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CHAVES

Olhares sobre o "Reino Maravilhoso"

26
Ago18

O Barroso aqui tão perto - Pondras


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O nosso destino de hoje no “Barroso aqui tão perto” é a aldeia de Pondras, que até terem inventado aquela da reorganização administrativa em 2013, era também freguesia, hoje agregada à freguesia da Venda Nova, ou seja, hoje pertence à União de Freguesias de Venda Nova e Pondras. Assim, é natural que ao longo deste post, quando me referir a Pondras, tanto o esteja a fazer em relação à aldeia como à antiga freguesia.

 

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Iniciemos pela sua localização, uma das aldeias cujo território tinha um dos seus limites no rio Rabagão, margem esquerda, mais precisamente onde a barragem da Venda Nova tem o seu início, mesmo junta à EN103 que atravessava toda a freguesia e que servia as restantes aldeias da freguesia (São Fins, Ormeche e Pai(o) Afonso).

 

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Se recuarmos no tempo, Pondras esteve sujeita a outras alterações administrativas. Segundo o Arquivo Distrital de Vila Real, Pondras foi abadia da apresentação da mitra no termo de Montalegre. Pertenceu ao concelho de Ruivães até à extinção deste, em 31 de Dezembro de 1853, altura em que transitou para o de Montalegre. Em 1839, surge na comarca de Chaves e, em 1862, na comarca e concelho de Montalegre. A paróquia de Pondras pertence ao arciprestado de Montalegre e à diocese de Vila Real, desde 22 de Abril de 1922. O seu orago é São Pedro Fins.

 

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Em termos de população a antiga freguesia atingiu o seu auge em 1960, com 513 habitantes, população essa que vinha crescendo desde 1864 com 287 habitantes. A partir de 1960 a linha de tendência é decrescente e tem-se mantido ao longo dos CENSOS, tendo atingido em 2011 os 131 habitantes, e se a linha de tendência se mantiver nos próximos CENSOS, dentro de 20 anos não terá qualquer habitante. O problema é que qualquer que seja a medida a tomar para travar o despovoamento rural, já vai ser tardia, pois tenho a impressão que já se ultrapassou o ponto crítico de não retorno.

 

GRAFICO.jpg

 

Só um aparte a respeito do Brasão da antiga freguesia de Pondras, pois achei curiosas as figuras do escudo, principalmente a das chaves, uma a ouro e outra a prata. Curiosas por serem comuns às da cidade de Chaves (rio, ponte e chaves). Sei que deve ser apenas coincidência. Tentei ver o significado das figuras mas não consegui. Se alguém souber, por favor, digam-nos, num comentário aqui no blog, no facebook,  ou por e’mail, tanto faz.

 

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Dizem que a história ao longo dos tempos se vai repetindo, pois cá pra mim não tardará muito e teremos no Barroso e um pouco por todo Trás-os-Montes uma nova medida tipo as “aldeias jardim” de Salazar, tal como foram apelidadas as aldeias novas dos colonos e que o concelho de Montalegre até tem algumas, que a Junta de Colonização Interna levou a efeito em meados do século passado. Só temo é que os novos colonos não sejam trabalhadores da terra, mas antes exploradores da terra,  e que em vez de pequenos baldios dados à exploração de famílias, sejam dadas regiões à exploração de grandes empresas e indústrias, supostamente portuguesas ou chinesas, tanto faz. O futuro o dirá, e não irá tardar muito…

 

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E já que abordámos a localização de Pondras e um pouco da sua História, é tempo de fazermos o(s) nosso(s) itinerário(s) para lá chegar. No último fim de semana deixámos aqui uma nova forma de abordar este assunto, ou seja, deixámos um caminho para ir e outro para vir. Hoje vamos fazer o mesmo, e podem considerar fazer os percursos ao contrário, pois tanto faz.

 

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Pois como podem ver no mapa que atrás deixámos, a nossa partida, como sempre da cidade de Chaves é feita pela estrada de Braga, a EN103, será esta que nos levará direitinhos até Pondras, pois basta não sair dela que ao quilómetro 63,7, mais metro menos metro, estaremos em Pondras. Se é dos que cumpre as regras de velocidade, demorará pouco mais de 1 hora a chegar lá. Claro que se vai em passeio, e gosta de ir parando pelo caminho, o que recomendo sempre que a coisa seja interessante, demorará mais, mas às vezes compensa. A proposta do regresso é via Boticas, pelo que deverá continuar mais umas centenas de metros pela EN103 até à Venda Nova, aí deverá virar à esquerda em direção a Salto, a entrada desta apanhar a EN311 até Boticas, a seguir Sapiãos e estamos de novo na EN103, agora em direção a Chaves.

