O Barroso aqui tão perto - Alturas do Barroso
Aldeias do Barroso - Concelho de Boticas
ALTURAS DO BARROSO
Boticas - Barroso
Já sabem que aos domingos o Barroso marca aqui presença, agora com o Barroso do Concelho de Boticas, e seguindo a nossa metodologia de agora trazer aqui as aldeias pela ordem alfabética das freguesias, hoje calha a vez a Alturas do Barros, ainda e só a aldeia, pois o post da freguesia só estará aqui quanto todas as aldeias da freguesia forem abordadas.
Freguesia das Alturas do Barroso que com a última reforma administrativa do território, passou a ter também anexada a freguesia de Cerdedo. Mas tal como disse atrás, hoje não estamos aqui para abordar a freguesia(s) mas sim a aldeia de Alturas de Barroso.
Para quem gosta de saber a origem das coisas, neste caso a origem do topónimo de Alturas de Barroso, esta é fácil, pois não estivesse a aldeia implantada quase na croa da Serra do Barroso, acima da aldeia, só estão mesmo os cornos do Barroso, dois que até são três picos da serra que se elevam, mas que vistos ao longe, apenas se veem dois, que tal como os cornos de um touro que os que atingem mais altura, também nesta serra assim. Então temos Alturas do Barroso por estar lá bem no alto da Serra do Barroso, mais precisamente na cota dos 1.100m. Saliente-se que a serra do Barroso atinge os 1279 metros, sendo a terceira serra mais alta do Barroso, logo a seguir à serra do Gerês e do Larouco.
Quanto à localização da aldeia de Anturas do Barroso, encontra-se no limite do concelho de Boticas, a noroeste de Boticas, a confrontar com o concelho de Montalegre, A serra do Barroso vai servindo de fronteira entre os dois concelhos. Aliás a encosta da serra oposta a Alturas do Barroso, confronta diretamente com a barragem do Alto Rabagão (Pisões).
Embora a aldeia já estivesse mais ou menos localizada, ficam atrás os nossos mapas para melhor localização, onde deixamos também um dos itinerários possíveis para lá chegar. Uma vez que se trata de uma aldeia do concelho de Boticas, privilegiamos o traçado maioritariamente por este concelho. Ah! Já sabem que o início do nosso itinerário é sempre na Cidade de Chaves, depois, como para a maioria das aldeias a passagem por boticas é obrigatória, e logo a seguir a Carreira da Lebre é também ponto de passagem para grande parte das aldeias, e hoje não é exceção, pois também temos de passar por lá, mas sem abandonar a ER311, mas logo a seguir à Carreira da Lebre, apenas a 100 metros, temos que fazer o desvio em direção a Carvalhelhos, mas sem chegar a entrar nesta aldeia. Vejam o mapa, e de resto, não há grandes problemas, pois em geral, quanto a localidades, as estradas de Boticas estão muito bem sinalizadas.
Mas entremos em Alturas do Barroso, uma velha conhecida nossa, principalmente desde que descobrimos as festas comunitárias do São Sebastião e fizemos promessa de lá ir todos os anos. Aqui por Chaves, quando se fala em festa comunitária de São Sebastião, quase todos conhecem, mesmo sem lá ter ido a de Dornelas, que por acaso até é na Vila Grande. Mas a festas comunitária do São Sebastião não é exclusiva da Vila Grande, antes pelo contrário, repete-se um pouco por muitas aldeias da região, não só do Barroso, como noutros concelhos vizinhos e igualmente com características comunitárias, mas, todas do São Sebastião, mas todas diferentes.
Sem dúvida alguma que as da Vila Grande, da freguesia de Dornelas, são muito conhecidas, principalmente pela mesinha de São Sebastião se estender ao longo do arruamento principal, mas é uma festa que tão depressa enche de gente, como se esvazia. Lá diz o ditado popular, merenda comida, companhia desfeita, e como o pessoal é aviado entre a 1 e as 2 horas da tarde, acaba de comer e vaza, mas não vão para casa, não senhor, vão todos direitinhos para as Alturas de Barroso, onde aí, sim, a festa dura toda a tarde e entra pela noite dentro.
Mas ainda antes de abordar a festa de São Sebastião das Alturas de Barroso, falta dizer ainda a respeito destas festas que, entre outras aldeias, em Cerdedo também se celebra o São Sebastião, logo pela manhã e ainda antes da Vila Grande, e também em Salto, este já do concelho de Montalegre também há São Sebastião. Cá por Chaves, noutros moldes, também é conhecida a festa do São Sebastião de Valdanta.
