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CHAVES

Olhares sobre o "Reino Maravilhoso"

11
Jul21

O Barroso aqui tão perto - Muro

Aldeias do Barroso - Concelho de Boticas


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Seguindo a metodologia que adotámos para o Barroso do concelho de Boticas, ou seja, seguir a ordem alfabética das freguesias e as suas aldeias,  já iniciámos as publicações da freguesia de Covas de Barroso, tendo-se iniciado as publicações desta freguesia precisamente com a aldeia de Covas, daí, hoje é a vez da sua segunda de três aldeias, a aldeia do Muro, ficando para a próxima publicação a aldeia de Romaínho.

 

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Para irmos até ao muro, teremos que passar por Covas do Barroso e pelo Romaínho, só depois teremos a aldeia do Muro. Vamos então ao nosso itinerário completo e respetivos mapas, para chegarmos à aldeia do Muro. Como sempre o ponto de partida é na cidade de Chaves.

 

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Então vamos lá, como ponto de partida podemos ter a praça do Brasil em  Chaves, seguindo pelo caminho mais habitual para ir até terras de Boticas, ou seja via N103 (estrada de Braga) até Sapiãos, onde, devemos deixar a N103 e tomamos à esquerda a M312 em direção a Boticas, onde devemos apanhar a R311. Basta seguir as indicações das placas em direção a Ribeira de Pena e Cabeceiras de Basto, principalmente na rotunda de saída da vila, junto ao Centro de Artes Nadir Afonso. Depois subimos até a Carreira da Lebre, o grande entroncamento de Boticas, e desta vez, na rotunda da Carreira da Lebre, seguimos em frente, mas apenas durante cerca de 5Km logo a seguir à última entrada para aldeia de Vilar (à esquerda) e saída para a aldeia de Carvalho (à direita), ou seja, devemos sair da R311, à esquerda, em direção à aldeia Campos, aldeia pela qual teremos de passar para ir até Covas do Barroso. E Covas, temos que atravessar a aldeia toda, sempre pela rua principal em direção à igreja paroquial e cemitério, mas sem chegar lá, pois antes terá de virar à esquerda. Já não recordo se há placas a indicar Romaínho e Muro, mas o melhor, em caso de dúvida, é perguntar a alguém no final da aldeia, que, felizmente, em Covas do Barroso há sempre gente na rua.

 

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O Muro é uma das aldeias que fica no limite do concelho de Boticas confrontante com o concelho de Ribeira de Pena. O limite do concelho fica a apenas 1Km e as primeiras aldeias do concelho de Ribeira de Pena (Alijó e Lamalonga) ficam a menos de 2Km, com ligação por estrada municipal (M1047). Curiosamente, estas duas aldeias e mais meia-dúzia do concelho de Ribeira de Pena, estão ainda dentro do território do Barroso, mais precisamente a freguesia de Canedo, que outrora, há cerca de 100 anos, pertencia ao Concelho de Boticas. É por estas e por outras que o território do Barroso não se fica apenas pelos concelhos de Montalegre e Boticas, pois os concelhos de Ribeira de Pena, Vieira do Minho e também o de Chaves, se considerarmos o limite natural do rio Tâmega como um dos limites do Barroso.

 

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O Muro é uma pequena aldeia com pouco mais de 20 construções e metade são anexos e armazéns, mas como na prática está já unida à aldeia de Romaínho, as duas, já fazem uma aldeia jeitosa. Aqui sim, nesta e outras aldeias que com o seu crescimento se uniram, poderia haver uma reforma administrativa e ficar só uma aldeia, do tipo Romaínho do Muro ou Muro do Romaínho, isto se entre ambas não houver quezílias antigas, que aí não há nada a fazer, mais vale respeitar as quezílias do que unir para desunir à batatada. São as tais questões de honra que no Barroso e em geral em todo Trás-os-Montes fazem lei, mesmo que não esteja escrita. Bem, mas isto da união das duas aldeias são coisas minhas, da minha imaginação, e até pode ser que entre estas duas aldeias nem haja quezílias antigas ou recentes, e se as houver, é natural, como natural também é acontecerem ou não dentro da própria aldeia.

 

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Continuando ainda com o tema das questões de honra, moral, quezílias e afins, introduzamos outro, o do Comunitarismo do Barroso, que é uma das singularidades deste povo, ou era, pois com os tempos modernos, cada vez mais o comunitarismo vai caindo em desuso, tal como os fornos do povo que hoje em dia, em grande parte das aldeias, apenas são utilizados como um ponto de atração turística ou mesmo convertidos em “postos” de turismo barrosão.

