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Posso tardar a cumprir as minhas promessas, mas geralmente cumpro-as sempre que possíveis. Pois há uns meses atrás prometi a alguém de Matosinhos umas fotos da aldeia, é para lá que vamos hoje.
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A história das aldeias é importante, mas para uma primeira análise gosto de entrar por elas adentro, aprecia-las, falar com as suas gentes e tirar as minhas próprias conclusões.
À primeira vista é mais uma das aldeias de montanha, mas com uma localização privilegiada, recolhendo-se e abrigando-se num encontro de montanhas onde se formam pequenos vales férteis atravessados por uma ribeira que, quando perguntei o seu nome, me disseram que por lá toda a gente o conhece por rigueiro, que será um dos que vai engrossar mais abaixo a Ribeira de Oura para desaguar no nosso Rio Tâmega.
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Assim e embora Matosinhos seja mais uma das aldeias de montanha, sai fora das suas características, que se nota, por exemplo, nas suas duas casas senhoriais, uma mais senhorial que a outra, mas ambas pertença pela certa de famílias abastadas que antigamente dominaram a aldeia.
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Geralmente na maioria das aldeias do concelho onde existem casas solarengas ou senhoriais, as mesmas estão dotadas ao abandono ou até mesmo em ruínas. Sinal da mudança dos tempos em que o poder dos senhores sobre as aldeias foi perdendo importância por vários fenómenos bem conhecidos de todos. Curiosamente as duas casas senhoriais existentes em Matosinhos, suponho que de herdeiros dos antigos senhores da aldeia, encontram-se em bom estado de conservação e habitadas, uma delas, a Quinta do Real, foi mesmo recuperada para turismo rural.
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Ambas as casas senhoriais são dignas de ser apreciadas e são bons exemplares do rico património arquitectónico que vamos tendo espalhado por este nosso Portugal em casas do género. Pela localização e vistas, realço a Quinta do Real.
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Quanto à restante aldeia, é o costume das aldeias tradicionais de montanha, ainda com alguns exemplares interessantes das típicas construções em granito, com algumas recuperações felizes e feitas com gosto e, também, com as inevitáveis intervenções e construções recentes, com as comodidades que as antigas construções não ofereciam, mas que pouco têm a ver com o típico das tradicionais aldeias do granito. Mesmo assim, ainda é uma aldeia que na sua maioria mantém a sua identidade.
Interessante também um pequeno moinho, que embora não esteja em funcionamento, ainda se mantém em bom estado de conservação.
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Moinhos que são também património da cultura de um povo e dos velhos trabalhos ligados ao “pão”, que mereciam ter a atenção das entidades competentes, ser referenciados, classificados e protegidos para que não se perca a sua memória, como tem acontecido a tão belos exemplares (lembro os moinhos da Ribeira de Sampaio).
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Infelizmente, cada vez mais estou convencido que vamos tendo aquilo que merecemos e estas preciosidades que poderiam fazer a riqueza das nossas aldeias de montanha, são pura e simplesmente ignoradas, maltratadas até, pelos “anedóticos” senhores da política que apenas estão preocupados com o pedestal do poder e o seu umbigo. Tinha que dizer isto, pois a revolta é sempre a mesma cada vez que visito uma aldeia de montanha, onde apenas resistem os resistentes, e aos poucos as aldeias vão morrendo e perdendo a sua identidade, tão rica que era, em tradições comunitárias, religiosas e ligadas à terra da qual tiravam o sustento.
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Matosinhos não foge à regra do despovoamento, do envelhecimento da população, da ausência de crianças, da emigração. Não é dos casos piores, mas também conhece de perto todos estes males.
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Matosinhos fica a 15 quilómetros de Chaves e pertence à freguesia de Stª Leocádia. Segundo os Censos de 2001, tinha nessa data 101 habitantes, dos quais 33 tinham idade superior a 65 anos e 47 entre os 20 e os 64 anos e 10 crianças com menos de 10 anos.
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E pouco mais tenho para dizer de Matosinhos, para além de integrar a aldeia nas terras da boa castanha, algum gado de pastoreio, alguma vinha e muitas pastagens.
É uma das aldeias à qual recomendo uma visita e que está integrada num dos roteiros ou itinerários interessantes das nossas aldeias de montanha, que claro, a partir de Chaves, lá se tem que tomar a E.N. 314 (Chaves-Carrazedo), passar pelo Peto de Lagarelhos (como sempre obrigatório) e logo a seguir a France, ou melhor, no Carregal ou Fornelos, vira-se à direita e seguem-se as placas. São terras de montanha, da freguesia de Stª Leocádia, que poderiam muito bem ser uma referência de turismo rural, religioso e de montanha, com o que de mais tradicional há em aldeias de montanha, se os tais senhores anedóticos da política (que são os que mandam) não andassem entretidos com o seu umbigo e com sonhos megalómanos e manias das grandezas e que tão facilmente se esquecem dos engaços que lhes pagaram as viagens até às sedes do poder ou da capital.
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Até amanhã. com mais uma aldeia deste nosso concelho de Chaves.
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