Crónicas de assim dizer
Eternidade, hoje
Deixa-me encostar a cabeça
No teu peito
Não respires
Não digas nada
Deixa-me só encostar a cabeça
No teu peito
Deixa que nasça o dia
Deixa que durma a noite
Deixa o pôr do sol
Deixa a lua
Deixa
Ainda que a meio
O que tens por fazer
O que tens para fazer
Deixa o nada
E
Enquanto isso
Deixa-me encostar a cabeça
No teu peito
E
Nesse fugaz e escasso segundo
Não respires
Que a vida espera
E o tempo também
Por tudo o resto
Menos por ti e por mim
Porque nada regressa
Do que nunca foi
É outra a música
No presente de hoje
Onde nada interessa
E
Enquanto isso
Deixa-me encostar a cabeça
No teu peito
E
Prometo
Não respirar também
Nesse fugaz e escasso segundo
Em que a vida lateja
O coração bate
O corpo transpira
A cabeça descansa
E não são precisas palavras
Nem talvez imagens
Mesmo que não interesse para nada
Deixa-me só encostar a cabeça
No teu peito
E
Se disseres sim
Talvez possamos depois
Respirar
Por escassos segundos
O teu e o meu
Os únicos de que precisamos
Hoje
Cristina Pizarro