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CHAVES

Olhares sobre o "Reino Maravilhoso"

25
Mai20

O Barroso aqui tão perto - Carvalho

Aldeias de Boticas


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Carvalho – Boticas

 

Nos últimos anos o destino deste blog aos domingos, tem sido as aldeias de Barroso. Já por aqui passaram todas as aldeias do Barroso de Montalegre, estamos agora no Barroso de Boticas, e hoje, toca a vez à aldeia de Carvalho.

 

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Contrariamente ao que é habitual, em que começamos o post com as nossas impressões sobre a aldeia, hoje vamos começar pela localização e o melhor itinerário para lá chegar.

 

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Estando o Barroso integrado em Trás-os-Montes, é natural que no Barroso, as suas povoações fiquem entre serras e montanhas, mas é no Barroso, pela certa que não me engano, que se concentram o maior número das mais altas serras de Portugal Continental (Larouco, Gerês, Barroso, Cabreira e Leiranco), mas além da concentração destas serras, elas estão tão próximas, que parecem de mãos dadas umas às outras.

 

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Excetuando a serra do Barroso, que está no interior de Barroso, as outras envolvem-no. Ora entre estas serras há outras pequenas elevações, planaltos e pequenas veigas, estas últimas quase sempre atravessadas por rios, ribeiros ou simples linhas de água que se multiplicam em tempos de chuva ou com o descongelar da neve.

 

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As aldeias de Barroso, em geral, encontram-se nos planaltos, principalmente no Alto-Barroso ou então nas faldas das serras e das pequenas elevações, neste caso, quase sempre junto a uma pequena veiga, na proximidade de um rio, ribeiro ou linha de água. Digamos que é um povoamento natural, deixando os terrenos férteis das veigas para a agricultura, em geral onde há sempre abundância de água, por outro lado, ficam também com a encosta das montanhas livres para se abastecerem de lenha e também da caça.

 

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Pois a aldeia de Carvalho é uma dessas aldeias, que encaixa na perfeição de ocupar as faldas da montanha a lançar vistas para a sua pequena veiga, que vai descaindo e ziguezagueando por entre pequenos montes até chegar à veiga de Carvalhelhos, para desaguar depois na grande veiga do Rio Beça (às vezes, também grafado como Bessa), entre a Carreira da Lebre e a povoação de Beça.

 

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Mas quem nos leva até às localidades/povoações, são os caminhos e estradas, e se a EN103 (Chaves/Braga) é a grande artéria que atravessa todo o Barroso, no concelho de Boticas a grande artéria é a ER311, que atravessa o concelho de Boticas a meio e é por isso que a ER311 nos vai levar até quase todas as aldeias de Boticas. Claro que não o fará diretamente, aliás ao longo de todo o seu percurso pelo concelho de Boticas, só atravessa três localidades (Carreira da Lebre, Quintas e Pinho), mesmo em Boticas, passa ao lado, mas é ela que nos liga a todas as estradas e caminhos que nos levam às povoações.

 

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Continuando o discurso anterior, é claro que todas as regras têm exceções e a exceção para a ER311, são as ligações às aldeias entre Boticas e Chaves, via Sapiãos, pois a ER311 acaba (ou começa) já bem dentro do concelho de Chaves. Mas isto são pormenores, pois a razão de todo este discurso, é porque hoje também vamos até à aldeia de Carvalho, via ER311, embora este itinerário por nós recomendado até nem seja o mais curto, mas talvez mais fácil, e depois a diferença entre um e outro também não é muita. Pois o nosso itinerário, o que nós recomendamos, está traçado no mapa que a seguir lhe deixamos, mas se a seguir à Carreira da Lebre desviar para Carvalhelhos, também vai dar a Carvalho.

 

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Atrás ficou o itinerário em imagem, agora em palavras, só resta esclarecer que estes itinerários para o Barroso têm sempre início na cidade de Chaves, onde na maioria das vezes iremos tomar a EN103 até à aldeia de Sapiãos, depois daí até Boticas e depois, sim, é que aparece a ER311.

 

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O nosso apontamento

 

A verdade é que hoje troquei as voltas a este post porque não sabia bem como abordar esta aldeia. O facto é que se trata de uma pequena aldeia, que outrora teria sido bem mais pequena, limitada ao núcleo mais antigo, que ainda hoje é notório.

 

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Nota-se também, que esta aldeia em certa altura teve um crescimento para fora do núcleo, mas também é notório que esse crescimento não aconteceu aquando o das outras aldeias, parece-me ser bem anterior. Afirmo tudo isto pelo casario que por lá existe, onde no núcleo antigo ainda existe algum casario das aldeias do Barroso, construções centenárias, mas com estas e fora do núcleo aparecem outras construções, que embora antigas, já são mais cuidadas como habitações bem como nos materiais utilizado, embora de pedra, mas já com utilização de uma pedra trabalhada em perpianho, ou mesmo já sem pedra, principalmente no 2º piso, onde já entram parede rebocadas. Eu diria que são construções que ainda não são centenárias, mas andarão próximas disso. Mas isto é apenas uma opinião.

 

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Os armazéns antigos, parecem demonstrar que uma ligação forte à agricultura, o que é normal, pois as terras que vimos por lá parecem ser férteis, onde se cultiva de tudo, ainda hoje assim acontece.

 

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Também não deixámos de observar a toponímia das ruas, que na aldeia costuma ser curiosa, ou ser aquilo que é, como a Travessa da Eira se a travessa vai dar à eira, ou Rua Central se a rua é central, mas foi a primeira aldeia onde vi um Beco de Camões. Curiosidades.