 

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Mas regressemos a Pondras e aos seus traços culturais de aldeia, com sabores e saberes, tradições, crenças e tudo que fazem o ser de uma aldeia, traços que cada vez mais apenas têm significado na resistência do seu povo e no testemunho, ia dizer vestígios, mas ainda podemos ficar pelos testemunhos, físicos, que vão ficando para memória futura, tal como sejam algumas construções dedicadas à comunidade (capelas, igrejas, tanques e fornos do povo, chafarizes, alminhas, etc.), e que Pondras também tem, e até com alguma abundância e singularidade, como é o caso dos canastros e das alminhas, uma delas lindíssima e muito bem enquadrada. Fica a imagem:

 

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Mas nem todas são ou estão assim, pois há as que são obrigadas e desprezadas pela agressividade da modernidade. Não bastam os fios e postes elétricos ou de comunicações que são colocados sem o mínimo de respeito pelas populações e por algumas coisas que as aldeias têm de melhor (igrejas, capelas, cruzeiros, etc.), como na colocação de outros equipamentos, do lixo no caso, tiram toda a dignidade àquilo que até é património de Portugal, as alminhas, como estas que deixo a seguir. Poder-se-á dizer que é mais uma para aquelas do “Portugal no seu melhor”. Ficam as imagens:

 

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É, gostamos de mostrar aquilo que as aldeias ainda têm de interessante, mas muitas das vezes somos privados de o fazer, pois acontecem coisas destas que são verdadeiros atentados à dignidade das aldeias. Pela certa que não faltariam locais mais apropriados para a colocação destes pequenos mamarrachos cuja companhia não agrada a ninguém, eu sei, mas as alminhas, por não se queixarem, não têm culpa. Desta vez não resisti e tive de trazer aqui as imagens que ficaram atrás.

 

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Que não sejam estas imagens as que manchem a imagem de Pondras. São de lamentar, mas têm solução e Pondras são muito mais, é uma aldeia interessante, quer na sua intimidade quer na sua beleza vista a alguma distância. Também as vistas que desde a aldeia se alcançam, recomenda-se a quem gosta de paisagens que vai mudando conforme a distância, mas onde predominam o verde e o azul, quer o do céu, quer o da terra que as montanhas mais distantes oferecem ou o reflexo das águas das albufeiras.

 

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E agora é aquela parte dedicada às nossas pesquisas, em que vasculhamos nos livros, nos documentos e na internet aquilo que se diz sobre as aldeias que vistamos. Claro que vamos sempre ao livro Montalegre, penso que lhe posso chamar monografia de Montalegre, onde encontrámos:

Vestígios de estilo românico nas Igrejas de S. Vicente da Chã, Viade e Tourém. É justo salientar que diversas outras igrejas datam dos primeiros tempos da monarquia e seriam incluídas nesse estilo. Acontece que foram sofrendo remodelações – muitas vezes a fundamentis – que as descaracterizaram. A última grande febre dos arranjos deu-se nos princípios do século XVIII e, por isso, os edifícios exibem datas dessa altura. Por exemplo: Pondras -17; Santo André- 1813; Vila da Ponte – 1710, etc.

 

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E continua:

Os cruzeiros são mais de 60 e se lhes juntarmos os calvários ainda existentes com as cruzes das estações da via sacra serão três vezes mais. Destacam-se o de Salto, Pondras, Mourilhe, Codessoso de Meixedo, de Montalegre, o da Interdependência da Vila da Ponte, Negrões, Meixedo, Sabuzedo, Santa Marinha, Santo André, Penedones, Antigo de Serraquinhos, Sezelhe, Travasços do Rio, Vila da Ponte, Bustelo e Parafita!

Pois esta imagem do cruzeiro escapou-nos, não sei porque razão, mas não a temos, talvez não o tivéssemos visto, o que é estranho ou então algum coisa, obstáculo ou outro nos impediu de tomar a imagem. Lamento mas não a tenho.

 

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E na página dedicada à freguesia de Pondras diz o seguinte:

Ocorre evidente discrepância sobre o hagiotopónimo desta freguesia. As inquirições de 18 tratam-na, e bem, por Santo Fins; o Catálogo de todas as Igrejas, 130, (reinado de D. Dinis) chamam-lhe, e mal, São Félix. Mais recentemente, voltámos, e bem, ao chamadouro correcto que é São Pedro Fins de Pondras. É provável que a confusão derive do tratamento dado na arquidiocese ao problema de São Pedro de Rates, dito primeiro bispo-fundador da Igreja de Braga, ou a D. Pedro, primeiro bispo-refundador da Igreja de Braga. De todo o modo, em Pondras, fazem festa ao príncipe dos Apóstolos, em 9 de Junho. É um caso significativo o modo de povoamento verificado visto que as principais povoações da freguesia, Pondras e Ormeche estão algo distantes do local da Igreja, por acaso (ou talvez não) junto do outeiro que foi um castro e onde demora a povoação de São Fins. (é esta a verdadeira grafia do hagiotopónimo que dá nome ao lugar onde se situa a igreja).

No cabeçalho do artigo, nos pontos de interesse, também se fala num relógio de sol em Pondras, a nossa objetiva também não o viu. Mais um lamento.

