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CHAVES

Olhares sobre o "Reino Maravilhoso"

29
Mar16

8 - Chaves, era uma vez um comboio…


800-texas

 

Texas  o comboio   kimvoio

 

Vi-o a primeira vez  ainda na penumbra dos amanheceres,  a passar no fundo do estradão, a minha mãe de futuro em riste, levava a Zé por volta das sete e tal da manhã  à estação das Pedras, para ir para o colégio de Vila Pouca estudar, grande feito à época, bem  admirado bem invejado  o andar, andar a estudar e andar de comboio.

 

Lembro-me da ternura da Sra. Albertina  que morava no figueiredo e dizia que a mãezinha, a d. Aninhas tinha ido buscar a Zeizinha ó Kimvoio… E era assim… Como se o comboio,  além das pernas rodas nos carris, tivesse também braços e desse às mães vindos de um abraço ou colo qualquer,  os filhos sempre em segurança, num devagar se vai ao longe…

 

Sempre me fascinaram as rodas nos carris, num movimento para mim espiral que quase me fazia trocar os olhos por conseguirem  ir todas ao mesmo tempo, a meu ver eram elas  a voz e o instrumento  da orquestra que geravam o som tac a tac a tac o tal pouca terra pouca terra pouca  terra, gerando nas carruagens um movimento de samba folclórico ou de risadinhas constantes por cócegas.

 

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 CP0029 – Locomotiva: Não identificada, Data: 1977, Local: Vidago, Portugal, Slide 35 mm

 

Depois das rodas, a máquina, ora altiva cheia de soberba por ir à frente e puxar as carruagens como quem traz de arrasto os filhos distraídos, ora histérica em guinchos ensurdecedores  a exigir atenção de algum incauto que saia desgarrado  e ocupe a sua linha. Fumadora compulsiva, na altura, creio, mata ratos ou definitivos,  carvão direto aos pulmões   deixando no percurso lufadas de fumo, ambulantes nuvenzinhas de sonho esvaído num implacável céu.

 

À conta da sua falta de pontualidade a Nélia a Kika e o Nelo ainda levaram uma boa reprimenda, a Nélia umas boas chineladas no rabo, por assustarem as pessoas nas madrugadas dentro de um lençol com uma pilha, além de colocarem cartazes escritos das caixas de papelão, nas portas das pessoas fazendo jus às suas alcunhas.

 

Ouvia falar dele com frequência sazonal aquando de passeios de grupos , algumas criticas à sua lassidão.

 

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 CP0005  – Locomotiva: CP E209, Data: Não datado, Local: Régua, Portugal, Slide 35 mm

 

Um dia aí para uns  35 anos , vim da régua  com ele, trouxe-me direitinha com calma que mais valia chegar tarde neste mundo, que mais cedo ao outro, cheguei  a casa meio fusca com algumas faúlhas que se escaparam para nos enfarruscarem à socapa, sabendo que só dávamos conta quando chegássemos a casa, pois não dispúnhamos de espelhinho ali à mão.O balanço foi positivo, gostei, mas naquele tempo eu não sabia ainda o seu valor acrescentado , eu só tinha pressa, ele não estava ara aí virado para as pressas.

 

Lembro-me sempre com um arrepio na espinha de um senhor desesperado que decidiu atirar-se à linha quando ele passou, além das sistemáticas ameaças de senhoras que no auge da deceção pensavam alto em matar-se com a ajuda dele do kimvoio , do texas.

 

Às vezes era o bode expiatório para justificar a presença de indigentes na cidade , dado ser  em Chaves o fim da linha, os viajantes peregrinos tinham de sair e ficar à espera ,surgindo por uns tempos como estranhos na cidade.

 

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 CP0037  – Locomotiva: CP E209, Data: 1973, Local: Não identificado, Portugal, Slide 35 mm

 

O Mestre Nadir a propósito do meu apelido Seixas contou-me que no seu tempo de estudante  de faculdade quando regressava do Porto, o revisor de nome Seixas mandava sair as pessoas nas subidas do comboio texas e pedia ajuda aos homens para empurrar, entrando  todos os passageiros novamente nas descidas. Foi sempre algo incompreendido, talvez por  deixar tempo aos passageiros para irem às frutas e  às vinhas do caminho  buscar uvas para comer, enquanto brincavam às corridinhas  com o texas que se deixava facilmente apanhar, ainda foi protagonista de excursões a Vidago levando miúdos e graúdos a ver a paisagem  numa alegria intemporal…

 

Depois com o tempo envelheceu, reformou-se e jaz nas memórias, além da carruagem atrás da antiga Estação e da máquina recuperada por algum saudosista perto da linha de Curalha.