Já sabemos que quem descobre o Barroso descobre uma paixão. Os poetas, escritores e outros artistas, não são exceção, e alguns dos nomes mais sonantes da literatura portuguesa encontraram no Barroso a sua inspiração. Nomes como Camilo Castelo Branco, Ferreira de Castro, Miguel Torga e o poeta, escritor, político e flavienses António Granjo, são alguns dos exemplos
Ainda antes de passarmos às referências daquilo que encontrámos nos livros e documentos, e do vídeo, com que finalizaremos o post, queremos deixar aqui uns breves apontamentos. Um quanto às imagens de hoje em que se tentou dar a conhecer um pouco da aldeia, com as suas ruas no viver do dia a dia ou em dia de festa, igreja e capela, as pessoas, algumas em particular porque lhe prometemos estarem aqui hoje. Imagens dos seus verões quentes e soalheiros a contratar com imagens dos seus rigorosos invernos com a aldeia coberta de neve, imagens das paisagens verdes que rodeiam a aldeia e finalmente imagens do São Sebastião e da festa, sobretudo a dos homens das concertinas e do povo minhoto que os acompanha e vive intensamente estes momentos. Imagens estas da Festa do São Sebastião que continuaremos a deixar por aqui nas próximas edições da festa, que esperemos não sejam incomodadas com esta coisa do vírus Covid19. Por último, resta-nos dizer que Alturas do Barroso continuará a constar nos nossos roteiros pelo Barroso, que com frequência é por aí que fazemos a passagem para o Barroso de Montalegre ou vice-versa, nunca deixando de apreciar a paisagem que desde aí se vislumbra e nos apaixona. E embora este post ainda não tenha terminado, sabemos de antemão, estamos cientes disso, que muito mais haveria para dizer sobre esta aldeia, ainda cheia de vida e até de juventude.
Alturas do Barroso, 21 de Setembro de 1969
A paz destes barrosões, sentados no combro de uma lameira a guardar a junta de bois! Parecem sonâmbulos a apascentar a eternidade.
Miguel Torga in “Diário XI”
Alturas do Barroso, 1 de Setembro de 1991
Incansavelmente atento às lições do povo, venho, sempre que posso, a este tecto do mundo português, admirar no adro da igreja, calcetado de lousas tumulares, o harmonioso convívio da vida com a morte. Os cemitérios actuais são armazéns de cadáveres desterrados da nossa familiaridade, lacrimosamente repelidos do seio do clã mal arrefecem, cada dia menos necessários, no progressivo esquecimento, à salutar percepção do que significam na dobadoira do tempo. Ora, aqui, cada paroquiano pisa, pelo menos dominicalmente, a sepultura dos ancestrais, e se liga a eles, quase organicamente. Vive, numa palavra, referenciado. Sabe que tem presente porque houve passado, e que, mais cedo ou mais tarde, enterrado ali também, será para os descendentes consciência e justificação do futuro.
Miguel Torga, In Diário XVI
Alturas do Barroso, 27 de Junho de 1956
Entro nestas aldeias sagradas a tremer de vergonha. Não por mim, que venho cheio de boas intenções, mas por uma civilização de má-fé que nem ao menos lhe dá a simples proteção de as respeitar.
Miguel Torga, In Diário VIII
Quanto a António Granjo, temos vindo a publicar, na rubrica “Crónicas Estrambólicas” do Luís de Boticas, as 15 crónicas que António Granjo escreveu e publicou no jornal “A Capital”, em 1915. Uma delas, já publicada, relata a longa viagem de meio dia de jornada, que fez montado num garrano entre Boticas e a serra de Barroso. Crónica que poderá rever, ler ou ver aqui: https://chaves.blogs.sapo.pt/cronicas-estrambolicas-2012190 .
Na monografia de Boticas - Preservação dos Hábitos Comunitários nas Aldeias do Concelho de Boticas, pudemos apurar o seguinte:
Marcas da História Antiga
Côto dos Corvos
Designação: Castro do Côto dos Corvos
Localização: Alturas do Barroso
Descrição: No termo da aldeia de Alturas do Barroso, a cerca de 1km para Noroeste, há dois altos picotos graníticos designados como Cornos das Alturas do Barroso. O do lado Nascente, sobranceiro à estrada que desce para a barragem dos Pisões, é o Coto dos Corvos, e o outro que lhe fica pelo Poente, é o Coto do Sudra. No Coto dos Corvos existem escassos vestígios do castro, reduzidos aos alinhamentos das suas quatro muralhas, três na encosta voltada a Nascente e uma quase no alto da pedregosa encosta do Poente. A primeira muralha mede 255 m de comprimento, na maior parte da sua extensão segue quase a linha de nível, mas no extremo do lado Norte inflecte à esquerda e sobe até ao montão de penedos onde esbarra. A segunda muralha tem 105 m de comprimento, segue 56 m acima da anterior e a sua ponta setentorial termina no mesmo montão de penedia onde esbarra a primeira muralha e perto dela. A terceira muralha é a mais curta, mede apenas 40 m de comprimento, fica a 55 m acima da segunda e termina do lado Norte na penedia que se estende até à crista do monte. Nos escassos terraplanos, a que os quase apagados restos de muralhas fazem amparo, não se viram quaisquer restos de alinhamentos de pedras que sugerissem tratar-se de construções, especialmente de casas.
Ainda na monografia de Boticas:
Orago: Santa Maria Madalena
Festas e Romarias
Festas e Romarias S. Sebastião, 20 de Janeiro.
Sto António,* 13 de Junho.
