O Barroso aqui tão perto - Contim
Sei que o habitual é o “Barroso aqui tão perto” calhar aqui no blog aos domingos, mas nem sempre nos é possível, mas como não queremos deixar de cumprir as nossas promessas, não conseguimos ao domingo, mas segunda-feira também serve. Assim, na nossa peregrinação pelo Barroso, hoje toca a vez à aldeia de Contim ou Guntim se quisermos regressar um pouco no tempo, mas já lá vamos.
Iniciemos então pela origem do topónimo que segundo a “Toponimia de Barroso” - “Vem do genitivo do nome pessoal Guntinus, de origem germânica. A terra foi, portanto, uma vila, casal, abegoaria ou herdade de um tal Guntinus: Villa Guntini – Terra de Gontim, como há poucos séculos ainda se dizia. Agora, por reforço, substituímos a branda G pela forte C e dizemos Contim. Não aparece nas inquisições.” E sem sequer ousarmos por em dúvida a origem do topónimo o “Guntim” é reforçado ou confirmado pelo menos numa referência do Arquivo Nacional da Torre do Tombo onde se menciona o “Dicionário geográfico de Portugal, Tomo 18, G 2, H, J" 1758/1758, 142 Guntim (Contim), Montalegre 1758/1758”.
Depois da origem do topónimo, passemos à localização de Contim. Segundo a minha análise fica entre as terras da chã e as do rio, mais a cair para as terras rio, ou então é mais uma aldeia entre os rios Cávado e Rabagão, mas se quisermos ser ainda mais precisos, localiza-se entre as barragens dos Pisões e a de Paradela, sensivelmente a meio. Mas precisão mesmo são as das suas coordenadas geográficas, que aqui ficam, do centro da aldeia: 41º 46’ 59.47” N e 7º 53’ 33.77” O. Mas para não haver qualquer dúvida, fica também o nosso habitual mapa do concelho de Montalegre com a sinalização de Contim.
Quanto à altitude já sabemos que as terras do Barroso anda todas próximas dos 1000 metros de altitude. 100 ou 200 metros acima ou abaixo há sempre uma aldeia barrosã. Contim não é exceção e no local onde tomámos as coordenadas estva a 961m de altitude, mas se quisermos ser mais precisos, a construção mais alta da aldeia está na cota dos 998 metros e a mais baixa nos 945 metros.
Quanto à paisagem predominante vamos tendo o verde vivo nas pastagens a contrastar com um verde mais discreto da floresta que em terras de Barroso faz questão de ser autóctone na sua grande maioria, com o carvalho a ser rei e senhor. Contudo há outras espécies e até o eucalipto já marca presença no Barroso… mas tenhamos fé em que o carvalho continuará por lá, com o seu verde discreto do verão e o seu misto de castanho avermelhado/esverdeado do inverno, dependendo da localização dos carvalhais e do estarem mais ou menos tomados pelos líquenes.
Quanto às nossas pesquisas ficámos a saber que até 2013, Contim era sede de freguesia à qual pertenciam também as aldeias de S.Pedro de Vilaça, e sobre esta ex-freguesia, , encontrámos alguma informação num site do Governo (entre muita informação indisponível) (http://www.acessibilidade.gov.pt/), assinada pelo então presidente da Junta. Não sabemos a data da informação, mas lá diz o seguinte:
“A nossa freguesia, composta pelas localidades de Contim, São Pedro e Vilaça, fica situada na margem sul do Rio Cavado, no concelho de Montalegre, e tem vários pontos de interesse que pode consultar nesta página. A primeira referência histórica à nossa freguesia, de que temos conhecimento, data do século XII e refere-se à localidade de Vilaça. No entanto, há historiadores que apontam para a possível existência de um castro, no Facho, onde hoje está situada a localidade de São Pedro. Assim, provavelmente, esta área já teria sido habitada na era antes de Cristo. “
E continua:
“Hoje, devido à emigração, a nossa freguesia tem muito menos população do que no passado recente. Contudo, o nosso povo continua a viver da agricultura. Embora grande parte do trabalho seja, agora, feito com meios mecânicos, o nosso gado continua a pastar diariamente nos lameiros e os nossos terrenos continuam a ser estrumados da mesma forma que faziam os nossos antepassados. No nosso espaço há uma harmonia perfeita entre o tradicional e o moderno, entre o homem e a natureza. “
E remata:
“Assim, esperamos que este sítio sirva para dar a conhecer a todos os interessados este maravilhoso canto do planalto barrosão e que sirva, também, como mais um elo de ligação à sua terra para todos os nossos conterrâneos espalhados pelo mundo. Esperamos a vossa visita. "
E embora no referido site do Governo existissem sinalizados links para a história, fotografias e outros de interesse da freguesia, a realidade é que os links não funcionavam, mas tinha a mensagem do Presidente da Junta, que já era alguma coisa.
