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CHAVES

Olhares sobre o "Reino Maravilhoso"

11
Out20

O Barroso aqui tão perto - Nogueira

Aldeias do Barroso - Concelho de Boticas


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NOGUEIRA

 

Hoje no Barroso aqui tão perto, vamos até a aldeia de Nogueira, a terceira e última aldeia da freguesia de Ardãos e Bobadela, aqui bem pertinho de nós (cidade de Chaves), a apenas 18.3Km. Não queremos ser repetitivos, mas aquilo que dissemos sobre Ardãos e Bobadela, dada a proximidade das três aldeias, também se aplica a Nogueira, principalmente o seu enquadramento e relacionamento que tem com a Serra do Leiranco e com o vale do Alto Terva, daí os próximos capítulos são um bocadinho daquilo que já dissemos para as outras aldeias da freguesia.

 

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Nogueira fica precisamente entre as duas aldeias que dão nome à freguesia, Ardãos e Bobadela, ficando a 1.800m de Ardãos e a 700m de Bobadela.  é a freguesia localizada mais a norte do concelho de Boticas e faz uma “incursão”, como se tivesse ficada entalada, entre o concelho de Montalegre e o concelho de Chaves, ficando o limite da freguesia bem próximo das aldeias de Meixide (Montalegre) e de Castelões, Calvão, Seara Velha, Soutelo, Noval, Pastoria, Casas Novas e Redondelo, estas todas do concelho de Chaves e a menos de 2Km do limite desta freguesia barrosã, com a Pastoria a menos de 500m de distância.

 

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A par da aldeia de Sapelos, da freguesia de Sapiãos, é também a freguesia que se abre para o vale do Alto Terva, a acompanhar o rio Terva que, em termos de peixe só “dá bogas e às vezes trutas” e só nalguns troços do rio, mas que, desde a ocupação romana,  é conhecida pela riqueza em ouro do seu subsolo, pelo menos os romanos exploram neste vale algumas minas deste metal precioso, construíram uma cidade (Batocas) e fizeram passar por ela importantes vias romanas e/ou importantes ligações à Via Romana XVII, que ligava Bracara (Braga) a Asturica (Astorga), com passagem por Aquae Flaviae (Chaves).

 

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Vale do Alto Terva onde existe um parque arqueológico, com alguns passadiços, miradouros, vestígios das antigas minas de ouro, como o poço das Freitas, ou vestígio da antiga cidade de Batocas, gravuras, castros, etc. Mas desde já fica um conselho, se não conhece o vale do Terva, não se aventures a ir para lá às cegas, que o mais provável é não encontrar nada ou mesmo perder-se. Na aldeia vizinha de Nogueira, Bobadela, junto à Igreja/cruzeiro, há um posto de informações com muita documentação, mapas, rotas (natura, das vias antigas, das gravuras, das minas, dos castros e das aldeias) e demais informações. Penso mesmo que fazem visitas guiadas ao Parque Arqueológico. Antes de se aventurar por lá sozinho, vá com alguém que conheça ou passe por este posto de informações.

 

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Como já perceberam esta aldeia de Nogueira é uma aldeia bem próxima da cidade de Chaves mas nada tem a ver com a Nogueira da Montanha de Chaves. Para se ir até lá, Nogueira de Boticas, temos dois acesso possíveis, mas, curiosamente,  ambos mais ou menos à mesma distância. Um dos acessos é via EN103, estrada de Braga, passando por Curalha, Casas Novas, S. Domingos, Sapelos (já de Boticas) e a seguir a esta aldeia irá atravessar uma ponte sobre o rio Terva onde logo a seguir terá uma saída à direita (M507), por onde terá de percorrer 1,7Km para chegar a Nogueira. A outra alternativa, é com saída por Casas dos Montes, Valdanta, Soutelo, Seara Velha, Ardãos (já em Boticas), e logo a seguir temos Nogueira. Nós recomendamos este último itinerário, mas o melhor mesmo, é ir por um itinerário e regressar pelo outro, e aí tanto faz. Fica o nosso mapa para melhor poderem localizar a aldeia e ver como é mesmo perto da cidade de Chaves.

