O Barroso aqui tão perto - Casal
Aldeias do Barroso - Concelho de Boticas
CASAL - BOTICAS
20 de janeiro de 2018, a promessa que temos com o S. Sebastião, leva-nos até às Vila Grade, logo pela manhã, bem cedo, na hora de a(s) rua(s) da aldeia receber(em) os primeiros visitantes, peregrinos, forasteiros, fotógrafos, televisões, curiosos e acompanhantes. Nós gostamos de ir sempre pela manhazinha para fazer algumas fotos da mesinha do S. Sebastião ainda vazia, mas também para chegarmos a tempo do caldo do pote. A partir de aí, quando rondam as 8H30 a 9H00, começa aos poucos a encher-se a aldeia de gente, principalmente junto à mesinha disposta ao longo da rua que nos leva à igreja, para marcar lugar, numa extensão de 500m, que até ao meio dia ficará repleta de gente, com uns milhares de pessoas.
No entretanto que vai das 9H00 até por volta do meio-dia, hora em que termina a missa, há uma espécie de vazio no que toca às celebrações do São Sebastião, apenas a cozinha mantém a sua azáfama (que já vem do dia anterior), nos cozinhados das carnes e do arroz que nos 25 grandes potes à volta de um grande braseiro se confeciona para alimentar todos os forasteiros. Neste entretanto, no 20 de janeiro de 2018, aproveitámos e fomos até duas aldeias da freguesia que já tínhamos debaixo de olho para a recolha fotográfica, a fim de a podermos trazer aqui o seu post, em mais uma aldeia do Barroso. Eram elas as aldeias de Casal e Lousas.
Lá rumámos então até a aldeia de Casal, a que deixamos aqui hoje e que foi a primeira a ser visitada nesse dia. Mal saímos da Vila Grande, entrámos num caminho municipal pavimentado (CM1045), com a largura para pouco mais de um popó e com vistas para um mar de montanhas, com grandes ondas, num degradê cromático que vai de um verde forte das montanhas mais próximas até um azul ténue, que se confunde com o azul do céu nas montanhas mais distantes que se perdem no horizonte.
A paisagem começa a mudar quando entrámos por um longo corredor entre duas montanhas a descair para uma linha de água. São cerca de 5km que seriam selvagens se não fosse existir a estrada por onde rolávamos e os postes de madeira com o cabo de energia elétrica, que são sempre um sinal, e também um guia, até um lugar com vida humana, que no caso era a aldeia de Casal.
E já quando se avistam terras que não descem mais, num pequeno vale onde se juntam duas linhas de água, num pequeno anfiteatro bem inclinado, está implantada a aldeia de Casal. Mas antes de lá chegar, tem de se atravessar uma linha de água após a qual nos espera uma íngreme subida de cerca de 200m, mas mesmo íngreme, que com o piso húmido, quiçá gelado, chegámos a ter dúvidas se o nosso popó conseguiria subir, mas bem a custo, subiu.
Lá na croa da íngreme subida, um pequeno largo onde, quase, apenas dava para fazer a manobra para o nosso popó virar, e a partir de aí, uma, igualmente íngreme descida até ao pequeno vale, onde, de uma lado e outro da rua se iam implantado as casas da aldeia, de entre as quais, de uma delas, saia fumo da sua chaminé, e já sabemos que não há fumo sem fogo, nem fogo sem gente que o acenda e mantenha, mas logo chegaram até à nossa proximidade 5 testemunhas, cães que nos iam ladrando num misto de dar as boas-vindas, de dizerem que aquilo era terra de alguém e de aviso a quem os cuida e sustenta, e avisaram, pois logo de seguida, no fundo da rua começa a desenhar-se uma figura humana, que numa subida lenta que a própria subida recomendava, se ia aproximando de nós.
Os habituais cumprimentos de quem chega e quem recebe, o porquê da nossa visita, que nesse dia além dos habituais descobridores do Barroso que habitualmente me vão acompanhando nesta descoberta, juntaram-se a nós mais dois fotógrafos amigos, do Porto. Pois perante nós apresentava-se o Sr. Manuel Fortuna com o qual fomos conversando enquanto íamos fazendo uns registos e descendo a rua da aldeia, com os cuidados que a descida exigia.
