O Barroso aqui tão perto... Pedrário
Então vamos lá ao “O Barroso aqui tão perto” hoje até à aldeia de Pedrário, também esta localizada num dos itinerários entre Chaves e Montalegre. Mas atenção, para cumprir este itinerário a decisão terá de ser tomada em Meixide ou Meixedo, dependendo se vamos ou vimos de Montalegre pela estrada municipal.
Há muito que Pedrário consta dos meus itinerários do Barroso, geralmente no sentido Montalegre- Chaves. É aquela velha mania que eu tenho de, se possível, fazer sempre o regresso por outras terras, e se para Montalegre sigo via Vilar de Perdizes, no regresso opto quase sempre por Pedrário. Mas uma coisa é passar por lá, ainda por cima ao lado, e outra é entrar na aldeia, sem pressas, com olhos de ver o que há para ver.
Nas passagens que tinha feito anteriormente pela aldeia ia deitando um olho aos montes de pedra e a uma veiga, como todas, fértil. Quanto à aldeia em si era aparentemente de dimensões considerável com um casario não muito chamativo para me despertar grande interesse. Impressões de passagens muito breves em que a condução na estrada era a principal preocupação.
Ultimamente durante as minhas visitas às aldeias vou tirando algumas notas para memória futura, pois nunca sei quando virá a aldeia a tocar em post no blog e sei que a passagem do tempo costuma atraiçoar a memória. Na memória escrita da aldeia, entre outros, deixei: montes de pedras, veiga fértil, média/grandes dimensões. Quanto ao interesse do casario nada escrevi, não porque fosse desinteressante mas por que sabia que as imagens que tomei fariam justiça à aldeia. E assim é.
Passei na aldeia cerca de hora e meia, saí de lá com cerca de duzentas fotos e algumas conversas. Se a isto acrescentar que recordo o dia frio a fazer jus à fama que tem em terras do Barroso, estamos conversados, mas em caso de dúvidas, mesmo esquecendo testemunho das imagens que aqui vos deixo, apenas vos digo que saí de lá agradavelmente surpreendido, e bem poderia andar durante 100 anos a fazer passagens ao lado que nunca a descobriria a verdadeira aldeia de Pedrário. Sempre ouvi dizer que as aparências enganam e é bem verdade. Também para conhecermos as aldeias, temos que lhe entrar no coração e na alma.
Das minhas notas constam ainda a via sacra, a igreja e o forno do povo. Quanto à via sacra, o conjunto de cruzes disposto ao longo das aldeia embora não seja inédito, pois repete-se em algumas aldeias, em Pedrário ganham outra dimensão graças à sua localização e visibilidade. Desde logo não passam desapercebidas e sem dúvida que é mais um dos pontos de interesse a acrescentar á aldeia. Tal como a Igreja e o forno do povo, este idêntico a uns tantinhos que existem noutras aldeias do alto-barroso, com cobertura em lajes de granito. Sem dúvida um símbolo dos fornos comunitários (ou do povo) do Barroso.
Embora o dia da visita (inícios de abril deste ano) não estivesse muito convidativo para andar na rua, é notório que também esta aldeia sofre dos males da maioria das aldeias de montanha do interior transmontano – despovoamento e envelhecimento da população. Mesmo assim havia alguns resistentes na rua e um deles fez questão de nos apontar para o “Castelo”, que deveríamos visitar, que era coisa importante e antiga, pois já lá estava quando nascera e já la iam mais de oitenta anos.
E subimos até ao dito “castelo” mais parecendo a subida do Calvário, pois as cruzes e a subida a um dos montes de pedra da aldeia com o frio seco de cortar a bater-nos nos faces , pareciam um autêntico sacrifício, mas há sacrifícios que valem a pena passar, ou cumprir. Pois o tal “castelo” visto cá de baixo parecia um marco geodésico, mas lá em cima, ao pé dele, é muito mais que isso, só que não sabemos bem o quê. Procurei uma resposta nos sítios habituais mas também não a encontrei, mas pelo encimar da cruz parece ser um símbolo religioso que, sem confirmação pois é apenas uma suposição minha, bem poderá ser o alto do Calvário. Mas como disse falta-me confirmar tal.
