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CHAVES

Olhares sobre o "Reino Maravilhoso"

27
Mai20

Crónicas de assim dizer


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Em Confissão

 

 

Tenho a cabeça cheia de histórias! Com dez, vinte, trinta, algumas quarenta, anos. Os meus amigos acham graça a isso, porque quando me começam a contar uma história eu sorrio, porque em parte já a conheço, já lhe sei ou adivinho o fim! Às vezes é ligeiramente diferente daquele que eu tinha previsto e então acrescento-lhe a “minha” variante. Também acham graça a isso, porque começam a pensar que se calhar há outra hipótese para o fim da história que tinham como certa e única.

 

De há alguns anos a esta parte, que não me acontece não ter história nenhuma para contar, seja sobre o que for e só tive consciência disso no dia em que um amigo de infância me disse: “Eu gosto de falar contigo porque tens sempre uma história para contar, seja qual for o assunto.” Foi nesse dia que me comecei a sentir velha! Tenho a certeza que o meu querido amigo, de quem gosto mesmo muito, me disse aquilo com intenção de elogio. Não foi assim que funcionou em mim! Aliás, em mim as coisas funcionam todas ao contrário, até os medicamentos. E agora deu-me francamente vontade de rir! O pai dos meus filhos, com quem estive casada 20 anos, brincava com isso. Quando me receitavam um medicamento ele dizia: “Lê lá bem para o que é que isso dá, porque em ti vai-te dar para o contrário!” E era verdade. O simples extracto de valeriana, produto natural, receitado como sedativo ou tranquilizante, a mim fazia-me trepar pelas paredes! Indicado para tomar à noite, em vez de me pôr a dormir, despertava-me. Ou seja, eu usava-o de manhã. Quando acordava mais caída, tomava uma coisinha daquelas e arrebitava.

 

Desculpem, distraí-me completamente, que é outra coisa também frequente nas idades mais avançadas, sobretudo nas mulheres: primeiro que digam o que querem… E agora, deu-me outra vez vontade de rir, mas isto é tão verdade que não resisto a contar-vos um dito do meu irmão mais velho. Quando começo a falar, poucos minutos depois interrompe-me e diz: “Cristina, abrevia!” E eu acho-lhe uma graça, porque se ele não me põe esse travão de início, eu era bem capaz de me esquecer do que tinha para lhe dizer!

 

Se calhar está na altura de arranjar alguns heterónimos. Acredito que esse desmultiplicar de personalidades pudesse mudar a agulha e resolver, em parte, o meu problema e sinto-me bem capaz de o fazer; se bem que não é só dividir e compartimentar, porque uma competência, depois de adquirida, desenvolve outras e… não tenho espaço na memória! Pior do que isso, aquilo que eu faria com uma intenção, ia sair-me com outra, o normal em mim. Ou seja, de início deixaria algum espaço livre, mas logo a seguir ia precisar de muito mais do que tinha libertado! Onde é que os punha a nascer, que profissões lhes daria, com que idade os poria? Todos vivos ainda? Algum deles já teria falecido? Iriam os outros ao funeral dele? Que conversas teriam entre si? Inventava-os desconhecidos uns dos outros, só conhecidos, amigos, teriam algum laço familiar, próximo ou distante?

 

E paro aqui, porque o meu irmão mais velho deve ter sentido que eu não tinha fim para o texto e acabou de me telefonar, a pedir desculpa por no outro dia me ter dito: “Cristina, abrevia!” e eu parti-me a rir, pela terceira vez ao escrever este texto; que lhe li de imediato. Se não se tivesse passado comigo diria que é surreal!

 

Cristina Pizarro

 

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