O Barroso aqui tão perto - Curros
CURROS - BOTICAS
Seguindo a metodologia que adotámos para o concelho de Boticas de abordar as aldeias do concelho por ordem alfabética das freguesias e dentro destas a ordem alfabética das aldeias, hoje vamos até a aldeia de Curros, que até 2013 era sede de freguesia, mas com a reorganização administrativa do território das freguesias (Lei n.11-Al2013) passou a fazer parte da união de freguesias de Codeçoso, Curros e Fiães do Tâmega.
Iniciemos já pela localização e como ir até Curros, com partida como sempre desde a cidade de Chaves e pelo caminho do costume, ou seja pela EN103 (estrada de Braga) até Sapiãos, aí saímos para Boticas onde, na rotunda da entrara devemos seguir a indicação de Ribeira de Pena, o mesmo na segunda rotunda e terceira, quando sairmos desta última (em direção a Ribeira de Pena) já estamos R311, seguimos por ela, passa-se por Quintas e logo a seguir temos a Carreira da Lebre.
No final da Carreira da Lebre, na rotunda, devemos sair da N311 e tomar a N312 em direção de Ribeira de Pena (à esquerda), mas apenas durante 4km, onde devemos tomar o desvio à esquerda em direção a Antigo de Curros, esta a 1km de distância, mas só vamos passar ao lado de Antigo, pois o nosso destino fica 800m mais à frente.
Recordo que uma vez, um amigo, me dizia que reconhecia e guardava com ele os cheiros dos locais e cidades por onde tinha passado e vivido. Outros falam-me que recordam a luz ou luzes dos sítios, curiosamente eu costumo recordar o tempo (meteorológico) dos sítios onde vou pela primeira vez, o frio ou calor, chuva, nevoeiro, vento… são esses os registos que naturalmente guardo na memória. Tudo isto para voz dizer que quando abordámos Curros, estava um frio de rachar. Fui rever o exif das fotos, e é natural que estivesse, pois foi em 1 de novembro de 2017 que passámos por lá, por sinal no dia em que Chaves vive a sua grande festa da Feira dos Santos, o dia mais concorrido da feira em que, da minha parte, já é habitual ficar em casa ou sair da cidade, pois a minha feira termina quase sempre no dia 31 de outubro.
Claro que em dias de inverno nunca dá para sair para longe de casa, isto por causa da luz, que por natureza já é pouca e dura pouco tempo, pois estamos a caminhar para os dias mais pequenos do ano, daí termos andado pelo concelho de Boticas. O engraçado é que saímos de Chaves e logo na primeira fotografia que captámos em Curros, lá estava a cidade de Chaves ao longe, vista desde a capela do cemitério e também ainda mais perto, a vila de Vidago.
Ao fundo parte da cidade de Chaves e aldeias de StºEstêvão e Faiões
Ribeira de Oura, Viaduto de Arcossó e Vila de Vidago
Já no post que dedicámos ao Antigo de Curros referíamos que estes pontos altos eram verdadeiros miradouros, este de Curros, é mais um miradouro sobre Chaves e Vidago. Aliás penso que Curros é a única aldeia desde onde se avista a cidade de Chaves, ou parte dela, pois apenas se vê a Madalena e bem mais visíveis as aldeias de Faiões e Stº Estevão e parte da veiga de Chaves. Em suma, e mesmo o Barroso aqui tão perto que até a cidade se avista desde Curros e o contrário também é verdade, embora mais complicado de identificar.
Quanto a Curros, é uma aldeia pequena, mas muito interessante, com o seu povoamento muito concentrado e já na encosta da montanha, esta sim a descer já para o rio Tâmega que fica a cerca de 2,5 km (em linha reta) de Curros, havendo no entanto ainda mais uma aldeia pelo meio – Mosteirão que em breve abordaremos aqui no blog.
Segundo a monografia de Boticas ficámos a saber:
Que era nesta freguesia, conjuntamente com as freguesias de Dornelas e Fiães do Tâmega onde se concentra a maior parte da florestas do concelho de Boticas . Por sua vez “a quebra de natalidade registada não permitiu uma renovação geracional capaz de inverter a tendência de diminuição da população residente, existindo freguesias no concelho que registam valores populacionais mínimos, como é o caso da freguesia de Curros com apenas 87 residentes repartidos por três aldeias: Antigo de Curros, Curros e Mosteirão.
Ainda na monografia, mas dados referente à antiga freguesia de Curros, que era constituída por Antigo de Curros, Curros e Mosteirão. Atenção que os referem-se à data de publicação da monografia, e, maio de 2006:
“Dois Abrigos de Montanha
Localização geográfica: A freguesia de Curros situa[1]se na parte Sul do concelho de Boticas.
Distância relativamente à sede do concelho: aproximadamente 10,5 km.