Pois na busca do significado do tal “castelo”, talvez alto do Calvário, apercebi-me também que informações e documentação sobre Pedrário há poucas. Comum a quase todas as pesquisas é no entanto, e com importância histórica e arqueológica o Castro de Pedrário, localizado num dos tais montes de pedra da proximidade da aldeia, do qual passaremos a dar conta:
"Classificado como "Imóvel de Interesse Público" em 1990, o "Castro do Pedrário" ergue-se a uma altitude de aproximadamente mil metros, no topo de um espigão sobranceiro ao Rio Assureira, no Lugar de Pedrário, que lhe deu nome.
Construído durante a Idade do Ferro, o povoado dispunha de um complexo sistema de fortificação constituído por duas cinturas de muralha (com uma espessura variável entre um metro e meio e os dois) com paramento duplo preenchido com material pétreo de reduzidas dimensões, tendo sido reforçadas por um terceiro muro nas faldas localizadas a Oeste e a Este, o que parece conferir à fortificação uma aparência de subdivisão interna. Quanto às aberturas que conduziam ao interior da área habitada, elas foram localizadas nos dois muralhados, o segundo dos quais (exterior) ainda ostenta um dos esteios que serviria de umbral.
É no recinto intra mural de configuração rectangular que nos deparamos com a presença de um conjunto de vestígios de estruturas domésticas de planta predominantemente circular, característica inerente deste tipo de povoado proto-histórico. As intervenções arqueológicas conduzidas neste arqueossítio permitiram, ainda, recolher diverso espólio essencialmente constituído por fragmentos de cerâmica manual e torneada atribuível à Idade do Ferro, bem como alguns vestígios de escória de bronze e de ferro, a indiciar uma provável prática metalúrgica no local. "
[AMartins] – In: www.patrimoniocultural.pt/pt/patrimonio/
Por sua vez, na página do Município de Montalegre na WEB encontrámos a confirmação de uma festa/celebração religiosa muito original onde os andores da procissão são transportados por animais. Confirmação da festa e simultaneamente um apelo do Presidente da Câmara de Montalegre. Festa à qual se tivermos oportunidade queremos assistir na edição deste ano, só nos falta saber o dia em que tal acontece. Mas fica o que se diz na referida página da WEB:
“A festa em honra de São Pedro realizada, por estes dias, na aldeia de Pedrário, concelho de Montalegre, apresenta «um cariz cultural e antropológico inédito», esclarece Orlando Alves, presidente da Câmara Municipal de Montalegre. O autarca não esconde o espanto pela enormidade cultural encontrada numa procissão que envolve toda a comunidade. Uma tradição religiosa onde «os andores da procissão são transportados por bois ou burros», conta o edil. O facto surpreendeu por completo o líder do município: «pensei que já tinha visto tudo no nosso riquíssimo espaço territorial. Barroso é um relicário de coisas muito interessantes, com um repositório cultural muito forte»”.
E continua:
“Orlando Alves está maravilhado com o potencial turístico da festa. Aproveita o ensejo para lançar um apelo à imprensa ao mesmo tempo que felicita a organização: «Pedrário merece que a comunicação social venha mostrar este naco de património e cultura a toda a nação portuguesa no próximo ano. É bonito! Cada terra tem o seu uso e cada roca o seu fuso. Felicito as gentes de Pedrário e a junta de freguesia de Sarraquinhos por terem mantido esta tradição até aos nossos dias». A terminar, o presidente da Câmara de Montalegre convida a população para fazer desta festa, no próximo ano, um momento marcante no calendário cultural do concelho: «gostava que toda a população, no próximo ano, pela altura do São Pedro, possa visitar esta localidade que mantém as suas tradições e costumes com firmeza. O convite é para todos e eu próprio prometo que estarei presente»”
Pois nós também queremos ir. Se alguém souber o dia em que se realiza, que nos avise, por favor.
E por hoje é tudo, ou quase, pois só falta mesmo referir as anteriores abordagens deste blog a aldeias ou temas do Barroso:
A Água - http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-a-agua-1371257
Amiar - http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-amiar-1395724
Gralhas - http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-gralhas-1374100
Meixedo - http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-meixedo-1377262
O colorido selvagem da primavera http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-o-colorido-1390557
Padornelos - http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-padornelos-1381152
Padroso - http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-padroso-1384428
Sendim - http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-sendim-1387765
Solveira - http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-solveira-1364977
Stº André - http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-sto-andre-1368302
Vilar de Perdizes - http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-vilar-de-1360900
Vilar de Perdizes /Padre Fontes - http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-vilar-de-1358489
Vilarinho de Negrões - http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-vilarinho-1393643