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CHAVES

Olhares sobre o "Reino Maravilhoso"

15
Abr19

O Barroso aqui tão perto - Cabril


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Nesta rubrica do Barroso aqui tão perto,  estamos a chegar à reta final das abordagens às localidades do Barroso do Concelho de Montalegre. Das 136 localidades do Concelho de Montalegre, apenas nos falta abordar 18 localidades. Começámos as abordagens sem qualquer tipo de critério de seleção, recorríamos a uma espécie de sorteio e a que calhava, era a localidade que abordávamos. Mas havia sempre uma ou outra que embora calhasse em sortes, nós fomos adiando a abordagem, nesta reta final estamos a entrar nessas aldeias.

 

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À exceção da Portela da Vila de Montalegre à qual temos ligações sentimentais por parte da família materna,  às restantes localidades não temos qualquer ligação e a grande maioria nem sequer as conhecíamos, daí termos feito sempre uma abordagem isenta de qualquer sentimento que fosse além daqueles que sentimos quando fizemos a nossa visita e levantamento fotográfico.

 

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Sendo filho de mãe barrosã é natural que as estórias de lareira que me habituei a ouvir em criança estivessem ligadas a algumas localidades do Barroso, ainda para mais eram estórias contadas por uma geração que passou por períodos críticos da vida portuguesa, como a guerra civil espanhola e posteriormente a guerrilha, a 2ª grande guerra e os tempos de ditadura.

 

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Assim, embora eu nunca tivesse vivido no Barroso havia nomes de pessoas e localidades que sempre me foram familiares, isto para além daquelas localidades por onde amiúde tinha de passar nas minhas também frequentes deslocações a Montalegre, primeiro quando eram feitas  pela EN 103, localidades tais como o Alto Fontão, o Barracão, Gralhós e Gorda , depois via S.Vicente e mais tarde via Meixide, já pela ou depois pela M508, ou seja, todas as aldeias desses trajetos já eram minhas conhecidas.

 

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Mas ia eu dizendo que embora algumas aldeias me tivessem calhado em sorte para publicação, eu fui adiando para o final, tudo porque essas aldeias tinham qualquer coisa de especial que mereciam uma abordagem mais cuidada e mais aprofundada, uma dessas aldeias era Cabril, e digo era, porque a partir de hoje deixa de ser, pois é a nossa aldeia convidade.

 

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E qual a razão porque Cabril foi ficando para o final!?. Pois se há localidades que sei bem qual é a razão, para Cabril não tinha nenhuma razão em especial, a não ser um topónimo que me era sonante e que calhava ser mencionado em muitas das estórias que ia ouvindo em criança. Assim, a primeira vez que fui a Cabril, fui mesmo à descoberta de Cabril e desse porquê.

 

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Ora, vou ser sincero, da primeira vez que lá fui estava à espera que Cabril fosse de maiores dimensões, mas desde logo me marcou a sua localização e a presença da imponência do enorme rochedo da Serra do Gerês, da água, do verde e do calor, aliás este último tenho-o associado a todas as minhas passagens por Cabril, o que também não é de admirar por calhou passar por lá sempre nos meses de julho e agosto.

 

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Mas depois dessa primeira vez, passei por umas tantas vezes e comecei a dar-me conta que para além da marcante presença da Serra do Gerês, da água do verde e do calor, Cabril era também o centro de uma pequena região (dentro do Barroso)  com características muito singulares e que fazem da aldeia um ponto de passagem obrigatório e uma espécie de entroncamento, não só de estradas, mas também de rios e montanhas e com ponte, na apenas a de hoje, mas a de “sempre” a antiga ponte romana sobre o Rio Cabril, lindíssima, por sinal e que tive a sorte de a ver quase por completo logo na minha primeira visita a Cabril, isto em julho de 2014.

 

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Pois Cabril é o centro dessa pequena região muito singular do Barroso, não só pelas razões que já atrás deixei mas também pelos seus contrastes, senão vejamos, tal como dizia atrás é notória uma forte presença da Serra do Gerês, que atinge os 1575 metros de altitude, o que nos levará a pensar que as terras e freguesia de Cabril é território de terras altas, mas longe disso, são as terras mais baixas do Barroso, como veremos já a seguir.

 

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Cabril é sede de Freguesia constituída por 15 aldeias, a saber: Azevedo, Bostochão, Cabril, Cavalos, Chãos, Chelo, Fafião, Fontaínho, Lapela, Pincães, São Ane, São Lourenço Vila Boa, Xertelo e Chã de Moínho. Entre elas apenas Xertelo fica acima dos 700 metros de altitude, seguida por Lapela e Pincães acima dos 600m, depois São Lourenço, Chewlo Fafioão e Azevedo acimas dos 500m, Bostochão e Vila Boa acima dos 400 metros e as restantes não vão além dos 300m.

