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CHAVES

Olhares sobre o "Reino Maravilhoso"

25
Ago19

O Barroso aqui tão perto - Tourém


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Já várias vezes o disse aqui no blog que as minhas idas a Montalegre sempre foram frequentes, quase desde que nasci, principalmente por altura das festas (Natal, Páscoa e Sr. da Piedade), tudo, porque toda a minha família materna é de Montalegre, inclusive, até os meus irmãos nasceram lá.

 

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Durante o meu tempo de criança e adolescente, para mim, o Barroso era Montalegre e todo o território entre Chaves e Montalegre, e pouco mais, a não ser as descidas que fazia anualmente até ao Sr. da Piedade por altura das festas, a partir de aí, o território barrosão era para mim desconhecido, exceção para uma ida a Tourém, deveria ter eu os meus 12 ou 13 anos, não mais.

 

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Dessa primeira ida a Tourém, apenas recordo um episódio. De vez em quando o meu tio de Montalegre, acho que conhecendo a minha curiosidade por conhecer novas terras, convidava-me para lhe fazer companhia nas idas a algumas aldeias, geralmente próximas. “Oh rapaz, querer ir a Stº André!?” E claro, cá o rapaz queria sempre. Até que chegou esse dia de ir a Tourém. Então, depois de uma longa viagem, que hoje sei ser apenas de 28 km, mas que, com as estradas e viaturas de então parecia alongar as distâncias, lá cheguei a Tourém.

 

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Chagados a Tourém, o meu tio foi tratar dos assuntos que tinha a tratar enquanto que eu fiquei por ali, dentro e fora do carro, na rua principal, mas sem me distanciar muito, quando nisto, ao fundo da rua começa a aparecer uma manada bem volumosa de vacas. Recolhi ao carro, não fosse uma vaca tresloucada marrar em mim, e pus-me a apreciar a sua passagem. Espanto meu, que ao longo da rua umas vacas iam ficando à porta das casas, umas tantas ali, outras em frente, algumas mais além, assim ao longo de toda a rua, até que as portas se abriam e elas iam desaparecendo da rua que acabou por ficar de novo limpa de vacas. Estava ansioso pela chegada do meu tio para lhe contar aquilo que tinha visto, se calha nem ia acreditar em mim. Chegou, contei-lhe o sucedido e riu-se. Explicou-me depois que nas aldeias era assim, em vez de irem todos os donos das vacas com elas para o monte e pastagens, ia só um com elas todas, e nos dias seguintes, à vez, iam outros donos. Em suma, explicou-me o que era essa coisa tão tradicional do comunitarismo do Barroso que se chama vezeira, mas houve ainda uma pergunta minha que ficou sem resposta, pelo menos satisfatória - Oh tio,  e como é que as vacas sabem qual é a casa delas para pararem lá !? – A resposta foi pronta: - Elas lá sabem!

 

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Mas se Tourém, fisicamente, era para mim desconhecida, já não o era no seu nome, pois que em todas as conversas e estórias sobre o Barroso, mais sedo ou mais tarde lá vinha Tourém à baila, e ainda continua a ser assim. Quer em vizinhas e amigos de casa dos meus pais que eram de lá, em colegas, nas estórias, uma delas bem macabra e que tenho registada desde os meus 7 ou 8 anos de idade, a estória de um louco que mata uma jovem mãe com o bebé ao colo, estória que me foi contada pelo próprio bebé (quando já tinha os seus 7 ou 8 anos, aquando nos conhecemos). Estória que é também contada por Bento da Cruz no “Lobo Guerrilheiro”. Mas para além deste triste episódio, Tourém é falada por causas e coisas mais nobres, por exemplo na literatura, para Além de Bento da Cruz, também por Miguel Torga, com referências no seu diário, pela sua História, pelo Couto Misto (Mixto) dada a proximidade e o caminho privilegiado entre Tourém e o Couto Misto, pela Casa dos Braganças, e pela sua fama de aldeia típica barrosã, entre outras referências.

