II PARTE
O Solar dos Montalvões
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Imagem retirada do blog de Luís Montalvão
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Com uma longa e rica história ligada a Outeiro Seco e a um ramo da família Montalvão, apresenta-se hoje triste, moribundo e quase em total ruína. É mais uma história que inevitavelmente também está ligada à MODERNIDADE, pois o seu declínio começa com a aquisição por parte da Câmara Municipal de Chaves, com boas intenções, mas quando os esforços desta, apoiados pela cidade (leia-se cidadãos e um povo fácil de iludir) estavam postos no futebol e nos negócios do betão que o envolviam e subsidiavam, deixando irremediavelmente esquecida a luta de Chaves se poder afirmar
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Imagem de Arquivo com o Solar a Iniciar Ruina
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noutros campos e, assim, também o Solar e a Quinta dos Montalvões, que parece ter sido comprado com intenções nobres, depressa ficou no esquecimento e de fora dos planos de qualquer intervenção e qualquer futuro, pelo menos a julgar pelo que lhe tem acontecido desde que foi vendido pela família Montalvão. Mas bem pior que isso, é que se perdeu um solar e o seu espólio – principalmente o da sua biblioteca, um “museu” e a sua capela que além de abandonada foi vandalizada ficando praticamente destruída, incluindo o altar e a sua talha, tal, afinal, como todo o Solar, hoje em ruínas, e como a sua quinta, hoje, uma autêntica lixeira a céu aberto.
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Também aqui a TRADIÇÃO (recorrendo de novo aos termos futebolísticos) levou logo com uma cabazada de 6 ou 7 “frangos” seguidos, com essa cedência (e permissão) dos seus terrenos para depósitos de lixos, escombros, entulhos… E isto não é inventar, pois está à vista de todos entre as ruínas do Solar e a Escola de Enfermagem, hoje, graças a Deus (é sempre a Deus que se dão as graças), também pólo da UTAD.
Teria ficado bem a Outeiro Seco, às suas gentes mas sobretudo aos seus representantes, já que a Câmara Municipal nunca o fez, ter preservado ou pugnar pela preservação deste solar, mas infelizmente, ao que apurei, tal nunca aconteceu e a pouca intervenção que houve, até foi para destruir ou construir-se o que não devia… está à vista.
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Claro que estou a falar do solar de hoje ou daquilo que resta dele, pois quanto ao Solar tal como existiu nos seus anos de Solar, com gente dentro da Família Montalvão, um dos seus descendentes vai contado (com pena sentida) toda a sua história feita com pequenas estórias publicadas no seu blog. É caso para dizer que do Solar dos Montalvões quase e só resta a sua história e as estórias nele vividas. É ao seu blog e palavras que recorro agora para deixar aqui, pelo menos, a descrição do Solar tal como ele existiu nos seus melhores tempos, nos quais até a primeira dama Madame Carmona era visita:
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Imagem de Arquivo com o Solar a Iniciar Ruina
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01 - LOJA - Destinada inicialmente a cavalos. Havia baias em pedra e aros de ferro para prender os mesmos.
02 - LOJA - Havia 3 tulhas para cereais. Urna grande, para centeio. Duas mais pequenas, para trigo.
03 – CAPELA.
04 – ADEGA
05 - BICA
06 - LOJA - Pequena loja que servia para criar coelhos.
07 - LOJA - Loja inicialmente para acolher cavalos. Era agora preparada para armazenar batata.
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08 - ADEGA
08a- LOJA - Destinada a guardar baratas ou galinhas.
09 - LOJA - Destinada a guardar galinhas e patos.
10 - PÁTIO PEQUENO
11 - LOJA - Em destinada a porcos. No meio, havia uma enorme pia de granito, que servia para os porcos comerem, a comida que era deitada do andar de cima, por um alçapão aberto no chão da cozinha.
12 - LOJA - Destinada aos porcos. Tinha também uma pia de granito por baixo de outro alçapão.
13 - LOJA
14 – ADEGA
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15 - LOJA - Para esta loja, davam as 2 retretes do andar superior. O chão, estava cheio de palha, que era substituída regularmente.
17 - BICA
18 - JARDIM
19 - BALCÃO
20/21 - CASAS DE BANHO
22 - CORREDOR
23 - QUARTO DA MIMI –
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24 - QUARTO DOS AVÓS - Para entrar neste quarto, tinha de se subir um degrau. Na parede que dava para a sala de jantar, havia uma «roda», que talvez tivesse servido para passar comida da sala de jantar para este quarto. Nessa época estava desactivada.