 

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Mas ia dizendo que o povo barrosão tem (ou tinha) como um dos elementos da sua identidade o comunitarismo, que é (era) uma forma de se entreajudarem, mas que, para funcionar, tinham regras apertadas para serem cumpridas. Desde o forno do povo, à água, aos caminhos, as vezeiras, a igreja, as festas, o boi do povo, etc. havia regras a cumprir.

 

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O Padre António Lourenço Fontes, hoje sobejamente conhecido pelos congressos de bruxaria e sextas-feiras 13 de Montalegre, é um dos conhecedores profundos do Barroso, dos seus usos e costumes, não só por também ele ser barrosão, mas também por ter dedicado toda a sua vida ao estudo e divulgação do Barroso. As suas primeiras publicações sobre os usos e costumes do Barroso e sobre o comunitarismo de Barroso remontam aos anos 70 do século passado, onde se revela o grande etnógrafo do Barroso, passando tintim por tintim todos os usos, costumes e comunitarismo do Barroso à escrita e publicação de dois volumes de Etnografia Transmontana, sendo o II Volume dedicado exclusivamente ao comunitarismo de Barroso.

 

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Por exemplo quanto ao boi do povo, que tinha duas funções, a primeira a de cobrir as vacas da aldeia e a segunda era o representante da aldeia no desporto do povo barrosão, o das chegas de bois. Lourenço Fonte diz ao respeito, no II volume de Etnografia Transmontana – O Comunitarismo de Barroso:

 

“ O boi do povo, um dos maiores proprietários da aldeia, é de todos os que têm vacas. Todos colaboram na sua manutenção e pastoria. Todos têm de lhe ir segar e recolher o feno, semear as batatas do boi, recolhe-las, pedir pão ou milho, ou mesmo roubá-lo, quando os mais velhos o não querem dar às boas. Em Cambezes quando é tempo das ferranhas tenras, o boi anda à roda, pelos vizinhos; cada um tem de dar ferranha ao boi ou bois, tantos dias, como de vacas tem para cobrir. Todos pagam ao pastor do boi, conforme o número de vacas. Em Pitões pagam em alqueires de centeio ao que guarda o rego da rega, no tempo respetivo. O tratador é gratuito, trata do boi para vender ou chegar com outro.”

 

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Já quanto ao boi do povo representar a aldeia no desporto barrosão - as chegas, diz Lourenço Fontes:

 

“Nas chegas, o desporto usual das aldeias de Barroso, todos vão acompanhar o seu boi, de pau na mão, e rogar aos santos da igreja que ele seja campeão. Se não for campeão, ou o vendem, ou o tratam para vir a sê-lo. Por isso, nem sempre o ser bom reprodutor é o motivo de conservar um boi, mas o ser o melhor lutador. Está aqui uma das razões da degenerescência da raça Barrosã, além de outras.”

 

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Voltando às quezílias das aldeias e afins, escreve Lourenço Fontes:

 

“Nos barulhos ou contendas, entre pessoas de aldeias diferentes, também a coesão e unidade se manifesta. Um por todos e todos por um, gritam logo. E toca de esgalhar paulada ou estadulhada nos inimigos do nosso vizinho. Há aldeias que não se ligam bem, apesar de serem da mesma freguesia, ou muito próximas, que não se gramam, por uma pequena questão particular. O jogo do pau era espetáculo nestas marés. (Salto)”.

 

E ainda

“ Nas feiras e festas a rapaziada junta-se em determinado local, mais ou menos central, ou à saída do povo, cada qual com seu pau de lodo, antes, hoje com a sua pistola no bolso. (1)

 

  • (1) – A G.N.R. acabou com os paus.

 

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E sobre esta aldeia que dá pelo topónimo de Muro vai sendo tudo. Sem dúvida que é mais uma aldeia do Barroso que merece uma visita, não só pela aldeia, que embora pequena não deixa de ser interessante, mas também pela paisagem envolvente das montanhas barrosãs. E chegamos ao vídeo final, com todas as imagens publicadas neste post. Espero que gostem:

 

Aqui fica:

 

 

 

Agora também pode ver este e outros vídeos no MEO KANAL Nº 895 607

 

 

E quanto a aldeias de Boticas, despedimo-nos até ao próximo domingo em que teremos aqui a última aldeia da freguesia de Covas de Barroso -  Romaínho.

 

 

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