Acesso viário: pela ER 311. Apanhando a EM312 no lugar da Carreira da Lebre, em direcção a Ribeira de Pena, vira-se depois na indicação Antigo de Curros e percorre-se o CM 1048; em alternativa pode seguir-se pelo CM 1050 e depois pelo CM 1048.
Área total da freguesia: 12 km2
Localidades: Antigo de Curros, Curros, sede de freguesia, e Mosteirão.
População: 87 habitantes
Orago: Nossa Senhora das Neves
Festas e Romarias:
- S. Brás, 03 de Fevereiro, Antigo de Curros
- Santo António,* 13 de Junho, Curros
- Nossa Senhora das Neves,* 05 de Agosto, Curros
- Nossa Senhora de Fátima e Santa Bárbara, em Agosto, Mosteirão
- Santa Bárbara,* 04 de Dezembro, Mosteirão
(*) Apenas celebração religiosa.
Património Cultural e Edificado
- Capela de Mosteirão
- Capela de S. Brás (Antigo de Curros)
- Cruzeiro
- Forno do Povo de Antigo de Curros
- Forno do Povo de Curros
- Igreja de Nossa Senhora das Neves
Outros locais de interesse turístico
Forno do Povo de Mosteirão (construção recente)
Ainda nos cadernos da monografia de Boticas temos:
UM DOCUMENTO DE 1758
No ano de 1758 o Rei D. José através do seu ministro Marquês de Pombal, desenvolveu um inquérito a todas as paróquias do Reino de Portugal continental que hoje se encontram no IANlTT.
Este inquérito, que foi respondido pelos párocos das freguesias, era composto de três partes: a primeira respeitante a paróquia, onde se tratava de saber da sua história, produções agrícolas, população. instituições locais, igreja e capelas com suas devoções e romagens; a segunda tratava da serra e das suas caracteristicas, se tinha lagoas e nascentes, monumentos, capelas, caca e arvores; a terceira perguntava sobre os rios e ribeiros que nela existissem, assim como das levadas, represas,. moinhos, pisoes e culturas nas suas margens.
É graças a este inquérito que se pode obter uma visão mais ou menos completa sabre as freguesias portuguesas e entre etas a freguesia de Curros[i] . Antes porém, no ano de 1747 foi publicada a resposta a um inquérito mais simples, com o seguinte texto: Freguesia na província de Trás-os-Montes, Arcebispado de Braga, Comarca de Chaves, termo da vila de Montalegre : tem setenta moradores. A igreja paroquial dedicada a N. S. das Neves tem três altares: o maior, o de Cristo crucificado e o de N. S. do Rosário com a sua irmandade.
O Pároco e cura , da apresentação do D. Abade de S. Bento de Refojos de Basto, que dá ao pároco oito mil reis e por tudo rendera vinte e quatro mil reis. Colhem os moradores centeio e milho, de tudo em muito pequena quantidade por causa de ser uma terra demasiadamente fria [ii].
Relativamente a memória paroquial de 1758, apresentamos as respostas dadas pelo pároco da freguesia de Curros. Para melhor leitura foi actualizado o Português naquelas palavras que consideramos necessário, introduzindo-se-lhe pontuarão e parágrafos.
Em resposta a uma ordem do Muito Reverendo Senhor Doutor Vigário Geral da comarca de Chaves, Arcebispado de Braga Primaz.
Aos sete dias do mes de Margo de 1758 Esta igreja de Nossa Senhora das Neves de Curros, desta comarca de Chaves, pertence a Provedoria de Trás-os-Montes, Arcebispado de Braga Primaz, da dita comarca, termo da vila de Montalegre e é matriz.
Esta igreja é da visita do Reverendo Padre Dom Abade do Mosteiro de São Miguel de Refojos de Basto e e da vila do dito senhor.
Tem esta freguesia quatro lugares: Curros, onde esta situada a igreja, Antigo, Fiães e Mosteirão. Estes lugares todos tem sessenta e nove fogos ou vizinhos, tem esta dita freguesia duzentas e cinquenta e cinca pessoas.
Esta igreja esta situada num monte, entre montes. Do dito monte, avista-se a vila e Campo de Chaves até junta a Monte Rei, terra de Galiza; também se avista a Ribeira doura e terra de Vila Pouca.
Deste não há coisa que se possa dizer.. Esta igreja esta fora do lugar de Curros e não tem [arrabalde] algum. Tem esta freguesia quatro lugares, a saber: Curros, Antigo, Mosteirão e Fiães. O orago desta freguesia e Nossa Senhora das Neves deste lugar de Curros.
0 orago desta freguesia e Nossa Senhora das Neves de Curros. Tem três alta res, a saber: o altar - mor que tern a Senhora das Neves, um dos colaterais e do Sagrado Nome de Jesus, não tem mais imagem nenhuma e o outro colateral e da Senhora do Rosário, este altar tem as imagens da Senhora do Rosário, Santa Barbara, S. Sebastião e Santo António.