 

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Quando fizemos o levantamento fotográfico desta aldeia no dia 16 de julho de 2018, chegámos lá às 8H16, pelo menos é a hora que tenho nos meus apontamentos, onde registei apenas três, a da hora, uma outra que diz “está tudo a dormir, até os cães” e uma última que diz “três mulheres a trabalhar”. Recordo que na altura referi que se calha os homens estiveram a ver e festeja a vitória da França no dia anterior, em que se tinha jogado a final do mundial 2018. Mas não, as mulheres de Barroso sempre trabalharam a terra e sempre arregaçaram as mangas para às lides do campo. Apenas mais uma curiosidade.

 

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Passemos agora aos documentos disponíveis, começando pela “Toponímia de Barroso”

 

Carvalho

 

Não duvido que os romanos lhe chamassem quercus mas de quercus não há leis fonéticas que nos levem a carvalho… Não há! É de tal forma abundante que era obrigatório estar bem e muito representado na toponímia em derivados e afins. A partir da mais antiga referência conhecida:

-985 «carbalio furato» D.D 148 talvez se possa apresentar uma proposta etimológica apresar de grande parte dos filósofos optarem pela origem pré-romana ou obscura.

Penso que carbalio será a raiz carb (que leva também a carvão) e o sufixo aculu = carb+aculu > carbaculu>carbaclu<carbaglo>carbalho e b>v para os que mal aprendem a nossa língua.

Dizia eu que de quercus não íamos ter a carvalho; não obstante, vamos ter a muitos topónimos com semelhantes campos semânticos, como sejam: Cerdeira, Cerdal, Cerzeira, Cerzedo, Cerzedelo, Cercozo, Cercal, Cercosa, Cercada, Cerquedo, Cerquido, Cerqueira, Cerquinho, etc. que vem tudo de carvalho e afins.

 

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Por sua vez, um blog especializado na toponímia galego-portuguesa e brasileira diz o seguinte:

 

Em Toponomástica, "Carvalho" provém da raiz kar-, que para Rostaing (1965) é de origem pré-indo-europeia e significa "rochedo". há topónimos em "Car-" por esta Europa fora que, de facto, se referem a "pedras". é o caso de Carrara (It.), a terra do mármore. este "Car-", ou "Car-b-", está também na origem de topónimos em "Cabr...".

Mas Amaral e Amaral (2000) acham que cara- deriva do antigo europeu e significa "alto", dizendo, por outro lado, que karregg- é celta e significa "pedra".

A verdade é que o topónimo "Carvalho" ou "Carbalho" já se escreveu Carbalio, Karualio, Karuallo ou Carualio.

E também é verdade que os "Carvalhos" que eu conheço se colocam, em geral, em ponto alto e dão nome a um ou outro pino pedregoso de importância menor. são parentes do "Caramulo" e da "Carapinha".

 

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Na “Preservação dos Hábitos Comunitários nas Aldeias do Concelho de Boticas” encontrámos o seguinte:

 

Uma referência ao dia da festa em honra de S. Mateus

Mateus,* 21 de Setembro, Carvalho

 

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E uma outra referência, quanto à água do ribeiro que passa em Carvalho que vai servir de regadio as aldeias de Beça e Carvalhelhos. Curioso que no início deste post eu referia que o vale de Carvalho, ia por aí abaixo até à veiga do rio Beça, ainda sem saber que a água do seu ribeiro também e iria servir de rega duas povoações.

 

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Geralmente, cada uma das aldeias dispõe, no seu termo territorial, de nascentes, regatos ou ribeiros, donde provém a água para rega. Todavia, existem situações em que diferentes aldeias têm que partilhar a utilização da água. A partilha de água entre aldeias, geralmente conflituosa, levou à criação de regras de utilização bem definidas, nem sempre respeitadas pelos seus habitantes, ou à posse dessa água por apenas uma das aldeias. Existem no concelho três aldeias em que parte da água, que utilizam para rega, é proveniente de outra aldeia: em Antigo (Dornelas) regam com água de Gestosa (Dornelas), em Carvalhelhos (Beça), regam com água de um ribeiro de Carvalho  (Vilar), e em Lavradas (Beça) regam com água de Lamachã (Negrões - Concelho de Montalegre). Cada uma destas aldeias tem direito a essa água por um determinado período, durante o qual os da outra aldeia não podem tornar a água. Esta regra nem sempre é respeitada, acontecendo por vezes as pessoas andarem a regar e a água faltar, porque alguém da outra aldeia a tornou. Estas situações, além dos conflitos que geram entre os intervenientes, acarretam inúmeras canseiras, pois quem quer regar tem que ir buscar a água à outra aldeia e guardá-la para que não lha voltem a tornar.

 

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E para finalizar fica o habitual vídeo com um resumo de todas as fotografias aqui publicadas, mas o vídeo de hoje, tem mais algumas fotos, numa pequena animação fotográfica incluída no vídeo. Aqui fica e espero que gostem.

 

 

 

 

BIBLIOGRAFIA

BAPTISTA, José Dias, (2014), Toponímia de Barroso. Montalegre: Ecomuseu – Associação de Barroso.

CÂMARA MUNICIPAL DE BOTICAS, Preservação dos Hábitos Comunitários nas Aldeias do Concelho de Boticas - Câmara Municipal de Boticas, Boticas, 2006

 

WEBGRAFIA

http://www.cm-boticas.pt/

https://toponimialusitana.blogspot.com/search?q=carvalho

 

 

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