 

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Assim, da afamada aldeia de Tourém saiam convites constantes para ir até lá conhecê-la, tendo em conta que na minha primeira ida aos 12 anos não contou para a conhecer, pois para além do episódio da vezeira, mais nada recordava. Aconteceu ir por lá já nos anos 90, inícios, uma noite e um dia lá passados com amigos pescadores, no dia de abertura de pesca, ainda na altura da fotografia analógica em que gastei o rolo todo com imagens dos amigos pescadores e da pescaria, apenas duas trutas, mas grandes, que embora só um as tivesse pescado, todos os pescadores fizeram questão de tirar uma foto com elas, até eu que nem sequer peguei numa cana.

 

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Das restantes vezes que fui por lá, mais recentemente, já foi mesmo para visitar Tourém e para a registar em imagem. Segundo o registo do meu arquivo fotográfico, fui lá num passeio de fotógrafos da Associação de Fotografia  Lumbudus, em junho de 2014, depois em setembro de 2016, nesta data já para recolha de imagens para esta rubrica de “O Barroso aqui tão perto”.

 

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Em novembro de 2017 fui por lá de novo, mas desta vez sem intenção, fui levado por acaso numa estória também caricata. Acontece que tinha um Congresso de Animação Sociocultural em Paredes de Coura. Como sempre, nestes congressos de animação tenho por companhia o Padre Lourenço Fontes. Previamente fiz o meu roteiro para Paredes de Coura, que tendo em conta que tinha de apanhar o Padre Fontes em Vilar de Perdizes, se mostrava mais vantajoso ir até Paredes de Coura, via Galiza, Xinzo de Lima, Cela Nova, Lindoso, etc. Ou mesmo, uma vez que já partimos com certo atraso, havia a opção da autovia galega Via Ourense até Valença, mais distante, mas mais rápido. Ora chegado a Vilar de Perdizes, o Padre Fontes disse-me que conhecia uns atalhos, muito mais perto e quase metade do caminho. E lá fomos pelos atalhos quase sempre junto á fronteira, por estradas bem secundárias. Pouco depois, sempre a seguir as indicações do P.Fontes, vira aqui, vai por ali, cruza acolá, dou comigo numa aldeia, primeiro estranha, mas que logo se tornou familiar. – Oh Padre, estamos em Tourém! É por aqui!?. - Anda lá, diz-me ele, tenho que ir dar um recado à minha irmã. Recado que meteu merenda porque já era a hora dela e um recado/visita breve à Casa dos Braganças. Desvio que nos valeu quase 3 horas de atraso, mas que, acabou por me levar mais uma vez a Tourém a agendar outra ida, pois nesse desvio vi a igreja do cemitério que acabaria por me levar até Tourém mais tarde, em março deste ano de 2019. Aí sim, embora não concluído porque um levantamento fotográfico de uma aldeia nunca se dá por concluído, mas com material suficiente para este post.   

 

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Mas entremos em Tourém, agora com as palavras de Miguel Torga, que tal como eu não chegou ir por lá uma vez:

 

 

Tourém, 7 de Abril de 1968

 

A intensidade de certos sentimentos mede-se pelo pudor de que os rodeamos. Quanto menos se exibem, mais fundo latejam. Mas, ao contrário, só na denúncia clamorosa de todos os atentados contra o objecto dos nossos afectos preservamos a sua pureza. A indignação publicamente manifestada é, nesse caso, a única prova de fidelidade do coração.

