela ordem alfabética e no último domingo tivemos aqui Carvalhelhos, da freguesia de Beça, e e nesta freguesia que vamos continuar, com a aldeia de Lavradas.

 

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Iniciemos já pela sua localização e como chegar até lá, como sempre a partir da cidade de Chaves. Pois não há nada que enganar, saímos de Chaves pela EN103 em direção a Braga, mas só até Sapiãos, onde devemos tomar o caminho de Boticas, aí, apanhamos a route 66 de Boticas, por cá conhecida como R311, estrada essa que atravessa o Concelho de Boticas de lés a lés, uma estrada toda ela de montanha, que se inicia no concelho de Chaves, no Peto de Lagarelhos e termina em Fafe, passando assim por 5 concelhos (Chaves, Boticas, Montalegre, Cabeceiras de Basto e Fafe).

 

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É assim a magia desta R311 que até nos tira do nosso caminho, que hoje é o de Lavradas. Pois depois de apanharmos a R311, seguimos até à Carreira da Lebre, seguimos em frente e logo a seguir, como quem diz, depois de atravessar o Rio Beça, viramos à direita em direção a Carvalhelhos onde, na rotunda com a santa das águas, viramos à esquerda em direção a Atilhó e Alturas do Barroso e, claro, também Lavradas que será a primeira aldeia a aparecer, a cerca de 4Km de Carvalhelhos. Fica o nosso mapa para melhor localização.

 

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Nos nossos itinerários pelo Barroso, já fizemos algumas passagens por esta aldeia, no entanto, para fotografá-la, apenas parámos lá duas vezes, a primeira já foi em maio de 2011, a segunda em julho de 2018. Da primeira vez, como fomos conduzidos até lá depois de passarmos por várias aldeias, nem deu para perceber onde ficava, e como a visita foi breve, também não deu para perceber a aldeia.

 

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Na segunda visita a nossa intenção era mesmo fotografar e perceber a aldeia para a trazermos a este blog. Embora hoje vos aconselhe um itinerário a partir de Chaves, a nossa entrada em Lavradas na segunda visita fotográfica que fizemos, foi feita a partir da aldeia vizinha de Lamachã, do concelho de Montalegre e chegados lá, foi como se fosse pela primeira vez.

 

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Como sempre, para se ficar a conhecer uma aldeia, não nos podemos ficar pela primeira impressão, pois lá diz o ditado que as aparências enganam. Além disso certas há horas do dia que não são muito próprias para a fotografia, sobretudo à hora do almoço, isto por duas razões, primeiro porque a nossa cabecinha já começa a ouvir a nossa barriguinha a reclamar por comida, a segunda, tem a ver com a intensidade da luz, principalmente nos dias intensos com o sol de verão, e embora a luz seja uma condição necessária para haver fotografia, quando é muito intensa, em vez de ajudar só atrapalha. Pois era nestas condições que entrávamos em Lavradas e logo nas primeiras construções que vimos, armazéns e construções novas… enfim, fizemos meia-dúzia de fotos e já estávamos quase de partida, mas há sempre encontros felizes, e descobertas mais felizes ainda…

 

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Depois do largo da igreja, o nosso destino fazia-se com passagem por Vilarinho da Mó e foi aí que começámos a perceber e conhecer a aldeia, principalmente com aquilo que vai além das ruas e entra nos pátios e outros pormenores que não estão ao alcance de todos, coisas que nos fazem despertar para a realidade das coisas… os nossos olhos só veem aquilo que querem, e às vezes atraiçoam-nos.

 

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Lavradas é uma aldeia com certas dimensões, para aldeia do Barroso até pode ser considerada grande, rodeada de campos agrícolas férteis e bem tratados e isso reflete-se também no casario que ao longo dos tempos foi sendo recuperado e transformado, já longe da arquitetura vernácula original. Mas a aldeia vale pelo seu todo, não só pelo casario, mas também pela vida que tem, pelos seus usos e costumes, e nisso tenho a certeza que a aldeia mantém toda a sua integridade, vê-se nas suas ruas, nas suas casas e nos seus campos.

