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CHAVES

Olhares sobre o "Reino Maravilhoso"

27
Mar16

O Barroso aqui tão perto... Solveira


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Cá estamos de novo no Barroso, em mais uma aldeia a caminho de Montalegre, esta dá pelo nome de Solveira.

 

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Mas vamos à história, primeiro a minha, a que retenho de Solveira. Embora hoje Solveira nos fique no caminho de Montalegre, nem sempre foi assim. Graças à minha família da parte materna ter toda origem em Montalegre, desde muito cedo que a Vila estava nos meus destinos do Natal e do Sr. da Piedade, mas também parte das férias grandes. Decorriam então os anos 60 e 70 do Séc. passado e as idas a Montalegre eram feitas nas carreiras de Braga, pela Nacional 103. Primeiro de Chaves até ao Barracão, e depois noutra camioneta do Barracão até Montalegre. Só muito mais tarde, já em finais dos anos 70 e anos 80 é que começámos  a utilizar a “estrada de Soutelinho da Raia”, e aí sim, descobri também pela primeira vez a aldeia de Solveira, com a estrada a passar pela a aldeia.

 

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Contudo os arranjos da estrada entre Montalegre e o concelho de Chaves fez com que em Solveira a estrada tivesse uma variante, a passar ao lado da aldeia, e de novo Solveira ficou apartada das nossas vistas e das nossas passagens. Ia mantendo na memória uma aldeia interessante no seu casario, cheia de vida, pelo menos na estrada (rua) que então a atravessava, onde havia sempre muita gente e animais e daí a passagem por lá se fazer com velocidades muito reduzidas.

 

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Pois há dois dias fui à procura dessa aldeia que retinha na memória e embora quase tudo se mantenha como quando a conheci, falta-lhe a essência, ou seja, a vida nas ruas mas também nas casas. Solveira é também uma das aldeias que sofre do mal que mais as afeta hoje em dia – o despovoamento e envelhecimento da população.

 

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Mas ainda tem alguma vida que até ainda mantém algumas tradições de pé, como a via-crúcis ou via-sacra que consiste na sexta-feira santa os fiéis percorrerem as estações (ou passos) da via sacra, quinze no total, representando a caminhada de Jesus a carregar a cruz desde o Pretório de Pilatos até o monte Calvário, em suma com a primeira estação na representação da condenação à morte de Jesus e a última em representação de Jesus a ressuscitar dos mortos. Em Solveira a via-crúcis faz-se precisamente ao longo da antiga estrada que ligava Montalegre a Chaves.

 

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Há dois dias, sexta-feira santa, quando por lá fomos (a Solveira), soubemos do acontecimento e fomos fazendo sala até que o mesmo acontecesse. Sorte nossa a de termos encontrado o antigo ferreiro da aldeia, hoje reformado mas que se dedica ainda com amor e carinho às coisas de “ferro” e em “ferro”, como quem diz de qualquer metal. Engenhos, geringonças, antigos utensílios domésticos ou de trabalho, aparelhos, ferramentas. Um autêntico museu do metal, mas não só, pois há também as malhadeiras, penso que sete, todas a funcionar.Não as vimos mas ficaram programadas para uma próxima visita. Mas não é só o museu e o juntar peças de metal, pois o Sr. Jaime quer tudo como deve de ser e coisas avariadas ou que não funcionam não têm lugar no seu museu e daí, passar o seu tempo livre, agora todo, no concerto e arranjo das peças, e se tiver de as construir/fabricar, constrói-as ou fabrica-as, tal como aconteceu com a fechadura para a chave gigante que comprou na cidade de Chaves na feira das velharias.

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Junto a um dos largos principais da aldeia, aquele que tem o grande tanque e fonte comunitárias, onde o longo lavadoiro corrido ao longo de todo o tanque nos faz imaginar a vida que o largo não teria quando o mesmo era utilizado pelas mulheres a lavar a roupa de casa, onde suponho que em frente o Sr.Jaime teria a sua oficina de ferreiro, no tal sítio onde hoje abriga o seu museu. Teríamos conversa e apreciação das peças de museu do Sr. Jaime para toda a tarde, mas havia a via-crúcis à nossa espera, mas já se sabe que em terras do Barroso e um pouco por todos os Trás-os-Montes, as boas regras da hospitalidade mandam oferecer e beber um copo com as visitas que também teria daquelas coisas boas como bucha se não fosse dia de jejum, que por estas bandas se cumpre com o rigor que a Igreja manda.

 

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Por falar em copos, curiosamente e coisa rara no Barroso, Solveira produziu (não sei se ainda produz) vinho. Com o Larouco ali bem perto, mas goza ainda do tal microclima de que já falámos em Vilar de Perdizes, e daí o vinho e daí também alguns lagares que vimos em algumas adegas em ruínas.