Azoeirado diariamente pelos papagaios do amor acrisolado à pátria, que açaimam, prendem ou liquidam os que duvidam da cantilena e erguem, ofendidos, a voz acusadora, é com inveja que olho os habitantes felizes deste pequenino enclave barrosão, que a grandeza espanhola nunca conseguiu deslumbrar nem devorar. Sempre que atravesso o istmo que o liga ao corpo nação, percorro as ruas da aldeia pavimentadas de cagalhetas, e entro na igreja onde o escudo real é uma ara de pedra de fervorosa celebração lusitana, apetece-me assentar arraiais e ficar a ser português assim o resto da vida. Unido visceralmente à matriz por um cordão umbilical de ternura, e ao mesmo tempo desterrado, esquecido, analfabeto, civicamente impedido de ouvir, e culturalmente desobrigado a responder.

Miguel Torga, In Diário X

 

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Tourém, Barroso, 2 de Setembro de 1990

 

LIMITE

 

Pátria até que os meus pés

Se magoem no chão.

Até que o coração

Bata descompassado.

Até que eu não entenda

A voz livre do vento

E o silêncio tolhido

Das penedias.

Até que a minha sede

Não reconheça fontes.

Até que seja outro

E para outros

O aceno ancestral dos horizontes.

 

Miguel Torga, In Diário XVI

 

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Quanto às minhas impressões pessoais sobre Tourém, que dizer!? Com a noção de que me ficarei sempre aquém das impressões e do sentimento, talvez me fique só pelos realces. Primeiro o do caminho até Tourém, desde que se deixámos para trás Covelães, pareceu-me estar a entrar num outro espaço, numa outra dimensão, numa outra realidade. Já era fim da tarde,  com o sol já descaído a começar a doirar o céu. Uma paisagem espantosa, surpreendente que tinha tanto de belo como de misteriosa, parecia estarmos num outro planeta, só faltou mesmo ouvir as canções de embalar da lenda da Serra da Mourela, a serra que tem todos estes encantos e ainda me falta ver toda aquela paisagem coberta de neve. Já em Tourém destaco as capelas, a igreja do cemitério, a via sacra, o forno do povo, as ruas e ruelas, a Casa dos Braganças, o “Museu etnográfico” da irmã do Padre Fontes, largo principal, as ruas e ruelas, a vista geral da aldeia e o por do sol sobre a barragem que faz fronteira com a Galiza e por último a simpatia da sua gente.

 

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E já que atrás mencionámos a Lenda da Serra da Mourela, aqui fica ela, para quem não conhece:

 

“A Lenda da Serra da Mourela (Pedra da Moura)”

«Conta-se que, quando os mouros foram expulsos pelos cristãos das terras do norte, havia uma mulher moura que estava grávida e que teve as dores de parto no momento da fuga. Escondeu-se, por isso, numa gruta para puder ter o filho. Todos os mouros foram embora, mas ela ficou naquela gruta para criar o filho, e o povo diz que durante muito tempo se ouviu a moura a entoar bonitas canções de embalar. A gruta ficou assim conhecida como a “Pedra da Moura” e a serra onde ela está situada é a Serra da Mourela. Fica entre as aldeias de Pitões das Júnias e Tourém, no concelho de Montalegre.»

 

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E agora vamos às nossas pesquisas sobre o que encontrámos nos escritos sobre Tourém. Assim na monografia Montalegre encontrámos:

 

“Barroso constitui um mosaico de paisagens edénicas. Podemos dizer que em cada canto há um novo encanto. Basta percorrer as nossas estradas municipais ou vicinais através do planalto para redescobrirmos mil recantos admiráveis. A título de exemplo referimos a estrada de Fafião a Cabril e daqui aos Padrões ou a Cela e Sirvoselo; o trajecto de Paradela do Rio a Outeiro e Parada; a travessia da Mourela com visita ao Mosteiro de Pitões e à extinta freguesia de São Vicente do Gerês ou ao São João da Fraga; a visita a Tourém que tanta importância teve durante a Idade Média no seu relacionamento com o castelo da Piconha e o Couto Misto através do caminho neutral; uma viagem a Cervos, Arcos e ao célebre e celebrado Pindo – mau passo do inevitável acesso à ribeira-tâmega que foi valhacouto de ladrões e malfeitores; uma passagem, ainda que breve, por capelinhas carregadas de história e lenda, do sagrado e do profano, de mistério

 e dogma, de misticismo e magia: “Alvas ermidinhas sob azuis magoados, vejo-vos de longe numa adoração, como ninhos brancos de ideal pousados Lá nesses fragosos montes escalvados, onde não há água nem germina o pão.