 

E a nós deixou-nos  o  memorando  de o lembrar aos nossos filhos e netos se os tivermos…

 

Isabel  Seixas

 

In “Memórias de uma Linha – Linha do Corgo – Chaves”, Agosto de 2014

Edição Lumbudus – Associação de Fotografia e Gravura

 

Fotografias – Propriedade e direitos de autor de Humberto Ferreira (http://outeiroseco-aqi.blogs.sapo.pt)

Gentilmente cedidas para publicação neste post.

 

 

18
Mar16

7 - Chaves, era uma vez um comboio…


800-texas

 

As noites eram todas semelhantes…

 

Muitas vezes, acabados de deitar, éramos acordados sempre com a mesma pergunta:

 

- “Querendes ir ó contrabando?”

 

Sabíamos não ser uma pergunta, por isso, sem responder, levantávamo-nos e lá íamos nós em direcção ao ponto de recolha. Habitualmente, um curral em Vilarinho da Raia. Aí eram-nos distribuídas as nossas tarefas para essa noite de acordo com as capacidades que já tivéssemos demonstrado.

 

Sabíamos também haver sempre algum perigo inerente a estas actividades, pois nem todos os guardas-fiscais estavam a “dormir”, mas o dinheiro dava-nos jeito para as nossas pequenas coisas.

 

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 CP0107 – Locomotiva: CP E205, Data: 1973, Local: Chaves, Portugal, Slide 35 mm

 

As noites eram todas semelhantes…

 

Eram noites de Inverno e, por serem mais longas, permitiam, quando necessário, fazer mais do que uma viagem.

 

Eram noites frias, escuras, que serviam para disfarçar as nossas silhuetas e combiná-las com as sombras da vegetação que ladeava os caminhos por onde passávamos.

 

Mas, sobretudo, eram noites sem luar. O único brilho permitido era o pálido e suave tremeluzir das estrelas.

 

Para mim, as noites preferidas eram as de chuva. É certo que não tínhamos as estrelas, mas não restavam dúvidas quanto às noites serem mais frias, mais escuras e muito, mas muito mais silenciosas.

 

O som da chuva abafava os nossos passos. Também o “martelar” dos cascos dos animais e algum balido ou relinchar, que escapasse ao cansaço que se acumulava, deixavam de ecoar no vazio da noite.

 

Essencialmente, trazíamos ovelhas e cabras velhas, mas também cavalos, machos e burros, todos estes também com um longo percurso de vida ou com graves mazelas que os impedia de continuar a cumprir as suas funções.

 

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  CP0117 – Locomotiva: Não identificada, Data: Não datado, Local: Chaves, Portugal, Slide 35 mm

 

As noites eram todas semelhantes…

 

Tal como a passagem obrigatória pela nossa Aldeia – Outeiro Seco. Aqui, já os caminhos que percorríamos variavam. Ou para não utilizarmos sempre o mesmo, ou porque sabíamos que um deles estava a ser guardado, ou para dividirmos a “carga” para o caso de sermos apanhados pela Guarda Fiscal.

 

Nessa altura, os caminhos da nossa Aldeia eram transitáveis, não como hoje em dia, onde nem uma pessoa passa. Das nascentes brotavam águas límpidas, cristalinas, puras, onde qualquer Ser Humano ou animal podia saciar a sua sede sem receio, não como hoje em dia, em que tanto as nascentes, como as linhas de água estão poluídas pelos esgotos (provenientes dos parques empresariais) que correm a céu aberto e tudo infestam.

 

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  CP0165 – Locomotiva: CP E205, Data: Outubro de 2001, Local: Azpeitia, Espanha Slide 35 mm

 

As noites eram todas semelhantes…

 

Saíamos de Vilarinho da Raia com um destino muito preciso: a estação dos comboios em Chaves, onde carregaríamos o gado nos vagões com destino aos matadouros do Porto (ou pelo menos era o que se constava).

 

De Vilarinho da Raia seguíamos em direcção a Vila Meã e dali ao Cotrão. Ao chegar ao Cotrão, caso ainda não nos tivessem sido dadas indicações, deveríamos seguir um de dois itinerários ou dividir o gado pelos dois.

 

Aquele que mais utilizávamos era o que seguia pelo Alto Silveira, Almeirinho, Senhor dos Desamparados e Mina.

 

O outro vinha pelo caminho da Teixugueira, Caminho da Torre, Moucho e Mina.

