O Barroso aqui tão perto - Borralha
Minas da Borralha - Montalegre - Barroso
Borralha - Minas da Borralha
Tal como disse na abordagem que fiz na última aldeia de Barroso que ficou aqui no outro domingo, guardei algumas aldeias para o fim desta série das aldeias de Barroso do concelho de Montalegre, porque queria fazer um post mais completo e mais abrangente. A aldeia da Borralha, ou as Minas da Borralha foi uma dessas aldeia que ficou para o fim, mas para trazer aqui o post que eu tinha pensado, tinha primeiro de fazer o trabalho de casa.
De facto, tinha pensado para esta aldeia uma abordagem mais aprofundada, isto por causa das minas que embora ainda marquem a aldeia, deixaram de funcionar em 1986. Um post mais abrangente pedia-se, e pede-se, mas tal como disse não fiz o trabalho de casa, por falta de tempo, por falta de documentação, ou melhor, por falta de análise de alguma documentação e porque, embora já tivesse ido à aldeia por três vezes, sinto que tenho necessidade de passar por lá mais uma vez, não exclusivamente para fotografar, mas principalmente para melhor me documentar. Assim, esse post alargado ainda está previsto, mas vai demorar mais uns tempos para vir aqui.
Entretanto, e como quero encerrar esta série de abordagem às aldeias de Barroso de Montalegre, trago aqui hoje a aldeia da Borralha, com uma breve abordagem às minas, seguindo a metodologia das restantes abordagens às aldeias de Barroso que já por aqui passaram.
A minha primeira ida à Borralha, se é que se pode considerar a primeira vez, remonta aos finais dos anos setenta do século passado e a estória é muito simples. Dia de festa em Boticas à qual a rapaziada do costume nunca faltava. Nessa noite, como só tivesse aparecido um carro disponível, um mini cooper, teve de fazer o especial favor de enlatar no seu interior, se bem recordo, 8 pessoas. Tendo em conta o record (vinte e tal), não éramos muitos e além disso, na altura, ainda eramos todos uns magricelas. Pois a certa altura da noite, lá para a três da manhã, alguém se lembrou de dizer que a festa não estava a dar e o melhor era irmos à festa das Minas da Borralha, que só terminava de manhã, e que essa sim, era uma festa a sério.
Bota os 8 para dentro do mini e toca a andar para a Borralha, que já se fazia tarde. Nacional 103, passámos a primeira barragem, entrámos na segunda e ali pela Venda Nova, toca a subir para a Borralha. Chegados lá, nem festa nem vestígios dela… Claro, depois de uns cachaços bem dados (mas amistosos) ao que se lembrou da festa, voltámos para casa. Não tivemos festa, mas temos a estória para contar e recordar as loucuras dos anos setenta. Éramos jovens!
Claro que essa ida à Borralha não valeu, e para ser sincero, nem a aldeia vi. Não por ser de noite, mas porque como era o mais novito do grupo, encatrafiaram-me lá para o meio do mini sem direito a vistas para o exterior.
Mais recentemente, sim, fui à Borralha com olhos de ver e fotografar, mas nestas aventuras de andar a fotografar as aldeias, há sempre qualquer coisa que não corre como desejávamos. Ou o tempo não ajuda, quer o dos relógios quer o meteorológico, ou somos desviados para uma merenda, ou outra coisa qualquer.
E assim foi que pisámos a Borralha pela primeira vez em junho de 2016, mas já lá chegamos muito tarde, deu para meia-dúzia de fotos e um lanche, da segunda vez o tempo meteorológico não ajudou, a chuva impediu-nos de fazer o trabalho completo e à terceira vez, foi quase de vez, pelo menos dá para este post.
Pois digamos que a Borralha foi uma agradável descoberta, mas simultaneamente, ao passarmos por ruinas e grande maquinaria abandonada há um outro sentimento estranho que nos invade, difícil de explicar. As minas, embora abandonadas e fechadas, marcam presença em toda a aldeia, o que nos leva a imaginar o que seria a Borralha com todo o movimento e sons de toda a maquinaria e mina a funcionar, ouvir o som das engrenagens das rodas dentadas em vez do sussurro da água a correr no rio ou a passarada chirriar no arvoredo.
No pouco que pudemos conversar com a população, ainda mais confusos ficámos, pois não cheguei a perceber se há saudade das minas a funcionar, se alívio por elas terem fechado portas. Talvez as duas coisas. A vida de mineiro não é fácil, nunca foi fácil, nem para quem a elas desce nem para quem fica cá fora à espera do regresso, e pelo que percebi do pouco que me foi sendo contado, havia muitos silêncios em redor de todo o barulho natural produzido das minas. Mas isto fica para o tal post futuro sobre as Minas da Borralha.
