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CHAVES

Olhares sobre o "Reino Maravilhoso"

13
Mai19

O Barroso aqui tão perto - Vila da Ponte


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No Barroso aqui tão perto de hoje vamos até à aldeia e freguesia de Vila da Ponte. Ao contrário do que temos feito até aqui, iniciando com as nossas impressões pessoais sobre aquilo que vimos e sentimos nas nossas visitas a Vila da Ponte, vamos já para aquilo que oficialmente se diz sobre a localidade ou aquilo que encontrámos nas nossas pesquisas em documentos e outra bibliografia, com as nossas anotações, quando necessário ou acharmos oportuno. Iniciamos então pelo seu brasão da freguesia e logo de seguida o que se diz na página oficial do Município de Montalegre.

 

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Escudo prata, três feixes de três espigas de trigo de verde, atadas de vermelho; em campanha, ponte de três arcos irregulares de negro, lavrada de prata, movente dos flancos e nascente de um pé ondado de azul e prata de três tiras. Coroa mural de prata de três torres. Listel branco, com a legenda a negro: «Vila da Ponte - Montalegre».

 

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Ná página oficial do Município de Montalegre temos o seguinte:

 

Vila da Ponte

Sendo uma das freguesias barrosãs com menos área distribuída é, porém a mais produtiva por metro quadrado de terreno.

Por outro lado, a povoação sede ainda é uma das mais populosas, pois aparece em oitavo lugar (ao lado de Solveira) no conjunto dos 135 povoados do concelho. Tal indicação (ao lado de outros indicadores bem significativos) deve servir como aviso aos poderes vigentes no sentido de providenciarem uma distribuição mais equitativa dos benefícios às populações. É a única freguesia que não tem acesso à outra povoação!

 

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Das glórias de que sempre gozou (sem que alguma vez tivesse pretendido obstruir as legítimas capitalidades – honras, coutos e sede concelhia) todas lhe vão sendo injustamente sonegadas com evidentes malefícios para uma população ordeira e esclarecida! Orgulha-se das suas villae, disseminadas ao longo do ubérrimo vale e várzeas e bem testemunhadas em documentos medievais e na toponímia vigorante; dos seus castros estrategicamente colocados sobre linhas de água que entram no Regavão; dos seus monumentos funerários (tipo/cistas, achados em dois outeiros, Donim e Gorgolão, sobre os quais corriam lendas cheias de encanto; do seu outeiro (altarium) onde os mais remotos indígenas ergueram altar para adorar os seus deuses e sobre o qual, ao lado do Paço (que hoje é o cemitério local) edificaram o seu oratório ou basílica, que é agora a igreja; da sua velhíssima ponte que unia os vales marginais e que, durante séculos, foi a única passagem invernal para as povoações de entre-os-rios. Por falarmos do rio lembramos que devemos continuar a dizer Regavão.

 

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Com v ou com b, não importa visto que não tratamos de modismos. Mas era assim sempre que o povo dizia! E dizia bem como sempre! Ora, o mais antigo documento conhecido até hoje chama-lhe Regavam (1258)! Que nós saibamos é o único rio transmontano que se pode gabar de ter uma monografia publicada em letra de forma, da autoria do Prof. da Universidade de Coimbra, Raul Miranda, em 1938.

 

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Área: 10.7 km2

Densidade Populacional: 16.4 hab/km2

População Presente: 176

Orago: Santa Maria Madalena

Pontos Turísticos: As Cistas; Moinhos; Igreja e Museu Paroquial; Canastros; Castros e Via Romana ( Vila da Ponte).

Lugares da Freguesia(2): Bustelo e Vila da Ponte.

Morada: Junta de Freguesia de Vila da Ponte, Rua do Outeiro da Costa n.º 2

5470-543 Vila da Ponte - Montalegre.

 

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Aqui talvez seja interessante referirmos o comportamento do número de população residente ao longo dos anos, desde que há registos de censos (a partir de 1864).