 

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Por falar em Vilar de Perdizes, para quem vai de Chaves para Montalegre, ainda antes de chegar a Vilar de Perdizes a estrada atravessa um rio que “corre ao contrário”. O Rio segundo apurei nas cartas disponíveis, incluindo as militares,  e nas pesquisas que fiz, o rio dá pelo nome de Rio Assureira. Pois este rio que hoje também trago aqui porque também passa ao lado, bem perto, de Solveira além de correr ao contrário na maior parte dos escritos que encontrei, dão-no como sendo natural e a percorrer terras do Parque Natural de Montesinho, no distrito de Bragança. Mesmo nos quadros dedicados aos rios, o Rio Assureira é sempre mencionado como sendo de Bragança. Assim ou há dois rios com o mesmo topónimo ou então qualquer coisa está aqui errada, tal como correr ao contrário. Mas esta do correu ao contrário, coisas do relevo, até tem explicação.

 

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Geralmente os nosso rios nascem em Portugal e vão desaguar ao mar ou são afluentes de outros rios e, correm de norte para sul ou de Nascente para Poente. Se nascem em Espanha, acabam por seguir os mesmos caminhos e acabam por entrar em Portugal para seguirem o caminho do mar. Pois este nosso rio, o Rio Assureira, nasce em Portugal na Serra do Larouco, bem próximo da nascente do Rio Cávado. Embora inicialmente, tal como os outros,  tome a direção do mar, dá uma reviravolta para passar a correr em direção da Galiza, servindo mesmo de fronteira entre Portugal e Espanha (Galiza) ao longo de alguns poucos quilómetros (perto de 4km) para logo entrar em Espanha onde acaba por morrer quando se torna afluente de um outro Rio, também nascido no Larouco, o Rio Babul que, próximo de Verin, também é afluente do nosso Rio Tâmega. Curiosa as voltas que as águas dos rios dão, daí não admirar que o nosso Tâmega, em Chaves, em tempo de cheias, se enfureça e engrosse tanto, pois além das águas que o vale do Tâmega recolhe na Galiza, recolhe ainda grande parte das águas do Larouco e do planalto do Alto Barroso.

 

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Mas voltemos a Solveira, que embora hoje muito despovoada se nota ter sido uma grande aldeia, onde se destacam algumas construções, como a Igreja, o tal tanque comunitário, uma curiosa torre sineira utilizada para, noutros tempos, chamar as vezeiras. Segundo informações da aldeia a torre sineira não se encontra no seu sítio original. Há ainda o forno comunitário do povo para turista ver e fotografar, o cruzeiro e tanque/fonte anexa, uma fonte de mergulho com pátio pavimentado e o tradicional casario do barroso, algum ainda com a estrutura em pedra das antigas coberturas de colmo.

 

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Quanto a alguns dados oficiais da aldeia, recolhidos na página oficial da C.M. de Montalegre, na internet, a população presente de Solveira (Censos 2011) é de 150 habitantes, o Orago é Stª Eufénia e é a mais recente freguesia de Montalegre, saída de Vilar de Perdizes. O seu topónimo muito antigo provém do étimo sorbu + aria – sorbaria, planta semelhante ao buxo muito utilizada em obras de marcenaria.

 

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Acrescenta ainda a pág. da internet da C.M. de Montalegre: “o território desta freguesia foi habitado há muitos séculos. Aliás, a toponímia circundante certifica-o. Primeiro o sítio das Antas que nos levam até à pré-história; depois o próprio assentamento da povoação no Outeiro – altarium; depois o castro do Soutelo, a Cidadonha e finalmente Paio Mantela, uns e outros tradicionalmente considerados locais habitados. Solveira ao fazer parte da honra de Vilar de Perdizes estava abrigada a mandar homens à guarda do Castelo da Piconha, pelo menos até ao reinado de D. João I, mas há quem pense que a obrigação durou até à Restauração. Entre 1841 e 1853 pertenceu ao concelho de Ervededo que foi couto criado por D. Afonso Henriques para o seu amigo Arcebispo D. Paio Mendes, em 1132, tal como fizera ao Couto de Dornelas”.

 

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E prontos, tal como se costuma dizer por cá quando a coisa está concluída. Hoje ficam 14 imagens de Solveira, mas com muitas mais em arquivo para numa próxima oportunidade ficarem por aqui mais algumas. Restam os agradecimentos ao Sr. Jaime por nos ter recebido e mostrado o seu museu mas também à simpatia da população com quem fomos falando e um abraço para um seguidor nosso, natural de Solveira e emigrante em França, o Sr. João André que ainda há dias nos pedia Solveira. Pois aqui está, tal como prometemos, a caminho de Montalegre. Depois logo se verá. Para a semana contamos ir até Stº André. Até lá.

 

 

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