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CHAVES

Olhares sobre o "Reino Maravilhoso"

29
Nov20

O Barroso aqui tão perto - Pinhal Novo

Al deias do Barroso do Concelho de Boticas


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1600-cabecalho-boticas

 

PINHAL NOVO

 

Nesta rubrica de O Barroso aqui tão perto, vamos continuar até concluir, as aldeias da freguesia de Beça, ficando aqui hoje a aldeia de Pinhal Novo.

 

1600-pinhal-novo (15)

 

Estivemos quase para não trazer aqui esta aldeia, e o porquê ou razão é muito simples, já a tínhamos abordado anteriormente neste blog, mas foi num post especial, um post conjunto dedicado a várias aldeias, mais precisamente às aldeias de Salazar da Colónia do Barroso da Junta de Colonização Interna, da qual Pinhal Novo faz parte. No entanto seria injusto não ter uma abordagem particular, mesmo porque no referido post conjunto foi integrada nos posts dedicados às aldeias do concelho de Montalegre, e embora o Pinhal Novo faça parte desse conjunto da colónia do Barroso, é a única que pertence ao concelho de Boticas, e como tal, terá aqui o seu post, incluindo o seu vídeo. Vai ser pouca coisa e tudo muito parecido, mas a aldeia também é pequena e as casas originais da aldeia eram e ainda são, mais ou menos,  todas iguais.

 

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Embora tenha aqui o seu post, não vamos repetir aquilo que já dissemos sobre ela, principalmente sobre a sua origem e história, ou melhor, vamos repetir sim, mas recorrendo ao que sobre ela dissemos no tal post especial dedicado às aldeias de Salazar da Colónia do Barroso, mas antes, vamos deixar aqui, muito resumidamente, a história da origem desta e das restantes aldeias e colónias internas de Salazar.

 

1600-pinhal-novo (12)-aldeia

 

O designado Estado Novo de Salazar cria em 1936 a Junta de Colonização Interna (JCI), que, em síntese, visava povoar as zonas mais despovoadas de Portugal, construindo nelas aldeias novas destinadas a colonos, aos quais seriam entregues grandes áreas de terrenos, sobretudo constituídos por baldios existentes, Ideia que na época, não foi bem aceite pelas populações locais, sobretudo porque eram elas que administravam esses baldios e que deles tiravam, o que para muitos era o seu único rendimento e áreas de pastagem, embora, teoricamente, para a ocupação dessas novas aldeias fosse dada a preferência à população local, coisa que não aconteceu, pois foram maioritariamente ocupadas por casais (condição necessária) de vários pontos de Portugal. No entanto, a pobreza e necessidade da época fez com que alguma população trabalhasse para a JCI na construção desses novos aldeamentos, com alguns boicotes pelo meio, como o de plantarem árvores ao contrário (com as raízes para cima), segundo rezam alguns documentos da altura.

 

18 - fig-1819 - sete colonia portugal.jpg

 

Ao todo a JCI projetou para Portugal 7 colónias internas, sendo as mais próximas a Colónia do Barroso e a do Alvão, em Vila Pouca de Aguiar. Na Colónia do Barroso foram construídas 7 aldeias de colonos (ou colónios como dizia a população local) e ainda um Centro Administrativo para alojar técnicos e funcionários da JCI, centro este onde se localizava também o apoio administrativo às aldeias dos colonos, a fiscalização, sobretudo do cultivo e colheitas que os colonos tinham de entregar ao Estado, ou seja, em 7 partes da colheita, 6 eram para o Estado, e uma para seu sustento, destinando-se as 6 partes do Estado a amortizar empréstimos concedidos aos colonos, bem como a amortização do custo de cada casal (terrenos e habitação dos colonos), que a não ter sido o 25 de abril, hoje,  a segunda geração desses colonos, ainda estariam a amortizar.

 

aldeias jardim.jpg

 

Colonização Interna que foi um fracasso, principalmente a do Barroso, começando logo pelas aldeias de colonos de Criande e Aldeia Nova que viu a maioria dos terrenos destinados aos casais dos colonos a serem inundados pela barragem do Alto Rabagão, para além de os terrenos que os colonos ocuparam serem maioritariamente impróprios para a agricultura, com a agravante de os terrenos cultiváveis estarem sujeitos a um clima hostil e pouco produtivos.