Pois então é assim, nesse mesmo primeiro ano de registos, a freguesia tinha 379 habitantes residentes. A população esteve sempre a crescer até ao CENSOS de 1930, em que atingiu os 466 habitantes, descendo nos CENSOS de 1940 para 421 habitantes e subindo novamente em 1950 para os 570 habitantes.  Este último acréscimo de 149 habitantes, pela certa que se deveu à construção da Barragem da Venda Nova em que a freguesia atingiu o máximo da sua população até aos dias de hoje, pois a partir de 1950 a população tem vindo sempre a descer, atingindo nos últimos CENSOS apenas 178 habitantes residentes. Se a matemática funcionar, segundo a linha de tendência do comportamento da população, em 2050 a freguesia da Vila da Ponte não terá habitantes.

 

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Os números do último parágrafo, à primeira vista, são preocupantes, isto se forem analisados isoladamente. Já não o são tanto porque o que se passa na Vila da Ponte passa-se em quase todo o interior de Portugal. São números do despovoamento rural em que os senhores de Lisboa já deveriam estar a trabalhar seriamente neles para os contrariar, isto antes que se atinja o ponto de não retorno, isto é, em que vai ser impossível contrariar o despovoamento total. Aí, lá teríamos que dar razão àquela velha máxima de “Portugal é Lisboa e o resto é paisagem!”. Mas vamos acreditar que não, vamos ser otimistas e acreditar em soluções para contrariar este problema.

 

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Passemos à monografia de Montalegre, cujo autor, ao que sei, é um vila-pontense.

 

Castros “Celtizados e Romanizados”

Apesar de não existir uma Carta Arqueológica do Concelho, cumpre deixar dito que há inúmeros monumentos que merecem referência. O nosso território foi habitado desde o Megalítico como fazem prova os muitíssimos monumentos desse período e que a nossa toponímia preserva: antas, mamoas, motas, forninhos, dólmenes, etc. Estas construções estão disseminadas por todo o concelho. Da mesma época, mas muito mais raros (e denotando já um avanço importante nas técnicas de produção de cerâmica) são as Cistas de que temos exemplares conhecidos e únicos, em Trás-osMontes, na Vila da Ponte.

 

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Ao nível artístico e artesanal os Celtas não têm paralelo. Os seus objectos de adorno, em oiro, prata, cobre, ferro e bronze são fruto de uma perícia manual imbatível. Vejam-se, a título de mera referência, os torques de oiro do castro de Outeiro ou os objectos de bronze de Solveira e Vila da Ponte, aqueles expostos no Salão Nobre da Câmara Municipal e este no Museu Dr. Mendes Correia, na faculdade de Ciências do Porto, onde se encontram também os três vasos da 1ª Cista da Vila da Ponte, dita de Donim, achada em 1931.

 

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Achados - Moedas

Os achados de conjuntos monetários mais importantes são os de Penedones (doze denários de prata que se perderam), da Vila da Ponte (cinco excelentes denários de prata e alguns bronzes médios), Minas da Borralha com mais de 3 mil médios bronzes e Montalegre, com mais de novecentas peças, quase todas denários com magro banho de prata. As moedas destes achados não ultrapassam o século III. Da mesma altura são as aras votivas a várias divindades, que os romanos acolheram, como o Deus Larouco (Vilar de Perdizes); outras dedicadas ao deus Júpiter (Vilar de Perdizes e Chã); e outras mais, anepígrafas, em Pitões e Tourém. Ainda desses recuados tempos são as estelas funerárias cujo exemplar mais conhecido, segundo Hübner, relatava a morte de um tal “Camalo Mibois, falecido na idade de 46 anos” à descida para o rio Cambela, entre Vila da Ponte e Friães, junto da via romana.

 

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As Igrejas, Capelas, Alminhas e Cruzeiros

Vestígios de estilo românico nas Igrejas de S. Vicente da Chã, Viade e Tourém. É justo salientar que diversas outras igrejas datam dos primeiros tempos da monarquia e seriam incluídas nesse estilo. Acontece que foram sofrendo remodelações – muitas vezes a fundamentis – que as descaracterizaram. A última grande febre dos arranjos deu-se nos princípios do século XVIII e, por isso, os edifícios exibem datas dessa altura. Por exemplo: Pondras -17; Santo André- 1813; Vila da Ponte – 1710, etc. Contudo, a maior riqueza das nossas igrejas encontrase no interior: tanto em muitos dos seus santos que escaparam à usura de sacristães, padres e “homensbons”, como na talha que as orna, sendo que uma boa parte dela se deve a ignorados artistas autóctones. Merecem algum realce certos exemplares como Salto, Santa Marinha, Covelo, Vila da Ponte, Viade, S. Vicente, e sobretudo, pelo ruralíssimo e humílimo conjunto de talha de S. Miguel de Vilaça.