 

A partir da Mina, o percurso era o mesmo: seguíamos em direção ao Papeiro, Mãe d'Água, Poços de Volfrâmio, Santa Cruz, Forte de São Neutel, Bairro Verde e, finalmente, estação dos comboios.

 

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  CP0123 – Locomotiva: CP E205, Data: 22 de Julho de 1976, Local: Vila Real, Portugal, Slide 35 mm

 

As noites eram todas semelhantes…

 

A estação estava sempre envolta em vapor, fumo e, porque não dizê-lo, mistério, que se acentuava com a escuridão da noite. Nunca vimos lá ninguém. Embora não tivéssemos interesse nenhum, presumo que o motivo fosse o de assim não poderem ser identificados. Os únicos ruídos que se distinguiam claramente eram os das caldeiras e do espezinhar do gado que, talvez por adivinhar o seu destino, se recusava a entrar nos vagões.

 

Havia rampas já colocadas para carregar as ovelhas e cabras nos vagões de bordas baixas (abertos) e outras para carregar nos vagões fechados os cavalos, machos e burros. O gado era encartado como sardinhas em lata. Diziam que o que interessava era o número de cabeças que chegava ao destino e não o estado em que estivessem.

 

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  CP0131 – Locomotiva: CP E202, Data: 1965, Local: Não identificado, Portugal, Slide 35 mm

 

As noites eram todas semelhantes…

 

Já de regresso a casa, às vezes a-modos de despedida, ouvia-se o apito estridente e o som metálico da locomotiva que assim anunciava a sua partida. A aurora já se renovava, dando início a um novo dia e, talvez, a mais uma noite semelhante a tantas outras.

 

A verdade é que nunca viajei no nosso comboio, mas sinto muito a sua falta e lamento que todas as infra-estruturas tenham sido abandonadas ou destruídas por quem dirigia ou dirige os destinos da nossa Região, amontoando num espaço exíguo meia-dúzia de objectos, destruindo com elas as memórias de uma linha.

Humberto Ferreira

 

 

In “Memórias de uma Linha – Linha do Corgo – Chaves”, Agosto de 2014

Edição Lumbudus – Associação de Fotografia e Gravura

 

Fotografias – Propriedade e direitos de autor de Humberto Ferreira (http://outeiroseco-aqi.blogs.sapo.pt)

Gentilmente cedidas para publicação neste post.

 

 

01
Mar16

6 - Chaves, era uma vez um comboio…


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O NOSSO CAMBOIO

 

O ramal de caminho-de-ferro do Corgo/Tâmega ligava a cidade de Trajano ao Peso da Régua, onde encontrava a linha do Douro.

 

A 25 de Maio de 1905, foi inaugurado o troço entre a Régua e Vila Real.

 

A 15 de Julho de 1907, o comboio já chegava às Pedras Salgadas.

 

A 20 de Março de 1910 a Vidago. Quedou-se por ali alguns anos, devido à indecisão quanto à margem do Tâmega que seguiria até Chaves e também pelas dificuldades da intervenção lusa na Grande Guerra.

 

A 20 de Junho de 1919, atravessou o Tâmega para a sua margem direita e chegou a Curalha.

 

A 21 de Agosto do 1921, o comboio estava em Chaves.

 

A ligação por via-férrea à Invicta, estava, finalmente, conseguida. Num tempo em que as estradas eram caminhos de cabras e os veículos automóveis estavam na alvorada, o comboio representava um progresso extraordinário. O Vale do Tâmega parecia livrar-se, por fim, do ostracismo a que esteve votado séculos, quer pelo isolamento a que o Marão, o Alvão, o Barroso e o Gerês o sujeitavam, quer pelo desprezo dos de Lisboa que, mesmo hoje, continuam a riscá-lo do mapa. Por isso, a obra era motivo de grande orgulho e de muita admiração.

 

Ninguém descia à Veiga que não visitasse a estação para ver o camboio.

 

Era um meio de transporte fantástico. Rapidíssimo! Tanto assim que não chegava a gastar quatro horas para percorrer os noventa quilómetros que separam Chaves da Régua! Esbaforido, galgava encostas e vales como as cabras as penedias e trazia novidades da cidade grande. Também levava esperanças da pequena.

 

Quem viajasse em primeira classe, dava-se à mordomia de bancos estofados. Os da segunda sentavam-se nos de madeira, e os da terceira viajavam de pé como o gado, entre os coelhos, as galinhas e as hortaliças que se vendiam pelos mercados. O Texas, como lhe chamavam, transportava muita gente. Eu próprio viajei inúmeras vezes. Recordo, com nostalgia, as viagens que fazia, nos dias de verão, para a piscina do Palace Hotel de Vidago. De regresso, enquanto o comboio, estafado pelos socalcos do Corgo, contornava as colinas do Tâmega, ia-se às uvas e caçava-se adiante.

