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CHAVES

Olhares sobre o "Reino Maravilhoso"

18
Mar19

O Barroso aqui tão perto - Barracão


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Neste “andar” por todo o Barroso, um dia tínhamos de parar aqui, numa das suas “estações de serviço”, por sinal uma das mais antigas que conheço e penso que durante muitos anos foi a única da EN103 entre Chaves e Braga. Refiro-me ao Barracão, mais uma localidade do Barroso de Montalegre. É para lá que vamos hoje.

 

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O Barracão é uma das localidades que há mais tempo conheço, para além de Montalegre, e por sinal um lugar simpático que durante muitos anos era de paragem obrigatória e, ainda vai continuando a ser. Acontece que as minhas primeiras grandes viagens de carreira eram para Montalegre ou Braga e que eu recorde, no Barracão era o único sítio onde se fazia uma paragem mais prolongada, de 15 a 20 minutos, onde se podia sair da carreira para ir ao bar botar um copo,  fazer um chichi, esticar as penas, apanhar ar, o que fosse, mesmo para fumar um cigarro ao ar livre, sempre sabia melhor que dentro da carreira. Recordemos que antes se podia fumar dentro dos transportes públicos, até havia cinzeiro nas costas dos assentos e curioso é que era um acto que parecia não incomodar ninguém, pelo menos ninguém reclamava.

 

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Gosto de chamar “Estação de Serviço” ao Barracão, e de facto assim era quando a carreira Chaves-Braga ou Braga- Chaves lá fazia escala, não só paras as coisas que atrás enunciei, mas também porque era lá que se fazia escala e tinha de mudar de carreira para ir para Montalegre. Uma “Estação de serviço” que fazia serviço público, pois o bar servia as pessoas naquilo que necessitavam, mesmo como sala de espera, mas para além disso, sempre recordo por lá as bombas de gasolina e penso que pro lá sempre se fizeram negócios ou vendiam coisas, sobretudo ligados com a agricultura, pelo menos ainda por lá existe um testemunho de tal acontecer expresso num portão “foskamónio”, um adubo de fundo para todas as culturas, segundo a publicidade.

 

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Pois além destas recordações de outros tempos, pelo menos das viagens nas carreiras cinzentas do Tio Magalhães e depois as da Rodoviária Nacional (mais coloridas), penso que hoje nenhuma carreira faz este trajeto direto, no entanto, a verdade é que o Barracão mantém as suas funções de Estação de Serviço, continua por lá o bar e restaurante, as bombas de gasolina e pela certa que ainda algum negócio, pelo menos é lá que está instalado o Matadouro Regional do Barroso e Alto Tâmega, S.A. .

 

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De resto, para além da “Estação de Serviço” e espaço de armazéns, mais ou menos tantos como casas de habitação, o Barracão não tem características de uma aldeia tradicional. Penso que nunca teve escola, também não lhe conheço igreja ou capela, e ao todo, entre armazéns, construções de habitação e instalações do matadouro, serão umas vinte construções, repartidas de um e outro lado da EN103. Não se se entre a sua população haverá gente que chegue para fazer uma equipa de futebol, mas o Barracão tem campo de futebol, que por estes lados não são apenas para se jogar futebol, pois é(ra) também campo para as chegas de bois, que penso também têm um significado especial no Barracão.

 

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Quanto às imagens que hoje ficam por aqui, foram sendo recolhidas ao longo das nossas passagens pelo Barracão. Apenas a última recolha foi mais pensada e demorada, que deu para subir à croa de uma pequena elevação cuja cruz (cruzeiro) nos apelava a uma visita. E em boa hora lá fomos.  Pelo que pude ler numa placa colocada na base da cruz, foi mandada construir por Fernando de Moura em 1970 e foi erguida em honra do Senhor dos Perdões, que pela certa terá o poder de a todos perdoar…

 

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E hoje respondo a um amigo e companheiro em muitas destas descobertas do Barroso que subiu comigo ao cruzeiro do Senhor dos Perdões. Claro que mesmo lá se tivesse dado o milagre da iluminação dos passos, não foi para a joelhar e rezar que lá subi, nem para captar a nudez crua das terras de um Barroso que eu vejo coberto de belíssimos tapetes verdes ou dos mais nobres carvalhais, onde mesmo nas terras mais altas de Portugal há sempre espaço para um belíssimo tapete, que mesmo não subindo em altura se eleva em beleza que quando em flor se enche de matizes,  parecendo espelhar nele as cores arco-íris desde o lilás-roxo-violeta da urze-erica-torga ao amarelo da giesta ou da carqueja, e outras espécies de flora e fauna que a virgindade do olhar sempre nos mostra, mas é na croa dos montes e elevações que nos purificamos, sim, porque por lá o ar é outro, estamos mais perto do Céu e vê-se o mundo todo, sem ser necessário ajoelhar, rezar ou ter cruzeiros, com todo o respeito que por eles tenho e acreditar que tem a sua nobre missão de guiarem quem anda perdido e é perdoado pelo Senhor dos Perdoes de quem tem fé, muito para além dos momentos zen que lá se desfrutam.

