O Barroso aqui tão perto - Sacoselo
Sacoselo é a nossa aldeia barrosã de hoje, bem próxima da aldeia que deixámos aqui há 15 dias, a aldeia de Reigoso, embora Sacoselo já pertença à freguesia de Ferral. Assim, o nosso itinerário para chegar a esta aldeia, como sempre a partir da cidade de Chaves, será uma cópia do itinerário até Reigoso.
Tal como a aldeia de Reigoso, Sacoselo fica na transição entre o Barroso da Chã, o Barroso do Gerês, o Barroso do Rio e o Barroso de Salto e das Alturas. Fica mais ou menos ao centro das três Barragens (dos Pisões, Venda Nova e Padrela) a mais distante a dos Pisões a 9 km e a mais próxima a da Venda Nova a apenas 600 metros. E fica também entre dois dos rios mais importantes do concelho, o Cávado e o Rabagão, rios que alimentam as barragens atrás citadas.
Vamos ao nosso itinerário com partida da cidade de Chaves que tal como aconteceu com a aldeia de Reigoso optámos por ir pela EN103 (Estrada da Braga), com a aldeia de Sacoselo a 63 km. Não há nada que enganar, é seguir sempre a EN103, passa-se a Barragem dos Pisões, logo a seguir passa-se ao lado de Vila da Ponte e logo a seguir, coisa de 2 Km, vira-se à direita para Ladrugães, passa-se ao lado desta e a seguir vem a aldeia de Reigoso que temos de atravessar, já na saída a estrada bifurca à esquerda para a aldeia de Currais e à direita para Sacoselo, que fica 3 quilómetros mais à frente.
Para sermos mais exatos e para quem se guia pelas coordenadas, aqui ficam elas, mas também fica a seguir o nosso habitual mapa com o itinerário:
41º 42’ 22.36” N
7º 57’ 36.56” O
A aldeia fica implantada na vertente da montanha que descai para a barragem da Venda Nova e implanta-se entre os 797 e os 846 metros de altitude.
Embora este seja o nosso itinerário para o post de hoje, quando abordámos pela primeira vez Sacoselo, levávamos na agenda a visita às aldeias de Ladrugães, de Reigoso, de Currais e mais algumas após Sacoselo. Isto para vos dizer que já não ficámos surpreendidos com o que vimos em Sacoselo, pois as três aldeias que tínhamos visto antes já não deixavam margem para mais surpresas, em Sacoselo repetia-se a exuberância do verde das pastagens, as vistas lançadas mais além para o mar de montanhas, etc. Só não sentimos a presença da barragem da Venda Nova, como aconteceu em Currais, que embora a 600 metros de distância, as encostas das pequenas montanhas não a deixam ver .
Assim é natural que aldeias tão próximas partilhem das mesmas paisagens e do mesmo verde, no entanto têm sempre as suas singularidades que acabam por caracterizá-las, dando-lhes uma identidade própria, tal como acontece com os irmãos de uma família.
Já atrás salientámos o verde que rodeia a aldeia, hoje pintado maioritariamente pelas pastagens e algum arvoredo, carvalhos, na maioria, mas a quantidade de canastros que existem na aldeia são um testemunho que outrora o verde era resultante do cultivo da terra, do milho, talvez do linho e mais recentemente também da batata. Não sei quais seriam as culturas, mas milho havia de certeza, e ainda deve haver, isto a julgar pelo estado de conservação de alguns canastros e do novo canastro que por aqui começa a aparecer já com recurso ao tijolo furado à vista e estrutura de betão armado, embora ainda apoiados nas antigas estruturas e fundações de granito. Não são tão interessantes como os mais antigos, mas serão pela certa mais duradoiros.
No restante chamou-nos a atenção algumas soluções construtivas interessantes, sobretudo as mais antigas, que embora hoje degradadas e abandonados, o costume, não deixam de ter ainda autênticos exemplares da nossa arquitetura rural. Casario simples, maioritariamente. Ficou-nos o olhares numas escaleiras redondas em semicírculos quase perfeitos, uma outra já muito degradada mas deixou à vista às várias camadas “arqueológicas” da sua arquitetura e construção, com o granito na base, a estrutura ripada de madeira de suporte do estuque ou aglomerados de argila, a chapa zincada, o tapamento posterior de uma porta com pedra miúda, etc.
Ao nível das construções é também notória a utilização daquilo que o solo tem, neste caso o xisto vai aparecendo com alguma frequência, ou melhor, uma mistura de xisto com granito, este último sempre de maiores dimensões e em componentes estruturantes da construção. Nota-se também a ausência de muretes de suporte nas coberturas que era utilizado para remate e acomodar do colmo, tão habitual nas aldeias do planalto do Larouco e um pouco por todo o restante Barroso.
Intervenções novas com traços de modernidade também se fazem sentir e são bem visíveis, um no acrescento da capela em que o perpianho serrado de fabrico e perfeito, contrasta com o granito mais antigo da capela, de pedra mais irregular a pico de pedreiro, mas pelo menos a cor do granito é idêntica.
No mesmo largo da Igreja, ao lado também é notória uma intervenção recente na construção de uma fonte/bebedouro de animais e um tanque coberto/lavadouro público e muro de suporte, tudo em granito azul, serrado e amaciado, à exceção do muro de suporte. Dá-lhe um ar limpinho e até higiénico, mas perde a rusticidade do mais antigo. No entanto, nada a dizer sobre esta intervenção, sempre é mais interessante que os antigos lavadouros público “tipo” de tijolo rebocado. Dá-me é a impressão que este lavadouro já chegou tarde, pois é também notório que tem pouca utilização, ao contrário de outros tempos, em que era mesmo uma necessidade. Mas se calha até estou errado, pois não sei se este novo lavadouro veio substituir um aí existente ou se existia outro lavadouro antigo. Para rematar, tem traços de modernidade mas até embeleza o largo.
