O Barroso aqui tão perto - Codeçoso ( Meixedo)
A nossa aldeia de hoje do Barroso aqui tão perto é Codeçoso da Chã (às vezes também grafada como Codeçoso de Meixedo ou Codessoso). Por nós grafamos a aldeia com Codeçoso e o “apelido” da Chã, por de terras da Chã e porque em alguns documentos antigos assim aparecer grafada mas também, talvez a principal razão, para a distinguir de outra aldeia do concelho de Montalegre com o mesmo topónimo – Codeçoso do Arco, esta da freguesia da Venda Nova, enquanto que a nossa aldeia convidada pertence à freguesia de Meixedo, hoje União de Freguesias de Meixedo e Padornelos. Contudo, ao longo deste post, vai aparecer apenas grafada como Codeçoso, e às vezes como Codessoso se assim estiver no texto original que transcrevermos.
Hoje vamos ser muito breves nas nossas impressões pessoais, isto porque ao contrário daquilo que acontece com a maioria das aldeias do Barroso, em que pouca documentação encontramos sobre elas, sobre Codeçoso da Chã temos muita informação, e mais à frente entenderemos o porquê.
Mas iniciemos pelo habitual itinerário e localização, coordenadas, altitude e o nosso habitual mapa.
Pois Codeçoso fica a aproximadamente 3 km da Vila de Montalegre. Indo pelo itinerário que hoje recomendamos, que mais uma vez é o da estrada de S.Caetano – Soutelinho da Raia (como sempre com partida em Chaves), na última aldeia antes de chegar a Montalegre, Meixedo, desviamos à esquerda e apanha-se a estrada para Codeçoso. Mas se em Meixide tomarmos a estrada via Pedrário/Sarraquinhos, aí temos de virar à esquerda antes de chegarmos a Meixedo. Embora o nosso itinerário no mapa esteja assinalado com passagem por Vilar de Perdizes, deverá ir por Pedrário/Sarraquinhos, pois penso que até meados de abril deste ano a estrada via Vilar de Perdizes, por motivos de obras, continua fechada ao trânsito.
Quanto às coordenadas de Codeçoso são:
41º 49’ 10.12” N
7º 44’ 41.38” O
Altitude: 980m
Pois às 7H34 do dia 14 de agosto de 2016 quando entrámos na aldeia para a nossa recolha fotográfica, no ar ainda pairavam aromas de ressaca e a aldeia ainda estava engalanada de festa . Tivéssemos nós ido umas horas antes e ainda tínhamos botado um copo e dado um pezinho de dança no arraial das festas de S.António, abrilhantado pelo Grupo Musical «S.A. Sons do Arrasto», interrompido à meia-noite pela «Grande sessão de fogo de artifício». Não sabíamos, pois se soubéssemos, se calha, até éramos meninos para isso.
Não sei se pelos adornos da festa, logo à entrada da aldeia suspeitámos que iriamos ser surpreendidos pela positiva, e em geral, as primeiras impressões são sempre aquelas que valem e prevalecem e Codeçoso não desiludiu, aliás penso que as fotografias são testemunho disso mesmo. Passou assim a ser mais uma das aldeias do Barroso de visita obrigatória. Gostámos do que vimos e gostámos da simpatia dos madrugadores com que conversámos. E como hoje ainda temos muita escrita pela frente, ficamo-nos por aqui quanto às nossas impressões pessoais.
Iniciemos por falar de um filho da terra a que roubámos grande parte das palavras que virão a seguir, pois é ele o autor da “Monografia de Codeçoso” onde quase tudo que interessa dizer sobre a aldeia, está lá. Esse filho da terra é já um Ilustre Barrosão que dá pelo nome de João Barroso da Fonte, com um extenso curriculum, que por falta de espaço deixamos um que encontrámos no Dicionário Cronológico de Autores Portugueses:
João Barroso da Fonte
[Codeçoso/Montalegre, 1939]
Frequentou o seminário de Vila Real entre 1952 e 1962. Em 1966 entrou para o Curso de Oficiais Milicianos em Mafra, sendo mobilizado para a guerra colonial, em Angola, em 1965. De volta a Portugal em 1967, fixa-se em Chaves, onde foi professor no Liceu e chefe de redacção do semanário Notícias de Chaves. Em 1975 mudou-se para Guimarães. Matriculou-se na Faculdade de Filosofia de Braga, onde concluiu a licenciatura (1981) e fez o mestrado em Filosofia em Portugal e Cultura Portuguesa com a tese O Pensamento e a Obra de Alberto Sampaio (1997).
