O Barroso aqui tão perto - Lavradas
Aldeias do Barroso - Concelho de Boticas
LAVRADAS
Cá estamos de novo para continuar a nossa viagem pelo Barroso do concelho de Boticas. Temos abordado as aldeias freguesia a freguesia, pela ordem alfabética e no último domingo tivemos aqui Carvalhelhos, da freguesia de Beça, e e nesta freguesia que vamos continuar, com a aldeia de Lavradas.
Iniciemos já pela sua localização e como chegar até lá, como sempre a partir da cidade de Chaves. Pois não há nada que enganar, saímos de Chaves pela EN103 em direção a Braga, mas só até Sapiãos, onde devemos tomar o caminho de Boticas, aí, apanhamos a route 66 de Boticas, por cá conhecida como R311, estrada essa que atravessa o Concelho de Boticas de lés a lés, uma estrada toda ela de montanha, que se inicia no concelho de Chaves, no Peto de Lagarelhos e termina em Fafe, passando assim por 5 concelhos (Chaves, Boticas, Montalegre, Cabeceiras de Basto e Fafe).
É assim a magia desta R311 que até nos tira do nosso caminho, que hoje é o de Lavradas. Pois depois de apanharmos a R311, seguimos até à Carreira da Lebre, seguimos em frente e logo a seguir, como quem diz, depois de atravessar o Rio Beça, viramos à direita em direção a Carvalhelhos onde, na rotunda com a santa das águas, viramos à esquerda em direção a Atilhó e Alturas do Barroso e, claro, também Lavradas que será a primeira aldeia a aparecer, a cerca de 4Km de Carvalhelhos. Fica o nosso mapa para melhor localização.
Nos nossos itinerários pelo Barroso, já fizemos algumas passagens por esta aldeia, no entanto, para fotografá-la, apenas parámos lá duas vezes, a primeira já foi em maio de 2011, a segunda em julho de 2018. Da primeira vez, como fomos conduzidos até lá depois de passarmos por várias aldeias, nem deu para perceber onde ficava, e como a visita foi breve, também não deu para perceber a aldeia.
Na segunda visita a nossa intenção era mesmo fotografar e perceber a aldeia para a trazermos a este blog. Embora hoje vos aconselhe um itinerário a partir de Chaves, a nossa entrada em Lavradas na segunda visita fotográfica que fizemos, foi feita a partir da aldeia vizinha de Lamachã, do concelho de Montalegre e chegados lá, foi como se fosse pela primeira vez.
Como sempre, para se ficar a conhecer uma aldeia, não nos podemos ficar pela primeira impressão, pois lá diz o ditado que as aparências enganam. Além disso certas há horas do dia que não são muito próprias para a fotografia, sobretudo à hora do almoço, isto por duas razões, primeiro porque a nossa cabecinha já começa a ouvir a nossa barriguinha a reclamar por comida, a segunda, tem a ver com a intensidade da luz, principalmente nos dias intensos com o sol de verão, e embora a luz seja uma condição necessária para haver fotografia, quando é muito intensa, em vez de ajudar só atrapalha. Pois era nestas condições que entrávamos em Lavradas e logo nas primeiras construções que vimos, armazéns e construções novas… enfim, fizemos meia-dúzia de fotos e já estávamos quase de partida, mas há sempre encontros felizes, e descobertas mais felizes ainda…
Depois do largo da igreja, o nosso destino fazia-se com passagem por Vilarinho da Mó e foi aí que começámos a perceber e conhecer a aldeia, principalmente com aquilo que vai além das ruas e entra nos pátios e outros pormenores que não estão ao alcance de todos, coisas que nos fazem despertar para a realidade das coisas… os nossos olhos só veem aquilo que querem, e às vezes atraiçoam-nos.
Lavradas é uma aldeia com certas dimensões, para aldeia do Barroso até pode ser considerada grande, rodeada de campos agrícolas férteis e bem tratados e isso reflete-se também no casario que ao longo dos tempos foi sendo recuperado e transformado, já longe da arquitetura vernácula original. Mas a aldeia vale pelo seu todo, não só pelo casario, mas também pela vida que tem, pelos seus usos e costumes, e nisso tenho a certeza que a aldeia mantém toda a sua integridade, vê-se nas suas ruas, nas suas casas e nos seus campos.