 

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Quanto à Toponímia de Montalegre, ao respeito da aldeia, diz o seguinte:

 

Pondras

Desde 2013 – União das Freguesias de Venda Nova e Pondras

Vem de “PONDERA” < PONDRA ou POLDRA. Este L de Poldra aparece por acção da reversa R: é o que se chama uma assimilação imperfeita.

Alguns toponimistas (eventuais imitadores de poldros e semelhantes raças cavalares) propõem para Poldras o radical de Poldra com o significado de égua jovem. Evidente ridiculez. Acontece que o nosso topónimo:

- 1258 Ponderas INQ 1513 explica claramente o latino neutro do plural (aqui tido por singular) pondera > pondra, com significado de peso (pondus). O facto de ser plural singularizado ajuda a ver que se trata de pedras separadas e pesadas para atravessar correntes de água. Os árabes arabizaram, como se esperava, o vocábulo e meteram-lhe o artigo al que também aceitamos. O caso das poldras é muito encontrável na evolução fonética (sem qualquer intervenção arábica) por influência das consoantes r e l como acima se disse.

Este nome justifica-se perfeitamente porque toda a freguesia se encontra situada na margem esquerda do Regavão e que só podiam atravessar em pedras passadeiras visto que não possuíam ponte. Talvez por isso a freguesia que é tão pequena se institui tão cedo.

 

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Ainda antes de entrámos na Toponímia Alegre que é parte integrante da Toponímia de Barroso, queria aqui fazer um aparte a este respeito. Como devem reparar, limito-me a citar aquilo que vem escrito na “Toponímia de Barroso”, por curiosidade, porque sempre gostei de saber a origem dos topónimos, ou nomes dos nossos lugares, no entanto não quer dizer que concorde, aceite ou valide tudo o que se lá diz, mas como é uma citação, limito-me a citar. Longe de mim de ser ou pretender ser um “toponimista”, mas parece-me que muitas das vezes o topónimo nada tem a ver com o significado que se vai buscar à origem da palavra que faz o topónimo. Parece-me e conheço muitos casos em que assim não é, mas, claro, temos que dar sempre o benefício da dúvida, ou então dizer como Firmino Aires, na Toponímia Flaviense a respeito dos argumentos utilizados por  J.L. de Vasconcelos, no Archeologo Português, sobre o topónimo da Rua da Trancada em Chaves, quando termina a sua citação dizendo: “… Os investigadores que o confirmem ou o refutem”.   Subscrevo esta!

 

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E na Toponímia Alegre temos o seguinte:

 

Pondras (Memórias Paroquiais de 1758):

(Sobre os habitantes)

“…lavradores de baixo bordo e limitada esfera mas soberbos, quase todos lagareiros de azeite em terras dos Alentejos e todos homens de alforge.”

Abade Miguel Vieira

 

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E continua:

Entre Pondras e Ormeche

Andam melros no namoro:

Eu levo por todo o lado

Saudades, amor e choro.

 

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E quase para finalizar. Sobre a aldeia de Pondras, encontrei uma página no facebook pertencente à “Associação Pondras em Movimento” e ao que parece é mesmo para por em movimento a população de Pondras, pelo menos a crer naquilo que a associação diz ter por missão: “Promover eventos de confraternização entre a povoação local”  e pela foto do cabeçalho, parece-me ter muita gente jovem. Esperemos que estes jovens ao partirem, deixem outros no seu lugar, porque sou dos que ainda acreditam neste tipo de associações sem fins lucrativos, embora, infelizmente, não costumem ter apoios ou ser acarinhadas por quem deveria ter esse dever. Não sei se é o caso, mas há algumas que conheço que assim é.  Fica o link para a página da associação no facebook: https://www.facebook.com/Associa%C3%A7%C3%A3o-Pondras-em-Movimento-148801851850059/

 

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E ficamos por aqui. Ficam ainda as habituais referências às nossas consultas e dizer-vos que as abordagens que já fizemos às aldeias e temas de Barroso estão agora no menu do topo do blog, mas também nos links da barra lateral. Se a sua aldeia não está lá, em breve passará por aqui num domingo próximo, e se não tem muito tempo para verificar se o blog tem alguma coisa de interesse, basta deixar o seu mail na caixa lateral do blog onde diz “Subscrever por e-mail”, que a SAPO encarregar-se-á de lhe mandar um mail por dia com o resumo das publicações, com toda a confidencialidade possível, pois nem nós teremos acesso à vossa identidade e mail.

 

BIBLIOGRAFIA

 

BAPTISTA, José Dias, Montalegre. Montalegre: Município de Montalegre, 2006.

BAPTISTA, José Dias, Toponímia de Barroso. Montalegre: Ecomuseu – Associação de Barroso, 2014.

 

 

WEBGRAFIA

 

https://digitarq.advrl.arquivos.pt/details?id=1067634

 

 

 

 

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