 

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E foi preciso chegar aqui a Cabril para verificar que afinal ainda me falta descobrir uma aldeia do Barroso, pois Chã do Moinho não consta dos meus levantamentos e sinceramente só hoje é que dei pela sua existência, e não constava da minha listagem de localidades do Concelho de Montalegre. La terei que ir mais uma vez por terras de Cabril, o que não será nenhum sacrifício, antes pelo contrário.

 

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Cascatas e Minas

Embora não propriamente na localidade de Cabril, mas sim no território da freguesia de Cabril, temos pelo menos três das cascatas mais interessantes do Barroso, as cascatas das 7 Lagoas, as Cascatas de Pincães e as de Cela Cavalos, estas mesmo no limite da freguesia. Também de interesse no território da freguesia temos as Minas de Carris, ou o que resta delas, mas atenção que as minas estão em território de proteção parcial tipo I e proteção total do PNPG-Parque Nacional da Peneda-Gerês que impõe limites ao número de pessoas e para as zonas de proteção total é necessária autorização do PNPG. Atenção que as cascatas das 7 lagoas estão em zona de proteção parcial (limitada a 10 pessoas). No entanto como as regras estão sempre a mudar, se for para um destes locais convém primeiro informa-se junto do PNPG (consulte a brochura do parque no final do post).

 

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Ainda antes de entrar naquilo que encontrámos nas nossas pesquisas e itinerário para lá chegar, queríamos deixar aqui ainda uma nota sobre a igreja de Cabril, que sem lhe tirar o interesse que tem, em beleza, também é contrastante, quando de perto não se confunde um pouco com o resto do casario mas ao longe ganha grande visibilidade.

 

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Passemos então ao nosso itinerário para se chegar até Cabril, por sinal um dos itinerários mais interessantes e que atravessa quase todo o Barroso de lés a lés, basta dizer que quase metade do percurso faz-se dentro do Parque Nacional da Peneda Gerês, no qual Cabril também está inserida. Pois para o nosso Itinerário optamos mais uma vez pela estrada do São Caetano até Montalegre, depois seguimos sempre junto ao Cávado até à Barragem de Paradela a qual devemos atravessar o paredão para depois continuarmos até Cabril. Fica o nosso habitual mapa para melhor localização.

 

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Então passemos às nossas pesquisas, hoje facilitadas pelo conteúdo da página na internet da Junta de freguesia de onde transcrevemos:

 

Cabril no passado e no presente...

A Freguesia de Cabril é actualmente constituída por 15 aldeias, de povoamento concentrado onde habitam aproximadamente 900 habitantes. É uma das mais belas inserida no parque nacional do Gerês. Fica situada nas margens do cávado, albufeira de verde azul de Salamonde e no sopé das fragosas penedias da serra do Gerês. Freguesia  antiga, mediaval, com pequenas aldeias de uma vida pastoril sossegada, tem também uma riqueza multifacetada. A paisagem oferece aos olhos os mais belos quadros...

Aqui também se verificou, inevitavelmente, o êxodo rural, umbilicalmente ligado à procura de melhores condições de vida.

No início desta freguesia, permanece o rasto histórico da existência de povoamentos pré-romanos como os Turodos, Esquesos e Nemetanos, povos que se dedicavam quase exclusivamente à pastorícia com a criação de cabras, o que daria o nome a Cabril.

 

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Assim sendo, e segundo os historiadores, era o gado que abastecia toda esta região, continuando ainda nos dias de hoje a existir.


Com a derrota dos Lusitanos (povos que habitavam a Península Ibérica sob o comando do pastor Viriato), Roma conseguiu o domínio total da Península Ibérica e de todos os povos e povoados Os habitantes das "tribos" derrotadas, foram escravizados e integrados no Império Romano, apesar de terem tentado resistir aos senhores do Universo. Cabril não foi excepção e podemos ainda encontrar um dos vestígios mais visíveis dessa data, "a ponte velha" agora de difícil visibilidade visto que se encontra a maior parte do tempo submersa pela barragem de Salamonde.A ponte foi construída com o intuito de permitir a passagem entre as duas margens que se encontravam separadas por um riacho, mas que em dias de Inverno chegava a não permitir a passagem dado o caudal gerado. Importa pois, realçar o facto de que foram os Romanos os primeiros a unir a Freguesia de Cabril, povo este que era exímio na construção de vias terrestres, ligando assim todo o seu império.

 

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A 8 Km de Cabril podemos encontrar um vestígio de grande importância, a "Ponte da Misarela", onde as tropas francesas de Napoleão em 1809, tiveram inúmeros problemas com os Barrosões. Encontra-se também neste local a estrada que ligava em tempos, Bracara Augusta a Áqua Flávia.


Com o fim do Império em 476 D.C., Cabril continuou a ser ocupado, pois existem marcos dessa ocupação, a "cilha dos ursos". Construção circular em pedra que servia para pôr a salvo as colmeias de abelhas do ataque dos ursos. Esta construção tem muitos séculos, pois os ursos foram extinguidos do Gerês há quase 800 anos.