 

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Os cruzeiros são mais de 60 e se lhes juntarmos os calvários ainda existentes com as cruzes das estações da via sacra serão três vezes mais. Destacam-se o de Salto, Pondras, Mourilhe, Codessoso de Meixedo, de Montalegre, o da Interdependência da Vila da Ponte, Negrões, Meixedo, Sabuzedo, Santa Marinha, Santo André, Penedones, Antigo de Serraquinhos, Sezelhe, Travasços do Rio, Vila da Ponte, Bustelo e Parafita!

 

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Os Penedos

São célebres por conterem inscrições ou gravados e, portanto, históricos: O penedo de Rameseiros, o afloramento de Caparinhos, o Altar de Pena Escrita (Vilar de Perdizes), O Penedo dos Sinais (Viveiro-Ferral), o Penedo do Sinal, o Penedo da Ferradura e a Pedra Pinta (Vila da Ponte), o Penedo de Letra (Gralhas), o Penedo de Pegada (Ferral). São igualmente célebres por serem incomuns: o penedo do Esporão (S. Lourenço Cabril), a Laje dos Bois (Lapela-Cabril) o Penedo da Pala (Cela-Outeiro) o Penedo da Caçoila (Pedrário-Sarraquinhos) A Casa dos Mouros ( Morgade), o Penedo Sagrado (Salto) A Mesa do Galo (Borralha-Salto), o Penedo da Caldeira (Vila da Ponte), o Castelo (Fervidelas), A Fraga, os Cornos da Fonte Fria, Altar de Cabrões (Pitões), o Altar da Moura (Frades-Cambezes) A Pedra Bolideira (Ponteira – Paradela), o Penedo do Touro (Chãos-Cabril) “ ao abrigo dele se podem defender das inclemências do tempo mais de duzentas cabras”, os Pedralhos (Vila da Ponte) onde escreviam o nome os emigrantes para o Brasil, alguns dos quais nunca regressaram à terra, a Pedra da Gola Furada e a Pedra que Tine (Seselhe), o Penedo Buraco da Serpe (São Ane - Cabril) e uma infinidade de outros mais ao longo do concelho de Montalegre.

 

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A Aldeia

Moram em casas de granito, algumas muito bonitas, mas a falta de educação estética e de outras educações, leva alguns a substituir os seus materiais por outros mais brilhantes e coloridos mas menos duradoiros e eficazes. Há várias povoações com núcleos de construções tradicionais, bem conservados, muitíssimo belos e dignos de ajuda para a melhor preservação do património construído. Estão neste caso Fafião, Pincães, Salto (diversos lugares de freguesia) Currais, Vila da Ponte, Viade, Carvalhais, Cervos, Donões, Gralhas, Tourém, Pitões, Parada e Sirvoselo. Em todas elas há núcleos construídos dignos de integrar os roteiros de visita ao património que o Ecomuseu defende.

 

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Embora a monografia de Montalegre apresente a imagem de um canastro de Vila da Ponte, não lhe são dedicadas nenhumas palavras em particular. Assim sendo, deixo eu aqui algumas palavras sobre o mesmo, pois é o maior canastro que eu vi até hoje, mesmo os maiores que vi, estão bem longe de atingir as dimensões deste, parece um comboio de 8 carruagens com os seus 8 módulos. Também os restantes canastros de Vila da Ponte, quer em número quer em tamanho são de considerar, demonstrando bem a riqueza das terras da freguesia.

 

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Por falar na riqueza das terras de Vila da Ponte fica mais um apontamento nosso. Numa das tardes em que fomos por Vila da Ponte, no café junto ao cruzeiro, em conversa com alguns habitantes, entre os quais estavam dois emigrantes em férias, um vindo do Brasil e outro da Inglaterra, este o Sr. Manuel Miranda, 74 anos,  com o qual conversámos mais, dizia-me ele a certa altura da conversa:

De Braga a Chaves não há outra aldeia como esta. Estou na Inglaterra há 44 anos, passo o verão aqui na Vila da Ponte, mas já fui à força, para Moçambique, 3 anos, para a tropa, com uma filha feita, depois vim e fui a salto para França, em 1968, estive lá  4 anos a trabalhar na construção civil… só quem conhece a vida antiga é que pode dizer alguma coisa. Havia aqui agricultores que quando chegava a arranca da batata, era o mês inteirinho e todos os dias havia aqui camiões a carregar batata para o Porto e Lisboa.

