O Barroso aqui tão perto... Parafita
Hoje vamos até Parafita, aldeia vizinha da Estrada Nacional 103 que liga Bragança a Braga com passagem por Chaves e aldeia igualmente vizinha da Barragem do Alto Rabagão (Pisões), aliás, na prática, entre a aldeia e a barragem apenas as separa a estrada nacional. Tal como a maioria do Barroso também Parafita é uma aldeia das terras das altas, estando localizada acima dos 900 metros de altitude.
E que dizer sobre Parafita? – Entrar pelas aldeias adentro e fazer umas fotos àquilo que desperta um olhar da objetiva, não é tarefa difícil, agora escrever sobre elas quando apenas fomos por lá uma vez, já é mais complicado, principalmente quando não gostamos de inventar. Está certo que podemos escrever sobre aquilo que vimos, se nos agradou ou não ou se encontrámos alguém com quem conversámos, contar aqui um pouco daquilo que essa pessoa nos foi dizendo sobre a aldeia, mas não foi o caso.
Assim sendo partimos sempre à procura daquilo que há escrito sobre a aldeia que trazemos aqui e desta vez tivemos sorte, tudo graças à Festa de S.Romão, que supomos ser o Orago de Parafita onde no site das festas se faz um bocadinho da história da aldeia e que de seguida reproduzimos:
“Parafita é uma aldeia pertencente à freguesia de Viade de Baixo, concelho de Montalegre. Fica situada na margem da Albufeira do Alto-Rabagão(Pisões), tendo uma paisagem espectacular sobre a Albufeira e a Serra do Barroso.
As gentes de Parafita vivem da agricultura, da pecuária e do comércio, mas também existem alguns professores, profissionais liberais e funcionários públicos.
A história desta aldeia é longa e gloriosa, sendo este espaço demasiado pequeno para a contar...
Posso vos dizer que os de Parafita sempre gozaram de um elevado estatuto entre as terras vizinhas, pois era e é uma terra de músicos (com o seu ex. libris a Banda Musical de Parafita), alfaiates, doutores, engenheiros, padres, etc.
Mesmo em outras profissões os de Parafita davam e dão "cartas".
Existe um proverbio/dizer popular nas redondezas que diz: "Mais vale um ano em Parafita que sete em Coimbra!" .
Quem quiser saber mais, e conhecer algumas "estórias" engraçadas sobre "Os de Parafita", aconselho os livros de Bento da Cruz: Histórias da Vermelhinha e Histórias de Lana Caprina.”
Pois uma dessas estória engraçadas sobre “Os de Parafita” está mesmo no introito das “Histórias de Crítica Social” das “Histórias da Vermelhinha” de Bento da Cruz que não resisti deixar de trazer aqui:
(…)
Notícias de brigas entre clãs familiares ou aldeias vizinhas, algumas nos vão chegando. Uma das mais curiosas vem de Parafita, terra de músicos de génio, os quais, a cotio tão bonacheirões, se vão facilmente aos arames com a paródia onomatopaica aos instrumentos da banda: « Parafita-atrás, Parafita-atrás! Arroz pró-pote, arroz pró-pote! Chiba velha prà caldeira! Vinho, vinho!»
Um dia os de Parafita foram chegar o boi com os de Penedones. O de Parafita podeu e houve grande festança: vivas, foguetes, vinho, música, baile. De chofre começa tudo a debandar: gritos, correrias, tombos. Que foi, que não foi, uma zaragata. Os de Parafita acorreram a deter e punir os prevaricadores. Mas, no sufragante, ninguém sabia quem tinha começado. Que fazemos, que não fazemos, diz o Precioso, chefe da banda:
— Malha-se em todos os forasteiros!
E assim se fez. Todo o borguista que não era de Parafita e se não escapuliu a tempo, comeu do coco.
E aconteceram coisas engraçadas. Registo apenas três:
1 - Quando a sarrafusca principiou, ao declinar da tarde, o Zé Peguisto não deu por nada, porque tinha ido ao lameiro buscar as vacas. Vinha ele a entrar com elas na aldeia, ia um das Alturas a fugir com o rabo à «cheringa». O Paguisto nem hesitou:
— Tu que foges, alguma fizeste…
E saltou-lhe com a aguilhada no lombo.
2 - Carmelino tremia maleitas entre os cobertores com uma pneumonia dupla e quarenta graus de Ouvindo o escarcéu, enfiou os tamancos nos pés, cobriu uma capa de burel e desceu à rua a ver o que era. Viu, apresunhou um calhau e deixou-se ficar muito quieto e dissimulado, costas fincadas na parede, pernas trementes, barba hirsuta, olhos febris, mão oculta debaixo da capa. À medida que os fugitivos lhe passavam ao alcance do braço, afundava-os com um golpe de seixo no cangote. A ponto de uma velha que estava defronte, protegida atrás dum carros de bois, comentar para outra velha, alapada debaixo do chedeiro:
— Ai Jesus! Está ali um pobre que dá cada punhada…
3 - Vendo as coisas malparadas, o cura duma paróquia vizinha, ao tempo muito falado pelos seus dotes e exibições de bailarino yé yé, largou a rapariga com quem dançava e correu para o cavalo.
— Sem a tua não vais… — disse o Vilar de si para consigo. Mas encarando com o Francisco Maria, o regedor, do outro lado da rua, deteve o bote no ar, em respeito à autoridade. O Francisco Maria fez com a cabeça um sinal de assentimento — ou o Vilar assim o entendeu —, e aí vai disto: mediu o padre duas vezes de ombro a ombro.