Foi director da Comunicação Social na Zona Norte (delegação do Porto), entre 1983 e 1985, vereador e presidente substituto da Câmara Municipal de Guimarães, de 1985 a 1990, e director do Paço dos Duques de Bragança, em Guimarães, de 1990 a 1995, ano em que se aposentou.
Ligado à informação regional vimaranense e vilarealense, aos referenciais que vão de Chaves a Montalegre e com particular carinho pela região barrosã, tem feito breves surtidas pelo campo etnológico – não só em livro como em Trabalhos da Sociedade Portuguesa de Antropologia e Etnologia – ou por autores nacionais que divulgou em A Tribuna e, com maior assiduidade, na revista Gil Vicente.
Jornalista desde os quinze anos, fundou e dirigiu os jornais Além-Marão, G. I. Espaço Novo,Sentinela: Jornal dos Combatentes do Ultramar, A Voz do Combatente e Voz de Guimarães(1999), dirigiu a revista Gil Vicente e o jornal Comércio de Guimarães e colaborou em diversas revistas e jornais diários e regionais. Em 1999 retomou a publicação de Poetas e Trovadores, mensário de artes e letras.
Fundou e dirigiu várias associações e é sócio de muitas outras. Criou, organizou e promoveu jogos florais e cursos de iniciação ao jornalismo e participou, com comunicações, em congressos e encontros de escritores. Prefaciou cerca de meia centena de livros, sobretudo poesia, de vários autores.
Foi condecorado com as Insígnias da Ordem do Rio Branco, com o grau de Oficial, pelo Presidente da República Federal do Brasil (1990), com a Medalha do 1º. Centenário da Abolição da Escravatura Negra do Amazonas (1991) e com as medalhas de Mérito Militar e Comemorativa das Campanhas de Angola (1965-1967).in Dicionário Cronológico de Autores Portugueses, Vol. VI, Lisboa, 1999
Espero que o autor não se importe por lhe trazermos aqui as palavras da “ Monografia de Codeçoso”, mas é por uma boa causa e pela sua terra. Pelo meio vamos metendo umas fotos para ir descansando os olhos da leitura. Então começa assim:
Monografia de Codeçoso
CODEÇOSO - É uma das aldeias mais próximas da vila de Montalegre, sede do concelho. Até à reforma administrativa de 1836 o concelho de Montalegre era mais conhecido por «Montalegre e Terras de Barroso», compreendendo o actual concelho de Boticas e parte dos concelhos de Terras de Bouro, o então concelho de Ruivães e algumas povoações do actual concelho de Chaves. As terras de Barroso já assim eram conhecidas ao tempo dos primórdios da nacionalidade Portuguesa. Nos primeiros documentos medievais é simplesmente conhecido por «Terras de Barroso», confrontando a norte com a Galiza, a Oeste com Terras de Bouro, a sul com Vieira do Minho e Cabeceiras de Basto e a nascente com o Rio Tâmega, do concelho de Chaves. Estas confrontações colhem-se no «Ensaio Topográfico Estatístico», de J. Santos Dias; em «Portugal Antigo e Moderno» de Pinho Leal e em «Corografia de Portugal» do P. Costa Carvalho.
Esta ampla região Barrosã tem várias e importantes serras: Larouco (com 1.525 metros, a 2ª mais alta de Portugal continental), o Gerês, a Cabreira, as Alturas, também conhecida pela Serra do Barroso ou «Cornos das Alturas» e Leiranco, para além do Ferronho e do Monte Gordo, que se situam entre Codeçoso, Cepeda e Fírvidas. E tem os seguintes Rios: Cávado que nasce na serra do Larouco e desagua em Esposende; Rabagão que nasce em Codeçoso e dá origem à maior albufeira do país, conhecida por Pisões; Beça que nasce perto de Serraquinhos; Terva que nasce em Ardãos e Assureira que começa em Meixedo, passa perto de Gralhas, Solveira e Vilar de Perdizes e reentra em Espanha para desaguar no Tâmega.