 

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Nogueira fica implantada já em plena Serra do Leiranco, logo no início da sua encosta vira da nascente, a uma altitude a rondar os 600m, uma serra que embora muitas vezes fique vestida de branco no inverno, protege a aldeia dos ares frios vindos do grande planalto do Larouco e do restante Barroso. É uma aldeia que há muito conhecíamos das nossas inúmeras passagens, mas como sempre vamos dizendo, só passar, não nos dá a conhecer a aldeia. É preciso parar, entrar na sua intimidade, demorarmo-nos por lá o tempo que tiver de ser, e se possível, conversar com os seus residentes, só assim poderemos ficar com algum conhecimento dela, e esta aldeia, tal como as outras duas da freguesia,  surpreendeu-nos pela positiva. Sinceramente gostámos daquilo que vimos e que vamos deixando aqui um pouco em imagem. Uma aldeia com gente simpática, com que tivemos oportunidade de conversar e desfrutar das conversas e que nos levaram à descoberta de alguns pontos de interesse que sem a dica e indicação dos residentes, talvez não tivéssemos descoberto ou ficar a saber do que se tratava e da importância para a aldeia.

 

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Então vamos lá entrar em Nogueira, recordando um pouco o dia 19 de julho de 2018, eram 8H00 (da manhã) quando lá chegámos, num dia coberto de nuvens que na serra do Leiranco era nevoeiro espesso, mas mesmo assim, convém recordar que estávamos numa aldeia, onde as pessoas têm por hábito levantarem-se cedo, daí já haver muita gente nas ruas, que ao saber ao que íamos, nos iam indicando as coisas bonitas para ver, a igreja, as capelas, o calvário, o cruzeiro, etc.

 

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E lá fomos andando e descobrindo, mas como sempre, há pessoas mais dadas às conversas, que gostam de nos mostrar e levar até aquilo que eles acham ser do nosso interesse. Ao longo das ruas não precisamos de nos anunciar, os cães, à nossa aproximação, como estranhos que somos, dão sempre o aviso, tem aquele ladrar de dizer “anda aqui gente”, cumprem a sua missão, mas depois vêm ter connosco e dentro do seu território, até nos fazem companhia.

 

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Já junto ao calvário encontrámos o Sr. Amaro, mas ao qual todos chamam Mário, perguntámos-lhes pelo que era feito do sol… “ele lá vem, hoje vem mais tarde…” por acaso até nem veio, e acrescentou “mas entra hoje o quarto-crescente e é capaz de mudar o tempo”. Pois sinceramente, para a fotografia dentro das aldeias, prefiro os dias encobertos aos dias de sol intenso, desde que haja luz. E a luz também se vai fazendo nestas conversas, como por exemplo a do Sr. dos Aflitos, que estava mesmo à nossa frente e não dávamos por ele. “Tem muita visita, gente de fora e emigrantes, quando estão aflitos, lembram-se dele…”, dizia-nos o Sr. Amaro a quem todos chamam Mário.

 

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Nestas nossas andanças pelas aldeias do Barroso, sem conversas, despachamos a coisa em menos de uma hora, e em Nogueira estivemos quase a cumprir. Depois da conversa com o Sr. Amaro ao qual todos chamam Mário, demos a missão como cumprida, já estávamos de partida quando passamos por uma casa cuja decoração e pintura da fachada nos chamou a atenção. Claro que tivemos de parar para fazer o registo e, continuaríamos para Bobadela se não tivéssemos encontrado a Dona Natividade com a qual estivemos mais de uma hora na conversa.

