O Barroso aqui tão perto... Vilarinho de Negrões
Vilarinho de Negrões
Hoje vamos até Vilarinho de Negrões, aquela que é considerada por muitos uma das aldeias mais bonitas de Portugal e eu confirmo, que sim, vista no seu conjunto e a uma certa distância, poucas lhe chegarão aos calcanhares, principalmente quando a barragem está a topo e a água parece entrar por algumas casas adentro, e na realidade pouco falta para tal.
De onde quer que se aviste mantém a sua beleza, embora pessoalmente goste mais de a ver com a Serra do Larouco de fundo que embora ainda distante, a sua altura impõe-se e parece ser uma das que contém as águas da Barragem dos Pisões (como comummente é conhecida por nós) ou do Alto Rabagão, pois é este o seu nome oficial.
Também se tivermos olhares seletivos, mas ainda à distância, podemos igualmente fazer com Vilarinho de Negrões belas composições, tão ou mais belas ainda que com o seu conjunto, ou seja, fotograficamente falando, podemos fazer desta aldeia mil e uma composições, então se aproveitarmos as diferentes horas do dia ou as diferentes condições meteorológicas, podemos acrescentar ainda outras tantas composições.
Resumindo, Vilarinho de Negrões é um destino obrigatório de qualquer fotógrafo, nem que seja uma única vez na vida, mas pela certa que depois de se descobrir, não se resiste a passar por lá repetidamente e aproveitar o momento que é sempre diferente, é assim como uma mulher bonita que esteja como esteja é sempre bela e nunca nos cansamos de a fotografar.
Se entrarmos na aldeia, embora seja também é interessante, o discurso já é diferente. As verdades têm de ser ditas, pois no Barroso há uma mão cheia de aldeias que na sua intimidade são bem mais interessantes que Vilarinho de Negrões, e algumas delas já passaram por esta rubrica, mas mesmo sendo como é, vale sempre a pena sentir o seu pulsar e depois tem sempre a magia da proximidade da água, isto se a barragem estiver cheia.
E no seu interior podemos encontrar pelo menos duas casas mais nobres ou mais ricas, alguns canastros sempre interessantes, uma pequena capela, alminhas, tanques, fontes e o típico casario tradicional de granito, mais humilde mas com soluções construtivas sempre interessantes, algumas mantendo ainda os beirais elevados que antigamente serviam para acondicionar e proteger as coberturas de colmo. Pena que nestas aldeias barrosas não haja ainda uma ou duas construções cobertas de colmo, seria ouro sobre azul e um testemunho histórico para os mais novos saberem como eram as coberturas de colmo, que também tinham a sua arte.
A aldeia não é grande e sofre dos mesmos males da maioria das aldeias transmontanas, ou seja, o despovoamento e o envelhecimento da população. Visto de outra perspetiva, geralmente as aldeias despovoada e envelhecida são as que mantêm a sua integridade de aldeia, onde não há grandes atentados arquitetónicos, mantendo na grande maioria as construções típicas e tradicionais do Barroso e de Trás-os-Montes onde o granito à vista e a madeira são os principais materiais das construções.
Quanto ao resto e visualmente falando, a envolvência da aldeia caracteriza-se pelo azul do céu que refletido nas águas da albufeira lhe dá a mesma cor a esta, contrastando com o verde das pastagens e o vermelho alaranjado da cobertura do casario. Vista ao longe, Vilarinho de Negrões pode-nos dar ares de uma pequena ilha junto à costa.
Resumindo, Vilarinho de Negrões mesmo com os senãos da aldeia em si agravado ainda pelo despovoamento, envelhecimento da população e o abandono do casario, merece ser considerada uma das aldeias mais bonitas de Portugal e não só. Aliás todo o Barroso é assim, um pequeno paraíso dentro do reino maravilhoso que Torga cantava. Um bom destino para quem gosta de férias e passeios em contacto com a natureza e o verde vivo dos campos a contratar com o verde escuro de uma floresta maioritariamente autóctone, onde o carvalho é rei e senhor, onde o povo em geral é hospitaleiro e recebe bem, mantendo a sua dose de desconfiança como convém.
