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CHAVES

Olhares sobre o "Reino Maravilhoso"

04
Dez19

Crónicas de assim dizer


cabecalho-assim-dizer

 

 

Eu e o ego

 

Eu estava numa fase mais ou menos estável da minha vida e vem-me o ego com os seus problemas existenciais e eu sem paciência nenhuma para histórias de crianças, mas ao mesmo tempo com a consciência de que aquilo era uma coisa séria para ele e lá fui ouvindo aqui e ali para depois, enfim, lhe poder dar a minha simples e sincera opinião.

 

Que o tinham empurrado por um desfiladeiro por onde ele tinha descido aos trambolhões, sem corda à cintura ou tapete por baixo, como têm os acrobatas no circo e que se tinha estatelado no chão, sem dó nem piedade e eu com uma estranha vontade de rir e dizer: Oh homem, levante-se mas é do chão, “sacuda a poeira e dê a volta por cima", aludindo à música da Betânia, mas não disse nada disso, não fosse ele pensar que eu não estava a levar a sério aquela queda abrupta, aquele suicídio lento, aquela vitimização, aquela autoflagelação e decidi decompor o problema em partes para ele ficar com a sensação de que eu o estava a levar a sério!

 

Vem-me então com a ladainha do costume: que se tinha exposto perante os outros, quem?, se os outros não existem!; que se tinha despido de preconceitos, quais?, se ainda ficou com alguns fez mal!; que tinha confiado a sua alma a Deus e que lha tinham vendido ao diabo!, e eu que não era especialista na área a achar aquela conversa, passo a expressão, de conversa de ir ao cu, como muito bem diz um amigo meu, mas a esforçar-me por estar atento e não me distrair com raciocínios lógicos e matemáticos que era sempre a minha tendência!

 

E ele continuava com interjeições, baseadas em estados de espírito, que aprofundava com exemplos que eu achava tão ridículos ou mais do que aquilo que queriam provar e perguntava-me, o ego, o que faria eu no seu lugar, se me dissessem o que a ele lhe disseram, em contextos por que eu nunca passaria porque egos não são comigo nem eu permitiria que alguém me dominasse a esse nível!

 

E eu a tentar pôr-me no lugar dele e a dificuldade a ser cada vez maior e a achar que aquilo tudo tinha por base uma enorme falta de sexo e que ele nunca compreenderia isso porque nem sequer sabia do que eu estava a falar, tal como eu não sabia o que ele me estava a tentar dizer, mas que uma coisa era certa: é que não tinha importância nenhuma. Coisa que nunca lhe podia dizer para não lhe ferir o ego, pois que era exatamente isso que ele já tinha a sangrar, só porque tinha dito a não sei quem que estava apaixonado e o outro ego lhe tinha dito que não sentia o mesmo!

 

Ora estas coisas que se resolvem de duas formas muito simples, com um “vai à merda” ou “vai-te foder”; constituíam na cabeça deste meu ego um problema do fim do mundo, só porque não conseguia articular estes dois fantásticos palavrões para os quais não há sinónimo! Está completamente fora de hipótese a terceira, de que já todos se lembraram, que é um simples “vai pró caralho!” Qualquer psicólogo a iniciar funções sabe que estes problemas do ego é assim que se resolvem! Sai-se de casa bem vestidinho, não vá a gente encontrar o Papa, depois de se ter convidado a pessoa para um jantarinho à luz das velas, com música de fundo e antes que chegue a comidinha sai-nos a frase! Regra número dois: é levantarmo-nos da mesa, depois de dizer isto, e abandonar o local sem olhar para trás. Simples que é! Mas como é que eu ia dizer isto ao ego? Não podia e não devia!

 

Ouvi-o até ao fim, deixei que se lamentasse, fazia parte da terapia, deixei que chorasse no meu ombro, limpei-lhe as lágrimas, passei-lhe a mão no pêlo, pelo ombro, pelo dorso, olhei-o nos olhos, sorri-lhe e foi então que ele exigiu mais de mim e me disse: “Então, não dizes nada?”

Pensei, pensei, pensei e as únicas palavras que me vieram à cabeça foi as que me saíram:

- Sexo oral, já ouviste falar?

E, surpresa das surpresas, o ego mandou-me primeiro à merda, depois foder e no fim pró caralho! Aqui sem aspas porque não foi pensado, o gajo disse-o mesmo! Faltou o “puta que te pariu!” Disse-o eu, porque achei que vinha a propósito, então não?!

 

Os egos são lixados, quando a gente finalmente os leva a sério porque, enfim, todos merecem uma oportunidade, os gajos ainda se riem na nossa cara! É por isso que eu, egos, não os levo muito a sério!

 

Cristina Pizarro

 

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