Há diversas povoações no norte do país com o mesmo nome, a saber: Codeçoso do Arco ou Venda Nova que foi uma espécie de cruzamento das antigas derivações da Via Romana; Codeçoso do actual concelho de Boticas; Codeçoso de Canedo, no concelho de Celorico de Basto; Codeçoso no Concelho de Braga e há também outro Codeçoso no concelho de Famalicão. A origem do topónimo é a mesma: deriva de «codesso», um arbusto que pertence à família das leguminosas e que é típico da região nortenha. Inicialmente a palavra escrevia-se com dois «ss». A evolução semântica generalizou o topónimo em «ç».
Por aqui andaram os mais antigos povos que deixaram vestígios, ainda hoje bem visíveis, nos dólmenes, antas, castros, pedaços de via romana, marcos miliários, moedas, etc. Isto confirma que as «Terras de Barroso» foram pertença dos Alanos, dos Vândalos, dos Celtas, dos Romanos, dos Suevos, dos Godos, dos Visigodos, enfim, dos Iberos, nome que melhor traduz todos quantos povoaram a Península Ibérica.
Jerónimo Contador de Argote afirma nas suas «Memórias e Antiguidades», e tantos outros autores que se lhe seguiram, confirmam que Barroso, ao tempo dos Romanos, era atravessado por três vias imperiais:
a) a primeira dessas vias ía de Chaves a Braga, passando por Codeçoso. O trajecto era o seguinte: Chaves, Casas dos Montes, Pastoria, Seara Velha, Castelões, Soutelinho, Solveira, Ciada (também conhecida por Caladuno que seria uma grande cidade, situada perto de Gralhas), Meixedo, Codeçoso, Peirezes, S. Vicente da Chã, Travassos da Chã, Penedones, Pisões, Currais, Codeçoso do Arco, Ruivães, Braga;
b) o Bispo de Uranópolis também mandou estudar estas duas ramificações da via romana e concluiu que os itinerários eram diferentes. Um seguia este trajecto que passava em Codeçoso, coincidindo, em grande parte, com o antigo caminho vicinal que ligava a Gorda a Codeçoso pelo Vilarinho, Varja, Gata, Toutarelo, Lamarelhas, atravessando a aldeia e seguindo por Meixedo, rumo a Chaves. Era este pedaço de via romana que atravessava duas antigas povoações que antecederam Codeçoso. Chamavam-se «Pardieiros» e «Portela da Urzeira». Estes lugares ainda hoje existem como terrenos aráveis. Com o aparecimento de Codeçoso, que se situa entre aqueles dois lugares, estes desapareceram, transformando-se em terrenos que pertencem a moradores do actual povoado. A outra derivação separava-se em Codeçoso do Arco, indo para Chaves, por Salto, Carvalhelhos, Curalha, etc.