 

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A Dona Natividade que nos contou montes de estórias, alguma a envolver o seu nome, “o meu nome é fraco”, isto por não ser muito vulgar, era o único nas redondezas e só encontrou uma vez em Chaves um senhora com o mesmo nome. Com 88 anos, pedi-lhe para repetir a idade, pois parecia ter muito menos, e confirmou, 88 anos, e acrescentou “aqui o sossego da terra vale muito”. Pela certa que sim, bem mais sossegados que os anos que passou em França como emigrante, isto nos anos 60/70 do século passado, mas onde ainda tem filhos, netos e bisnetos. Contou-nos muitas estórias, sobretudo estórias que a sua “Vó” lhe contava, e ia-nos dizendo, “Quando eu era garota pequena os velhinhos diziam tantas coisas… a minha Vó dizia-nos: Olhai meus filhos, nada entra aqui no nosso povo, e porque Vó, perguntava eu, e ela dizia-me, olha, porque o diabo já andou para entrar na nossa aldeia, mas dizem que não conseguiu entrar, porque na “estaca do argueiro” está a N. Sr.ª do Alívio, no fundo do povo está o S. Caetano, lá em cima tem o Sr. dos Aflitos, ao pé da serra, ali em cima, tem a capela da Senhora das Graças”.

 

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É o diabo não se deve dar muito bem por estas bandas, pois aqui, só nas redondezas desta aldeia, num circulo de 5km de raio, há pelo menos 5 santuários (S.Caetano, Srª do Engaranho (Castelões), Srª da Aparecida (Calvão) Srª das Neves (Ardãos), Sr. dos Milagres (Sapelos), então igrejas, capelas, nichos e alminhas, nem se fala...  “Já dizia a minha Vó”, continuava a Dona Natividade “Olhai meus filhos quando os homens andarem feitos pássaros a voar lá pelo ar e em cavalos cegos pela estrada fora, preparai-vos para o fim do mundo que está próximo… homens que matam filhos, pais que derrotam as filhas, eu às vezes até fecho a televisão…” . Aproveitámos a chegada do padeiro de Faiões, o padeiro do trigo de quatro cantos, para nos despedirmos da Dona Natividade.

 

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E agora passemos ao que dizem os documentos, mais precisamente ao que encontrámos sobre Nogueira na monografia “Preservação dos Hábitos Comunitários das Aldeias do Concelho de Boticas”.

 

Castro de Nogueira

Designação: Castro de Nogueira

Localização: Nogueira (Bobadela)

Descrição: o Castro de Nogueira fica no topo dum alto cabeço cónico por cima e a NO da aldeia de Nogueira, freguesia de Bobadela.

O acesso a este castro pode fazer-se pelo estradão até à Casa Florestal, dali aos lameiros da Serra, à Salgueira, e uns 200 m acima encontra-se um caminho e carro de bois que leva ao alto, junto das muralhas do castro, quase todas alagadas, embora haja algumas porções que ainda têm 1 m de altura.

No topo do castro existem indícios de aí terem existido casas. No que se refere às muralhas, estas encontram-se muito derruídas e quase imperceptíveis, não sendo possível aferir a sua dimensão. Foram encontrados vários pedaços de cerâmica neste espaço.

Perto do castro, do lado Nascente, encontra-se um ribeiro

 

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Festas e Romarias

Santa Cruz,* 03 de Maio,

São Caetano,* 1º Domingo de Agosto,

 

Património Arqueológico

Castro de Nogueira

 

Património Edificado

Calvário

Capela de S. Mamede

Cruzeiro

Forno do Povo de Nogueira

 

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As Lamas / Lameiras do Povo ou do Boi

(...)