 

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CP0059 - Locomotiva: CP E202, Data: 1969, Local: Vidago, Portugal, Slide 35mm

 

Quem viajasse armado em tirone, calça clara ou camisinha branca, ou em flausina, vestidinho níveo, chegava ao fim da viagem careto! O fumo do carvão de pedra era tão espesso, que sujava tudo. Mesmo com as ventanas fechadas entranhava-se até aos ossos.

 

Mas mais do que pessoas e bens, o comboio transportava os sonhos e as fantasias dos flavienses. Para muitos representava até o passaporte, a oportunidade, para um mundo outro!

 

Corriam os anos trinta e o Ti Morgado de Fornelos, homem de grande lavoura, tinha muita família no Porto. Ora, o comboio, mesmo a dezassete quilómetros, representava uma mais-valia, não só para a deslocação da gente, mas também para o negócio da batata de semente que chegava mais fresca ao húmus da Póvoa de Varzim. Possibilitava, ainda, fazer chegar à família tripeira os mimos do Planalto. Na volta trazia as novidades da civilização. Além do mais, permitia encontros amiudados entre os membros da família. Aos criados da casa estava incumbida a missão de fazer a ponte entre a estação e a casa de Fornelos. Era mais fácil e proveitoso do que ir ao Vidago. Andavam sempre aspadinhos por este trabalho, pois representava uma raríssima ocasião de irem à cidade, mas, sobretudo, de verem o camboio.

 

O Manuel Soqueiro, artista a talhar socos em pau de amieiro, foi criado na casa do Morgado, até contrair matrimónio e botar lavoura própria. Contudo, sempre que fosse preciso, estava às ordens e não se fazia rogado às ajudas mais pesadas.

 

Corria o mês do arranque da batata – o ouro do Planalto – e não havia braço que se livrasse desta safra. Ao mesmo tempo, acabavam as férias dos velhotes do Porto que vinham ao Brunheiro tomar ares. Não tardava o inverno, insuportável para os da beira-mar. Por isso, era preciso levá-los ao comboio. Não havendo criado disponível, recorreu-se ao Soqueiro.

 

Na madrugada de um derradeiro sábado de setembro, ainda o sol não espreitava dos lados da Terra Quente e já os bois galegos estavam pensados, jungidos e atrelados ao carro, amparados pelos ladranhos e apertados aos estadulhos, montaram-se dois bancos corridos sobre a mesa do carro, para maior conforto dos viajantes.

 

Toca para a cidade, rilhando o macadame da nacional 314!

 

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 CP0102 - Locomotiva: CP E206, Data: 1973, Local: Vila Pouca de Aguiar, Portugal, Slide 35mm

 

O Manuel era pai da Rita Soqueira, uma catraia abonada de carnes, nas suas doze primaveras. Porém, Rita era grossa como a casca das carvalhas da touça fronteira ao pardieiro em que sobreviviam. E não admirava, pois só conhecia mundo até onde a vista alcançava! Santa Leocádia, a quilómetro e meio de Fornelos, onde ouvia a missa de domingo, era o sítio mais longínquo que já tinha percorrido. Por isso, era uma boa oportunidade de lhe desvirginar os horizontes, levando-a à fim do mundo, a cidade de Chaves.

 

Chegaram à estação por volta do meio-dia. Como o comboio só partia à uma, ainda havia tempo para a merenda e para uma visita guiada. O pai, na companhia do velho Lopes, não perdeu a oportunidade de mostrar o camboio à sua piquena, explicando-lhe, com a erudição planáltica, os mais ínfimos pormenores:

 

– Olha, Rita, esta casa grande de prepianho é a estação do camboio. Aquela mais piquena o mijatório! Do oitro lado são os almazéns das mercadorias. É aqui, na gare, que a gente embarca e lá drento da estação despacham-se as encomendas p'ró Porto e tiram-se os bilhetes. Bês estas linhas de ferro no tchão em cima das bigas de madeira? São os carriles, a estrada por onde o camboio anda. Aquela casinhota que está lá na frente a botar fumo é a lacomotiba que putxa estas gaiolinhas que são as carruaijes. As que têm jinelas são para a gente, as fitchadas para as encomendas e para os animais. Aqueles homes do boné engatam as gaiolas umas nas oitras, com umas correntes e formam o camboio. Ódespois a mánica apita, arrenca e puxa o camboio, mas só quando o chefe da estação dá orde de partida com um assobio. A mánica tem lá drento um fogão de lenha como o de casa do senhor Morgado, mas muito maior! Atão o maquenista atafulha-o de carbão-de-pedra, risca um palhito e bota-le o fogo. O carbão alabareia-se e aquece duas ou três pipas de áuga que a lacomotiba tem no butcho. A água ferbe e o bapôr faz andar as rodas do camboio, como os potes na lareira alebantam os testos, nos dias das segadas, quando ferbem!