 

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A barragem invadiu parte da aldeia dos colonos de Criande e todos os seus terrenos de cultivo

17 - Fig-17 cartaz de propaganda 1940.JPG

 

Com o 25 de abril as coisas alteraram-se e foi permitido aos colonos resolverem as obrigações que tinham com o Estado, podendo adquirir os casais que cultivavam ou abandoná-los, passando-lhes também a ser permitido vender o casal após a sua aquisição, coisa que não era permitida anteriormente, pois as obrigações do casal obrigatoriamente tinham de passar na totalidade para um e só um dos herdeiros dos colonos, de modo a que a propriedade não fosse dividida.

 

19-1600-Campanha agricola.jpg

10 Fig-10  deus-patria-familia.PNG

 

De realçar que toda esta colonização interna era enaltecida pelo Secretariado da Propaganda Nacional, com constantes campanhas para a produção nacional e mostrando estas colónias como locais paradisíacos, produtivos e ocupados por famílias felizes, que na realidade não eram mais que escravos do estado e do sistema, além de mal queridos e até difamados pelas populações locais, porque afinal de contas, sem culpa, tinha tirado parte do rendimento e muitas vezes todo o rendimento ou sustento das populações locais. Hoje em dia, estas aldeias dos colonos encontram-se com alguns casais abandonados, outros foram vendidos e recuperados por não colonos tal como aconteceu nos Casais da Veiga de Montalegre, e nalguns, poucos,  ainda se mantêm os “colónios”, hoje, parece-me, já perfeitamente integrados e aceites nas populações locais.

 

41-pinhal novo.jpg

 

Pois Pinhal Novo é uma dessas aldeias de colonos, onde inicialmente foram construídas 10 habitações e constituídos os respetivos casais (casa+logradouro+terreno) e posteriormente uma escola. Estas aldeias que pela sua arquitetura e organização, nada têm a ver com as aldeias típicas do Barroso, eram constituídas por moradias isoladas com logradouro e tinham para a época já algumas condições de habitabilidade, além de todas elas serem servidas com as infraestruturas mínimas, ainda com um tanque e chafariz público, e áreas verdes envolventes, algumas com escola, e no caso da Aldeia Nova de Montalegre, tinha igreja, miradouro e posto da GNR, além da escola e espaços verdes.

 

1600-pinhal-novo (9)-aldeia

 

Hoje em dia ainda existem no Pinhal Novo as 10 construções iniciais, dessas, pelo menos 7 foram reconstruídas e/ou ampliadas, 3 mantêm a traça inicial e penso que estão abandonadas e dentro do espaço do aldeamento já nasceram pelo menos 3 novas construções/habitações e na proximidade outros tantos armazéns agrícolas.  

 

1600-pinhal-novo (7)-aldeia

 

Agora passamos àquilo que dissemos sobre o Pinhal Novo no tal post conjunto dedicado a todas as aldeias da colónia do Barroso:

 

As aldeias de Salazar – Aldeias Jardim

 

(…)

Esta aldeia, conjuntamente com a de Criande, Vidoeiro e Pinhal Novo, fazem parte de uma segunda fase de aldeias de colonos, decidida pela LCI em 1945.

(…)

1600-pinhal-novo (4)-aldeia

 

7 - Pinhal Novo

Esta aldeia foi implantada a apenas 1,5km da aldeia do Fontão, foi-lhe atribuído o topónimo de Pinhal Novo, talvez pela mesma razão das anteriores adotarem o nome do lugar. É a única aldeia da colónia de Barroso que foi construída no concelho de Boticas.

 

O Lugar de Pinhal Novo: «[…] com 10 casais, ficará situado já na freguesia de Beça, limite da aldeia do mesmo nome, na encosta Oeste do Alto das Pias. Para lhe dar acesso projectou-se a construção duma estrada principiando na E.N. - 4 - 1ª. no local denominado Alto do Fontão e terminando na povoação de Beça, do concelho de Boticas; prevê-se a continuação desta estrada para as termas de Carvalhelhos e para Boticas, sede do concelho do mesmo nome.» (J.C.I., 1945: 98). (…) A Escola e Capela: «Pinhal Novo, com 10 casais, ficará situado a cerca de 1.500m. de Beça, sede de freguesia, de que dependerá quanto à capela e escola.» (J.C.I., 1945: 99).

COSTA (2017)

 

1600-pinhal-novo (3)-aldeia

 

O terreno para implantação das moradias é retangular, com um arruamento de entrada, ao centro, que depois bifurca para dois arruamentos que acabam por se unir em curva no lado oposto à entrada. As moradias foram implantadas 5 de cada lado ao longo dos lados mais compridos do retângulo a confrontar com os arruamentos, entre os quais ficou uma zona verde, onde mais tarde se decidiu construir a escola, mesmo ao centro desta zona verde.