 

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Continuemos com a monografia de Montalegre:

 

Artesãos e Artesãs

Talvez seja preferível falar de artesãos do que de artesanato. Afinal, a par do Padre - Nosso e do Responso a Santo António, uma das primeiras coisas que a criança de Barroso aprendia, se rapariga, era bordar e fazer meia. Uma boa parte aprendia a tecer (há ainda grande quantidade de teares por essas aldeias) e a fazer tecidos, alguns dos quais lhes iriam servir de vestuário. Então as nossas igrejas e capelas mostravam à saciedade que afinal as mãos das mulheres de Barroso embelezavam como nenhumas outras os seus altares de devoção. Lindas toalhas de linho laboriosamente rendadas, com motivos locais e de simbologia caracterizadamente cristã. Desde sempre tivemos artesãos entre os melhores!

É ver a obra de Pedro Gonçalves “carpinteiro de Cambeses que depois casou em Salto” em cuja Igreja deixou “o taburno onde estão os Cristos na Capela do Senhor e o andor…”

É ver o que resta da obra do João Gonçalves Pintor, de Vila da Ponte (que fez a sua própria casa e cujas proporções deliciam ainda hoje os modernos arquitectos que a conhecem) pintor de nomeada que o distinguia dos mais e passou a apelido de família. Artista emérito que fazia as tintas de óleo com que pintava as suas obras sobre madeira de castanho. São conhecidos apenas dois quadros seus: um das Almas do Purgatório e outro de Santo António de Lisboa.

 

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Figuras

Há criaturas que pelas suas qualidades únicas servem de modelo aos comuns mortais e servem de título às diferentes páginas da História dos povos. Barroso também as tem. Dentre umas boas dezenas sobressaem os que aqui elencamos:

(…)

- Padre Gonçalo Barroso Pereira (séc. XVII) – Num manuscrito, pela maior parte de sua autoria, se apresenta desta forma: “Eu, o Padre Gonçalo Barroso Pereira, Reitor… de Salto, nasci no lugar de Seara desta freguesia, a meu pai chamavam André Pires e a minha mãe Inês Gonçalves, em Agosto de 1628.”… “Fui para a Vila da Ponte de 7 anos (1635) onde estudei com o Reverendo Giraldo Pereira aí vigário, primo direito de meu pai e não tive outro mestre.” Este manuscrito, em mau estado, as primeiras sete folhas quase ilegíveis e sem as últimas vinte, constituía-se, ao tempo, de noventa folhas e foi-me entregue para ser lido pelo seu possuidor, o meu grande e saudoso amigo José Jorge Álvares Pereira, de Pomar de Rainha. Foi-me penoso tomar apontamentos, dia e noite, em duas semanas, dos dados que então me pareceram mais curiosos, numa altura em que ainda não havia fotocopiadoras. Devolvi-o em tempo ao seu legítimo dono com quem passei muitas horas de alegria a interpretar os textos, alguns dos quais com imensa graça, arte e realismo. Julgo que o dito manuscrito já desapareceu, infelizmente. As notícias aí relatadas vão até 1703, já tinha o autor 75 anos de idade.

 

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Outra figura:

- Padre Manuel José Afonso Baptista (séc. XIX), natural de Vila da Ponte e o melhor aluno de um curso de teólogos que deu brado no seu tempo e dos quais se destacam: os Monsenhores Antas da Gama e Garcia de Oliveira, os Padres Domingos Barroso (Vilar de Perdizes), José Estrela (Esposende), Teixeira Martins (Faiões), João Afonso (Vila da Ponte) e o Cardeal Patriarca – Manuel Gonçalves Cerejeira. Foi um ilustre orador sagrado a quem os colegas chamavam o “Leão de Barroso” e deixou alguns sermões manuscritos. Em letra de forma existe o conhecido “Elogio fúnebre” do Monsenhor José Fernandes que os colegas do falecido decidiram publicar. O seu espírito solidário levou-o a acolher alguns galegos perseguidos pelas falanges de Franco, durante a guerra civil espanhola.

