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CHAVES

Olhares sobre o "Reino Maravilhoso"

04
Nov18

O Barroso aqui tão perto - Bostochão


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Eu sei que prometi vir aqui ao blog todos os domingos com uma aldeia do Barroso, no entanto nem sempre nos é possível cumprir, a tempo e horas, as nossas promessas, mas apenas se adiam, e cá estamos de novo, com mais uma aldeia do Barroso, do concelho de Montalegre, hoje da freguesia de Cabril e que dá pelo nome de Bostochão (Busto Chão).

 

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Não sei porque razão, mas quando iniciei esta ronda pelas aldeias do Barroso, era uma das aldeias que tinha curiosidade em conhecer. Claro que a curiosidade deste conhecer era geral, mas há sempre uma aldeia ou outras em que a curiosidade é redobrada. Pois da primeira vez que a abordei, embora a curiosidade, foi só de passagem, o nosso destino era outro e tínhamos de cumprir.

 

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Quando calhou no nosso destino, decorria o ano de 2016, no dia 15 de julho, já depois das 16 horas. Dia quente, muito quente, e já andávamos nesta coisa de recolher imagens desde manhãzinha  bem cedo. Ora diz-nos a experiência que após os almoços do Barroso, vá-se lá saber porquê, a nossa inspiração cai a pique, a luz fica complicada e os motivos mais interessantes escondem-se de nós. Demos uma volta à aldeia, duas voltas e nada, mas insistimos sempre tem tomar umas imagens, no entanto, nestas circunstâncias, partimos sempre das aldeias com espírito de missão NÃO cumprida.

 

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E assim foi em Bostochão. Tivemos que lá voltar, um ano depois, no dia 17 de agosto de 2017 lá estávamos de novo, mas desta vez ainda de manhã, rondavam as 11 horas e nesta segunda entrada na aldeia, o calor ainda não apertava, a luz estava ótima, os motivos de interesse começaram a aparecer e a inspiração estava no seu normal. Não deu para muitas fotos, pois a aldeia não é grande, mas deu para algumas, mais que o suficiente para a feitura deste post.

 

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Bostochão é mais uma aldeia onde os nossos sentimentos entram em conflito ou mesmo em contradição. Por um lado gostamos do que vamos vendo, apreciamos a paisagem, o casario os pormenores, e ficamos agradados com isso, mas as ruinas, os abandonos das casas e a ausência das pessoas nas ruas e na vida diária, não nos deixam indiferentes, e vem-nos sempre à lembrança de como eram cheias de vida as nossas aldeias há coisa de 30 anos, e aí, passa a doer ver a realidade de hoje e o sentimento até nem é desagrado, mas antes de revolta, é que com estes abandonos das nossas aldeias, vai-se perdendo tudo aquilo que tínhamos de bom em termos culturais da vida rural das nossas aldeias, como as tradições, os saberes populares, os seus sabores, o comunitarismo mas talvez o mais importante seja mesmo o perder-se a vida de vizinhança e a vida de família, onde três gerações de família e vizinhança, viviam lado a lado,  num espírito de interajuda e num convívio intergeracional são, de troca e passagem de saberes, sempre com um extremo respeito pelos mais velhos, quando ser velho, era ainda sinónimo de ter muita experiência, muito conhecimento.

 

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No pós 25 de abril, ou seja, há coisa de trinta a quarenta anos, anos que coincidiu com o início da minha atividade laboral que, direta e indiretamente estava também ligada à vida das aldeias, recordo que os seus principais anseios e prioridades eram ter acessos e ruas pavimentadas, infraestruturas básicas, principalmente eletricidade e abastecimentos de água, mas também saneamento e escola, nas aldeias que não a tinham. Um pouco às cegas foram-se satisfazendo as necessidades das aldeias, pavimentaram-se os acessos, contruíram-se redes de abastecimentos de águas e saneamentos, pavimentaram-se as ruas das aldeias, a eletricidade chegou a todas as casas, idem com as telecomunicações, construíram-se as escolas que faltavam.