25 - SALA POLlVALENTE
26 - SALA DE JANTAR -
27 - TRÊS DEGRAUS - Para passar à cozinha, tinha de subir-se três degraus.
28 - COZINHA - Era o maior compartimento da casa, dividido em duas partes. Uma parte, com o chão lajeado a granito, a outra parte com o chão a madeira. A parte lajeada tinha a grande lareira, ladeada por dois escanos.
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29 - 30 - QUARTOS - Eram quartos das empregadas
31 - ARRUMAÇÃO - Era utilizado como quarto das empregadas e servia ao mesmo tempo de arrecadação. Antes de um grande incêndio, tinha um outro andar que ardeu completamente, nunca mais sendo reconstruído.
32 -CORREDOR - Fazia a ligação com a parte nobre da casa
33 - QUARTO DO LILI
34 - ARMÁRIO NA PAREDE - Mesmo em frente á porta do quarto do Lili,
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Este armário, tinha uma característica especial. Dava acesso a um quarto secreto, que pelo menos por uma vez salvou o Liberal Sampaio da prisão.
35 - VARANDA - Esta varanda, tinha vários escanos e bancos encostados à parede. Era também aqui que o feijão era seco ao sol e descascado.
36 - QUARTO
37 - QUARTO DAS ARMAS
38 - QUARTO PEQUENO
39 - QUARTO
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40 - QUARTO - com escadas que davam acesso ao andar superior.
41 - BIBLIOTECA
42 - SALA DE VlSITAS. Tinha um grande fogão de sala
43 - SALA D0 MUSEU - Era aqui, que estava previsto ser a entrada principal do Solar, pois, seria ligada ao pátio pequeno por escadaria, nunca terminada. No topo da sala, uma porta com dois degraus, ligava ao coro da capela. Era deste local , que os habitantes do solar assistiam aos Ofícios de Domingo.
44 - MIRANTE - Este acrescento, construído em madeira, foi mandado fazer por um dos Montalvões, para mais facilmente poder avistar os sinais feitos pela sua amada, moradora num solar vizinho
45 - SALA
46 - SALA
47 - SALA –
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ANEXOS
48 - CASA DO LAGAR
( a ) Loja onde eram engordados porcos
(b ) loja onde estava o lagar. Este era construído em granito da região, com grandes lajes maciças. A trave de madeira da prensa, dividia-o em duas partes iguais.
49 - PORTA DE ENTRADA LATERAL -Fazia a ligação do pátio grande com rua principal da aldeia.
49a- PORTA DE ENTRADA - Fazia a ligação do pátio grande com a rua principal da aldeia. Dava passagem a carros de bois carregados. Era protegida por um telheiro de 2 águas.
50 - TELHEIRO - Protegia um grande forno de cozer o pão. Este era feito de barro branco e tinha uma cruz gravada por cima da boca. Havia sempre muita lenha a secar.
51 - CASA DOS CASEIROS - LOJA - Tinha um grande forno de cozer o pão. Servia também para guardar madeira serrada e rachas de pinho para os fogões de ferro.
52 - CASA DOS CASEIROS - LOJA - Era a segunda loja dos coelhos.
53 - CASA DOS CASEIROS - LOJA - Esta loja era aproveitada para engordar porcos.
54 - CASA DOS CASEIROS - ESCADA DE PEDRA - Dava acesso ao primeiro andar.
55 - CASA DOS CASEIROS - ESPIGUEIROS - As paredes eram feitas de ripas de madeira. Depois da colheita do milho, ficavam cheios de espigas a secar.
56 - CASA DOS CASEIROS - SALA - Sala bastante ampla, com lareira para cozinhar e com duas janelas para a rua principal da aldeia. Esta sala, comunicava com dois quartos, cada um uma janela que dava para o pátio grande. Estes aposentos, eram ocupados pelos criados de lavoura.
57 - MIRANTE
58 - GARAGEM - Esta garagem ficava do outro lado da rua principal da Aldeia, em frente da CASA DOS CASEIROS.