Ainda no mesmo largo há também uma nova construção/habitação seguindo os mesmos traços de modernidade, que se repetem numa ou outra reconstrução ou intervenção nova, mas na grande maioria a aldeia mantém a sua integridade de aldeia típica transmontana, embora já não tanto quanto a aldeia típica barrosã. Mas claro, que tudo isto vale o que vale, pois é apenas a minha opinião.
Quanto às dimensões da aldeia, não é grande mas também não é das mais pequenas. A entrada na aldeia (para quem vai de Reigoso ou Currais) faz-se pelo largo principal da aldeia, onde se encontra a capela e a fonte/bebedouro/lavadouro, desenvolvendo-se a aldeia à volta de um aglomerado concentrado.
Deixando as nossas observações pessoais, passemos àquilo que os livros e documentos dizem sobre a aldeia, pois na WEB nada encontrámos quanto à sua história ou outros que aqui possam interessar.
Pois no livro Montalegre, para além da referência à aldeia pertencer à freguesia de Ferral, nada mais consta. Reparei, no entanto, que no livro é grafada com Z, ou seja, Sacozelo, e não Sacoselo, como aparece nas placas, e mapa turístico de Montalegre e em alguns documentos de Montalegre, incluindo na página oficial do município e da Junta de Freguesia na WEB, embora na primeira apareça a aldeia grafada das duas formas, com S e com Z, quase parece que é conforme lhes dá na gana. Não é que esta questão, à primeira vista, seja importante, mas agora em plena era digital até já faz alguma diferença, principalmente em catalogações e pesquisas, tal como me aconteceu hoje, pois na WEB tive de pesquisar nas duas formas do topónimo, o dobro do trabalho. E também não fica bem na página oficial estar grafada de ambas as formas. Decidam-se por uma, “e prontos”!
Seja como for aqui no post é Sacoselo, pois foi assim que a vi nos mapas, embora se não a tivesse visto escrita e a tivesse de escrever pela primeira vez, escreveria Sacozelo, mas vamos à Toponímia de Barroso, que sendo do mesmo autor que o livro Montalegre, aposto que a aldeia está grafada com Z, ora vejamos:
Pois é, perdia a aposta… Sacoselo, na Toponímia de Barroso está grafada com S:
Sacoselo
É também (só pode ser) o adjetivo secoso (de seco+oso) por sua vez do latino SICCU, “seco”. Portanto, terreno seco. Tão secoso era o terreno que ainda mais seco ficou no diminutivo ELO = SECOSELO. E como já vimos , o E surdo e mudo deu lugar ao A um pouco mais fácil de pronunciar. Não temos o topónimo documentado, infelizmente.
Ora cá está, na toponímia foi-se à origem da palavra Sacoselo a partir da palavra secoso, que nos leva a terra seca. Pois eu estive por lá e não achei a terra assim tão seca, aliás a água até corria livremente por algumas valetas nas ruas da aldeia e os campos estão bem verdinhos. Pois se “selo” final de Sacoselo fosse “zelo” de Sacozelo, aí outro galo cantaria, pois, o zelo de zelar já tem outro significado que até seria bem mais nobre para a aldeia, atendendo ao que significa (empenho, cuidado, interesse, dedicação, desvelo…) Mas mais uma vez esta é a minha opinião e vale o que vale.
Ainda na Toponímia de Barroso, mas agora na “Alegre” há ainda duas referências a Sacoselo:
Muito vagar teve Deus
Quando fez Cela e Sirvozelo
São Pedro e Contim
Nogueiró e Sacoselo.
E ainda mais esta:
De Cabril são carvoeiros
Pata mansa de Sertelo;
Pica-burros em Pardieiros
E saca-bolsas de Sacoselo!
E como nas nossas pesquisas nada mais encontrámos e já deixámos por aqui as nossas impressões e observações, se calha até em demasia, pois há coisas que seria politicamente mais correto aceitá-las tal qual nos as servem, mas, como não me está no feitio comer tudo que me dão e já tenho uma idade em que já escolho aquilo que como, também já me são permitidos alguns devaneios, e depois, quando não há documentos e escritos sobre as aldeias e tenho que meter alguma coisa entre cada fotografia para elas não ficarem aqui a monte, estes devaneios até dão jeito. Sinceridade acima de tudo!
Pois finalizamos por aqui, mas antes ainda deixamos como sempre as referências às nossas consultas. Quanto aos links para as anteriores abordagens às aldeias e temas de Barroso, desde o último fim-de-semana, passaram a estar na barra lateral deste blog, tudo porque no último fim-de-semana não consegui publicar o post com os links. Só depois de os retirar é que consegui. Mas há males que vêm por bem ou para bem, e assim passamos a ter os links para o Barroso sempre visíveis no blog e não apenas uma vez por semana. Tal como já disse, se a sua aldeia ou a aldeia que procura não está na listagem, é porque ainda não passou por aqui, mas em breve passará.
BIBLIOGRAFIA
BAPTISTA, José Dias, (2006), Montalegre. Montalegre: Município de Montalegre.
BAPTISTA, José Dias, (2014), Toponímia de Barroso. Montalegre: Ecomuseu – Associação de Barroso.
WEBGRAFIA