 

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Na rota das barragens também há uma referência à Vila da Ponte, uma referência natural pois Vila da Ponte fica mesmo ao lado do Rio Rabagão, entre as barragens dos Pisões e da Venda Nova:

Passando o dique da barragem de Pisões, continue pelo vale do Alto Rabagão até Vila da Ponte, assim chamada pela sua ponte medieval, de origem pós - romana, sobre o rio Rabagão, e a cista funerária, com 4.000 anos. Em S. Fins, começam os panoramas da albufeira da Venda Nova . A estrada acompanha a linha de água até à Venda Nova, ao longo das margens suaves, rodeadas de lameiros e pinhais.

 

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Sobre o que a monografia Montalegre diz sobre a freguesia de Vila da Ponte, não o vamos deixar aqui porque já ficou atrás transcrita, pois é precisamente o mesmo que a página oficial do município diz. Assim, passemos para a toponímia de Barroso, curiosamente do mesmo autor da monografia e portanto do mesmo vila-pontense José  Dias Batista.

 

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Entremos então na Toponímia de Barroso:

 

VILA DA PONTE

Esta “Vila” teve a sua parte urbana, no Outeiro da Vila, que terá sido um remotíssimo OPPIDUM onde o romano invasor fez erguer residência. Hoje, chama-se Outeiro, por antonomásia, mas há poucos anos atrás chamavam-lhe o Outeiro da Vila e até Outeiro de Fundevila (porque existem outros outeiros) e, ali bem próximo, corre o Regueiro da Vila! A nascente, o Paço < Paacio < Palatiuu – onde agora está a Igreja, o cemitério, a casa, eira e canastro do lavrador Barroso e outras casitas a nascente.

 

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Em 1753, foi por ali construída (de novo) a residência paroquial e na verga superior da porta inscreveram o letreiro: « Pontis Villae, Paroquialis sedes.1731» — o que, evidentemente, significa Vilas da Ponte E, se consultarmos as INQUIRIÇÕES de 1258, parece ser mesmo de diversas “vilas” que se trata conquanto os tabeliões do tempo lho não chamem: à roda das veigas e várzeas, junto das linhas de água, resistem os topónimos e vestígios arqueológicos que o atestam. Como podemos constatar, sem ultrapassar os próprios limites actuais da pequena freguesia, temos na margem direita do Rio Regavão:

 

1 -  O Castro Valongo;

2 -  Os Cortelhos;

3 – Guiães;

4 – Belela / Vilela;

5 – O Castelo;

 

Na margem direita do Rio Regavão temos:

6 -  Castro de Andelle

7 -  As Cistas do Gorgolão e de Donim

8 – Outros topónimos

9 – A Cidade de Sabaraz

10 – O Castro de Armada

 

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Por falta de espaço aqui no blog, somo obrigados a abortar aqui a descrição destes topónimos atrás enumerados bem como as restantes páginas da Topónimia de Barroso dedicadas à Vila da Ponte, num total de oito páginas, no entanto o essencial já ficou. Mas há ainda espaço para a Toponímia Alegre:

 

A Maria Madalena

Não quis ermida no monte

Quis morar entre os vizinhos

Lugar de Vila da Ponte

 

Vila da Ponte foi vila,

Chaves foi nobre cidade,

Montalegre, bandalheira

Como toda a gente sabe!

Canto no rio e no monte

Inda não sei o bastante;

Eu sou da Vila da Ponte

Arre burro! P’ra diante

 

Olhai que Vila da Ponte

Tem um cruzeiro de pedra:

Tira o chapéu da cabeça

Quem passa naquela terra.