IMPORTÂNCIA CASTREJA E RELIGIOSA DE CODEÇOSO - Durante muitos anos Codeçoso pertenceu à freguesia de S. Vicente da Chã. É por isso que habitualmente aparece com esse designativo. Como a Chã, desde o tempo de Dinis, pertencia à Comenda do Convento de Santa Clara de Vila Conde, Codeçoso pagava os tributos religiosos a esse Convento, ao contrário da maior parte das restantes freguesias e aldeias de Barroso que pertenciam à Ordem Militar dos Templários. Estes elementos podem ler-se no livro «Montalegre e Terras de Barroso» do Padre João G. da Costa que esclarece muitas das afirmações que aqui tentamos resumir, a propósito de Codeçoso. Aí se diz que somente a freguesia da Chã (à qual Codeçoso pertencia), Morgade e Negrões dependiam do Convento de Santa Clara de Vila do Conde. E, segundo Duarte Nunes Lião, in «Portugal Económico, Monumental e Artístico» (1935), D. Dinis, em 1291, «por escambo, ou seja, por troca, doava ao Convento de Pombeiro, a freguesia de S. Vicente da Chã. Logo Codeçoso, já nessa recuada data, existia e contribuía, ora para o Convento de Vila do Conde ou para o de Pombeiro». Mais precisamente, seguindo Gonçalves Costa: «a freguesia de S. Vicente pertenceu à Ordem Militar dos Templários (fundada em 1118, em Jerusalém), entre 1291 e 1319. D. Dinis viu essa Ordem aprovada por Bula pontifícia de 14-3-1319, com o nome de «Ordem de Cristo». Lê-se no livro de Gonçalves Costa que «os Templários tiveram efectivamente, na Chã, um Convento, com a respectiva igreja, cuja parte inferior denuncia estilo românico do século X . Em conclusão podemos ter por certo que a Chã, com S. Vicente, Negrões e Morgade, foram pertença dos Templários nos princípios do século XIV». A Igreja paroquial ainda é hoje considerada monumento nacional. Se referimos aqui, com este relevo, a freguesia de S. Vicente é pelo facto de nessa altura Codeçoso lhe pertencer, religiosamente.
Mas Codeçoso valeu e vale, sobretudo, pelos vestígios românicos. Erradamente os vários autores atribuem a Medeiros e a Meixedo castros, dólmenes e antas que lhe pertencem. O Castro que dista, para poente, cerca de 500 metros da E. N. Montalegre - Chaves, inscreve-se no termo de Codeçoso. Chama-se «o Cabeço dos Mouros» e está por escavar. É sempre citado como sendo de Medeiros o que constitui um erro grave. Aí apareceu uma «ara» na veiga de Carigo que actualmente se encontra no Museu Etnográfico com o nº 5.206, escreve João Gonçalves da Costa, páginas 30/31. Na mesma página se diz que existe um dólmen no Monte do Facho que há anos ainda tinha três esteios aos quais o povo chamava «O Casulo do Facho». Mas situa esse espólio no termo de Meixedo. Se for entendido como freguesia compreende-se. Se for entendido como lugar, então deve dizer-se, no termo de Codeçoso.
Já atrás dissemos que houve dois antigos povoados no actual termo de Codeçoso: um nos «Pardieiros» e outro em «Portela da Urzeira». Por ambos passava a via romana. E foi pena que no fim do século XX, já nos nossos dias, com o intuito de arranjar os caminhos para os tractores, fosse entupido esse troço de via romana, por onde, o autor desta pequena nota e toda a sua geração, ainda transitaram, longos e penosos Invernos. Afinal, prova-se que o progresso nem sempre é aliado da arqueologia…
Também no lugar das Motas, onde a estrada que serve Codeçoso se cruza com a nacional, ainda é visível uma anta, também conhecida por «cova da moura». Esse relevo orográfico foi vandalizado aquando do arranjo da estrada. Foi pena porque nunca fora estudado.
Em Vale Ferreiro, já dentro do terreno que foi subtraído à aldeia para delimitar o «Posto experimental», existem uns penedos, rasteiros, quase invisíveis com a vegetação, que nos nossos tempos de pastor tinham várias letras e outros símbolos. Valia a pena estudá-los. São vestígios rupestres, possivelmente de grande importância histórica. E ali não é preciso neutralizar barragens para as localizar, como em Foz Côa.
CAPELA DE S. NICOLAU - Embora não seja sede de Freguesia, Codeçoso tem uma das mais sugestivas capelas com Sacrário, onde com alguma frequência se celebram actos religiosos, para além de aí se fazerem todos os funerais. É dedicada a S. Nicolau, padroeiro da aldeia. Quase todos os anos, quando a emigração não a tinha desertificado, se celebrava a festa anual. No começo deste século, a colónia de Codecenses radicados na cidade de Bridgeport, nos Estados Unidos da América, tem-se substituído aos resistentes que pela aldeia ficaram, promovendo a festa religiosa e profana, o que constitui um acontecimento comunitário que tem merecido nalguma imprensa luso-americana, justos aplausos. Também, aqui, os felicitamos pelo bom gosto que têm tido em proclamar uma terra pobre e distante dos grandes palcos, mas berço de ilustres filhos, em cujo historial todos eles merecem estar inscritos. Diga-se que a talha dessa linda e fascinante capelinha é das mais ricas da região. Não se conhece a data da sua construção. Mas sabe-se que já por alturas de 1700 foi alvo de beneficiações que foram retomadas nos nossos dias.