 

A rapariguita estava banzada! A boca escancarava-se-lhe de espanto e os olhos de emoção! A realidade era ainda mais estranha, fascinante e maravilhosa, do que as histórias dos comboios que lera nos livros da escola de Adães!

 

Prometera a si mesma que em casando havia de andar de camboio! - De facto veio a consegui-lo, como emigrante para a França!

 

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 CP0149 - Locomotiva: CP E54, Data: 1970, Local: Não identificado, Portugal, Slide 35mm

 

A emoção era de tal ordem que a sua cabeça rodopiava de ideias e de dúvidas:

 

– Ó pai e quando o camboio arrenca a estação vai atrás dele?!..

 

O pai não lhe respondeu, não sei se por não saber a resposta, se por o chefe da estação ter dado ordem de partida:

 

– Fiiiiiiiiiiiiii-uíííííííííííííííí-iiiiiiiiiiiiiiiiiiiii…

 

O comboio abriu as goelas, botou duas golfadas de fumo negro, espirrou vapor pelas partes e arrancou para a Régua.

 

– Pouca…….-…….terra; pouca….-……terra; pouca…-…terra; pouca..-..terra; pouca-terra; pouca-terra; pouca-terra; pouca-terra; pouca-terra!....................................

 

A Rita não aguentou, não sei se do medo se da emoção! Fugiu, espavorida, para o largo da estação! Porém, ainda ouviu o comboio a apitar, roufenho, na passagem de nível do Asilo, junto à casa do Mija na Garrafa!

 

– Huiiiiiiiiiiiiiiii……..Huiiiiiiiii……..Huiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii!..

 

Em Janeiro de 1990, o ramal do Tâmega foi encerrado.

 

Infelizmente quem manda anda cego! Não percebeu que o prejuízo da supressão será no futuro, que já é hoje, pesadíssimo, para quem anda a ser sistematicamente espoliado!

 

É mais um esbulho que, a juntar a tantos outros, faz dos transmontanos portugueses de terceira.

 

Gil Santos

 

 

In “Memórias de uma Linha – Linha do Corgo – Chaves”, Agosto de 2014

Edição Lumbudus – Associação de Fotografia e Gravura

 

Fotografias – Propriedade e direitos de autor de Humberto Ferreira (http:outeiroseco-aqi.blogs.sapo.pt)

Gentilmente cedidas para publicação neste post.

 

 

02
Fev16

4 - Chaves, era uma vez um comboio…


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O Texas do Corgo

 

Este texto deveria ser um poema, pois é na poesia que costumo chorar a dor, o amor, as paixões, as perdas, as saudades… mas sob revolta, nunca os consegui escrever.

 

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 CP0012 – Locomotiva: CP E205, Data: Não datado, Local: Chaves, Portugal, Slide 35mm

 

Desde sempre pensei que a Linha do Corgo se deveria chamar Linha do Tâmega, coisas minhas mas também da lógica das linhas ferroviárias estarem associadas à proximidade dos rios e de “correrem” ao longo da sua corrente, e daí, se o Rio Tâmega que nasce nas proximidades de Chaves desagua no Rio Douro, também a nossa linha que nascia junto ao Rio Tâmega, deveria assumir o seu nome ao desaguar na linha do Douro. Mas, repito, isso eram coisas minhas mas nunca lhe dei grande importância, pois a linha adotou o nome de outro rio ao qual também estou sentimentalmente ligado, quase desde que nasci - o Corgo - mais propriamente a Parada do Corgo, ali mesmo juntinho à nascente do rio, terra dos meus avós paternos e do meu pai e, é graças a essa aldeia que,

 

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  CP0138 – Locomotiva: Não identificada, Data: 1977, Local: Veiga de Vila Pouca de Aguiar, Portugal, Slide 35mm

 

também desde que nasci, comecei a ser um passageiro frequente do nosso comboio, o “Texas”, como carinhosamente o alcunhávamos. No entanto a minha primeira recordação do comboio remontará aí para os meus cinco anos de idade, precisamente quando no apeadeiro de Parada do Corgo comecei a ver ao fundo da reta de Zimão uma barulhenta bola de fumo negro e que, ainda por cima, apitava, e quanto mais se aproximava, o fumo aumentava, os barulhos tornavam-se mais intensos, os apitos mais fortes e estridentes até que uma montanha andante de ferro, com um nariz vermelho, estava ali, mesmo em cima de nós. Escusado será dizer, que lá no fundo nos meus cinco anitos, fiquei borradinho de medo, agarrado à saia da minha mãe.