Para já, sobre as minas, apenas o essencial, um resumo, um pouco mais do que aquilo que consta na sua “lápide”: Nasceram em 1902, morreram com 84 anos de idade em 1986. Mas façamos um pouco da sua história recorrendo àquilo que sobre elas se diz na página da Junta de Freguesia de Salto, freguesia à qual pertence a Borralha.
As Minas da Borralha foram o principal centro mineiro de Portugal de exploração de volfrâmio. Com inicio no seculo XX (1902) e encerradas em 1986, a produção global rondou as 18500 toneladas. Teve dois períodos de paragem (1944/46 e 1958/62).
Aldeia da freguesia de Salto, para aqui vieram, muitas famílias de diversas regiões trabalhar, a maior parte do Minho. A todas era oferecida casa, água e energia elétrica. No concelho de Montalegre era uma aldeia diferente - industrial. Cresceu com a criação de diversas infraestruturas necessárias à dimensão da empresa, como: lavarias, fundição, afinagem, oficinas, armazéns, carpintaria, britadores, stockwerk, etc.
Foram construídos bairros, todos com caraterísticas diferentes, para albergar, cerca de cinco mil pessoas: Bairro Novo, Pedrinha, da Guarda, Ladeira do Vale, dos Engenheiros, Lavaria Nova, Trincheira e Quartos Novos.
Havia o necessário apoio à comunidade local: Escolas, G.N.R., Correios, Posto Médico, Escritórios, Cantina, Cinema…
O nome vem de Domingos Borralha, filho do moleiro ali instalado, junto ao rio, que foi trabalhar para as minas de Coelhoso – Bragança (inicio do século XX) e indicou aos patrões franceses, onde era a sua terra com muitas dessas pedras negras!
A história destas minas é riquíssima. As vivências de quem por lá passou! A Fárria! Os apanhistas! Os momentos de riqueza! As horas de dor!... As canções que a imortalizaram! Muito já se disse e escreveu, mas muito mais há, para registar para memória futura!...
Tal como se pode ver pelo que atrás ficou relatado, falar da aldeia da Borralha e falar das minas da Borralha é a mesma coisa, ou quase, isto é, assim era quando as minas estavam a funcionar, mas com o seu encerramento, a aldeia ficou com os mineiros sem mina e as suas famílias sem terem para onde regressar, fazendo da Borralha a sua aldeia, sobrevivendo numa nova Borralha sem a mina como sustento, tornando-se numa aldeia normal como as restantes aldeias de Barroso…
Muito se tem escrito e dito sobre as Minas da Borralha, livros, documentários, teses de mestrado… numa delas, da Universidade do Minho, da Escola de Arquitetura, defendida por Daniela Alves Sousa, logo no resumo da tese afirma o seguinte:
“As minas estiveram, durante todo o período de funcionamento, sujeitas a vários processos de transformação. Todavia, após o seu encerramento, as transformações, em detrimento da otimização da produção, pararam e adquiriram outras formas: o lugar não só ficou sujeito aos efeitos dos ciclos da natureza e de vandalismo, mas também pela ação da população que ficou a habitar na Borralha. Perdeu a sua função mineira e tornou-se um lugar expectante, em que o futuro ficou incerto.”
Abril de 2016
É nesta fase que a Borralha está, ainda!
Fotografia (de 1918) do Ecomuseu polo da Borralha
Fotografia (década de 60/70) do Ecomuseu polo da Borralha
Como habitualmente, vamos até à monografia de Montalegre para ver o que por lá se diz sobre a Borralha:
Achados - Moedas
Os achados de conjuntos monetários mais importantes são os de Penedones (doze denários de prata que se perderam), da Vila da Ponte (cinco excelentes denários de prata e alguns bronzes médios), Minas da Borralha com mais de 3 mil médios bronzes e Montalegre, com mais de novecentas peças, quase todas denários com magro banho de prata. As moedas destes achados não ultrapassam o século III.
Ainda na monografia Montalegre:
Não olvidamos a extraordinária importância de outras associações: Criadores de Gado Barrosão cujo solar é em Salto; “O Boi do Povo” – que organiza o Campeonato das Chegas; a Asflobar, ligada às espécies florísticas e arbóreas; Os Barrosões – mais vocacionados para actividades de pesca; a Associação Cultural de Paredes; a dos Mineiros das Minas da Borralha (…)
Ainda na monografia Montalegre:
São igualmente célebres por serem incomuns: o penedo do Esporão (S. Lourenço Cabril), a Laje dos Bois (Lapela-Cabril) o Penedo da Pala (Cela-Outeiro) o Penedo da Caçoila (Pedrário-Sarraquinhos) A Casa dos Mouros ( Morgade), o Penedo Sagrado (Salto) A Mesa do Galo (Borralha-Salto), (...)