FORNO DO POVO - Codeçoso tem um forno comunitário que tão útil foi, pelos tempos fora, a quantos ali nasceram e cresceram ou que mendigavam, de terra em terra. Para estes sempre foi a hospedaria que nunca se fechou, fosse aos «da volta», fosse a quem fosse. Esse imóvel, a exemplo dos fornos de outras aldeias, deixou de funcionar, porque passaram a existir os fornos particulares e o pão se comercializa, hoje, já prontinho a comer-se.
O BOI DO POVO - Também o boi do povo, que era património de toda a aldeia, deixou de existir, praticamente, pelas mesmas razões. As lamas do boi que, como ele, eram comunitárias, deixaram de ter sentido. E também a corte do boi, por desnecessária, foi, em plebiscito comunitário, transaccionada a favor do arranjo urbanístico. A Junta de Freguesia consultou o povo que por esmagadora maioria trocou essa corte por um sobrado junto ao largo da capela, com vista a ser este demolido, para ampliar o largo.
A ESCOLA FOI DOADA À COMUNIDADE - A mesma decisão implicava a escola primária que fora construída pela população em 1950/1951 e aberta em 1952. Meio século depois deixou de ter alunos. A Junta solicitou a cedência, alegando que ela fora feita pela Gente do Povo. A Câmara foi sensível. E estuda-se uma finalidade comunitária para ela, o que não será difícil por não existir ali nenhuma associação ou centro cultural, desportivo e recreativo. Há que prender ao meio os poucos que ali se aguentam. De outro modo desertam todos…
AQUI NASCE O RIO RABAGÃO. Mesmo que outras razões não houvesse para conferir a importância de Codeçoso bastava o facto indesmentível de ser aos pés da aldeia que nasce o famoso Rio Rabagão. Começa por gerar um fio de água na lama do boi. Logo aí existe uma pequena ponte para permitir a passagem aos carros bois e peões. Banha todo o fecundo vale de cerca de dois quilómetros, lado nascente, regando hortas e lameiros, para além de, por muitos anos, ter dado razão de ser aos moinhos que se construíram no seu leito. Hoje esses moinhos não funcionam, a exemplo de outros que eram pertença da aldeia e que se situavam no leito do Rio Cávado. É uma pena não reaproveitar estes utilitários engenhos artesanais, mesmo que apenas fosse para inscrever num eventual roteiro turístico da região. O Volume 17 da Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira escreve: «O rio nasce no lugar de Codeçoso da Chã, freguesia de Meixedo, concelho de Montalegre. Percorrendo um semi-círculo e após atravessar as freguesias de Chã, Vila da Ponte e Pondras e de receber alguns regatos e ribeiros que o avolumam, vai desaguar na margem esquerda do Rio Cávado, um pouco abaixo da lendária Ponte da Mizarela. Esta ponte foi construída no séc. XIX, substituindo outra que se atribui aos romanos. Em 16-V-1809 o exército francês que retirava para Espanha foi atacado nesta ponte pelas ordenanças de Montalegre. Entre 21-XII-1826 e 29-I-1827 e ainda em 7-V-1827, nesta ponte se travaram combates entre as forças realistas e as forças liberais». O rio tem um curso de 42 km e a sua água foi aproveitada para construir as barragens de Pisões e da Venda Nova, célebres por utilizarem, entre si, o único sistema de bombagem existente em Portugal. A construção destas duas barragens, bem como a do Alto Cávado que abastece a de Pisões, através de um túnel que perfura a serra de Viade, na extensão 4.800 km e ainda a Barragem de Paradela, empobreceram o concelho porque absorveram os mais produtivos vales, obrigando muitas famílias a debandar, preferencialmente para o Minho. O Rabagão é um dos mais importantes rios portugueses não só pela abundante e saborosa truta, como, e sobretudo, pelo facto de no seu leito e no leito do Cávado se terem construído, além das albufeiras já citadas, a de Salamonde e Caniçada. Apesar de ser o sistema CávadoRabagão que mais energia produz em Portugal, os Barrosões pagam a luz ao preço mais elevado no mercado, o que constitui uma tremenda injustiça para com as populações que foram espoliadas, directa ou indirectamente.