Mais recentemente no século XVI, Cabril lançou para o mundo uma figura notável, João Rodrigues Cabrilho, natural do lugar de Lapela da casa do Americano que em 1542 ao serviço da armada Espanhola, comandou os navios "San Salvador" e "Victória", saindo do porto de Navidade em Espanha e descobrindo então a costa da Califórnia.


Presentemente a vida rural ainda permanece bem enraizada, as vezeiras e as manadas de vacas, a vegetação sempre verde dos medronhos, azevinhos e teixos, fetos, lírios do Gerês, as suas fragas enormes de figuras ciclópicas, desafiando aventuras de águias, os corços, javalis e os garranos, saltando e correndo, disputam o território sagrado de uma serra que jura perpétuar a sua pureza ecológica…


Cabril oferece-nos tudo isto, horas de regalar e comer com os olhos este misto de humano, animal e divinal da mãe natureza.

 

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Já na monografia “Montalegre” encontrámos várias referências a Cabril, algumas já mencionadas atrás nos conteúdos da página da Junta de Freguesia, assim ficámo-nos apenas por uma referência que tem a ver com o pastoreio:

 

O Pastoreio

A actividade pastoril e ganadeira, obrigatoriamente subsidiária da agricultura, é a base da economia local e deve-se a conceitos próprios de antiquíssimos regimes comunitários. A existência de ‘‘vezeiras’’ – gados apascentados sob regras democráticas próprias – indica como foi excelente a nossa coesão social, fruto duma organização jurídica específica e da qual, entre nós, restam documentos manuscritos, ainda que rudimentares, do Padre Diogo Martins Pereira, nascido em Pincães, em 1681. Esclarece-nos o reverendo sobre as fórmulas comunitárias adoptadas pelas populações cabrilenses no sentido de enriquecerem as suas casas e de melhorarem os seus termos territoriais, nomeadamente, os baldios. Entre outras coisas, descreve detidamente os diferentes lugares da freguesia de Cabril e o funcionamento das assembleias: o modo como resistiam a inimigos de fora parte, como apascentavam as suas vezeiras, como perseguiam os animais selvagens que consideravam prejudiciais, como faziam queimadas controladas para melhorar os pastos e como decidiram inçar alguns montes e corgas de outras árvores nobres e também de medronheiros com que evitavam os malefícios da erosão e de cujos frutos alimentavam os bichos e faziam aguardente.

 

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Quanto à “Toponímia de Barroso” temos o seguinte:

 

CABRIL VILA, agora, Cabril

 

Refira-se primeiro que Cabril nunca foi topónimo como agora o entendemos: não serviu de nome a qualquer lugar. Hoje começa a sê-lo, mas era o simples nome que indicava uma pequena região (de 76.6 há de extensão) através do geotopónimo “Cabril” de “Cabra+il” — região de muitas cabras, do nome latino capra, - que se compõe ainda de 15 pequenas localidades. Nos tempos que correm a “VILA” ou “ BAIXA”, como também lhe chamaram – centro cívico, administrativo e religioso da freguesia – já se vai chamando apenas Cabril!

Cabril é um corónimo (nome de região) como Chã, Vilar de Vacas ou Barroso.

 

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Quanto à “Toponímia Alegre”, parte integrante da “Toponímia de Barroso” temos:

 

Se fores a Cabril leva pão

Que vinho lá to darão

 

Vou-me Casar a Cabril,

O sítio do meu degredo:

É terra de muito padre

Canta lá o cuco cedo!

 

- Cabril (Memórias Paroquiais de 1758):

Colhem alguns frutos, “porém, como de tudo é pouco pela aspereza da terra para passarem a miserável vida a maior parte deles vivem de fazer carvão”.

Abade Domingos dos Santos

 

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E muito mais haveria para dizer sobre Cabril, a sua freguesia e região. Já o fomos dizendo nos vários posts dedicados a cada uma das aldeias da freguesia (exceção de Chã do Moinho que desconhecíamos a sua existência) e que poderá consultar na barra lateral deste blog ou no menu na parte superior do blog. Mas também a ideia destes post são deixar a nossa experiência pessoal na descoberta desta aldeias do Barroso e deixar um convite para visitar estas localidades onde poderão fazer outras descobertas, pois também estamos conscientes que houve coisas que nos passaram ao lado.

 

Só nos resta mesmo fazer a referência às nossas consultas.

 

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BIBLIOGRAFIA

 

BAPTISTA, José Dias, Montalegre. Montalegre: Município de Montalegre, 2006.

BAPTISTA, José Dias, Toponímia de Barroso. Montalegre: Ecomuseu – Associação de Barroso, 2014.

 

WEBGRAFIA (Consultas em 14-04-2019)

- https://www.cm-montalegre.pt/

- http://www.jf-cabril.pt/

- Brochura do PNPG: https://www.google.com/search?client=firefox-b-d&q=PNPG+zonas+de+prote%C3%A7%C3%A3o

 

 

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