 

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Disse atrás que um pouco às cegas se foi construindo o que faltava, e foi às cegas porque autarcas e poder central apenas se preocuparam em satisfazer as necessidades imediatas, esquecendo-se (ou não) do futuro das populações rurais. Isto para ser muito meigo na minha apreciação, porque se fosse um pouco mais áspero, diria que autarcas e poder central sempre se estiveram a marimbar (para não utilizar outro termo) para as aldeias, apenas foram investindo nelas enquanto tinham eleitores, mas depressa deram conta que se estivessem concentrados nas cidades, continuavam eleitores e saiam muito mais baratos. Daí convidaram-nos, ou melhor, forçaram-nos a sair das aldeias. O futuro e a História darão conta dos crimes que se cometeram nestes últimos anos, não contra as aldeias, mas contra a nossa cultura rural e popular. Quanto as estórias futuras, se ainda se contarem, começarão “ Era uma vez, nuns sítios que se chamavam aldeias…”

 

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Mas vamos até Bostochão, e como chegamos lá!? — Pois vamos ao itinerário mais interessante, partindo do princípio em que vamos de passeio para conhecer as maravilhas que temos à porta, a menos de uma hora de viagem. Como sempre o nosso ponto de partida é a cidade de Chaves, e desta vez optamos por indicar a estrada de S.Caetano ou de Soutelino da Raia (EM507) até Montalegre onde após atravessarmos a vila, devemos tomar a M308 (em direção ao campo de futebol) até Sezelhe onde entraremos no Parque Nacional da Peneda Gerês, seguindo sempre pela estrada principal até Paradela (aldeia e barragem). Em Paradela, passamos o paredão da barragem para a outra margem, ou seja continuamos pela M308 em direção a Cabril, vamos passar ao lado de uma série de aldeias, qual delas a mais interessante ( Sirvozelo, Cela, Lapela, Azevedo, Xertelo, etc.) não sai dessa estrada que quando for a dar conta vai-lhe aparecer a placa que diz Bostochão. Mas fica o nosso mapa para ter uma ideia de onde fica.

 

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Como já o dissemos aqui várias vezes, não gostamos de regressar pelo mesmo itinerário, assim no regresso tomámos outro itinerário que sempre pode ser o itinerário de ida alternativo ao primeiro. Mas recomendamos o primeiro para ir por ser mais interessante e mais curto (75km). O itinerário de regresso é feito quase na totalidade pela EN103,  é mais longo (cerca de 83Km), mas ambos são percorridos, nas calmas, em 1H30, isto sem contar as paragens, que as há sempre obrigatórias.

 

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E estamos chegados aquela parte das pesquisas para ver o que por aí se diz de Bostochão, começando pelo livro Montalegre onde apenas diz que é um lugar da freguesia de Carbril. Começando e ficando pelo livro Montalegre, ou quase, pois mais nada encontrámos, mas ainda nos resta a Toponímia de Barroso, à qual passamos de seguida.

 

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Ora na Toponímia de Barroso não aparece Bostochão, mas sim Busto Chão. De facto, parece que era assim o seu topónimo mais antigo, pelo menos aparece assim grafado num testamento do Arquivo Distrital de Braga do ano de 1782:

“ (…) natural do lugar de Busto Chão, Freguesia de São Lourenço de Cabril, (…)

 

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Busto Chão

Ao contrário do que penso de outros bustos e Bustelos, neste caso deve tratar-se de topónimo  de sentido pastoril, a partir da raiz pré-romana BUST, significando sítio próprio para pastagens. Assim, Busto (lameiro ou poula, mas não plano,) figura também em:

- 1258 « Item de Busto (frio)» - forma perfeitamente estabelecida no século XIII. Pelo contrário a pastagem de Cabril não era fria mas era plana.

 

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E ficamos por aqui. Ficam ainda as habituais referências às nossas consultas e dizer-vos que as abordagens que já fizemos às aldeias e temas de Barroso estão agora no menu do topo do blog, mas também nos links da barra lateral. Se a sua aldeia não está lá, em breve passará por aqui, num domingo próximo, e se não tem muito tempo para verificar se o blog tem alguma coisa de interesse, basta deixar o seu mail na caixa lateral do blog onde diz “Subscrever por e-mail”, que o SAPO encarregar-se-á de lhe mandar um mail por dia com o resumo das publicações, com toda a confidencialidade possível, pois nem nós teremos acesso à vossa identidade e mail.

 

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BIBLIOGRAFIA

 

BAPTISTA, José Dias, Montalegre. Montalegre: Município de Montalegre, 2006.

BAPTISTA, José Dias, Toponímia de Barroso. Montalegre: Ecomuseu – Associação de Barroso, 2014.

 

 

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