Ainda na monografia Montalegre:
O granito de cada zona (a carta geológica refere como principais tipos o de Montalegre - Pondras-Borralha, o de Vila da Ponte, o de Parada, o de Pisões, o de Telhado, e o granitoide de Seselhe) era o material de construção por excelência. (…)
Vamos agora à Toponímia de Barroso:
Borralha
Nada tem a ver com a borralha ou o borralho a que nos aquecemos (Eu sei que afirmações deste género nos deixam boquiabertos. É o que me vem acontecendo há mais de quarenta anos) Pergunto-me como é que podiam meia dúzia de brasas, ainda por cima ocasionais e quando o gado pastava placidamente, sob vento, chuva ou neve, produzir o nome do lugar? Se fosse assim, quanta Borralhas haveria em Barroso, desde que o mundo é mundo?
Ainda na Toponímia de Barroso:
Borralha é o vocábulo “borra”, do adjectivo latino burra, na acepção geológica de terrenos cor de fogo, de terra avermelhada ou escura. A partir daí os diferentes derivados e até derivado de derivados: Borra, Borraceira, Borrageiro, Borral, Borralho, Borralheira e mesmo Borralheiro (topónimo e apelido), Borralhoso e até Borralhais, tudo sai de “borra”.
Ainda na Toponímia de Barroso:
O moleiro que se instalou na Borralha ( e daí veio a tomar o apelido) descobriu cedo as tonalidades do volfrâmio e do xisto à zina do sol estival! O topónimo tem origem na côr das pepitas de Volfrâmio que apareciam à superfície dos terrenos!
Tomado agora como minha as palavras do autor da toponímia “Eu sei que afirmações deste género nos deixam boquiabertos”, também eu fiquei “boquiaberto”… as tais contradições que vão acontecendo nas publicações “oficiais” de Montalegre. Então quando atrás, neste post, fiz uma transcrição da página oficial da Junta de Freguesia de Salto a respeito da origem do topónimo “Borralha”, lá se diz (o bold e sublinhado são meus):
O nome vem de Domingos Borralha, filho do moleiro ali instalado, junto ao rio, que foi trabalhar para as minas de Coelhoso…
Agora na Toponímia de Barroso, numa edição do Ecomuseu de Barroso que é tutelado pelo município, diz-se (o bold e sublinhado são meus):
O moleiro que se instalou na Borralha ( e daí veio a tomar o apelido) descobriu cedo as tonalidades do volfrâmio e do xisto à zina do sol estival! O topónimo tem origem na côr das pepitas de Volfrâmio que apareciam à superfície dos terrenos!
Boquiaberto, pergunto eu, afinal, é o apelido do moleiro que dá origem ao topónimo Borralha, ou é o topónimo Borralha que dá o apelido ao moleiro?
Mas sigamos para a Toponímia Alegre, que no decorrer da conversa, não deixa de ser curioso o apelido atribuído a Borralha:
“Borralha saco de palha”
E para terminar, ainda antes do vídeo resumo com todas as imagens aqui publicadas, vamos ao itinerário que recomendamos para se chegar às Minas da Borralha. Embora haja duas opções mais comuns, eu recomendo a opção via Boticas e Salto. Ou seja, com partida da cidade de Chaves (como sempre) pela EN 103 (estrada de Braga) até Sapiãos, aí abandona-se a EN103 e vira-se em direção a Boticas, onde, sem entrar no centro de Boticas, devemos tomar a saída para Cabeceiras – Ribeira de Pena e Salto, pela R311. À chegada a Salto, logo na entrada (sem entrar na vila) aparece a indicação da Borralha e Minas da Borralha, à direita. É por aí que devemos ir e a menos de 3 km, teremos a Borralha. Mas fica o nosso mapa:
E agora sim, vamos ao vídeo que preparámos com todas as imagens hoje aqui publicas. E nunca é demais informar, agora o Barroso tem duas publicações semanais neste blog, uma à sexta-feira com um vídeo das aldeias que já tiveram aqui o seu post, e outra aos domingos com um post completo sobre uma aldeia de Barroso, para já ainda no Barroso de Montalegre, mas em breve entrarão as aldeias de Boticas, Vieira do Minho e Ribeira de Pena.
E só faltam as referências às nossas consultas:
Bibliografia
BAPTISTA, José Dias, (2006), Montalegre. Montalegre: Município de Montalegre.
BAPTISTA, José Dias, (2014), Toponímia de Barroso. Montalegre: Ecomuseu – Associação de Barroso.
Webgrafia
http://repositorium.sdum.uminho.pt/handle/1822/42719