 

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 Apeadeiro de Parada do Corgo (ou Aguiar)

 

Com o tempo fui-me habituando àquele monstro amigo que me levava a visitar os meus avós e me trazia de regresso à casa de Chaves. Depois também foi através dele que vi pela primeira vez o mar e fui pela primeira vez à nossa praia (Póvoa de Varzim), tudo de comboio, depois paras as piscinas de Vidago e das Pedras Salgadas. Fui e vim da tropa de comboio, e já nos anos oitenta, quase até ao dia da sua morte, fazia viagens frequentes a Lisboa e se para lá ia de autocarro direto, o regresso fazia-o quase sempre na comodidade do comboio, e quer fosse de verão ou inverno, a Linha do Corgo, da Régua a Chaves, depois da regueifa e dos rebuçados de açúcar torrado, era feita na varanda do comboio, mas há uma viagem, a última, que nunca mais esquecerei, não por saber que era a última, pois não sabia então que passado pouco tempo, traiçoeira e irrefletidamente a linha iria ser encerrada, mas porque nessa viagem tive uma companhia inesperada à varanda, uma companhia que a família (mulher e filhos) tinha deixado na estação da Régua para apanhar o comboio para Chaves, uma companhia que eu há anos já admirava e da qual tinha saudades, sobretudo da sua sabedoria, do seu amor à poesia e do seu conversar. Era o meu antigo professor de português do Liceu, o Dr. José Henriques, que ainda antes do 25 de abril de 74, através da poesia e dentro das quatro paredes da sala de aulas nos falava da liberdade. Foi a minha última viagem na Linha do Corgo e a última conversa com o meu antigo professor, espaçada de silêncios, explicados pelo êxtase da apreciação da paisagem ou pela apanha e descarga de passageiros nas estações e apeadeiros.

 

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  CP0012 – Locomotiva: CP E209, Data: Não datado, Local: Não identificado, Portugal, Slide 35mm

 

Tenho saudades da Linha do Corgo, do comboio, de viajar à varanda e, só lamento, revoltado, que os de Lisboa nos o tivessem roubado, ou pior ainda, assassinado, sem o mínimo respeito pela sua história e pelas populações que servia.  

 

Fernando DC Ribeiro

 

 

In “Memórias de uma Linha – Linha do Corgo – Chaves”, Agosto de 2014

Edição Lumbudus – Associação de Fotografia e Gravura

 

Fotografias – Propriedade e direitos de autor de Humberto Ferreira (http:outeiroseco-aqi.blogs.sapo.pt)

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19
Jan16

3 - Chaves, era uma vez um comboio…


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NOSTALGIA

 

Já lá vão mais de sessenta anos. Mas a cena está-me tão presente como se fora hoje. Vejo o buliçoso e traquina Nona, sentado no banco de pedra da janela de casa, com os braços nela apoiados, olhando com aqueles olhos ávidos, cor de azeitona preta, para um ponto fixo do vasto horizonte de vinhedos à sua frente. Não era o mítico Marão, tão bem cantado por Teixeira de Pascoaes, e a sua Fraga protetora da Ermida, mesmo ali ao lado, que o fascinava. Nem tão pouco a beleza dos vinhedos, vestidos de mil cores, descendo em forma de barco até ao Douro. Seus olhos, penetrantes e insaciáveis, apenas se fixavam num único e só ponto longínquo do horizonte, onde os vinhedos acabam e o rio Douro passa, espraiando-se, apressado, em direção à foz. Era a Ponte do Granjão. Não que fosse uma bela obra de arte. Ou sequer uma obra imponente. A sua importância advinha simplesmente porque, sobre ela, passava algo que o fascinava. Que o fazia sonhar noutros mundos e lhe apelava a outras paragens. Nela passava o comboio. E como ele gostava de sentir, ao longe, o barulho que as rodas de ferro faziam sobre os carris; os apitos estridentes que dava quando por ela passava e o fumo que a chaminé da sua locomotiva expelia.

 

cp0003.jpgCP0003 – Locomotiva: CP E209, Data: Março de 1974, Local: Corgo, Portugal, Slide 35mm

 

Estava-se mesmo a ver que o rapaz, quando crescesse mais, não ficaria muito tempo por ali. Não que ele não gostasse da terra que o viu nascer. Muito pelo contrário, adorava-a. Era mesmo o seu paraíso do qual guarda as melhores recordações de uma infância feliz, embora muito curta.

