O Barroso aqui tão perto - Ventuzelos
Aldeias do Concelho de Boticas
VENTUZELOS
Boticas
Iniciamos hoje a abordagem da última aldeia da freguesia de Boticas-Granja, a aldeia de VENTUZELOS, que até a última reorganização de freguesias pertencia à freguesia da Granja.
Deslizemos então o garabelho e entremos em Ventuzelos.
Ao contrário do que nos aconteceu com duas das aldeias aqui abordadas, que também pertencem a esta freguesia, mais precisamente a aldeia de Eiró e Sangunhedo, que para as descobrirmos, ou melhor, para as distinguirmos da Vila de Boticas, tivemos de pedir ajuda, com Ventuzelos, depois de sabermos da sua existência, não tivemos qualquer problema com a sua localização, demos com ela à primeira… bastou seguir a placa indicativa que está na estrada, um pouco antes de se entrar em Boticas.
A descoberta não foi complicada porque sabíamos ser próxima da Granja e a aldeia está isolada de outras construções, ou seja, é uma pequena aldeia concentrada que não tem mais que vegetação à volta. Aliás no post que dedicámos à aldeia da Granja, na referência e transcrição que fizemos de um documento de 1758, um inquérito que Marques de Pombal enviou para todas as paróquias, já tínhamos abordado a sua localização, que é bem curiosa, pelo que a sito aqui de novo – “Está a igreja no meio do lugar e anexo a ela um lugarejo chamado Ventuzelos, que consta tão somente de oito fogos já supra numerados, e ficará a uma distância de um tiro de mosquete.”
Portanto já sabíamos que Ventuzelos ficava a um tiro de mosquete da Granja, o problema aqui apenas o de saber qual o alcance em metros de um tiro de mosquete. Claro que não há conversor de tiros de mosquete para metros, mas há a história do mosquete, e num documento que encontrei, dizia por lá que o alcance máximo de um tiro de mosquete era de 90 a 100m. Ora o vigário Manuel Dias que respondeu ao inquérito do Marques de Pombal não se enganou por muito, isto se considerarmos o mosquete original, e depois o vigário não o afirma com certeza, foi bem claro “ficará”, e para o entendimento comum, é bem mais fácil compreender uma distância dada por uma “imagem” do que a entender por uma distância em metros, ou km, que na altura até as distância até se mediam em léguas, que no Barroso tinha duas medidas, as das léguas, e as “léguas que a velha mediu” e que António Granjo ficou a conhecer bem na subida que fez de Boticas até à Serra das Alturas. Se tiver alguma curiosidade em conhecer a lenda das “léguas que a velha mediu” fica um link no final deste post para a crónica de António Granjo, em que a mesma é referida.
Ventuzelos já está mais que localizada, e em relação à aldeia da Granja, é só atravessar a estrada que liga Sapiãos a Boticas e do outro começa-se logo a subir para Ventuzelos, já agora, o tal tiro de mosquete, na realidade hoje medida, será de uns 400m (mais metro, menos metro) desde o largo da igreja da Granja até ao início da aldeia de Ventuzelos.
Como vem sendo habitual também hoje deixamos aqui o itinerário recomendado, o nosso mapa com a localização e os mapas e imagens do Google maps e earth. Desde já fica o aviso que o itinerário que recomendamos não é o mais rápido nem o de menor distância, mas é o mais interessante para quem vai de passeio, e no final, vistas bem as coisas, são apenas mais 4km, ou 10 minutos de viagem que valem bem pelo que recebe em troca.
Pois desta vez não vamos sair de Chaves pela N103, vamos antes sair por Casas dos Montes e depois seguimos por Valdanta, Soutelo, Seara Velha, Ardãos, Nogueira e Bobadela, depois sim, entramos na N103 até Sapiãos e logo a seguir a Granja, quando chegar a esta última, que fica ao lado esquerdo, fique atento a uma placa e saída que vai aparecer à direita, que diz precisamente Ventuzelos, é por aí que deve ir e logo a seguir encontrará a aldeia. Não estranhe se não vir desde a estrada ou desvio, pois ela só se deixa ver quando entramos mesmo nela.
E agora que já sabemos como chegar até Ventuzelos, entremos então na sua intimidade que, depois de termos percorrido todas as aldeias do Barroso, já vamos sabendo o que nos espera, o mesmo que acontece nas aldeias de Chaves e nas de Vila Pouca de Aguiar por onde temos andado ultimamente, mas o mesmo vai acontecendo por todas as aldeias de Trás-os-Montes, das Beiras e todo o interior, os números não mentem, basta ver para onde evoluem os números dos últimos CENSOS da população e a linha de tendência a partir dos CENSOS de 1960.
Visitámos Ventuzelos no feriado de 5 de outubro de 2018, segundo o calendário já em dia de outono, mas ainda a saber a verão, num dia lindo de sol e recordo que ainda quente, já passava do meio dia, mais próximo até da 1 da tarde, hora de almoço e má para conversas com quem quer que seja, pois o despertador da barriguinha já começou a tocar, mas também não encontrámos ninguém com quem conversar ou sequer, ó menos, para cumprimentar. Apenas um cão em jeito de sentinela se abeirou do que restava de uma construção, bem lá no alto, no sítio que costuma ser dos gatos, mas este era diferente, nem sequer ladrou, apenas nos observava com se fosse um sentinela verdadeiro, mas cá para mim estranhou apenas o ruido na rua e, apenas curioso, veio espreitar quem era, e eramos nós. E troco sempre umas palavras com eles porque sei que eles nos entendem, pelo menos entendem se vamos por bem ou por mal, e como nós vamos sempre por bem, não custa nada dar dois dedos de conversa, às vezes, depois, até nos acompanham na visita, outras vezes não. No caso, ficou onde estava, em silêncio e nós lá fomos, sempre com um olhar atento de encaixilhar momentos.
Sem conversas, fica mais tempo para os pormenores e embora não veja ninguém, vejo as coisas que fizeram, as casas que construíram com as próprias mãos, pedra sobre pedra, as ruas, os canastros, mas são os pormenores os que mais me atraem e as soluções construtivas que engendram, nos acrescentos das casas, nas curiosas soluções que encontram para resolver problemas, porque sempre houve artistas nas aldeias e até mestres, principalmente no que tocava a madeiras, pedra e ferro, saberes feitos de experiência que passavam de geração em geração, e às vezes, o mais estranho, é ver que estes engendros funcionam.
Já atrás dissemos que a nossa visita foi em hora imprópria para conversas e a certo momento a barriguinha também começou a falar mais alto que a nossa curiosidade e olhares, depois os parceiros que me acompanham, nestas horas, também começam a reclamar, por tudo e por nada, assim , mais vale ficarmos pelo suficiente desde que nele tenhamos o essencial, o resto são pormenores que até podem dar jeito e servir de desculpa para um dia, com tempo, passarmos por lá com outro olhar e com sorte, até com outra luz, que parecendo que não, até pode fazer a diferença.
E chegou a hora de partir, deixar a aldeia, fechar as cancelas das hortas e as portas, só nos resta deixar por aqui o nosso vídeo resumo com todas as imagens que hoje aqui foram publicadas, vídeo que agora também podem ver no MeoKanal e no nosso canal do YouTube.
Aqui fica, espero que gostem:
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Fica também o link para a lenda das léguas que a velha mediu e que atrás referimos: aqui
No próximo domingo teremos aqui o resumo da freguesia de Boticas-Granja.