CRUZEIRO REMODELADO - A Junta de freguesia mandou rodear o sopé do histórico cruzeiro do mais bonito largo comunitário com um interessante muro de granito, como convinha que fosse. Também colocou do lado oposto um mostruário com vitrinas para colocar os avisos e editais. Do Ferruco deslocou, melhorando, as alminhas que foram aproximadas da aldeia e em frente ao Cemitério. Ali bem perto foi construído um abrigo para segurança dos alunos que em auto-carro, se deslocam para as Escolas Preparatórias e Secundárias da sede de concelho. Entretanto foi alcatroado o ramal que liga o lugar do Cemitério a Lavrateixeira, encurtando o espaço e retirando o movimento desnecessário pelo centro da aldeia, cujas ruas são estreitas. Medidas que se louvam, porque agradam e servem a todos.
DISTRIBUIÇÃO DOMICILIÁRIA DO CORREIO e outras beneficiações. A Junta ordenou a colocação de caixas de correio em cada habitação. E colocou em cada rua o seu nome original, identificando as ruas para que carteiros, cobradores e toda a gente conheça os cantos à aldeia. Também a Junta de Freguesia pretende – e muito bem – reestruturar as “tornas” da água de rega. Não se compreende que há mais de meio século não se tenha actualizado esse processo comunitário que tão importante se torna para quem aí vive e tem terrenos para rega. Uns regam tudo e outros nada só porque não tem havido coragem de mexer no hereditário sistema. Não há justiça nem se compreende que permaneça como está o processo das “tornas” da água de rega pública. Ficará na História como medida correcta, quem tiver a coragem de ajustá-la aos nossos dias. Também a Junta pretende proteger a piscina do instinto do gado bovino que ali mata a sede, pondo em perigo a saúde de quem ali tome banho. Pretende a Junta construir, ao lado, bebedouros de substituição. Outra medida que se aplaude.
COMPLETAR O SANEAMENTO - A rua principal e a rua do Carvalho já têm saneamento básico. Foi realizado em épocas distintas e foi importante porque há cidades que ainda não o têm em zonas densamente habitadas. A primeira fase foi instalada, há bastantes anos, ao tempo de Carvalho de Moura como Presidente da Câmara. A segunda fase foi feita ao tempo de Fernando Rodrigues. Sucede que a rua que dá para a Seara e também a que dá para a Trigueira têm muitas habitações que precisam de beneficiar desses justos melhoramentos. A Rua do Carvalho, que era das mais exíguas e que somente tinha três famílias, de repente passou a ver em reconstrução mais sete prédios velhos que, quando prontos, vão transformá-la, possivelmente, numa rua modelo. Talvez em 2004 esse projecto esteja concluído e sirva de estimulo a outros Codecenses. É a rua que serve a Escola, desde agora centro comunitário. O reaproveitamento dessas casas em ruínas para habitações de férias e fins de semana dos seus donos serviu de mote a uma comunicação apresentada no III Congresso de Trás-os-Montes e Alto Douro, em Bragança, em Setembro de 2002. Uma dessas casas reaproveitadas, contígua à Escola, foi, por volta de 1700, a estalagem do almocreve. Ainda nos lembramos de aí funcionar uma taberna. Onde pernoitavam os cavalos dormimos hoje nós. É por decisões destas que passa o futuro das nossas aldeias comunitárias.
