O Barroso aqui tão perto - Lousas
Aldeias do Barroso - Concelho de Boticas
LOUSAS - BOTICAS
Nesta descoberta das aldeias do Barroso, continuamos no concelho de Boticas, na freguesia de Dornelas. Desta freguesia já passaram por cá as aldeias de Antigo, Casal, Espertina e Gestosa. Seguindo a ordem alfabética, calha hoje a vez a Lousas.
Lousas é mais uma das aldeias isoladas que nasceu junto a uma pequena várzea de um ribeiro que mais à frente desagua no rio Beça. Localizada entre grandes montanhas, mais ou menos onde a serra do Barroso se encontra com a serra da Cabreira, que no meio de tanto ondular de montanhas é complicado saber onde começam umas e terminam outras, só mesmo que é de lá é que lhes deve conhecer os limites e saber se a terra que pisam, é de uma ou outra montanha.
Dizia-mos atrás que Lousas é uma das aldeias isoladas do Barroso, nem tanto pela distância que a separa da sede de freguesia de Dornelas, a 4km ou do concelho, Boticas, que fica a cerca de 30Km, mas mais pela sua situação de ficar lá ao fundo, numa pequena várzea de onde só se avistam montanhas, para além de não ser terra de passagem para nenhum lado, pois a partir de Lousas só há mesmo montanhas e caminhos florestais que nem sequer ligam às aldeias mais próximas, à exceção de uma ligação para a aldeia de Casal, que seguindo a linha de água que passa por Lousas, fica um pouco mais acima.
Uma aldeia isolada e de limites, pois fica a apenas 1km do concelho de Montalegre e à mesma distância do Concelho de Cabeceiras de Basto, pertencendo este último já ao distrito de Braga, mas desde a aldeia de Lousas não há qualquer ligação direta por estrada a estes concelhos. Por exemplo a aldeia de Gondiães que fisicamente fica a 3km de distância, a montanha que as separa faz com que por estrada estas duas aldeias esteja a 40km de distância. Daí nós falarmos do seu isolamento, pois até fica perto de tudo, mas longe do seu alcance, principalmente se considerarmos que estas aldeias não são servidas por transportes públicos.
Isolamento que até poderia ser interessante, pois estas aldeias até têm o seu encanto, são lugares que têm tanto de bucólico como de romântico, mas que só por si não são suficientes para prender lá o seu povo, pois tirando a terra e algum gado, não há outra forma de ganhar o sustento para a família, daí estas aldeias terem as suas portas abertas para partidas sem regressos, apenas os mais velhos resistem, mas só até um dia…
Ao longo destes últimos anos temos trazido aqui as aldeias deste Reino Maravilhoso que Torga tão bem descreveu, um reino de gente pobre é certo, mas de uma riqueza sem igual no seu comunitarismo, no seu ser, nas suas tradições, na sua cultura. Um Reino Maravilhoso que já foi cheio de vida onde era possível construir futuros e que hoje definha para uma morte já há muito anunciada.
Quem se der ao cuidado de ver os resultados dos CENSOS nas últimas décadas, verificará que é arrepiante ver a linha vertiginosa com que a nossa população caminha para o zero. A partir do CENSOS de 1960 em que no interior se atinge o pico máximo de população, a linha de tendência inverte-se a caminho do zero, primeiro mais notória no mundo rural, nas freguesias rurais mais longe das cidades e vilas sedes de concelho, havendo aí um êxodo bem visível das populações das aldeias para as sedes de concelho, o problema é que agora, o emagrecimento da população não se dá só e apenas nas freguesias rurais, já atingem o todo dos concelhos, as suas vilas e cidades, as suas sedes.
Um elogio ao fio azul, com mais uma aplicação
Em julho passado, o INE divulgou os Resultados Preliminares dos CENSOS 2021 e, naquilo que a nós interessa, o Alto Tâmega, os números são preocupantes. Em 10 anos passámos de 94 143 habitantes para 84 330. Todos os concelhos, sem exceção, perderam população.
Se ainda não conhece os números por concelho, aqui ficam:
- Boticas em 2011 tinha 5 750 habitantes e em 2021 tem 5 002. Isto resulta numa perda de 748 residentes, o que em termos percentuais significa uma quebra de 13%.
- Chaves passou de 41 243 habitantes em 2011 para 37 623 em 2021. São menos 3 620 pessoas, equivalendo a uma percentagem de menos 8,8%. A nível percentual, o concelho flaviense foi o que menos população perdeu no conjunto dos seis municípios da região.
- Montalegre passou de 10 537 habitantes em 2011 para 9 279 em 2021. Uma perda de 1 258 residentes, uma quebra de 11,9%.
- Ribeira de Pena a perda foi de 657 residentes entre 2011 e 2021, passando de 6544 para 5887 habitantes. Uma perda percentual de 10%.
- Valpaços em 2011 registava 16 882 habitantes, e em 2021 regista 14 714, significando uma perda de 2 168. São menos 12,8%.
- Vila Pouca de Aguiar passou de 13 187 habitantes em 2011 para 11 825 em 2021, uma perda de 1 362, resultando em menos 10,3%.
Resumindo, estes concelhos são agora grandes aldeias, ainda, mas igualmente com a sua linha de tendência a caminhar para o zero, no entretanto, todos assistem alheados, conformados e serenos a este definhar, palavras que me levam mais uma vez a evocar Torga: “Que povo este! Fazem-lhe tudo, tiram-lhe tudo, negam-lhe tudo, e continua a ajoelhar-se quando passa a procissão” e em janeiro aí teremos nova procissão a caminho de S.Bento.
Para terminar, regressemos a Lousas, com um pedido de desculpas por pouco falar da aldeia ao trazer aqui a amarga realidade do despovoamento. Aldeia onde até me ficaram os olhos num lugar, com uma casa à beira de uma linha de água onde até me foi possível sonhar durante uns instantes, imaginando os acordares das manhãs na companhia do sussurro da passagem da água, cristalina por sinal, na companhia dos concertos e melodias debitadas pela passarada do lugar.
Pois só nos falta definir um itinerário para chegar até Lousas, com partida como sempre desde a cidade de Chaves pela N103 até Sapiãos, depois o desvio até Boticas e a partir de aí a R311 em direção a Ribeira de Pena e Cabeceiras de Basto, com passagem pela Carreira da Lebre e saída em Espertina/Antigo ou para a Vila Pequena e Vila Grande, com passagem obrigatória por esta última a partir da qual se toma a estrada que só nos leva a dois destinos — Casal e/ou Lousas.
E agora o habitual vídeo final, com todas as imagens de Lousas aqui publicadas, vídeo que poderá ver aqui no blog ou no nosso canal do YouTube ou no MEO KANAL Nº 895 607.
Aqui fica, espero que gostem:
E quanto a aldeias de Boticas, despedimo-nos até ao próximo domingo em que deveríamos ter aqui a aldeia de Vila Grande, mas que por razões que mais tarde compreenderão, vamos primeiro à Vila Pequena .