Falei atrás do verde dos campos e hoje assim é na maioria do Barroso e à volta da maioria das aldeias do Barroso. Geralmente quem não o conhece tem a ideia de um Barroso agreste e árido, que também existe, principalmente nas pontos mais altos das serras e montanhas onde apenas a vegetação mais rasteira como a urze e carqueja se dão, mas descendo às terras mais baixas, o verde e a água, são um traço comum à maioria do Barroso, onde não faltam as vacas e os toiros a pastarem livremente também um pouco por todo o Barroso.
E falta falar de um ponto alto também do Barroso e que visitantes e turistas também apreciam – a gastronomia do Barroso. Geralmente quando saio aqui da terrinha parto sempre com a preocupação de onde se pode comer, de preferência bem e se possível os pratos característicos da região. Pois quando parto para o Barroso nunca levo essa preocupação, pois já sei que esteja onde estiver há sempre um restaurante perto onde se come bem e, curiosamente também se bebe bem (bom vinho). A curiosidade está em que no Barroso não se produz vinho, pelo menos de qualidade, mas nas suas adegas há-o sempre e do bô.
Pois hoje tivemos que deixar por aqui, maioritariamente, as nossas impressões pessoais sobre aquilo que vimos e conhecemos, pois nas nossas pesquisas poucas informações encontrámos sobre a aldeia com exceção do livro “Montalegre” de autoria de José Dias Baptista, publicado pelo Município de Montalegre em 2006. Uma pequena referência a um filho da terra cuja história se cruza também com a história da cidade de Chaves e que daremos conta a seguir:
“ (…) Em 1862, nasceu em Vilarinho de Negrões, Domingos Pereira. Ordenado padre e já abade de Refojos (Cabeceiras) contra vontade de seu tio, o também padre João Albino Carreira, filiado no Partido Regenerador, filiou-se no Partido Progressista. Fiel ao seu credo partidário, tornou-se amigo íntimo de Paiva Couceiro e recusou aderir à República em 1910.
Perseguido, como os outros chefes monárquicos, após a estrondosa derrota, no espaldão da carreira de tiro, em Chaves, foi condenado a 20 anos de penitenciária. Conseguiu colocar no Brasil os seus “soldados, na ordem de alguns milhares” e regressou a Espanha e à sua actividade conspiratória. Conspirou a vida inteira. Depois da amnistia de Sidónio Pais, teve acções preponderantes na proclamação da “Monarquia do Norte”, em 1919, participando nos combates de Cabeceiras, Mirandela e Vila Real.
Restaurada a República exilou-se em Espanha e foi condenado à revelia a 20 anos de prisão maior. Excluído, como Paiva Couceiro, da amnistia concedida aos monárquicos, regressou em segredo, em 1926, a Cabeceiras, onde viveu até 1942.
Por falar em condenações, é de lembrar a condenação de José Pereira, de Lamachã, em 1947, a 29 anos e meio de cadeia “acusado de ser o autor moral” dum crime que de certeza não cometeu. Eram assim os tribunais e juízes fascistas.
Esta freguesia (e a maior parte de Barroso) ganhou direito à imortalidade através da documentação fotográfica “La Mémoire Blanche” de autores estrangeiros.”
Para terminar, só um pequeno apontamento àquilo que transcrevemos do livro de “Montalegre”, nomeadamente no último parágrafo onde refere à « documentação fotográfica “la mémoire blanche” de dois autores estrangeiros.». Pois acho que tinha ficado bem dizer quem são esses autores, porque de facto o trabalho deles é marcante e impressionante merecedores de que conjuntamente com o seu trabalho “la mémoire blanche – Negrões” contem os seus nomes: Gérard Fourrel e Gilles Cervera, dois jovens Bretões que ficaram rendidos à beleza fria e dura do Barroso, com o contrates do branco que cobria as serras e montanhas e o negro da terras preta esgaravatada pelos barrosões.
Foto do livro Negrões - la mémoire blanche de Gérard Fourel/Gilles Cervera
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