Perguntámos-lhe pelo resto do pessoal da aldeia e o Sr. Manuel foi-nos dizendo que era só ele, a sua senhora e os cães, que não havia mais ninguém. Que a sua senhora estava em casa, pois já tinha alguma dificuldade em andar, tudo após um avc que a sua senhora teve enquanto esperava pelo padeiro. E teve sorte, pois o padeiro só vai a Casal de 15 em 15 dias… perguntei-lhe como foi socorrida e respondeu-me que foi lá o 112 buscá-la, mas que foram muito rápidos, não chegou a 1 hora e eles (112) já lá estavam… E sim, pode parecer muito para um pronto socorro que este tipo de acidente exige, mas conhecendo a realidade que temos à disposição, o socorro até nem foi tardio, mas o problema agrava-se porque o hospital mais próximo, o de Chaves, fica a 50 km, por estradas que podem até ser interessantes para passeios ou ralis, mas pouco próprias para socorros rápidos, e o problema agrava-se ainda mais, porque o hospital de Chaves não está preparado para socorros a AVC’s, estes têm de ir para o hospital de Vila Real, que fica a 94 km da aldeia de Casal. É por estas e por outras idênticas que estas aldeias caminham para o despovoamento total e a aldeia de Casal só tem um casal, já idosos, mas só até um dia…
Apenas um casal vive em Casal, (esperamos que assim ainda seja, pois nós hoje, aqui, estamos a tornar presente e a relatar uma visita que aconteceu há três anos) e já lá vão 18 anos em que é apenas este casal que lá vive. Padeiro e Carteiro, vão lá de 15 em 15 dias e o casal desloca-se “às Boticas” uma vez por mês para comprar o que é necessário, alimentação, medicamentos, etc., mas de vez em quando recebe um ou outro amigo da freguesia, “conversamos um bocado, bebemos um copito e depois eles lá vão e eu cá fico” e a sua maneira, são felizes neste isolamento, mais o Sr. Manuel que a esposa, pois por ela talvez já estivesse a viver com uma das filhas, que estão ainda por cá, em Portugal, pois dos 6 filhos, 4 são emigrantes.
O curioso nesta estória é que este amor que o Sr. Manuel tem a Casal, não é de amor ao berço que o viu nascer e crescer, pois tanto ele como a mulher nasceram em Cabeceiras de Basto e só depois de casados é que vieram para a aldeia de Casal, que na altura tinha à volta de 70 habitantes, mas não deixa de ser uma estória de amor à terra e de amor do casal que os mantém juntos há mais de 60 anos, depois de se terem conhecido numa festa do Santo Aleixo, em Ribeira de Pena, namorarem e terem casado, e o Sr. Manuel gosta de viver em casal e segundo o mesmo, a sua esposa Rosalina Ramos – “ela também gosta de aqui estar, pois nem ela nem eu éramos daqui e já aqui está há tantos anos como eu” já a Dona Rosalina dizia que “ goste que não goste, tem de ser”
Em Casal, tal como ia dizendo o Sr. Manuel – “ os velhos morreram, foram indo embora e o resto passou-se para a França”. Restam o Sr. Manuel Fortuna e a Dona Rosalina Ramos, um casal em Casal, com toda uma aldeia por sua conta, isto até ao dia em que, tal como os outros velhos, também vão ter que ir embora…e Casal será mais uma aldeia do Barroso completamente despovoada.
Ainda antes de finalizarmos e passarmos ao vídeo resumo, fica aqui o nosso mapa com a a localização da aldeia e com o melhor itinerário para lá chegar. Entretanto fica também uma recomendação nossa, não deixe de ver uma pequena reportagem sobre a aldeia de Casal, realizada pela Sinal TV, que foi também transmitida no Porto Canal, em que conversam também um pouco com o Sr. Manuel e a Dona Rosalina. Fica link no final para essa reportagem. Para já, ficam os mapas com a localização e o itinerário até Casal, como sempre a partir da cidade de Chaves:
Para finalizar fica o nosso habitual vídeo com o resumo de todas as fotografias de Casal publicadas neste post. Espero que gostem.
Aqui fica:
Agora também pode ver este e outros vídeos no MEO KANAL Nº 895 607
Reportagem da Sinal TV sobre Casal:
E quanto a aldeias da freguesia de Dornelas, Boticas, despedimo-nos até ao próximo domingo em que teremos aqui a aldeia de ESPERTINA .