Mas sobre a referida extinta freguesia apurámos o seguinte: “Todas as três povoações que formavam a freguesia já serviram de sede: em todas se rezou missa e se ergueu baptistério capaz. Metade de São Pedro, aldeia fundada sobre um castro onde ainda continua, pertenceu à Comenda de São Tiago de Mourilhe. Porém, o mais idílico recanto de todo o planalto talvez seja a capela de Nossa Senhora da Vila de Abril que foi ermitério medieval carregadinho de religiosidade e lendas. É uma das “Sete Senhoras” festejadas a 8 de Setembro de cada ano. Vejam bem a poesia desta lenda:
Consta que um ermitão (os ermitães, como possíveis vestígios de algum antigo mosteiro que aí tivesse havido, habitaram no local, pelo menos até ao século XVIII), um belo dia de há séculos atrás, ao abrir a porta da capela aos peregrinos, deu pela falta da imagem da Senhora no seu altar. Convenceu então os assistentes a juntarem-se a ele em orações que se prolongaram por todo o dia. Ao cair do sol no horizonte, sobre o Alto de São Pedro do Rio, uma sombra triangular alongou-se pelo corpo do edifício… Era a Senhora que regressava muito cansadinha…
O ermitão franziu a sobrancelha e repreendeu-a:
“ – Maria, então como é..
que me deixas tão aflito,
preocupado e doente?
E a senhora regressou ao seu altar ante a estupefacção dos presentes. Era assim, sem cerimónias, que o último pároco da
freguesia contava a poética lenda.
E a Senhora respondeu:
- Ó homem de pouca fé,
que te zangas sem motivo,
… fui às portas do poente
pra salvar um marinheiro
que no mar estava perdido!”
E a senhora regressou ao seu altar ante a estupefacção dos presentes. Era assim, sem cerimónias, que o último pároco da freguesia contava a poética lenda.
Em 2013, os de Lisboa, com a desculpa da Troica e da poupança, lembrara-se de fazer uma suposta reforma administrativa do território, mas apenas se ficaram pelas freguesias, ou seja, por aquelas que menos despesas davam, por aqueles que menos força política têm e por aqueles que mais honestos são no fazer política e que mais próximos estão da população.
Dessa reforma levada a eito, muitas vezes de uma forma cega e sem ter em conta a história das freguesias e a vontade dos fregueses, cometeram-se verdadeiros atentados contra as populações locais e muitas das suas tradições e viveres. Sorte dos de Lisboa já não haver braços novos e fortes nas freguesias para manejarem estadulhos… senão, pela certa, outro galo cantaria. Mas resumindo, pouparam-se uns míseros euros na união de algumas freguesias, sem qualquer significado económico, , e uniram-se aldeias, que tradicionalmente sempre estiveram separadas e que mesmo com boa vizinhança, tinham as suas particularidades que fazia da sua freguesia, a sua freguesia, com o seu orago, o seu boi do povo (no tempo em que os havia), a sua festa, etc.
Quanto a Contim, é uma aldeia pequena, notoriamente despovoada mas onde ainda há alguma vida e até a modernidade já chegou, com algum impacto e contraste, sem grande respeito pelo existente, pois a imagem da marca vale muito mais, ó se vale, e fora de tempo, aliás às nossas aldeias tudo chegou fora de tempo…
E para terminar . Nas nossas pesquisas encontrámos várias referências à Senhora de Vila Abril e ao seu Santuário, e atrás, neste post, até deixámos alguma informação e a lenda sobre a mesma, mas a verdade é que, lá na freguesia, nem a vimos nem havia qualquer indicação da sua existência, e se havia, passou-nos despercebida, mas, penso que já sei onde ela para, e se não estiver enganado, um dia destes também a deixarei por aqui.
Ficam as habituais referências para as nossas consultas e os links para os posts anteriores com aldeias ou temas do Barroso.
Bibliografia
BAPTISTA, José Dias, (2014), Toponímia de Barroso. Montalegre: Ecomuseu – Associação de Barroso
BAPTISTA, José Dias, (2006), Montalegre. Edição do Município de Montalegre.
Links para anteriores abordagens ao Barroso:
A
A Água - http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-a-agua-1371257
Algures no Barroso: http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-1533459
Amial - http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-ameal-1484516
Amiar - http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-amiar-1395724
Arcos - http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-arcos-1543113
B
Bagulhão - http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-bagulhao-1469670
Bustelo - http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-bustelo-1505379
C
Castanheira da Chã - http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-castanheira-1526991
Cepeda - http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-cepeda-1406958
Cervos - http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-cervos-1473196
Cortiço - http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-1490249
Corva - http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-corva-1499531
D
Donões - http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-donoes-1446125
F
Fervidelas - http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-fervidelas-1429294
Fiães do Rio - http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-fiaes-do-1432619
Fírvidas - http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-firvidas-1466833
Frades do Rio - http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-frades-do-1440288
G
Gralhas - http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-gralhas-1374100
Gralhós - http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-gralhos-1531210
L
Ladrugães - http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-ladrugaes-1520004
Lapela - http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-lapela-1435209
M
Meixedo - http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-meixedo-1377262
Meixide - http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-meixide-1496229
N
Negrões - http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-negroes-1511302
O
O colorido selvagem da primavera http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-o-colorido-1390557
Olhando para e desde o Larouco - http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-olhando-1426886
Ormeche - http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-ormeche-1540443
P
Padornelos - http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-padornelos-1381152
Padroso - http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-padroso-1384428
Paio Afonso - http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-paio-afonso-1451464
Parafita: http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-parafita-1443308
Paredes - http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-paredes-1448799
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T
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U
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V
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Vilaça - http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-vilaca-1493232
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X
Xertelo - http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-xertelo-1458784
Z
Zebral - http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-zebral-1503453