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CHAVES

Olhares sobre o "Reino Maravilhoso"

25
Out17

Nós, os homens


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V

 

E a vida continuava, para ela. Para mim, não havia vida sem ela! A urgência do amor, por exemplo, era uma coisa de que ela não tinha consciência. Não sei se esta característica era comum às mulheres, em geral, ou se era uma particularidade desta a quem o meu coração se tinha, de forma involuntária, entregue. A minha experiência nesse campo não me permite tirar conclusões a este nível, até porque sou uma pessoa cuidadosa, nada dado a psicologias de grupo nem a generalizações precipitadas e também porque estou convencido de que aquela atitude obedece a um perfil que é característico, não do género feminino nem sequer da espécie humana, mas da pessoa em si.

 

Quantas vezes dou por mim a pensar, mas do que raio é que ela tem consciência? E era um vazio, o que me vinha à cabeça! Vivia de improviso permanente, não planeava nada, nem o instante seguinte, nem a palavra que dizia, nem o acto irreflectido. As coisas até nem lhe corriam mal e eu ainda não tinha percebido se a questão era o factor sorte ou se ela era um génio. Tinha a alma demasiado perturbada para poder ver com clareza, mas tinha a consciência límpida de que iria até ao meu limite, o momento a partir do qual eu não aguentaria nem mais um capricho. Ainda tinha consciência de outra coisa, é que isso me ia acontecer de um momento para o outro e de forma radical e tinha em relação a isso, medo por mim e por ela. Por mais cabeça no ar que ela fosse aquilo ia-lhe custar, pagaria o preço da sua inconsciência e eu não era má pessoa e essa situação não me agradava, mas não podia evitá-la, estava nas mãos dela, não nas minhas, mas ela não percebia e eu por todas as tentativas que já tinha feito e por todas as que ainda ia fazer, ela nunca havia de perceber, estava-lhe no sangue!

 

Mas tinha pena, dávamo-nos bem, quando estávamos juntos, dávamo-nos mesmo bem! O sorriso dela era contagiante e eu sentia-me como se tivesse renascido, como se me tivessem dado uma segunda oportunidade de viver o que julgava perdido para sempre, coisas que me tinham escapado, das quais eu tinha passado ao lado sem ver e agora via tudo! E mostrava-lhas a ela e ela não as via e eu achava aquilo um desperdício e um desfasamento e apetecia-me rachar-lhe a cabeça ao meio e gritar-lhe, para que ela me ouvisse e ela não ligava nenhuma, nem sequer me respondia às mensagens urgentes que eu lhe deixava no telemóvel e dizia-me até amanhã como se o que eu dissesse pudesse esperar! Se ela fosse parva, eu até a desculpava, mas não era e era por isso que eu achava aquilo tudo preocupante!

 

E às vezes vinha-me um cansaço súbito e uma vontade de me afastar daquilo tudo para não sofrer depois o que podia sofrer agora, assim um escolher a dor por antecipação numa escolha irracional ou por opção, iludindo de forma adulta o meu conceito de liberdade enraizado. Mas o coração falava sempre mais alto e andava ali a arrastar a asa na esperança ingénua de que um dia a direcção do vento mudasse e me levasse o veleiro ao meu porto de abrigo. Como? Se não tinha um motor de bordo?

 

Cristina Pizarro

 

 

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