 

1600-7-pinhal-novo (2)

 

Nos documentos acedidos, não se encontrou qualquer referência à área agrícola e florestal pertencente a cada casal nestas duas colónias. Supõe-se que no caso do Lugar do Pinhal Novo dado o número de casais ter permanecido inalterável, a área agrícola e florestal também terá permanecido. Já no caso do Lugar do Fontão, a redução do número de casais pode estar na origem da divisão da área agrícola estando, contudo, a área atribuída inicialmente a esta colónia dentro da média (14,5 a 25 ha) da área agrícola da colonização do Barroso.

COSTA (2017)

 

15-1600-pinhal-novo (11)

 

Quantos aos projetos tipo adotados para a colónia de Barroso, a autoria é atribuída a mais que um arquiteto. Nalguns documentos que consultei, o arquiteto autor do projeto tipo das aldeias de colonos de Montalegre, à exceção da do Fontão é atribuída ao arquiteto Eugénio Corrêa (?), mas sempre com o ponto de interrogação à frente. Já quanto aos autores dos projetos da aldeia de Fontão e Pinhal Novos, temos o seguinte (no final também fica uma interrogação, mas por outros motivos:

 

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Fevereiro 1961: Projecto de Adaptação das Instalações Agrícolas do Casal a Posto Escolar. O projeto foi desenhado, pelo arquiteto António Trigo, para o Lugar do Pinhal Novo. O plano desta colónia também foi alterado, e a escola acabou por integrar a nova disposição no assentamento. O casal agrícola adotado, para o Lugar do Pinhal Novo, foi o mesmo desenhado pelo arquiteto Maurício Trindade Chagas para o Lugar do Fontão em Janeiro de 1951, e não o casal inicialmente pensado para esta colónia, o casal tipo desenhado para o Barroso, de 1943. Neste projeto, também se faz a adaptação do casal agrícola a posto escolar mas o edifício ao contrário do esperado foi construído de raiz no centro do largo que organiza os restantes casais agrícolas. Ainda mais intrigante é que o mesmo projeto foi replicado com a mesma disposição dentro da colónia de Lugar de S.Mateus — Seriam estes projetos destinados a casais desocupados e por não existir nenhum nessa condição tenham optado por construir uma cópia do projeto de adaptação?.

 COSTA (2017)

 

1600-pinhal-novo (5).jpg

 

Ainda antes de terminar este post e passarmos ao vídeo, vamos até ao itinerário para chegar ao Pinhal Novo, este, feito quase até ao destino pela N103 (estrada de Braga), com partida de Chaves e passagem por Curalha, Casas Novas, São Domingos, Sapelos e Sapiãos, a seguir a esta última aldeia, mesmo onde termina a longa subida, num cruzamento onde aparecem algumas construções, vira à esquerda em direção a Beça, e logo a seguir, a 1470m, num total de meia hora de viagem, num percurso de 26,3Km, temos Pinhal Novo. Ficam os nossos mapas

 

mapa pinhal.jpg

mapa pinhal-1.jpg

 

Para quem quiser saber mais sobre as aldeias de Salazar também conhecidas popularmente como as aldeias dos “colónios”, fica aqui, na integra, em PDF, o que escrevemos e imagens sobre o assunto, basta clicar na imagem. Podem guardar e utilizar, desde que não seja para fins comerciais ou publicação na íntegra, e claro, como mandam as regras e eticamente o mais correto, caso utilizem em publicações ou trabalhos, por favor deem créditos à autoria.

Clicar na ligação:

aldeias jardim-Colonia do Barroso.pdf

 

capa.jpg

 

E agora sim, chegamos ao fim deste post, apenas nos falta o vídeo, aquele que nos foi possível

Fazer com as imagens disponíveis.  Mesmo assim, espero que gostem.

 

Aqui fica:

 

 

 

Este e outros vídeos, agora, também podem ser vistos no Meo Kanal nº  895 607

 

 

 

BIBLIOGRAFIA

- COSTA, Ana Mafalda Almeida Guimarães. ARQUITETURA AGRÍCOLA As Colónias do Estado Novo para o Barroso. Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em Arquitetura, Universidade Lusíada do Porto, Porto 2017

 

 

 

 

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