 

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Campos verdes, aliás já estamos habituados ao Barroso verde das terras planas e baixas a contrastar com o Barroso agreste no alto das montanhas, mas só há verde se houver água, e se o Barroso por uma lado é castigado com o rigor dos invernos frios, por outro lado recebe a bênção da água, sendo frequente vê-la a correr livremente em valetas e levadas, a inundar lameiros, a encher barragens, mas embora abundante, não se pode desperdiçar e tem de haver regras para chegar a todos.

 

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Pois a água é um bem precioso e daí ser também um bem comunitário. Vejamos o que se diz sobre o assunto na “Preservação dos Hábitos Comunitários nas Aldeias do Concelho de Boticas”. Atenção, como sempre avisamos que os dados deste documento foram publicados em 2006, daí, poderão não estar atualizados.

 

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A Água

A água, elemento dominante da paisagem uma boa parte do ano, desempenha um importante papel na sobrevivência das economias agro-pastoris da região. São inúmeras as suas aplicações: garante da produtividade das parcelas agrícolas e dos lameiros, sustento dos gados, força motriz dos inúmeros moinhos de água existentes ao longo dos corgos e dos rios; estende a sua utilidade ao quotidiano das aldeias, aos tanques, bebedouros dos animais e aos lavadouros públicos existentes.

 

Dadas as características dos solos e os rigores do clima da região, a água, seiva da terra, desempenha um papel fulcral na produtividade agrícola.

 

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No território do concelho pratica-se a rega por gravidade. A água de rega, proveniente de várias fontes de água superficiais, localizadas nas encostas dos montes e serras junto às aldeias, é utilizada para regar as parcelas localizadas a juzante.

 

Para optimizar a utilização deste recurso, foram criadas infra-estruturas para a rega. Os regos conduzem a água desde as nascentes, corgos ou ribeiras, até às poças/tanques de rega, reservatórios de retenção da água. Da poça/tanque, a água é encaminhada, também através de regos, até às parcelas agrícolas. Acontece, por vezes, as nascentes brotarem no local onde se encontra a poça/tanque. Em quase todas as aldeias, estas infra-estruturas, outrora em terra batida e pedra, foram alvo de obras de beneficiação, remodeladas, e construídas em cimento e betão armado, de forma a rentabilizar este recurso, reduzindo ao mínimo o seu desperdício ao longo do percurso que faz até às parcelas agrícolas.

 

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Geralmente, cada uma das aldeias dispõe, no seu termo territorial, de nascentes, regatos ou ribeiros, donde provém a água para rega. Todavia, existem situações em que diferentes aldeias têm que partilhar a utilização da água. A partilha de água entre aldeias, geralmente conflituosa, levou à criação de regras de utilização bem definidas, nem sempre respeitadas pelos seus habitantes, ou à posse dessa água por apenas uma das aldeias. Existem no concelho três aldeias em que parte da água, que utilizam para rega, é proveniente de outra aldeia: em Antigo (Dornelas) regam com água de Gestosa (Dornelas), em Carvalhelhos (Beça), regam com água de um ribeiro de Carvalho (Vilar), e em Lavradas (Beça) regam com água de Lamachã (Negrões - Concelho de Montalegre). Cada uma destas aldeias tem direito a essa água por um determinado período, durante o qual os da outra aldeia não podem tornar a água. Esta regra nem sempre é respeitada, acontecendo por vezes as pessoas andarem a regar e a água faltar, porque alguém da outra aldeia a tornou. Estas situações, além dos conflitos que geram entre os intervenientes, acarretam inúmeras canseiras, pois quem quer regar tem que ir buscar a água à outra aldeia e guardá-la para que não lha voltem a tornar.

 

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E estamos a chegar ao fim deste post, só falta mesmo o vídeo onde estão reunidas todas as fotografias deste post, mais algumas que já foram sendo publicadas ao longo da existência deste blog para ilustrar outros posts, como o das crónicas de António Granjo na sua passagem por Lavradas a caminho de Alturas do Barroso. Aqui fica, espero que gostem:

 

 

 

Agora também pode ver este e outros vídeos no MEO KANAL Nº 895 607

 

E quanto a aldeias de Chaves, despedimo-nos até ao próximo domingo em que teremos aqui mais uma aldeia da freguesia de Beça.

 

 

 

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