Chá de Urze com Flores de Torga - 132
Tourém, Barroso, 2 de Setembro de 1990
LIMITE
Pátria até que os meus pés
Se magoem no chão.
Até que o coração
Bata descompassado.
Até que eu não entenda
A voz livre do vento
E o silêncio tolhido
Das penedias.
Até que a minha sede
Não reconheça fontes.
Até que seja outro
E para outros
O aceno ancestral dos horizontes.
Miguel Torga, In Diário XVI
Tourém (composição com duas imagens)
Travassos do Rio, Montalegre, 29 de Agosto de 1991
Notabiliza este lugar um baixo-relevo na torre sineira a figurar a cabeça de um toiro, que foi campeão invencível nas turras do seu tempo e os habitantes, ufanos de tanta valentia, quiseram perpetuar.
Vou rememorando: Cornos das Alturas, Cornos da Fonte Fria, Tourém, Toural, Pitões.
Era assim antanho. Por todo o lado a mesma obsessão a tutelar as consciências. O mal é que o povo, em meia dúzia de anos, deixou apagar nos olhos a imagem viril, e perdeu a identidade. O Barroso de hoje é uma caricatura. Sem força testicular, fala francês, bebe coca-cola, deixo de comer o pão e centeio do forno comunitário, assiste a chegas comerciais, em campos de futebol, com bilhetes pagos e animais alugados. É um nédio boi capado.
Miguel Torga, In Diário XVI