Mas gosto da foto, do milagre da iluminação e do poema :

(https://andanhos.blogs.sapo.pt/palavras-soltas-o-cruzeiro-do-senhor-60660)

 

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E com esta passemos à forma de chegar ao Barracão, ou melhor, ao itinerário que nós recomendamos, pois todos os caminhos vão dar ao Barracão. Pois, com o ponto de partida sempre desde a cidade de Chaves,  nós recomendamos mais uma vez o trajeto via S.Caetano, Soutelinho da Raia, Meixide, Pedrário, Serraquinhos, Zebral, Vidoeiro, Cortiço (ao lado) e finalmente o Barracão. Mas se é daqueles que quer ir mesmo direto, apanhe a EN103 e direção a Braga, deixe-se ir sempre por ela e quando aparecer a placa Barracão, está lá.  Que seja por um lado ou pelo outro, a distância é semelhante, trinta e poucos quilómetros no total.

 

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Passemos às nossas consultas sobre o Barracão, como sempre no livro Montalegre, onde apenas se refere ao Barracão como um lugar da freguesia de Cervos e à Toponímia de Barroso que pouco mais diz:

 

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Barracão

É um topónimo (o lugarejo do Barracão) relativamente novo, mas não o vocábulo. Provém de “barraca” = “barra + aca” e significa edifício. Barra, por sua vez, tem raízes pré-romana, tal como Barroso – barr – a que podem juntar os mais variados sufixos criando uma família toponímica enorme que já estudámos no topónimo Barroso.

 

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E pouco mais haveria para dizer sobre o Barracão se lá não tivesse nascido um Senhor que foi batizado com o nome de Fernando Gonçalves de Moura, ou Fernando do Barracão que pela sua vida e obra é mais um dos ícones do Barroso, com três livros publicados e uma vida inteira dedicada às chegas de bois do Barroso.

 

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Fica um pouco da sua biografia que não está completa, mas que completaremos logo que possível.

 

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Fernando Moura

Fernando Gonçalves de Moura, nasceu no lugar do Barracão, concelho de Montalegre, em 14 de Novembro de 1930, de um lar de 6 irmãos. Fez a quarta classe, para o que teve de andar de escola em escola, porque nem todas as aldeias tinham professora. Mais tarde completou o sexto ano no ensino recorrente. Foi quase tudo na vida em que um Barrosão se pode envolver: Começou como pastor de ovelhas e de cabras. Seguiu-se um período em que teve de trabalhar ao balcão do comércio do Pai – o Abel Moura – que era a estação de serviço da época, no cruzamento do Barracão, onde se fazia o transbordo dos passageiros das camionetas para Braga, Chaves e Montalegre. Entretanto envolveu-se nas mais diversas modalidades do desporto. Foi ciclista, atirador de malhão, apaixonado (até hoje) pelas «chegas de bois», caçador, um acérrimo adepto do F. C. do Porto…

 

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Em 1951, Fernando Moura prestou serviço militar no Bat. Caç. 1, sendo «impedido» do então capitão António de Spínola, durante seis meses. Ao fim de 32 meses regressou ao Barracão, onde arregaça as mangas. Comprou uma camioneta comercial, distribuindo todo o tipo de produtos regionais: batata, vinho, presunto, hortaliças, enfim, tudo o que a terra dava. Em 1959 casa com Ana Lima de Moura, de Vila Verde da Raia, professora em várias escolas de Barroso. Dela teve três filhos: A Cacilda Moura, hoje professora catedrática da Universidade do Minho, o Fernando Abel e a Dina Paula. Ao filho cedeu a distribuição do gás e a parte agrícola, mantendo ele a gestão do posto de combustíveis e a representação de seguros, em que se profissionalizou.

 

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Vistas desde o Cruzeiro do Senhor dos Perdões

Em 1995, Fernando Moura publicou o seu primeiro livro: «Barroso e as chegas de bois», onde relata 167 «chegas». Na Rádio Montalegre mantém, desde há anos, o programa «Espaço Público – chegas de Bois» de que recentemente a RTP fez uma reportagem, ao vivo, para todo o espaço onde ela chega. No associativismo tem uma acção notável: social, cultural, desportiva, recreativa, profissional e até genealógica, uma vez que se lembrou de realizar anualmente a festa dos «Mouras».

 

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Vistas desde o Cruzeiro do Senhor dos Perdões

Fernando Moura fundou o Clube de Caça e Pesca, a Associação etnográfica «O Boi do Povo», a Associativa de Caça do Leiranco etc. «A Vida de um Barrosão», livro que ora aparece, é o corolário de toda esta vivência que o honra e honra todos os Barrosões, vivam eles onde viverem.

Em agosto de 2008 lança o seu terceiro livro, “Cruzeiros e Alminhas”.

Em 2016 foi homenageado pela Câmara Municipal de Montalegre e agraciado com a Medalha de Mérito Municipal.

 

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Vistas desde o Cruzeiro do Senhor dos Perdões

 E é tudo por hoje, no próximo fim-de-semana teremos aqui mais uma aldeia do Barroso.

 

 

 

BIBLIOGRAFIA

 

BAPTISTA, José Dias, Montalegre. Montalegre: Município de Montalegre, 2006.

BAPTISTA, José Dias, Toponímia de Barroso. Montalegre: Ecomuseu – Associação de Barroso, 2014.

 

WEBGRAFIA

 

https://www.cm-montalegre.pt/

 

 

 

 

 

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