 

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Já sei que as chamadas FAKE NEWS (notícias falsas) são populares pela internet, mas espera-se que de um organismo oficial, no mínimo, o que relatam seja verdadeiro. Sobre a Ponte de Vila da Ponte vejam o que se escreve no SITE oficial da Turismo do Porto e Norte de Portugal:

 

PONTE ROMANA DE VILA DA PONTE

Vila da Ponte tem uma longa história, retratada nos vestígios arqueológicos e património que vai encontrando no Percurso Pedestre da Via Romana. A ponte que dá nome à terra, em granito, terá sido a primeira ponte a ser construída sobre a ribeira de Cabril. Apresenta um tabuleiro em cavalete, com a rampa ao lado esquerdo maior que o do direito e o pavimento em lajeado, assente em três arcos de diferentes tamanhos, os quais crescem da esquerda para a direita. Os dois mais pequenos são de arcos perfeitos, enquanto o terceiro é levemente apontado. Na margem direita, à entrada da povoação, existe um cruzeiro com moldura e inscrição frontal.

Atravesse-a e demore-se pela via romana, um percurso pedestre que proporciona um passeio prolongado e tranquilo pela história e património da aldeia, como os diversos monumentos funerários, entre castros e cistas, que atestam a presença de população há muitos séculos.

Local: Montalegre

 

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Aparentemente tudo está bem, mas no mínimo é vergonhoso que uma instituição pública que pretende promover o turismo o faça assim, sem o mínimo de rigor,  pois comentem-se dois erros crassos, primeiro a ponte NÃO é romana, mas sim, MEDIEVAL e depois a ponte não é sobre a ribeira de Cabril, mas sim sobre o Rio Rabagão.

 

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Vamos acreditar antes no que diz a página oficial da Direção-Geral do Património Cultural, onde aí sim, parece estar correto:

 

Ponte Velha e Cruzeiro de Vila da Ponte

(IPA.00003649)

Portugal, Vila Real, Montalegre, Vila da Ponte

 

Ponte medieval, de arco e tabuleiro em cavalete sobre arcos desiguais, talha-mares agudos e guardas laterais de cantaria, com cruzeiro simples. O tabuleiro forma cavalete desigual devido assentar sobre dois arcos plenos, de tamanho crescente, e um terceiro quebrado, maior.

Descrição

Ponte de tabuleiro em cavalete, com a rampa da margem esquerda de maior comprimento, assente em três arcos de desigual tamanho, aumentando da margem esquerda para a direita. Entre os arcos, a montante, talha-mares agudos altos. Os dois arcos mais pequenos são de volta perfeita, sendo o maior levemente apontado. Parapeitos laterais constituídos por uma única fiada de cantaria. Pavimento lajeado. Cruzeiro: situado à entrada da ponte, na margem direita, integrado no parapeito lateral. Plinto cúbico com moldura e inscrição frontal. Cruz latina de secção rectangular com inscrição nos braços horizontais: "AGRADECIDO. AO. SENHOR. A. D. P.". No plinto, defronte da cruz, entalhe e encaixe para a caixa de esmolas.

Cronologia

Época medieval - provável construção da ponte; 1626 - reconstrução do arco quebrado; 1886 - construção dos dois arcos de volta perfeita.

 

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Na mesma página do património cultura, temos também a referência à:

 

Igreja Paroquial de Vila da Ponte / Igreja de Santa Maria Madalena

 

Cronologia

Séc. 17 - provável constituição da freguesia, pertencendo ao concelho de Ruivães; foi curato anexo à abadia de Santa Marinha do Ferral e da apresentação do abade, passando mais tarde a reitoria independente; 1853, 31 Dezembro - extinção do concelho de Ruivães; 1860 - data do primeiro registo de baptismos documentado.

 

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Ainda no SITE dos Monumentos Nacionais aparecem sobre a freguesia de Vila da Ponte registos de outro património de interesse, mas, infelizmente, ainda sem dados, apenas a referência, a saber:

Capela de Nossa Senhora das Necessidades

Capela de Nossa Senhora de Fátima

Casa da Retorna              

Cruzeiro de Bustelo

Igreja Paroquial de Vila da Ponte / Igreja de Santa Maria Madalena

Ponte Velha e Cruzeiro de Vila da Ponte

 

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No início avisei que este post iria ser feito ao contrário daquilo que é habitual, ou seja, que as nossas impressões pessoais sobre aquilo que vimos e sentimos nas nossas visitas ficariam para o fim do post, e estamos chegados a essa fase. Iniciemos com o itinerário para chegar a Vila da Ponte, como sempre a partir de Chaves.

