Chá de Urze com Flores de Torga - 26
Hoje e nos próximos capítulos vamos abordar os Poemas Ibéricos de Miguel Torga. Será uma síntese, por nós abordada, e que ficará aquém de tudo que se possa dizer sobre os Poemas Ibéricos e Miguel Torga.
Vamos dividir estre trabalho em quatro partes, tantas quantas as partes em que os Poemas Ibéricos são divididos.
Os Poemas Ibéricos – 1ª parte
Os Poemas Ibéricos são divididos em quatro partes - História Trágico-Telúrica, História Trágico-Marítima, Os Heróis e O Pesadelo – Os poemas Ibéricos buscam revisitar a história dos povos da península.
Miguel Torga começa o seu livro com o poema “Ibéria” que, aliás, é independente de quaisquer outras partes do livro, ou seja, o poema em questão é a própria apresentação do livro pelo próprio autor, uma espécie de prefácio ou prólogo.
Este poema é, em suma, uma síntese do povo e da terra ibérica. O primeiro quinteto resume como é a península vista do mais alto cume. Pela certa uma alusão aos Pireneus que fazem a fronteira natural entre a península e o resto da Europa, que nos separa da Europa e dá uma identidade própria aos povos ibéricos. Uma península com apenas terra (a grande meseta ibérica), sol e pinhais, características únicas da península, um ambiente hostil. Quem conhece a meseta, sabe ao que Torga se refere. O primeiro quarteto mostra-nos a ânsia de um povo em saber o que está para além do mar, e enfrentar os seus perigos na procura de novos mundos. Uma ansia que dói como um tumor enraizado, a península como uma antena da Europa, a ponta da Europa como recetor do chamamento constante do mar. O segundo quarteto é uma alusão ao desbravamento do mar, às descobertas, às suas dificuldades (bem patentes no poema “Regresso”) do povo ibérico desdobrado em portugueses e espanhóis. No último quarteto a loucura e sonho do povo ibérico de ser dono do mundo.
Na parte chamada de História Trágico-Telúrica, Miguel Torga descreve a Península com os seus poemas A Terra, A Raça, Fado, A Vida, O Pão, O Vinho e A Miragem. Ou seja, o poeta trasmontano mostra os elementos básicos da cultura ibérica. O poema Fado mostra o destino reservado a portugueses e espanhóis, um destino que calhou ao povo ibérico como uma condenação da qual não se pode fugir:
“FADO
Tem cada povo o seu fado
Já talhado
No livro da natureza.
Um destino reservado,
De riqueza
Ou de pobreza,
Consoante o chão lavrado.
E nada pode mudar
A fatal condenação,
No solo que lhe calhar,
Humana vegetação
Tem de viver, vegetar,
A cantar
Ou a chorar
Às grades dessa prisão.”