Discursos sobre a cidade
O FACEBOOK COMO UM INSTRUMENTO NO EXERCÍCIO DA CIDADANIA
Não confundamos.
As «amizades» do Facebook são de outra ordem.
A este propósito, veio-nos à lembrança uma das passagens de uma entrevista do recém-falecido Bauman, quando se referia ao Facebook, e aos «amigos» desta «rede».
Dizia ele tratar-se de uma pessoa solitária, numa multidão de solitários.
Será?
Só?...
Será como Bauman diz, a atratividade deste tipo de rede é que não cria compromissos, não estabelece verdadeiros laços humanos, ao não se efetuar uma conexão de verdade como aquela que põe face a face, corpo a corpo e olhos nos olhos as pessoas?
Será que este tipo de relação, no Facebook, não promove ou não cria, compromisso nenhum entre amigos?
Será que não estamos perante uma pura espetacularização da vida privada, em plena praça pública?
Que a essência desta relação está só, e apenas, no «conectar» e «desconectar» do «amigo», conforme a este lhe der na “real gana”?
Não provocando, assim, situações difíceis que o «desconectar» real de uma amizade concita - na rotura da mesma -, e que, até, pode ser traumática?
É certo que o Facebook está na moda. E que reflete um dos “sinais dos tempos” propiciados pela novas tecnologias da comunicação e da informação, no contexto de uma sociedade globalizada, como aquela em que vivemos.
Uma sociedade em que se acentua, de forma cada vez mais clara, os sinais identificadores da perda das identidades e das raízes dos cidadãos. Uma sociedade em que assistimos ao paradoxo de sermos cidadãos do mundo, graças às fantásticas inovações tecnológicas e, ao mesmo tempo, sentimo-nos isolados diante de uma realidade que, muitíssimas vezes, nos escapa do controlo.
O homem globalizado, do nosso tempo, é um homem fragmentado e eticamente confuso, num processo acelerado de homogeneização e uniformização.
Sabendo embora tudo isto, perguntamo-nos:
- Será que as «amizades», os diálogos e trocas de opinião que «a rede» estabelece e propicia podem-se entender como uma nova forma de “espaço público”, compreendido como ambiente de convívio e de formação da cidadania, sobretudo num momento histórico marcado pelo isolamento cada vez maior dos indivíduos, engaiolados em espaços privados, em nítida demonstração de retrocesso e de vitória do individualismo, em detrimento das conquistas coletivas?
A pergunta pode ter duas respostas.
Pela nossa parte preferimos aquela que vê e se serve da «rede» como uma possibilidade de “alcance de campo” que esta propicia, ao ampliar as possibilidades de conhecimento e de “mobilização” do cidadão em ordem à construção da polis.
Pela convivência com os seus pares, integrantes da comunidade a que voluntariamente “aderiu” e/ou à qual pertence.
Comunidade efetiva e afetiva de homens e mulheres livres. Solidários. Justos.
Que, em última instância, procuram o contacto equilibrado e harmónico com a mãe-natureza.
Sem pretendermos darmos lições a ninguém, sinceramente esperamos que, passado um ano, depois de serem eleitos para os novos cargos autárquico no nosso concelho, os nossos novos representantes saibam estar à altura dos desafios que hoje são colocados à nossa sociedade.
Que não se usem as novas tecnologias de comunicação e informação apenas como simples fachada, mas como um meio ou instrumentos de, todos, construirmos, em verdadeiro diálogo, a nossa polIs.
Procuraremos estar atentos…
António de Souza e Silva