Pois cá estamos no post prometido, o tal que deveria ter sido publicado ontem para dar continuidade à primeira imagem de uma descoberta recente que me fez descer até ao mundo dos alfaiates, que agora já posso revelar, do Rio Mousse.
O post foi ligeiramente adiado porque com ele queria deixar algumas palavras referentes à agradável desilusão da tal descoberta, cuja história se conta em meia dúzia de palavras.
Quem acompanha este blog sabe que ao longo dos anos da sua existência já demos algumas voltas por todo o concelho, aldeias e lugares, ou quase todo o concelho, pois há alguns locais que se têm apresentado de difícil acesso, embora sejam até muito conhecidos, ou falados, ou referenciados. Um desses locais é o do Castelo do Mau Vizinho que me trazia remoído de curiosidade, pois o difícil acesso e a dificuldade em encontrar gente disponível que lhe conhecesse o paradeiro, foi adiando a sua descoberta. Mas descobri-o recentemente com a tal agradável desilusão.
Mas falemos um pouco do Castelo do Mau Vizinho e daquilo que dele conhecia até há uns dias atrás, passando pelo que se diz dele em vários locais da especialidade, como por exemplo na página dos monumentos portugueses (www.monumentos.pt) onde se observa ser classificado como monumento nacional registado sob o nº PT0117003090014, onde no registo da descrição se pode ter acesso aos seguintes dados:
Categoria
Monumento
Descrição
Castelo roqueiro defendido por uma linha de muralha construída com blocos de xisto, unidos por argamassa, com grandes silhares de granito nos cunhais, encontrando-se o penedo que o coroa com a superfície desbastada e limitado por encaixes para assentamento da estrutura defensiva de um possível torreão central. Além da primeira muralha regista-se, exteriormente a esta, diversos encaixes na rocha, de assentamento de estruturas perecíveis relacionados com uma segunda linha defensiva.
Acessos
Estradão desde Cimo de Vila da Castanheira na EM Cimo de Bolideira - Roriz, a partir do km 186 da EN 103
Protecção
IIP - Imóvel de Interesse Público, Decreto nº 1/86, DR, 1.ª série, n.º 2 de 03 janeiro 1986
Grau
2
Enquadramento
Rural, isolado, outeiro destacado coberto com carvalhos, de difícil acessibilidade, na zona terminal de encosta sobre o vale encaixado do Rio Mousse.
Utilização Inicial
Militar: castelo
Utilização Actual
Marco histórico-cultural: castelo
Propriedade
Pública: estatal
Afectação
Sem afectação
Época Construção
Idade Média
Arquitecto / Construtor / Autor
Desconhecido.
Cronologia
Idade Média - Construção.
Dados Técnicos
Sistema estrutural de paredes portantes.
Materiais
Muralha de blocos de xisto e granito, argamassa.
Bibliografia
AZEVEDO, Pedro A. de, Extractos archeologicos das Memorias Parochiaes de 1758, O Archeologo Português, 7 (2 - 3), Lisboa, 1902, p. 76; COSTA, António da Eira e, O Castelo do Mau Vizinho, Trabalhos de Antropologia e Etnologia, 22 (3), Porto, 1973, p. 345 - 351; MARTINS, João Baptista, Inventário de sítios com interesse arqueológico do concelho de Chaves, trabalho dactilografado, Chaves, 1984, nº 15; SANTOS JÚNIOR, Joaquim Rodrigues dos, FREITAS, Adérito Medeiros, COSTA, António da Eira e, Campanha de Trabalhos. Castelo do Mau Vizinho. Cimo de Vila da Castanheira - Chaves, Trabalhos de Antropologia e Etnologia, 24 (2), Porto, 1982, p. 293 - 320; IDEM, O Santuário do Castelo do Mau Vizinho, Revista de Guimarães, 99 (2), Guimarães, 1989, p. 368 - 410; SILVA, Armando C. F., A Cultura Castreja no Noroeste de Portugal, Paços de Ferreira, 1986, p. 301; TEIXEIRA, Ricardo e AMARAL, Paulo, Levantamento Arqueológico do Concelho de Chaves, relatórios anuais de actividades, Chaves, 1985 - 1992.
