O Barroso aqui tão perto... Amiar
Barragem da Venda Nova e Serra do Gerês ao fundo vistas desde Amiar
Quando se fala no Barroso, a maioria das pessoas pensa logo em terra fria e agreste. É uma ideia que se foi fazendo do Barroso, talvez pelos nevões do inverno, pelas altas serras despidas que se avistam ao longe, pelo que se escreve sobre o Barroso tal como acontece no romance “Terra Fria” de Ferreira de Castro.
Em parte essa ideia feita da terra fria e agreste é verdadeira no Alto Barroso, ou seja, entre a Vila de Montalegre e a Serra do Larouco, estendendo-se até à fronteiras com a Galiza e concelho de Chaves, e nas serras mais altas além dos 1000 metros de altitude.
Mas a Sul da Vila de Montalegre a cantiga já é outra e hoje em dia o verde dos lameiros predomina. Disse hoje em dia porque segundo o Sr. António, com 83 anos, um resistente de Amiar que fez as honras da casa, por esta altura do ano (maio, aquando da nossa visita) a terra era toda preta. Para quem não sabe o que isto quer dizer, era terra lavrada, cultivada, em tempo de sementeira.
Sr. António, resistente de Amiar, 83 anos de idade
Mas isso era no tempo em que a terra era cultivada nos pequenos vales entre montanhas. À montanha subia o gado e, ainda segundo o Sr. António —“enquanto o gado pastava, eu e outros da minha igualha, íamo-nos entretendo a fazer uns buracos para retirar algum minério”, de estanho, daí o aviso de perigo à entrada da aldeia, não vá um aventureiro incauto cair ao buraco, pois até os mais prevenidos, como o Sr. António, aquando escavava os seus buracos fundos, uma vez pouco faltou para ficar num, não fosse outra gente da aldeia tê-lo salvo.
Mas vamos até Amiar, curioso topónimo que desconhecemos a origem , pois nas pesquisas que fizemos sobre a aldeia, pouco ou nada encontrámos. Sabemos que se encontra a uma cota que ronda os 850m de altura, que pertence à freguesia de Salto, que é uma pequena aldeia como a grande maioria fortemente despovoada e envelhecida e que desde ela se avista a Barragem da Venda Nova, lá ao fundo, ficando para segundo plano lá no alto a Serra do Gerês.
Quanto ao modo de vida dos resistentes, um pouco de agricultura, algum gado bovino onde prevalece a raça barrosã, quase sempre muito bem cuidada, daí a sua carne fazer sempre uma boa mesa. Nota-se que em tempo a aldeia se dedicava também ao cultivo do milho, a testemunha-lo os canastros , ou espigueiros se preferirem. Curiosamente também vimos algumas latadas de videiras que originou outra pergunta ao Sr. António, a de se por lá se fazia vinho? – Que sim, que se fazia mas não prestava, às vezes lá se misturavam as uvas com outras vindas da terra quente e aí sim, lá se ia fazendo vinho para a pipa e para a adega, que se adivinha seria um vinho “temperado”, pois uva da terra quente com uva da terra fria só poderia dar um vinho de média temperada…
Outra das particularidades de Amiar, que se repete um pouco pelas aldeias da freguesia da Vila de Salto que já visitámos, é as construções tradicionais serem maioritariamente em xisto, ao contrário da maioria do restante Barroso do concelho de Montalegre. Tal como acontece noutros concelhos do interior, incluindo o de Chaves, construía-se com o que a terra, neste caso a pedra dava. Em terra de granito o granito era rei e senhor, em terra de xisto, o xisto também quase o era, pois nas ombreiras, padieiras, peitoris e soleiras das portas e janelas lá teria que se recorrer ao granito.
Como todas as aldeias mais despovoadas, também em Amiar o que sobressai é a aldeia antiga, com poucas intervenções em casario novo ou alterações ao antigo casario. Curiosamente uma das pouca intervenções que houve (aparentemente não muito antiga., foi na capela da aldeia, e por sinal uma infeliz intervenção, pois o acrescento não lhe fica nada bem, sem gosto, com alumínios lacados e a torre sineira a meio do telhado. Compreende-se que talvez seja mais acolhedora no rigor do inverno, mas que merecia uma intervenção muito mais cuidada, lá isso merecia, e é de estranhar, pois a Igreja, neste aspeto de acrescentos e reconstruções, até costuma ser exemplar, mas enfim, em Amiar talvez fosse uma exceção.
E como sem ovos não se podem fazer omeletes, também nós sobre Amiar e na ausência de documentação, pouco mais temos a dizer. Valeu-nos o Sr. António que nos dispensou uns minutos preciosos para nos falar um pouco da aldeia, e mais falaria e estória haveria para contar se não fosse o comer que já se anunciava na mesa à sua espera.
Ao todo na aldeia de Amiar vimos duas pessoas, o Sr. António e a mulher, vimos outras duas que passaram por nós, uma de carro outra numa carrinha de trabalho, algumas vacas barrosas, um touro barrosão e mais nada, gatos, nem vê-los, muito menos “amiar” .
E por hoje no “Barroso aqui tão perto” é tudo. No próximo domingo lá iremos até outra aldeia, e então se verá a quem toca a sorte, certo é que será do Barroso do concelho de Montalegre.
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