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O Texto está disponível no blog de Luís Montalvão. Os desenhos das plantas e alçados são de autoria do Arquitecto Manuel Sousa Cardoso e a compilação dos dados são de José Manuel Montalvão Cunha. Tudo isto e muita mais história e estórias do Solar dos Montalvões estão no blog das velharias de Luís Montalvão em http://velhariasdoluis.blogspot.com/ ao qual recomendo uma visita.
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Estórias sobre a família Montalvão e Solar que curiosamente é também ajudada a ser feita ou a preservar por cidadãos anónimos de Outeiro Seco, despojados de outros interesses que não sejam os de contribuir para a história do Solar e também de Outeiro Seco. Cidadãos anónimos que no entanto têm nome como o Carlos Félix graças ao qual ainda hoje existem devidamente guardados os Santos da Capela do Solar e um excelente cicerone e conhecedor da história de Outeiro Seco, sempre pronta a partilhá-la com quem a solicite, bem como o Humberto Ferreira (Berto Alferes) na recolha de estórias e na defesa dos interesses do solar, das suas terras e também de Outeiro Seco, com recolha, informação e até denúncia que tão bem o tem feito em publicações de sua autoria, como também no seu blog Outeiro Seco Aqi - http://outeiroseco-aqi.blogs.sapo.pt/ ao qual recomendo uma visita, não só pelo que aqui foi dito ao seu respeito mas também pelas boas fotografias que vai apresentando e revelando um excelente fotógrafo.
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Em suma, sobre o Solar dos Montalvões, por aqui, é tudo, certo que o Solar as suas terras não mereciam o estado de abandono a que está dotado, com o edifício em ruínas e as terras a servirem de lixeira onde a custo, só o mato consegue romper, sem esquecer os atentados que lá se têm cometido como o soterrar dos milenares Lagares. É caso para perguntar – Então a TRADIÇÃO que se anuncia na entrada da aldeia não deveria ter entrado em acção neste solar? E a Junta de Freguesia que tem feito por ele? Será que por ser propriedade da Câmara Municipal a Junta de Freguesia se demite dos seus deveres de defender o património da aldeia? Pois uma coisa é a propriedade e outra é o património e esse, ninguém o tira a Outeiro Seco, mas também a nós, pois o património artístico, cultural, arquitectónico e religioso, afinal é de todos e daí, também é meu. Eis a razão destas palavras que pela certa não agradarão a que está envolvido na indiferença com que tem olhado para este solar. Mas adiante …
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E termino este lamento sobre o solar com um lamento (pela certa muito mais sentido) do Luís Montalvão, deixado no seu blog e na conclusão de um dos seus posts :
“Como conclusão, podemos arriscar que a sua morte [referindo-se ao “Montalvão Velho” (como era conhecido) – a nota é minha], em 1965, com 87 anos, é mais do que falecimento de um homem com uma existência feliz, marca também o fim de uma grande casa agrícola, cujo modo de produção e vivência vinha praticamente da Idade Média. O seu desaparecimento significou a partilha da grande propriedade e a venda do solar, que entrou numa triste e imparável ruína.”
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E fica a inevitável pergunta – Para quando uma solução e uma intervenção neste solar, enquanto ainda é possível recuperar alguma da sua memória?
E é precisamente nos terrenos da Quinta dos Montalvões que a MODERNIDADE entra mais uma vez em Outeiro Seco, com a Escola de Enfermagem, hoje também Pólo da UTAD.
Abordada que está a história e alguma da TRADIÇÃO de Outeiro seco, vamos então à MODERNIDADE.
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Escola de Enfermagem/Pólo da UTAD
Esta tem sido uma das bandeiras abanadas pela MODERNIDADE de Outeiro Seco, mas muito mal abanada, pois também aqui, mais uma vez, a vitória é da MODERNIDADE com a TRADIÇÃO a ficar de novo de lado ou esquecida, e temos pena.