Campos verdes, aliás já estamos habituados ao Barroso verde das terras planas e baixas a contrastar com o Barroso agreste no alto das montanhas, mas só há verde se houver água, e se o Barroso por uma lado é castigado com o rigor dos invernos frios, por outro lado recebe a bênção da água, sendo frequente vê-la a correr livremente em valetas e levadas, a inundar lameiros, a encher barragens, mas embora abundante, não se pode desperdiçar e tem de haver regras para chegar a todos.
Pois a água é um bem precioso e daí ser também um bem comunitário. Vejamos o que se diz sobre o assunto na “Preservação dos Hábitos Comunitários nas Aldeias do Concelho de Boticas”. Atenção, como sempre avisamos que os dados deste documento foram publicados em 2006, daí, poderão não estar atualizados.
A Água
A água, elemento dominante da paisagem uma boa parte do ano, desempenha um importante papel na sobrevivência das economias agro-pastoris da região. São inúmeras as suas aplicações: garante da produtividade das parcelas agrícolas e dos lameiros, sustento dos gados, força motriz dos inúmeros moinhos de água existentes ao longo dos corgos e dos rios; estende a sua utilidade ao quotidiano das aldeias, aos tanques, bebedouros dos animais e aos lavadouros públicos existentes.
Dadas as características dos solos e os rigores do clima da região, a água, seiva da terra, desempenha um papel fulcral na produtividade agrícola.
No território do concelho pratica-se a rega por gravidade. A água de rega, proveniente de várias fontes de água superficiais, localizadas nas encostas dos montes e serras junto às aldeias, é utilizada para regar as parcelas localizadas a juzante.
Para optimizar a utilização deste recurso, foram criadas infra-estruturas para a rega. Os regos conduzem a água desde as nascentes, corgos ou ribeiras, até às poças/tanques de rega, reservatórios de retenção da água. Da poça/tanque, a água é encaminhada, também através de regos, até às parcelas agrícolas. Acontece, por vezes, as nascentes brotarem no local onde se encontra a poça/tanque. Em quase todas as aldeias, estas infra-estruturas, outrora em terra batida e pedra, foram alvo de obras de beneficiação, remodeladas, e construídas em cimento e betão armado, de forma a rentabilizar este recurso, reduzindo ao mínimo o seu desperdício ao longo do percurso que faz até às parcelas agrícolas.
Geralmente, cada uma das aldeias dispõe, no seu termo territorial, de nascentes, regatos ou ribeiros, donde provém a água para rega. Todavia, existem situações em que diferentes aldeias têm que partilhar a utilização da água. A partilha de água entre aldeias, geralmente conflituosa, levou à criação de regras de utilização bem definidas, nem sempre respeitadas pelos seus habitantes, ou à posse dessa água por apenas uma das aldeias. Existem no concelho três aldeias em que parte da água, que utilizam para rega, é proveniente de outra aldeia: em Antigo (Dornelas) regam com água de Gestosa (Dornelas), em Carvalhelhos (Beça), regam com água de um ribeiro de Carvalho (Vilar), e em Lavradas (Beça) regam com água de Lamachã (Negrões - Concelho de Montalegre). Cada uma destas aldeias tem direito a essa água por um determinado período, durante o qual os da outra aldeia não podem tornar a água. Esta regra nem sempre é respeitada, acontecendo por vezes as pessoas andarem a regar e a água faltar, porque alguém da outra aldeia a tornou. Estas situações, além dos conflitos que geram entre os intervenientes, acarretam inúmeras canseiras, pois quem quer regar tem que ir buscar a água à outra aldeia e guardá-la para que não lha voltem a tornar.
E estamos a chegar ao fim deste post, só falta mesmo o vídeo onde estão reunidas todas as fotografias deste post, mais algumas que já foram sendo publicadas ao longo da existência deste blog para ilustrar outros posts, como o das crónicas de António Granjo na sua passagem por Lavradas a caminho de Alturas do Barroso. Aqui fica, espero que gostem:
Agora também pode ver este e outros vídeos no MEO KANAL Nº 895 607
E quanto a aldeias de Chaves, despedimo-nos até ao próximo domingo em que teremos aqui mais uma aldeia da freguesia de Beça.