 

Era, contudo, terra pequena de mais para o tamanho do seu sonho.

 

cp0021.jpgCP0021 – Locomotiva: CP E202, Data: Não datado, Local: Não identificado, Portugal, Slide 35mm

 

Aquele comboio, passando ali todos os dias e a diferentes horas, tornou-se-lhe um amigo. O seu amigo. Mas também uma obsessão. E o seu estridente apitar, quando passava sobre a ponte, entendia-o como a mágica de um chamamento, um vem comigo conhecer o mundo.

 

E um dia partiu mesmo.

 

Com ele, e nele, deu os primeiros passos da «descoberta». Do contacto com o outro. Do partilhar de vidas. Do conhecer as diferenças. Foi, assim, a partir da luz que aquele ponto no horizonte lhe inculcou na mente que Nona se transformou no homem que hoje é: homem do mundo, mas com um enorme apego ao rincão donde partiu.

 

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CP0010 – Locomotiva: CP E209, Data: 23 de Março de 1974, Local: Chaves, Portugal, Slide 35mm

 

É por isso que, quando em presença de uma máquina a vapor, idêntica aquelas que passavam na ponte da sua infância, em Nona se lhe despertam todas as memórias, de partidas e chegadas. De todos os momentos da sua vida.

 

Por elas evoca, principalmente, um Portugal que já não somos - comunitário e rural; interior e lutador, solidário, castiçamente ibérico e sonhador.

 

As últimas travessas arrancadas das linhas que o cerziam fizeram-no infinitamente mais pequeno. Hoje somos simplesmente, e apenas, uma pequeníssima e estreita faixa debruada sobre o oceano. E temos medo de nele entrar e encetar nova empresa de um novo «navegar». Tiraram-nos a alma. A nossa verdadeira alma - a do cavador que sempre fomos.

 

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 CP0005 – Locomotiva: CP E209, Data: Não datado, Local: Régua, Portugal, Slide 35mm

 

Sem terra e sem mar, ficámos mais pobres. Estamos pobres. Uma pobreza que está não apenas naquilo que não temos. Essencialmente naquilo que já não somos. E deveríamos ser.

 

Urje, pois, que nos encontremos. Talvez em qualquer travessa perdida da linha que já não temos. E que nos indique um rumo. Um novo caminho.

António de Souza e Silva

 

 

In “Memórias de uma Linha – Linha do Corgo – Chaves”, Agosto de 2014

Edição Lumbudus – Associação de Fotografia e Gravura

 

Fotografias – Propriedade e direitos de autor de Humberto Ferreira (http:outeiroseco-aqi.blogs.sapo.pt)

Gentilmente cedidas para publicação neste post.

 

 

17
Nov15

Os Nossos Rios no Outono Fotográfico


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Ontem na localidade galega de O Barco de Valdeorras, inaugurou mais uma exposição coletiva de fotografia com cinco fotógrafos galegos e cinco portugueses, incluída no certame do Outono Fotográfico, onde a Associação Lumbudus também marca presença com três dos seus associados. A exposição itinerante inicialmente promovida pela Cultura Que Une, já esteve este ano em Amarante, La Coruña e também já passou por Chaves no mês de setembro.

 

A exposição estará patente ao público no Teatro Municipal Lauro Olmo, no Barcor de Valdeorras, até dia 30 de novembro.

 

02
Nov15

O Regresso à cidade e o Outono Fotográfico


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Adeus Santos. E de nada vale esperar sentado pois Santos e festa,  só para o ano há mais.

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E no regresso à cidade fica uma imagem da antiga estação da CP, no final do dia 31 quando um raio de luz fez a diferença.

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E já que estamos em maré de fotografia vamos aos acontecimentos fotográficos e que são muitos, graças ao certame galego de fotografia, o Outono Fotográfico, vamos ter por aí 308 fotógrafos em 22 localidades, com um total de 87 exposições e 72 espaços expositivos.

 

Chaves também marca presença no certame Outono Fotográfico pelo segundo ano consecutivo através da Associação de Fotografia e Gravura – Lumbudus, com 10 fotógrafos, 4 exposições, 3 espaços expositivos e 2 localidades – Chaves e Santiago de Compostela.

5-cartaz-jm.jpgA primeira começa hoje na Galeria da Adega do Faustino, intitulada Periferias – Interioridades, de autoria de João Madureira, que estará patente ao público até ao dia 30 de novembro.