“Lá nos altos montes sem trigais nem vinhas, Sem o bafo impuro que dos homens vem, É que a Mãe de Cristo com as andorinhas e as estrelas d´oiro mesmo ali vizinhas, Num casebre térreo se acomoda bem.””

 

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E continua:

 

“Os achados de conjuntos monetários mais importantes são os de Penedones (doze denários de prata que se perderam), da Vila da Ponte (cinco excelentes denários de prata e alguns bronzes médios), Minas da Borralha com mais de 3 mil médios bronzes e Montalegre, com mais de novecentas peças, quase todas denários com magro banho de prata. As moedas destes achados não ultrapassam o século III. Da mesma altura são as aras votivas a várias divindades, que os romanos acolheram, como o Deus Larouco (Vilar de Perdizes); outras dedicadas ao deus Júpiter (Vilar de Perdizes e Chã); e outras mais, anepígrafas, em Pitões e Tourém.”

 

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E ainda:

 

“Há muitas sepulturas líticas móveis, talvez os monumentos mais antigos, e sepulturas fi xas. Das móveis temos exemplos em Bobadela, Sapiãos, Bustelo (Vila da Ponte), Tourém, Pitões, Santo Adrião (Montalegre) e, sobretudo, os enigmáticos arcões graníticos de Salto, a merecerem um estudo mais atento.”

 

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E mais esta:

 

“Vestígios de estilo românico nas Igrejas de S. Vicente da Chã, Viade e Tourém. É justo salientar que diversas outras igrejas datam dos primeiros tempos da monarquia e seriam incluídas nesse estilo. Acontece que foram sofrendo remodelações – muitas vezes a fundamentis – que as descaracterizaram.”

 

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E esta:

 

“Das ermidinhas, que o estro de Junqueiro abençoa, destacamos quer pela beleza paisagística do local, quer pelo encanto do conjunto “Construção humana e Natureza envolvente”: Nossa Senhora das Neves (São Lourenço) e São Tiago (Fafião), na freguesia de Cabril; Senhor do Alívio, em Salto; Senhora do Monte (Serra do Barroso); São Frutuoso (Montalegre); Santo Amaro (Donões); Santa Marinha, em Vilar de Perdizes; S. Domingos, em Morgade; Nossa Senhora de Galegos, no Cortiço (Cervos); São João da Fraga, em Pitões; São Lourenço, em Tourém, e Nossa Senhora da Vila de Abril, em São Pedro (Contim).”

 

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E continua:

 

“Há várias povoações com núcleos de construções tradicionais, bem conservados, muitíssimo belos e dignos de ajuda para a melhor preservação do património construído. Estão neste caso Fafião, Pincães, Salto (diversos lugares de freguesia) Currais, Vila da Ponte, Viade, Carvalhais, Cervos, Donões, Gralhas, Tourém, Pitões, Parada e Sirvoselo. Em todas elas há núcleos construídos dignos de integrar os roteiros de visita ao património que o Ecomuseu defende.”

 

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E esta:

 

“Um bispo no exílio” - século XIX Um bispo de Ourense, da importante família galega dos Quevedos, foi ameaçado de morte no advento do liberalismo (princípios do séc. XIX). Abandonou o Reino de Galiza e a sua catedral e exilou-se na povoação de Tourém. Aí viveu em paz muitos anos porque, residindo nos limites da sua diocese, estva contudo em país estranho, onde o não podiam prender nem condenar.

