O Barroso aqui tão perto... Roteiro para um dia de visita - 4ª paragem
Ontem tínhamos ficado em Paradela do Rio, pois hoje vamos em direção à Ponte da Misarela, uma ponte que para além da sua beleza (ponte e envolvente) está fortemente ligada a tradições e lendas, mas antes, ainda temos uns quilómetros de estrada para percorrer e algumas breves paragens para fazer. A primeira, obrigatória, mesmo sem entrar dentro da aldeia, é em Ponteira. Aqui o penedio consegue misturar-se com a aldeia e em muitos casos, ser maior que as próprias casas, isto, se o penedo não fizer parte da própria casa. Mas isto contado é uma coisa e visto in loco é outra. Então há que lá ir para ver.
Também à Ponte da Misarela há que ir lá para a ver com a nossa maneira de ver. Digo isto porque é uma das pontes que fica no roteiro de qualquer fotógrafo que se preze e daí ser uma das pontes mais fotografadas e publicadas, mas uma coisa é a imagem que vemos na fotografia e outra bem diferente é viver a ponte de perto e ver os entornos, os cheiros e os sons que nunca saem registadas em fotografia.
Na grande maioria das vezes a fotografia congela um momento num enquadramento minimamente pensado e selecionado, metendo dentro apenas o que interessa e deixando de fora tudo aquilo que iria estragar o nosso cenário e, como se isso não bastasse ainda se lhe acrescenta um bocadinho de Photoshop para complementar o embelezamento. Nada tenho contra este procedimento, aliás eu próprio recorro a ele e sou da opinião que é aí que começa a arte da fotografia para deixar de ser um mero registo documental, mas admito que muitas das vezes não se transmite a realidade pura, pois falta a envolvente, faltam os cheiros e fragâncias, faltam os sons da natureza e, por muito selecionado que o olhar tenha sido, por muito esmerado que tenha sido o tratamento, quando nos deslocamos a um local que apenas conhecemos em fotografia, ficamos desiludidos com a realidade. Pois quanto à Ponte da Misarela garanto-vos que ainda não vi nenhuma fotografia (e já vi muitas) que consiga superar a realidade. Pode haver nelas todo o cuidado de enquadramento, todos os adornos de um tratamento, mas nenhuma superará a realidade de a ver e sentir in loco, de fazermos parte da paisagem, da envolvente, de sentir as fragâncias e ouvir as melodias, puras, da natureza. Assim, é obrigatório ir lá.
A Ponte da Misarela é sem qualquer dúvida um dos nossos tesouros do “Reino Maravilhoso” e, como todos os tesouros convém estar bem guardado e pouco acessível. A Ponte da Misarela também assim é. A modernidade de outros tempos deixou-a quase esquecida num recanto onde poucos agora chegam, e ainda bem, digo eu, mesmo que para descer até ela todos os santos ajudem, o problema está depois no regresso onde todos os santos nos abandonam. Não é coisa do outro mundo e penso que seja até propositado para abrir o apetite para as iguarias barrosãs, como se fosse necessário abrir o apetite para tal. Como dissemos ontem, a Ponte da Misarela, neste nosso passeio, é para ser vista e sentida na parte da manhã, visita que pela certa irá ser para estar e viver momentos únicos, daí ser natural que seja de alguma demora. Assim, quando estiver concluída a visita estará na hora de saborear o almoço, o que não é problema, pois na zona, junto às albufeiras, encontrará com facilidade um restaurante que espera por si.
E hoje ficamos por aqui, amanhã concluiremos este roteiro de um dia por terras barrosãs.