Qualquer freguesia ou aldeia ficaria contente com uma instalação destas nas suas terras e qualquer aldeia ou freguesia tiraria dessa instalação o seu proveito, atrevo-me mesmo a dizer - o justo proveito. Tive esperanças que Outeiro Seco (núcleo) despertasse e ganhasse com este empreendimento e instalação do Ensino Superior nas suas terras, que se tornasse até numa aldeia universitária, atractiva para os estudantes e com toda a vida que eles lhes dão. Mas não, a Escola de Enfermagem, agora também Pólo da UTAD é um mundo à parte, fechado em que a aldeia de Outeiro Seco apenas lhe cedeu terreno para a construção e apenas serve de passagem entre Chaves e o agora Pólo Universitário. De quem é a culpa não o sei, apenas sei que Outeiro Seco e a sua população, até hoje, nada ganharam com esta escola e é pena, pois perdem todos os proveitos que as universidades costumam dar aos lugares. Pelo menos (coisa de nada - insignificante) poderia exigir que o espaço (da Quinta dos Montalvões) existente entre a aldeia e a Escola de Enfermagem/Pólo da UTAD, fosse limpo e no mínimo, beneficiar de algum arranjo paisagístico onde todos ficariam a ganhar, quer a aldeia quer os alunos universitários com uma zona de estar, nem que fosse e só para ser agradável à vista. Mas enfim, continua a ser um depósito de lixo, entulhos e mato, pouco digno como vizinho de uma aldeia e de um estabelecimento universitário.
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As Novas Vias e o Parque Empresarial
Tal como a Escola de Enfermagem/Pólo da UTAD, as novas vias e o Parque Empresarial só vieram roubar terrenos e território à freguesia, pois a freguesia nada tem ganho com este empreendimento, a não ser na venda de terrenos (mas que ficou sem eles) e num nó da auto-estrada. Fora isso, em nada consta que Outeiro Seco tivesse ganho o que quer que seja. Poderia talvez ganhar em postos de trabalho se houvesse empresas a funcionar no Parque Empresarial, mas sem empresas e toda uma plataforma logística onde só existem em instalações e nome, transformada hoje em “sexódromo” ou “sexometro” (como preferirem) onde se recomenda até à RESAT que coloque por lá um Ecoponto para recolha de papel e látex. Recomendações à parte, sem empresas não há postos de trabalho e, nas poucas que por lá há, não me consta que haja pessoas de Outeiro Seco a trabalhar.
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Com as novas vias por lá executadas, Outeiro Seco também em nada beneficia (excepção para os que utilizam a Auto-Estrada), pois as novas vias nada ligam e com uma delas, até se conseguiu destruir parte de uma estação arqueológica onde existiam uma série de fornos romanos, mas também aqui, a julgar pelo que aconteceu pelo Vale de Lagares e outros, o rico património arqueológico que Outeiro Seco possui, também tem sido vítima da MODERNIDADE. Já perdi a contagem dos golos marcados pela MODERNIDADE e a TRADIÇÃO ainda está a zeros.
Parque Empresarial que mais que um bem, tem sido um mal para Outeiro Seco, pelo menos em termos ambientais e agrícolas, conforme denúncias que chegam a este blog e que já mais que uma vez tive oportunidade de trazer aqui, como neste post: (http://chaves.blogs.sapo.pt/439286.html).
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Denúncias que também vão sendo feitas no Blog Outeiro Seco Aqi, e não é de estranhar, pois pasme-se, o parque empresarial não tem o efluente do seu saneamento básico ligado a qualquer rede pública, como também não tem nenhuma estação de tratamento, possuindo apenas uma fossa, que após a passagem do efluente o devolve à linha de água que vai desaguar ao Rio Tâmega. E se hoje com as poucas empresas que por lá existem já faz moça, imagine-se quando num hipotético futuro haja por lá empresas a funcionar a sério. Ao que sei, por Outeiro Seco desconhecem-se estes acontecimentos que ocorrem no seu território, salvo, claro, aqueles que são prejudicados directamente e que não calam a sua indignação, mas ao que também sei, ninguém lhes liga. Aqui a TRADIÇÃO leva outra cabazada monumental de uma MODERNIDADE fedorenta…
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Em suma, e no que respeita à MODERNIDADE, Outeiro Seco bem que a podia dispensar, pois só tem perdido com ela.
Esquecendo a MODERNIDADE e a TRADIÇÃO de Outeiro Seco, vamos à TRADIÇÃO deste blog trazer aqui as aldeias do concelho um mosaico de cada freguesia, que no caso, aldeia e freguesia, são a mesma coisa.
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E como, por razões alheias a feitura do blog, tenho de acelerar o encerramento dos posts dedicados às aldeias e freguesias, assim hoje este post funciona também como um dois-em-um, ou seja, vamos ter também aqui, o respectivo mosaico da freguesia, seguindo a sua habitual feitura, à excepção dos seus pontos de interesse, pois esses, na sua essência, já foram referidos.
Já a seguir, a III e última parte.