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CHAVES

Olhares sobre o "Reino Maravilhoso"

22
Jul18

O Barroso aqui tão perto - São Fins


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O nosso destino de hoje de “O Barroso aqui tão perto” é para São Fins, uma das aldeias da margem da Barragem da Venda Nova e também ao lado da EN103.

 

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Iniciemos pela sua localização e os itinerários para lá chegar, como sempre a partir de Chaves.

 

Quanto à localização já fomos adiantando estar junta à barragem da Venda Nova, mesmo no início da barragem e também junta à EN103 que liga Chaves a Braga. Tem como aldeias vizinhas e mais próximas a aldeia de Currais (a Norte) do outro lado da barragem e a aldeia de Pondras (a Sul) do outro lado da EN103, ambas a cerca de 700m. Pertence à freguesia de Pondras, ou melhor, à união de freguesias de Venda Nova e Pondras (desde 2013), concelho de Montalegre. Trata-se de uma pequena aldeia com cerca de 30 construções, metades das quais habitações. A rondar os 700m de altitude é rodeada pela barragem e por terrenos agrícolas, todos tratados.

 

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Quanto ao itinerário recomendado, sendo uma das aldeias à beira da EN103, adivinha-se que seja esta estrada o melhor itinerário, a partir de Chaves,  para chegar até São Fins. De facto é esse o itinerário que recomendamos para uma ida direta até esta aldeia, num total de 60.7Km. Mas como alternativa deixamos também o itinerário via S. Caetano/Soutelinho da Raia, com passagem por Montalegre, Sezelhe, S. Pedro, Contim e logo a seguir apanha-se a EN103, junto à barragem dos Pisões, seguindo depois pelo primeiro itinerário até São Fins.

 

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Deixo o segundo itinerário porque, pessoalmente, se tivesse de ir a São Fins iria via Montalegre e não pela EN103. Não é por uma razão em especial, pois para quem não conhecer a região ou o Barroso, tão interessante é um itinerário como o outro, no entanto, para mim que já conheço a EN103 desde que nasci, têm mais interesse as estradas secundárias que passam por um Barroso menos conhecido.

 

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De facto, embora flaviense, para além de ter nascido à beirinha da EN103, durante oito anos, mais precisamente entre os meus sete e catorze anos, fiz uma vez por ano (ida e volta) a EN103 entre Chaves e Braga. Era uma estrada que tanto ia apreciando como ia penando. Apreciando pelas vistas lançadas para as barragens, primeiro a dos Pisões, depois a da Venda Nova e por último a de Salamonde.

 

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Mas não só pelas barragens, aliás as únicas que durante muitos anos conheci, mas também pela imponência e singularidade da Serra do Gerês que ao longo da estrada íamos acompanhando. Igualmente a imponência, imagine-se, dos cornos das vacas e touros da raça barrosã, que curiosamente só começavam a aparecer após a barragem da Venda Nova. Recordo a primeira vez que vi e ouvi falar desta raça, teria os meus oito ou nove anos, deveria eu estar entretido com o meu quilo de bananas, alimento que levava para tão longa viagem, quando o Almor, colega de viagem, chamou a atenção ao irmão mais novo mostrando-lhe as vacas barrosãs, e que eram barrosãs porque tinham os cornos grandes…

 

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Aprendi a lição com o Almor, que as conhecia bem, suponho que pela sua ligação a Tourém, a sua triste ligação a Tourém, onde em bebé ainda de colo perdeu a mãe, quando estava no seu colo, numa história de loucura, de arrepiar e que Bento da Cruz conta no romance “O Lobo Guerrilheiro”.

 

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Mas voltemos à EN103 e à interessante, mas penosa viagem entre Chaves e Braga nas carreiras cinzentas do “tio Magalhães”, que paravam em todas as aldeias e demoravam cerca de oito horas, se bem recordo, a vencer o caminho. Paragens interessantes, apenas a do Barracão onde se fazia um descanso de 5 a 10 minutos e depois a paragem da Venda Nova, onde se fazia também uma paragem, mais curta que a do Barracão, mas que dava para sair a terra.

 

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Como se estas penosas viagens não bastassem, durante anos a fio as minhas habituais deslocações para Montalegre eram sempre feitas pela EN103, pelos menos até inícios dos anos oitenta assim foi, mantinha-se apenas, com o mesmo agrado, a paragem no Barracão. De resto enjoei-a, não com os meus enjoos, mas com os enjoos de quem enjoava. Em suma, hoje em dia poder-se-ia dizer que eram viagens terceiro-mundistas, que então até o eram… mas era o único que tínhamos.

 

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Mas regressemos a São Fins, onde nessas viagens passei algumas vezes, mas sem dar pela aldeia, pois o meu sentido já estava na paragem da Venda Nova. Pois trata-se de uma pequena aldeia, mas tem tudo que as grandes aldeias têm e com um toque especial, principalmente vista à distância. Rodeada de bons terrenos agrícolas onde o verde domina, rodeada pela barragem onde o azul do céu se vai refletindo.  Tem igreja, cemitério, meia dúzia de canastros e alguma vida. Para a nossa recolha fotográfica, estivemos lá duas vezes, há dois anos e há um ano, de ambas as vezes encontrámos gente na sua lide diária. Gostámos do que vimos, de estar lá e de conversar um pouco, não muito, pois não queríamos incomodar quem trabalhava, num dia de verão, por sinal bem quente. Mas já a pensar no inverno.