 

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Ainda na monografia “Montalegre” num capítulo mais alargado dedicado à freguesia, além dos dados respeitante à mesma temos:

 

TOURÉM

Área: 17 km²

Densidade Populacional: 10.9 hab/ km²

População Presente: 162

Orago: São Pedro

Pontos Turísticos: Castelo da Piconha; Castro; Forno; Igreja; Vestígios da Sala do Bispo Galego; Capela de Santa Ana; Casas dos Braganças e do Prof. Barros.

Lugares da Freguesia: (1) Tourém

 

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E ainda:

 

Ao refazermos a nossa história regional é justo colocar no primeiro capítulo a freguesia de Tourém. Recebeu foral de D. Sancho I para manutenção da vigilância fronteiriça a partir do Castelo da Piconha e da sua ligação, num caminho neutral, ao coração do Couto Misto formado pelas povoações de Santiago, Rubiás e Meaus.

 

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E continua:

 

Há mesmo notícia certa de que o Sancho Povoador por ali passou, antes, obviamente, de 1211: “…quando ibat rex domino Sanchio pro a Sancte Pelagio de Piconia…” Mesmo após o estabelecimento definitivo da capitalidade das terras de Barroso em Montalegre, as prerrogativas e privilégios de Tourém foram mantidos: basta dizer que as chamadas “honras” ficaram oneradas em fornecer homens para a guarnição da Piconha. Aliás, a defesa do sítio era questão primordial para toda a população de Tourém como se verifica pelos orifícios abertos nas testadas das casas, sobre as portas das habitações, de modo a evitarem assaltos, cercos e esperas ou emboscadas.

 

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E continua:

 

Dado de inusitada curiosidade é o facto da igreja muito antiga de São Pedro (com vestígios românicos) não aparecer no catálogo de 1320. Pois não aparece porque pertencia, no espiritual, à Diocese de Ourense. Por esse motivo (é da tradição e tido como certo) que, a dada altura, no florescimento do Liberalismo Galego, um bispo de Ourense, da família Quevedo, se refugiou em Tourém, por razões políticas. O bispo, estando em país estranho, estava em terra própria, porque Tourém integrava a Diocese de Ourense.

 

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Para terminar:

 

Tourém, muito antes do foral, foi honrada numa escritura de doação de bens ao Mosteiro de Celanova, pelos anos de Cristo de 1065!

 

É talvez a freguesia mais cosmopolita da zona com visitas diárias dos “labregos” e “turistas” da Galiza Irmã! Estes forasteiros podem desfrutar, com toda a comodidade das instalações legadas pela Casa dos Braganças, reconstruída para turismo de habitação. Nesta aldeia a corte do boi do povo foi transformada em pólo do Ecomuseu onde está retratada a questão do contrabando, do couto misto, dos exilados políticos e da relação transfronteiriça.

 

1600-tourem (10)

 

Quanto à Toponímia de Barroso, temos:

 

TOURÉM

É o genitivo do nome pessoal de origem germânica Teodoredus; é, por conseguinte, uma “villa”  Teodoredi >Teorey > Toerey > Toorei > Tourém.

O Facto de Tourém ter andado dependente da diocese de Ourense constitui uma boa razão para a flata de documentos sobre essa povoação barrosã. De todo o modo, sobre este território da Piconha os “historiadores” que vamos tendo continuam a passar erros grosseiros a papel químico, uns sobre outros. A fronteira nunca “desceu” para cá da fronteira actual! Pelo contrário, diz-se em

- 1258 “nos vestri inquisitores non ivimos ad villam de Requiaes, de qua vestra est, ut didiscimus a Johanne Lupi et Martino Martini, judice de Barroso, tercia pars ipsius ville et casal do Loba quod integrum debet esse de Portugal et ville de Toerey, de qua abet duas partes tocius ville et est patronus ecclesie, et de Paradela debet habere meditatem vocis et calumpnie si moratus fuerit ibi unus homo vestri. Item, de Meyanos ets tercia tocius ville Domini Regis et de Sancho Plagio de tota prole que exierit pro ad dominum debet inde habere Dominus Rex terciam partem…Item de Ruvyaes (Rubiás!) est tercia pars tocius ville Domini Regis.»