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Realce-se que PERIFERIAS foi o tema escolhido pelo Certame do Outono Fotográfico para ser comum a todas as exposições.

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A segunda exposição inaugura amanhã, às 17H30 na Sala Multiusos do Centro Cultural em Chaves. Trata-se de uma coletiva de Associados Lumbudus, seguindo o tema do certame “Periferias”.

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catalogo-fr2.jpgA terceira e quarta exposições, intitulada Periferias-Perecerias, de autoria de Fernando DC Ribeiro, inaugura também amanhã em Santiago de Compostela , onde estará até ao final deste mês no Centro Cultural Agustín Bueno do Castiñeiriño . No mês de dezembro, a mesma exposição terá lugar em Chaves, na Galeria da Adega do Faustino, onde ficará até ao final do ano.

lumbudus-1000.JPGE no meio de tanta boa notícia para a fotografia flaviense promovida pela Associação Lumbudus, que só neste ano participou em dezenas de exposições e eventos culturais que percorreram várias cidades galegas e portuguesas, fica o lamento de a Associação Lumbudus, com seis anos de existência legalmente constituída, parecer não existir para as entidades flavienses.

 

 

02
Out15

Exposição Coletiva de Fotografia - Olhares no Feminino


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Diferentes olhares que nos levam a diferentes registos mas todos com a mesma sensibilidade conjugada no feminino. Ingredientes que nos levam a uma coletiva de fotografia de cinco fotógrafas da Associação Lumbudus. Carminha Videira, Fernanda Serra, Madalena Branco, Paula Dias e Tânia Oliveira com olhares reunidos na galeria da Adega do Faustino até dia 28 deste mês.

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A inauguração está marcada para hoje, às 18 horas. A organização é da Lumbudus – Associação de Fotografia e Gravura.

 

 

01
Set15

Exposição Coletiva de Fotografia


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Exposição Coletiva de Fotografia

“Os Rios”

Adega do Faustino de 1 a 30 de Setembro

 

A Galiza e o Norte de Portugal, filhos de uma mesma cultura que ficou dividida, não tanto na época em que D.Afonso Henriques proclamou a independência do Condado Portucalense, mas sim quando foram implantados os tratados de limitação de fronteiras por estados liberais fortemente jacobinos e centralistas ao longo do século XIX.

 

Nas duas primeiras décadas do passado século XX, intelectuais e criadores galegos e portugueses falaram da necessidade do reencontro. Mas as violências do século XX, nomeadamente as ditaduras, a Guerra Civil Espanhola, a repressão, as dificuldades económicas que afetaram os povos ibéricos pareceram silenciar estes diálogo que, na forma de encontros entre arqueólogos, escritores, filósofos, artistas, etc., continuaram à margem do discurso oficial.

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Mas se é necessário o reencontro também é igualmente necessária a redescoberta de um património cultural que teve origem no território da Gallaecia romana e que teve na língua galaico-portuguesa a sua fonte de criação. O património comum galaico-português faz parte do acervo da humanidade em criações singulares como as cantigas medievais da nossa lírica que transparecem uma rica tradição oral onde beberam os trovadores. A cultura popular comum manteve a sua vitalidade até ao presente, apesar da fronteira política, deve obter o seu maior reconhecimento mediante a inscrição na Lista Representativa do Património Imaterial da Humanidade da UNESCO.

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A aprovação a 11 de Março de 2014 pelo Parlamento Galego da Lei Valentín Paz-Andrade, fruto de uma iniciativa Legislativa Popular, publicada no DOG de 8 de Abril de 2014, convida-nos, e até certo ponto obriga-nos, a aprofundar no esforço do reencontro.

Cultura que Une é uma Associação que pretende reunir intelectuais, escritores, artistas plásticos, fotógrafos, músicos, pensadores, etc. nesse mesmo reencontro destes atores da cultura galega e do Norte de Portugal à qual a Associação de Fotografia Lumbudus se associou desde os seus primeiros passos, tendo como ponto de partida o presente ano de 2015, tendo já lançado atividades nas mais variadas vertentes, com concertos musicais, encontros de escritores e poetas, exposições de artes plásticas e fotografia, colóquios, etc, nas cidades de Amarante (em Maio) e de La Coruña (em junho).

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A presente exposição de fotografia que se quis itinerante, foi uma das que passou por Amarante e La Coruña, reunindo cinco fotógrafos galegos e cinco portugueses, todos à volta de um mesmo tema — os rios — que estará patente ao público em Chaves durante todo o mês de setembro, partindo depois, de novo, para terras galegas.

 

 

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