Santa Maria Madalena,* 26 de Junho
Santa Ana, 26 de Julho* / inicio de Agosto
Património Edificado
Capela de Nossa Sra. de Fátima
Forno do Povo de Alturas do Barroso
Igreja Paroquial de Santa Maria Madalena
Outros locais de interesse turístico
Casas com cobertura de colmo
Miradouros Naturais da Serra do Barroso
Moinhos
Museu Rural de Alturas do Barroso
Parque de Lazer de Peade
Percursos Pedestres
Ainda na monografia de Boticas:
Baldios
(…)
Cada uma das aldeias do concelho possui extensas áreas de baldios, cobertos de vegetação arbustiva espontânea (giesta, urze, carqueja, etc.). Estes espaços são propriedade de toda a comunidade aldeã, terrenos maninhos, indivisos, situados na parte mais distante da aldeia, em geral nos altos e nas encostas impróprias para a agricultura, e desempenham um papel importante na economia agro-pastoril. Tendo em conta que estas populações dependem das actividades agro-pastoris, e dada a limitação, quer em termos de área, quer em termos produtivos, das propriedades particulares, os baldios são fundamentais para a sobrevivência dos agregados domésticos. Enquanto terrenos comunais – logradouros comuns – são passíveis de serem utilizados de diversas formas: como área de pastagem para o pastoreio do gado ovino e caprino ao longo do ano e do gado bovino no Inverno; área de recolha de lenha e de mato (carqueja, giesta, tojo, urze, etc.) para a cama do gado e preparação do estrume. Algumas parcelas destes terrenos, as cavadas, também eram exploradas individualmente pelos aldeãos mais pobres, muitas vezes sem qualquer outro recurso fundiário para cultivo, de forma a mitigar um pouco a sua pobreza e garantir recursos mínimos de subsistência. Actualmente, ainda existem cavadas, na aldeia de Alturas do Barroso.
Ainda na monografia de Boticas:
Festa de S. Sebastião em Alturas de Barroso
Em Alturas do Barroso realiza-se anualmente, no dia 20 de Janeiro, a Festa em honra
de S. Sebastião. Reza a lenda que esta festa se começou a fazer por causa de uma peste que há muitos anos atrás matou muito gado. Prometeram então, os habitantes da aldeia, festejar anualmente o S. Sebastião, advogado contra a fome e a peste.
Esta festa é organizada por mordomos (4 ou 5 vizinhos) num sistema de rotatividade pelas casas da aldeia. Antigamente, era hábito darem pão e vinho para as pessoas comerem. Há, aproximadamente, 15 anos começaram também a oferecer feijoada ao final da tarde e desde então para cá a sua dimensão e a sua fama tem vindo a crescer.
Antes da realização da festa, os mordomos andam pela aldeia a recolher a contribuição que cada uma das casas queira oferecer, desde o fumeiro à carne de porco (pé e peito) e dinheiro com o qual se compram vários alimentos como arroz, feijão, pão e vinho.
Os preparativos para a festa começam uma semana antes. Preparam-se as loiças, o espaço, a lenha e a comida. No dia 20, ainda de madrugada, na ampla sala do edifício da sede de Junta de Freguesia, numa lareira construída para o efeito, começa a confeccionar-se a refeição comunitária que consistirá em feijoada, arroz, pão e vinho.
De manhã, por volta das 10:30h realiza-se uma missa em honra de S. Sebastião, no final da qual se faz uma procissão, com o andor de S. Sebastião a desfilar pelas principais ruas da aldeia até ao local da festa. Entoam-se cânticos e orações pedindo a protecção do Santo ou agradecendo pelas benesses concedidas. Chegados ao local da festa, o padre procede à bênção da comida, em especial do pão que mais tarde vai ser distribuído pelos fiéis “… que depois o comem ou o dão aos animais para ficarem livres de doenças”. O andor com o Santo é colocado numa mesa à entrada da sala, onde, como patrono, preside à refeição.
Depois inicia-se a refeição comunitária. À entrada da sala os mordomos pedem esmolas às pessoas que, em fila, aguardam a sua vez de entrar. Cada um que lá vai tem direito a um prato de feijoada, a pão e vinho. Também há broas a vender.
E vamos dando por terminado este post, passando de seguida ao vídeo resumo, onde inclui todas as imagens deste post, bem como outras imagens que fomos publicando por altura do São Sebastião dos últimos anos e ainda algumas fotografias não publicadas que farão parte do post final da freguesia de Alturas do Barros e Cerdedo.
Aqui fica, espero que gostem:
Post do blog Chaves dedicados às festas de S. Sebastião:
https://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-festas-do-1487355
E quanto a aldeias do Barroso de Boticas, despedimo-nos até ao próximo domingo em que teremos aqui a aldeia de Atilhó.
BIBLIOGRAFIA
CÂMARA MUNICIPAL DE BOTICAS, Preservação dos Hábitos Comunitários nas Aldeias do Concelho de Boticas - Câmara Municipal de Boticas, Boticas, 2006.
TORGA, Miguel – Miguel Torga – Obra Completa - Diários VIII, XI, e XVI - Circulo de Leitores, Rio de Mouro, 2001.
WEBGRAFIA