Valeu-lhe um casaco de coiro que trazia, à cowboy, onde o estadulho entoou como um bombo…
(…)
In Histórias da Vermelhinha, de Bento da Cruz
Já atrás se falou dos músicos de Parafita e da sua Banda Musical que por sinal têm um site na WEB e é para lá que agora vamos:
“Não se sabe ao certo da data de fundação da Banda mas ela andará por volta do ano de 1800. Dados mais recentes revelam-nos que por volta do ano de 1910 devido a divergências entre os elementos da banda houve uma separação formando-se então duas bandas. Mas não foi por muito tempo que se mantiveram assim, talvez uns cinco anos entre 1910 e 1915, depois uniram-se e formaram uma só com cerca de trinta elementos.
Nessa época o dia a dia da banda era bastante complicado pois os músicos tinham que ir a pé para as romarias, fazendo caminhadas por vezes de dezenas de quilómetros, havia dificuldade em arranjar fardas, instrumentos e partituras.
O peso da interioridade também se fazia sentir pois as lojas de instrumentos mais próximas eram no Porto e como se sabe nessa altura as viagens eram difíceis.
Os ensaios realizavam-se à luz da candeia…
É admirável a nobreza do espírito dessa gente, que numa altura em que se passava fome, a vida era árdua, a pobreza era grande, estes parafitenses tinham um espírito nobre: dedicaram-se à música!
Mesmo com todas as contrariedades a Banda manteve-se unida até 1964.
Desde 1910 até 1964 a Banda teve sete maestros, sendo alguns deles oriundos da terra.
Foi neste ano que a Banda se desmembrou devido a duas principais causas:
-A emigração.
-A construção da barragem que “roubou” muitos terrenos ás pessoas, e estas migraram com o dinheiro que receberam das indemnizações.
Mas entre a gente que ficou na terra e os emigrantes pairava ainda o sonho, de terem novamente a Banda em actividade.
Isso só foi possível em 1988 quando algumas pessoas que tocavam na antiga Banda voltaram para a terra, destacando-se o Sr. João Dias “Guicho”, que foi um dos principais impulsionadores iniciais, em conjunto com António Rodrigues, António Dias, Dr. Custódio Montes, Artur Guerreiro e muitos outros.
Graças à carolice, ao entusiasmo e ao bairrismo destes e mais alguns filhos da terra que não se pouparam a sacrifícios ou incómodos para a valorização da sua terra, foi conseguida a reformulação da Banda (1988).
Nesta altura muitos jovens da terra e de aldeias vizinhas começaram a aprender o solfejo para depois poderem ingressar na banda.
A primeira actuação da Banda depois de ressuscitada aconteceu no dia 25 de Abril de 1990, numa actuação memorável em que uma multidão aplaudiu e acompanhou a banda a tocar pelas ruas de Montalegre.
(…)
E vai sendo tudo sobre Parafita e mais não dizemos porque não o sabemos. Sabemos, isso sim, que gostei da aldeia e que pela certa terei de passar por lá novamente, pois de entre as imagens que recolhi não há uma única em que se sinta a proximidade da barragem, imagem que penso ser obrigatória para o arquivo.
À saída da aldeia registei uma última imagem que penso serem os “Moinhos da Corga”, com arquitetura atraente e que segundo apurei são construções dedicadas a turismo rural.
E é tudo, restam os habituais créditos às consultas efetuadas cujas referências aqui ficam:
Bibliografia consultada:
“Histórias da Vermelhinha” de Bento da Cruz, Editorial Domingos Barreira, 1991
Sítios da WEB:
Banda Musical de Parafita: http://www.bandaparafita.net/cms/
Município de Montalegre: http://www.cm-montalegre.pt/fp/parafita.php
E ficam também os links para as anteriores abordagens deste blog ao Barroso e suas aldeias:
A Água - http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-a-agua-1371257
Amiar - http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-amiar-1395724
Cepeda - http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-cepeda-1406958
Fervidelas - http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-fervidelas-1429294
Fiães do Rio - http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-fiaes-do-1432619
Frades do Rio - http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-frades-do-1440288
Gralhas - http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-gralhas-1374100
Lapela - http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-lapela-1435209
Meixedo - http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-meixedo-1377262
O colorido selvagem da primavera http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-o-colorido-1390557
Olhando para e desde o Larouco - http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-olhando-1426886
Padornelos - http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-padornelos-1381152
Padroso - http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-padroso-1384428
Pedrário - http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-pedrario-1398344
Pomar da Rainha - http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-pomar-da-1415405
Sendim - http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-sendim-1387765
Solveira - http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-solveira-1364977
Stº André - http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-sto-andre-1368302
Tabuadela - http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-tabuadela-1424376
Telhado - http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-telhado-1403979
Travassos da Chã - http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-travassos-1418417
Um olhar sobre o Larouco - http://chaves.blogs.sapo.pt/2016/06/19/
Vilar de Perdizes - http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-vilar-de-1360900
Vilar de Perdizes /Padre Fontes - http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-vilar-de-1358489
Vilarinho de Negrões - http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-vilarinho-1393643
São Pedro - http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-sao-pedro-1411974
Sendim - http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-sendim-1387765
Solveira - http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-solveira-1364977
Stº André - http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-sto-andre-1368302
Vilar de Perdizes - http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-vilar-de-1360900
Vilar de Perdizes /Padre Fontes - http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-vilar-de-1358489
Vilarinho de Negrões - http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-vilarinho-1393643