E por aí se vê que é fácil apanhar sapos e néscios. Decidi colocar aí o texto para satisfação do meu amigo Luís Mañá e de todo o povo do Couto Misto… Não se deixem cair em cantigas bacocas: leiam os documentos coevos.

Em 1258 o rei de Portugal deveria receber os foros de Casal da Loba (Requiás) de Paradela (Calvos e Randin), a terça parte de Meaus, a terça do pessoal de São Paio que trabalhasse fora do Couto (Misto) e a terça de Rubiás.

 

1600-barroso XXI (461)

 

E continua a Toponímia de Barroso:

 

Casal da Loba

 

Do nome latino casale de casa, significando a habitação como elemento fundamental da unidade agrária que sempre existia e sobre que recaíam os encargos fiscais. Mesmo depois de repartido o casal ou casar o seu “cabeça de casal” ou “cabeceiro” era responsável pelo foro nos limites originários do mesmo. Loba é o nome feminino (de mulher)  Lupa, nome de condessa ou rainha “usurário e prepotente” que tanto move o imaginário dos Galegos da fronteira!

Sobre este casal lançou mão D.Afonso III e deu-lhe carta de foro:

-1268 «in meo regalengo de Requianes (Requiás, na Galiza, perto de Randim e Tourém) in loco qui vocatur Casal da Loba in Barroso»

 

1600-barroso XXI (197)

 

Toponímia Alegre:

 

Em Tourém

Não dá quem tem

Senão quem quer bem!

 

1600-tourem (132)

Ao fundo, numa placa colocada na casa está incrito “ A D.Manuel Barros e pobo de Tourém, polo seu apoio ós republicanos galegos – Xullo / 2000”

 

E continua a Toponímia Alegre:

 

Os de Tourém sobre os de Montalegre:

 

Baixas casas e altas torres

Algumas árvores, poucas flores;

Juízes, delegados e escribões

De pais a filhos todos são ladrões;

Olvide, se levardes bolsa

Vende lá onde a pões!

 

1600-tourem (139)

Átrio interior da Casa dos Braganças

E remata a Toponímia Alegre:

 

Sinal da cruz do cabaneiro

Pelo sinal dos maus amos

Que tão fartos estejam

Como nós nos levantamos.

Deus os faça a eles criados

E a nós amos;

Para saberem o trabalho

E a fome e o frio

Que nós rapamos.

Sinal da cruz do patrão

Quatro coisas quer o amo

Do criado que o serve;

Deitar tarde e erguer cedo.

Comer pouco e andar alegre!

 

1600-barroso XXI (356).jpg

 

E começamos a chegar ao final deste já longo post sobre Tourém, mas antes, quero ainda aqui deixar dois links que devem consultar pela informação interessante que neles contém, uma para um sítio no Facebook que dá pelo nome de:

 

I Love Tourém

 

O outro é para o site da Casa dos Braganças, convertida em Turismo Rural:

 

Casa dos Braganças

 

1600-barroso XXI (484)

 

E para finalizar um pequeno vídeo com todas as imagens de Tourém publicadas até hoje neste blog:

 

Link para ver diretamente no youtube ou partilhar: https://youtu.be/9xlVqMLf2dk

 

 

BIBLIOGRAFIA

BAPTISTA, José Dias, (2006), Montalegre. Montalegre: Município de Montalegre.

BAPTISTA, José Dias, (2014), Toponímia de Barroso. Montalegre: Ecomuseu – Associação de Barroso.

FONTES, Lourenço, Etnografia Transmontana II - Comunitarismo do Barroso, edição do autor, Montalegre, 1977.

 

WEBGRAFIA

http://www.cm-montalegre.pt/

http://www.lendarium.org/narrative/lenda-da-serra-da-mourela/?tag=421

 

 

 

 

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