Intervenção Realizada
1981 - Trabalhos de limpeza e esquematização, sob a orientação de J. R. dos Santos Júnior, Adérito Medeiros Freitas e António da Eira e Costa; 1988 - trabalhos de limpeza e esquematização, sob a orientação de J. R. dos Santos Júnior, Adérito Medeiros Freitas, António da Eira e Costa e Norberto dos Santos Júnior.
Observações
Tradicionalmente considerado como santuário pré-romano, não apresenta, contudo, o mesmo tipo de estruturas, caso dos recipientes rituais registados noutros locais de culto desta área, como os de Pias dos Mouros (Valpaços), Vilar de Perdizes (Montalegre) ou Panóias (Vila Real), embora os dados apresentados na publicação da intervenção arqueológica, não sejam elucidativos quanto à ocupação crono-funcional do local. O espólio desta estação é constituído por fragmentos de cerâmica medieval.
Autor e Data
Isabel Sereno e Paulo Amaral 1993
Além da informação e bibliografia atrás citada, se fizermos uma pesquisa na INTERNET veremos que desde o IGESPAR – Instituto de Gestão do Património Arquitectónico e Arqueológico ao Instituto Português de Arqueologia, passando pela Wikipédia e outros 400 000 lugares (pesquisa Google), há referencias ao Castelo do Mau Vizinho. Pois! E claro que contra tanta “literatura” não há argumentos, mas mesmo assim, e correndo o risco de não ser politicamente correto, cheguei ao tal local do Castelo do Mau Vizinho e, suponho que a minha ignorância, não me permitiu ver nenhum castelo, nem vestígios, e daí, eu desde o início desde post dizer que esta descoberta foi uma agradável desilusão. Explicada que está a desilusão passemos à parte do agradável.
Sempre que vou para terras de S.Vicente da Raia, depois de passar Travancas e Argemil, há por lá um alto onde paro sempre para contemplar o mar de montanhas que nasce aos nossos pés e se estende pelo horizonte adentro em direção a nascente. Um mar de montanhas que com os meios que tenho se torna proibido de navegar. Assim, são para mim terras virgens, ou quase. Depois de demorar uns anos a chegar a S.Gonçalo, onde o Rio Mousse termina a sua caminhada penetrando o Rio Mente, faltava-me subir um pouco mais o Mousse para chegar ao Castelo do Mau Vizinho. Sabia que ficava por alí junto ao Mousse, mas nunca o tinha conseguido localizar desde a praia do mar de montanhas. Imaginava o sítio interessante e de beleza igual ou superior à do S.Gonçalo e, não me enganei. O local é interessante e quanto a beleza, tem a sua beleza quase selvagem onde a mão
do homem ficou registada em alguns caminhos toscos e três moinhos que se esconde por entre o serpentear do Rio Mousse. O dito Castelo do Mau Vizinho é um morro, outeiro ou cabeço que nasce quase perpendicularmente, deste serpentear do mousse, com “gigantes” lâminas de xisto como se fossem facas a desafiar o céu azul que, desde o Mousse, de tão profundo que corre ali entre montanhas, faz que o azul do céu pareça muito mais azul. Apetece ficar por lá, esquecido, abandonado, sem telemóveis, eletricidade, novas tecnologias. Apenas natureza e muita sombra resultante das montanhas que o sol não consegue atravessar. Uma estranha paisagem engolida pelas montanhas onde o único horizonte alcançável é o céu e as lâminas de xisto do tal Castelo do Mau Vizinho, sem torres, ameias ou muralhas, apenas a natureza que se ergue como um castelo beijado por um pequeno rio que dá pelo nome de Mousse onde os alfaiates insistem em patinar contra a corrente.