POPULAÇÃO - Codeçoso foi sempre, desde que há dados estatísticos, uma aldeia média em termos de densidade populacional. Talvez pelo facto de ser a segunda aldeia mais próxima da vila tenha contribuído para isso. Como sucedeu com outras gentes de terras vizinhas, a agricultura e agro-pecuária foram, pelos tempos fora, a única forma de subsistência. Como não havia artistas daqui naturais, muitos dos que vinham de fora, nomeadamente do Minho (trolhas e carpinteiros) por aqui casavam e ficavam. Mas pelos anos cinquenta/sessenta do último século, as coisas mudaram. A emigração levou os mais corajosos para a América, para o Brasil e para os países da Europa Central. Aí por volta de 1950 Codeçoso teria cerca de meio milhar de habitantes. Havia lares com dez e onze filhos. A terra era pouca e a agricultura era posta à prova para dar sustento para todos. O surto emigratório, a guerra e a evolução social e académica foram causas próximas da quase desertificação do povoado. Os Estados Unidos da América, nomeadamente a cidade de Bridgeport, acolheu mais de uma centena dessa geração que pela via da descendência se elevou já para quase três centenas. São esses que transportaram na bagagem a saudade e amor a Codeçoso. Anualmente fazem aí o que deixaram de fazer na terra que lhes serviu de berço. Sempre com os olhos postos no lado de cá, regressando sempre que podem, com a simplicidade que daqui levaram e que constitui a grande virtude deste Povo ao qual pertencemos e que aqui saudamos, fraternalmente.
Barroso da Fonte (19/04/2003)
E no livro "Montalegre" encontrámos o seguinte:
"A Capela de São Sebastião é um dos poucos sinais vivos da enormíssima devoção a este Santo, depois da peste de 1570, e, sobretudo, após o renascimento do Sebastianismo, com a morte de D. Sebastião, em 4 de Agosto de 1578. Pertence hoje à freguesia a povoação de Codessoso que antigamente pertenceu à freguesia da Chã. Nesta povoação, em 1258, pagavam ao rei a oitava de todos os frutos excepto a herdade de cavaleiros e de Dona Maiorina. E, pelo São Miguel, os de Codessoso (as mais antigas referências deste topónimo não autorizam outra grafia) tinham de entregar simples espáduas com pão e, como todos os da Chã, iam ao apelido e davam a refeição e a cevada ao mordomo do senhor rei. Pelo termo de Codessoso passava um caminho medieval importante que servia diversos lugares da enorme paróquia da Chã, ao tempo das Inquirições de D. Afonso III: Negrões, Vilarinho, Lamachã, Morgade, Carvalhais e Rebordelo, Fírvidas e Gralhós, além das herdades ribeirinhas do Regavam (sic).
Os cruzeiros são mais de 60 e se lhes juntarmos os calvários ainda existentes com as cruzes das estações da via sacra serão três vezes mais. Destacam-se o de Salto, Pondras, Mourilhe, Codessoso de Meixedo, de Montalegre, o da Interdependência da Vila da Ponte, Negrões, Meixedo, Sabuzedo, Santa Marinha, Santo André, Penedones, Antigo de Serraquinhos, Sezelhe, Travaços do Rio, Vila da Ponte, Bustelo e Parafita!"
Da Toponímia de Montalegre, hoje ficamos só com a alegre, uma quadra:
Se fores a Codessoso
Reza a S.Nicolau;
Mas quem melhor te defende
É a camola ou um pau!
Ficamos por aqui, mas antes ainda deixamos, como sempre, as referências às nossas consultas. Quanto aos links para as anteriores abordagens às aldeias e temas de Barroso, estão na barra lateral deste blog,. Se a sua aldeia ou a aldeia que procura não está na listagem, é porque ainda não passou por aqui, mas em breve passará.
BIBLIOGRAFIA
BAPTISTA, José Dias, (2006), Montalegre. Montalegre: Município de Montalegre.
BAPTISTA, José Dias, (2014), Toponímia de Barroso. Montalegre: Ecomuseu – Associação de Barroso.
FONTE, Barroso, (2003), Monografia de Codeçoso.
WEBGRAFIA
http://www.dglb.pt/sites/DGLB/Portugues/autores/Paginas/PesquisaAutores1.aspx?AutorId=9735
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