 

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Pois destas vez vou optar pelo caminho mais direto, sempre pela mesma estrada desde Chaves até à entrada de Vila da Ponte, por aquela estrada que atravessa o Barroso de lés-a-lés, pela EN 103. Nada que enganar, é só tomar a EN103 em Chaves, nas calmas, passar toda a barragem dos Pisões, e cerca de 3.7km à frente verá o desvio para Vila da Ponte.

 

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Embora indique este itinerário, a minha primeira abordagem a Vila da Ponte foi mais rural, pois foi feita pelo interior a partir da aldeia de Bustelo, a outra aldeia da freguesia. E em boa hora o fiz, pois além desse pequeno trajeto ser bem interessante e cheio de verdura, faz-se a entrada pela ponte medieval, para mim o motivo de mais interesse na Vila da Ponte.

 

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Ponte essa que serviu de cenário ao filme “Je m'appelle Bernadette (Soubirous) - 2011” sobre a vida da vidente da virgem de Lourdes em frança. O filme é falado em francês mas está legendando em espanhol, com muitas cenas filmadas ao redor da ponte de Vila da Ponte mas também com algumas filmagens no concelho de Boticas e no de Chaves, nomeadamente em Vilarinho Seco e nos moinhos de Curalha em Chaves. Se quiser ver o filme, fica aqui o link:

 

https://gloria.tv/video/ZSj1w2TzxHxG3FZrYi1oQksGp

 

Desde já um agradecimento ao Humberto Ferreira, um companheiro de viagem na descoberta do Barroso,  por me alertar para este filme e me disponibilizar o link. Para já ficam duas imagens que roubei ao filme da Bernadette.

 

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Quanto ao resto de Vila da Ponte, perguntando-me a mim próprio do que mais gostei!? Pois gostei da ponte, muito interessante e com um enquadramento perfeito, não me estranha nada que tivesse sido escolhida para o tal filme. Depois gostei do espantoso canastro de oito módulos, das sombras das ramadas lançadas sobre as ruas, principalmente de uma que fica junta ao tal canastro de 8 módulos e a uma casa com capela onde descansámos e nos refrescamos um pouco com uma agradável conversa com duas senhores que por lá também se abrigavam do calor. Suponho que é junto a esta ramada que é a Casa da Retorna (mas não tenho a certeza do que afirmo), isto por causa da capela.

 

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Claro que também gostei da envolvência de Vila da Ponte, com os seus campos verdejantes, e também do casario no seu conjunto, sem esquecer o pormenor dos canastros e da Igreja Paroquial.

 

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Por último o fator humano, sempre bem recebidos por todos quantos abordámos das três vezes que por lá passámos, numa delas,  com um pouco de tarde bem passado na esplanada do café junto ao cruzeiro na companhia dos vila-pontenses que lá estavam.

 

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Também uma palavra de apreço para o Presidente da Junta Paulo Pinto pela forma como sempre nos recebeu, mas também por algumas dicas que nos deu para este post, para além de algumas dúvidas que ajudou a esclarecer.

 

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E ainda antes de terminarmos, inauguramos hoje aqui, tal como temos vindo a fazer ultimamente com as aldeias de Chaves, a feitura de um vídeo com todas as imagens do post. Assim quando quiserem matar saudades de Vila da Ponte, basta ver o vídeo sem as palavras pelo meio a atrapalhar. Espero que gostem e podem partilhar o filme, fica também link para ele.

 

 

 

Link para o vídeo: https://youtu.be/4F2q3S5ogr8

 

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E agora sim, terminamos mesmo (este longo post) com as habituais referências às nossas consultas

 

BIBLIOGRAFIA

 

BAPTISTA, José Dias, Montalegre. Montalegre: Município de Montalegre, 2006.

BAPTISTA, José Dias, Toponímia de Barroso. Montalegre: Ecomuseu – Associação de Barroso, 2014.

 

WEBGRAFIA (Consultas em 11 e 12-04-2019)

 

https://www.ine.pt/xportal/xmain?xpid=INE&xpgid=ine_publicacoes

https://www.cm-montalegre.pt/pages/476

http://www.portoenorte.pt/pt/o-que-fazer/ponte-romana-de-vila-da-ponte/

http://www.monumentos.gov.pt/Site/APP_PagesUser/SIPASearch.aspx?id=0c69a68c-2a18-4788-9300-11ff2619a4d2

 

 

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