O pároco desta freguesia e cura anual e é apresentado pelo padre Dom Abade do mosteiro de Refojos de Basto, termo de Cabeceiras de Basto, comarca de Braga. Tem de renda [oitenta] mil reis, seis libras de cera, um almude de vinho, um alqueire de trigo e uma canada de azeite.
(…)
Os frutos que da esta freguesia são: o centeio, milho, trigo, vinho e pouco azei te. E todos estes frutos não chegam para o sustento dos ditos lavradores.
Esta freguesia esta sujeita ao juiz de fora da vila de Montalegre, nomeado por Sua Majestade.
Esta freguesia não tem correio, só se serve do correio da vila e praça de Chaves e desta freguesia ao correio de Chaves são quatro léguas.
Dista esta freguesia da cidade de Braga Primaz doze léguas, e desta freguesia à cidade de Lisboa, capital do Reino, setenta e duas léguas e meia.
Alguns dos moradores desta freguesia são feudatários do convento de Refojos de Basto.
A segunda materia que toca a serras
Tem esta freguesia de fronte, ao nascente, a serra da Seixa.
Que tem de comprido uma grande légua e de largo outra pouco mais ou menos. Começa nos confins do Lugar de Mosteirão e acaba no lugar de Valdegas, freguesia de Santa Marta de Pinho, tudo da Comarca de Chaves.
A dita serra tem um clima muito frio e demasiado áspero.
0 que se cria na dita serra: cabras e crestois. E o que nela há são: lobos, javalis, coelhos, perdizes,Corças bravas e nada mais.
Deste nada.
Deste nada.
Matéria terceira, dos rios há o seguinte Nesta freguesia há um rio chamado Tâmega. Corre pelos subúrbios desta freguesia, começa no reino da Galiza e juntam-se-lhe vários regatos que não têm nome.
Dizem que nasce brandamente e [atura] com boa torrente e em partes caudaloso, em todo o tempo.
Junta-se a ele outro rio nos limites desta freguesia junta ao lugar de Mosteirão.
Deste não há o que possa dizer.
Não há duvida de que desde que entra nesta freguesia tem um curso impetuoso.
E despinhadissimo e corre de nascente para poente.
Cria muitos peixes, a saber: poucas trutas, barbos, bogas, bordalos, leirogas, enguias, mexilhões e lontras comedoiros do dito peixe.
Sempre conservou e conserva este nome.
Não sei onde termina. Apenas me informaram que se junta ao Douro, juntamente com o rio Beça e outros que se lhe juntam até ao Douro.
Tem este rio uma grande ponte de cantaria na vila de Chaves chamada a ponte da Madalena, tem outra chamada ponte de Cabez, concelho de Cabeceiras de Basta e tem outra ponte na vila de Amarante.
Tem muitos moinhos, azenhas de maquia e de lavradores. Deste rio, em nenhuma parte deste distrito me consta que os lavradores utilizem a agua dele para regadio por correr muito fundo, em demasia.
informaram-me que tem este rio, desde a sua nascente ate ao Douro, pouco mais ou menos, com suas retroceduras, mais de quarenta léguas. lsto e o que me dizem, não sei ao certo.
Deste não há que dizer.
E o que se me oferece dizer, o que conheço e não há outras coisas mais dignas de memória nesta freguesia de Nossa Senhora das Neves de Curros, desta comarca de Chaves, Arcebispado de Braga Primaz. 0 pároco Domingos Afonso Pereira.
E o que se oferece e posso dizer conforme os interrogatórios, ao que assistimos o Reverendo Reitor do Salvador de Canedo, Bento Pereira; o Reverendo Vigário de S. Lourenço de Codessoso, Pedro Pires e eu que preenchi esta e do que vai escrito afirmo in verbo sacerdotis, hoje doze de Março do ano de mil setecentos e cinquenta e oito.
0 padre Domingos Afonso Pereira
O pároco Bento Pereira
0 padre de Codessoso Pedro Pires
E agora sim, o vídeo com todas as imagens da aldeia de CURROS que foram publicadas até hoje neste blog. Espero que gostem .
Aqui fica:
Agora também pode ver este e outros vídeos no MEO KANAL Nº 895 607
E quanto a aldeias do Barroso de Boticas, despedimo-nos até ao próximo domingo em que teremos aqui a aldeia de Fiães do Tâmega.
[i] 0 documento integral vem publicado em Boticas nas Memórias Paroquiais de 1758, Ed. C. M. de Boticas, 2001.
[ii] CARDOSO, P. Luís, 1747-1751, Dicionário Geográfico, 2 tomos, Lisboa.