 

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Nas nossas pesquisas, sobre São Fins encontrámos no livro Montalegre:

 

Ocorre evidente discrepância sobre o hagiotopónimo desta freguesia. As inquirições de 1258 tratam-na, e bem, por Santo Fins; o Catálogo de todas as Igrejas, 1320, (reinado de D. Dinis) chamam-lhe, e mal, São Félix. Mais recentemente, voltámos, e bem, ao chamadouro correcto que é São Pedro Fins de Pondras. É provável que a confusão derive do tratamento dado na arquidiocese ao problema de São Pedro de Rates, dito primeiro bispo-fundador da Igreja de Braga, ou a D. Pedro, primeiro bispo-refundador da Igreja de Braga. De todo o modo, em Pondras, fazem festa ao príncipe dos Apóstolos, em 29 de Junho. É um caso significativo o modo de povoamento verificado visto que as principais povoações da freguesia, Pondras e Ormeche estão algo distantes do local da Igreja, por acaso (ou talvez não) junto do outeiro que foi um castro e onde demora a povoação de São Fins. (é esta a verdadeira grafia do hagiotopónimo que dá nome ao lugar onde se situa a igreja).   

 

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Na Toponímia de Barroso encontrámos o seguinte:

 

É outro São Pedro, ou antes, São Félix e, ao contrário do que por aí se diz, já era orago da freguesia de Pondras no reinado de D. Dinis.

 

Acontece que o culto ao mártir de Gerona São Félix, do latino Felice > Feiz > Fiiz > Fins  levou o povo a festeja-lo justamente no dia em que se festeja na igreja de São Pedro in Vinculis, em Roma, as cadeiras de ferro que agrilhoavam São Pedro após a perseguição de Herodes Agripa. A ignorância redundou na convicção de que se tratava de um só Santo. E daí o São Pedro Fins, orago da freguesia de Pondras. O hagiotopónimo deve, portanto, escrever-se São Fins! E não Sanfins.

 

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Na Toponímia Alegre, uma quadra:

 

Os de Reigoso não prestam,

Os de Currais para lá vão:

E vivam os de São Fins,

Que ainda vão tendo mão.

 

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Aproveitando a deixa, também Lourenço Fontes, na Etnografia Transmontana I, nas alcunhas das aldeias faz uma referência a São Fins, igualmente numa quadra:

 

Chinos de Currais

Chuços de Reigoso,

Laregos de S. Fins,

Bichos de Ormeche.

 

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E bem queria deixar por aqui mais um bocadinho sobre São Fins, mas como aldeia pequena, também a informação disponível é pequena, ou pouca. Bem tentámos e procurámos em toda a documentação que temos, o mesmo na internet, mas nada. Ficamos então por aqui, também com as imagens possíveis.

 

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E ficamos por aqui. Ficam ainda as habituais referências às nossas consultas e dizer-vos que as abordagens que já fizemos às aldeias e temas de Barroso estão agora no menu do topo do blog, mas também nos links da barra lateral. Se a sua aldeia não está lá, em breve passará por aqui num domingo próximo, e se não tem muito tempo para verificar se o blog tem alguma coisa de interesse, basta deixar o seu mail na caixa lateral do blog onde diz “Subscrever por e-mail”, que a SAPO encarregar-se-á de lhe mandar um mail por dia com o resumo das publicações, com toda a confidencialidade possível, pois nem nós teremos acesso ao vosso mail.

 

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BIBLIOGRAFIA

 

BAPTISTA, José Dias, Montalegre. Montalegre: Município de Montalegre, 2006.

BAPTISTA, José Dias, Toponímia de Barroso. Montalegre: Ecomuseu – Associação de Barroso, 2014.

FONTES, Lourenço, Etnografia Transmontana I – Crenças e Tradições de Barroso, edição do autor, Montalegre, 1974.

 

 

 

2 comentários

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    Fer.Ribeiro

    22.07.18

    Caro Amiel Bragança, obrigado pelo seu comentário. Tenho pena de não ter conhecido o Barroso antes das barragens, principalmente toda aquela área da barragem dos Pisões. Tento imaginar como seria, mas não é a mesma coisa. Fiz a viagem Chaves-Braga entre os meus 7 e os 14 anos, uma vez por ano a caminho da praia dos flavienses (Póvoa e Varzim) e sim, valia a pena pela paisagem. Quando comprei o meu primeiro carro e fiz a primeira viagem ao Porto com ele, no regresso quis fazer o regresso pela N103, e fiz, e de novo gostei, já que me acompanhava não gostou tanto, muita curva para um regresso a casa... Curioso que a N103 serve de cenário para "Os Salteadores" de Jorge de Sena, precisamente num regresso das Barragens com passagem por Chaves, Barragens às quais também Jorge de Sena esteve ligado como Eng. Civil. Uma estrada que tem os seus encantos e que ainda hoje cumpre a sua missão de ligar o Barroso a Chaves, mas não é a melhor para se conhecer o Barroso. Forte abraço.
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