Em algumas aldeias existem lamas/lameiras do povo ou do boi, propriedade comum da aldeia. Nas aldeias onde existiu boi do povo, estas propriedades garantiam parte da sua alimentação, sendo utilizadas como pastagem e para a produção de forragens (feno). Actualmente, estas propriedades, geridas pelas Juntas de Freguesias ou pelos Conselhos Directivos dos Baldios, são arrendadas aos lavradores que delas precisem. Anualmente, ou de cinco em cinco anos, como acontece em Nogueira (Bobadela), são postas a leilão e arrematadas por quem fizer melhor oferta, pois como costumam dizer “quem mais dá, mais amigo é do Santo”.

 

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A água

(…)

As aldeias de Bobadela e Fiães do Tâmega, que partilhavam água com as aldeias vizinhas (Nogueira e Veral), recorrendo a determinadas estratégias, conseguiram ficar na posse dela. Na freguesia de Bobadela, ficou na memória dos aldeãos a história do “Santo Ladrão”. Conta a história que, há muitos anos atrás, no tempo dos antigos, Bobadela e Nogueira dividiam entre si uma água que vinha da Serra do Leiranco. Os de Bobadela achavam que aquela água lhes pertencia por direito e que não tinham que partilhá-la com os de Nogueira, pois estes já tinham muita água, doutras nascentes dessa Serra. Assim, arranjaram um estratagema para ficarem com a água toda, sem que os de Nogueira pudessem contestar tal apropriação. Um dia, juntaram-se as pessoas de ambas as aldeias, dirigiram-se à Serra, ao tornadouro de divisão das águas e combinaram deitar metade da água para Bobadela e a outra metade para Nogueira. A aldeia onde a água chegasse primeiro, ficava com ela. O sinal da chegada da água era o toque do sino da capela, em Nogueira, ou da capela de S. Lourenço, em Bobadela. Ora, os moradores de Bobadela, já com ela fisgada, ainda a água vinha longe, já eles estavam a tocar o sino. Os de Nogueira aceitaram a sentença, mas, convencidos que tinha havido batota, passaram a chamar-lhe o Santo Ladrão.

 

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(…)

Todos os regantes, para poderem usufruir dos seus direitos de água, estão obrigados a participar nos ajuntamentos dos regos, sob pena de não poderem regar. Na prática, isso não acontece. O faltoso, nalgumas situações, apenas se arrisca a uma reprimenda verbal; noutras aldeias, como por exemplo Nogueira, quem, por algum motivo, não possa participar nestes ajuntos pode “compensar” os regantes que o fizeram, fazendo outro trabalho a favor da comunidade, como por exemplo limpar uma fonte ou um tanque.

 

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Há ainda, como acontece em Nogueira (Bobadela) aqueles que têm água e não têm terrenos para regar. Então, dão a água a um vizinho que precise e este, em troca, dá-lhe batatas, dinheiro, etc. Há alguns anos atrás, tentaram alterar o sistema de atribuição da água de rega, de forma a dividirem-na apenas entre os que tivessem terras. Todavia, os que não tinham terras não abdicaram do seu direito à água e depressa se voltou ao sistema dos antigos.

 

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O Gado

(...)

Acontecia, por vezes, em algumas aldeias, como por exemplo em Valdegas (Pinho) e em Nogueira (Bobadela), as pessoas mobilizarem diferentes recursos para poderem criar gado. Existia um sistema, o chamado gado a meias, em que um era dono dos animais e o outro detinha os recursos para a sua alimentação, ou garantia o seu pastoreio. Os lucros obtidos, por exemplo com a venda de crias, eram divididos pelos dois.

 

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E ficamos por aqui, neste tão longo post, mas muito mais haveria para dizer e imagens para mostrar. Fica para uma próxima oportunidade. Agora fica o vídeo, com um resumo apenas em imagem deste post. Espero que gostem

 

 

 

Agora este e outros vídeos do Barroso e região, também podem ser vistos no MEO Kanal nº 895 607

 

Quanto a aldeias do Barroso de Boticas, no próximo domingo teremos aqui o post da freguesia de Ardãos e Bobadela, à qual também pertence a aldeia de Nogueira.

 

 

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