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CHAVES

Olhares sobre o "Reino Maravilhoso"

14
Out15

Chá de Urze com Flores de Torga - 100


1600-torga

 

Curral de Vacas, Chaves, 11 de Abril de 1974

 

O Auto da Paixão num pobre lugarejo transmontano transfigurado numa Galileia imaginária, a fonte de Jacob, o Jardim das Oliveiras e o Sinédrio reduzidos a uma bacia cheia de água, a meia dúzia de ramos espetados no chão, a um palanque de feira. Mas nesse cenário ingénuo e sumário, tudo se passou como no verdadeiro — um Cristo do mundo a sofrer as injustiças e agruras do mundo. Pilatos era qualquer regedor, presidente da Câmara ou juiz poltrão a lavar as mãos na hora da verdade; Caifás, o influente poderoso e rancoroso, quem não é por nós é contra nós; Judas, o mau vizinho que muda os marcos e jura peitado; e a turba judaica, a multidão que assistia, mata, queima, esfola, conforme a onda emotiva. Não havia vedetas. Nem o próprio Redentor tentava ultrapassar a medida humana. Todos faziam diligentemente o seu papel, a debitar o texto e a gesticular como a rudeza era servida. A tarde estava de rosas, e essa doçura da natureza emoldurada harmoniosamente aquela lúdica catarse colectiva, teatro e realidade misturados, festa e pesadelo, agonia fingida e vivida. O povo tem isso: sabe encontrar o meio-termo feliz, o equilíbrio entre as exigências da alma e as fraquezas do corpo. A tragédia do Calvário é a nossa própria tragédia. Mas Deus é Deus, um ser absoluto. Pode sofrer absolutamente. Nós somos criaturas relativas... Por isso, a esponja de fel que desta vez o Centurião chegou aos lábios de Cristo era um naco de pão-de-ló ensopado em vinho fino...

Miguel Torga, in Diário XII

1600-curral-vacas (524)

Curral de Vacas

Chaves, 3 de Setembro de 1974

 

Fui rudemente sincero, mas há horas em que só assim. As pessoas afivelam uma máscara, e ao cabo de alguns anos acreditam piamente que é ela o seu verdadeiro rosto. E, quando a gente lha arranca, ficam em carne viva, doridas e desesperadas, incapazes de compreender que o gesto violento foi a melhor prova de respeito que lhes podíamos dar.

Miguel Torga, in Diário XII

 

Verin, 4 de Setembro de 1974

 

Cada povo rem mesmo um perfil singular, inconfundível, que a fronteira recorta. Um modo próprio de ser e de proceder, que se não pega, que se não transplanta, que o cosmopolitismo esfuma mas não apaga, que é uma maneira vital específica de estar no mundo. Comparo as duas realidades que a raia separa. E entro em melancolia. Que diferença de clima humano! Tudo, deste lado espanhol, tem autenticidade, sabe a verdadeiro. As paixões, o patriotismo, a magnanimidade e o brio. Tudo se faz aqui a sério. Ou revoluções verdadeiras, ou contra-revoluções verdadeiras.

Miguel Torga, in Diário XII

 

 

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