Palavras colhidas do vento...
O blogue Chaves faz doze anos de existência e claro que não poderia deixar de saudar o feliz evento. Doze anos em idade de gente é idade de dúvidas e interrogações, que não, no caso de um blogue, antes se poderia falar de certezas, respeitável existência e garantia de perdurabilidade.
Por isso, embora soe a juiz em causa própria, felicito o Fernando Ribeiro e todos os colaboradores que participam no blogue, e em relação a mim, salvaguardada a contradição… abstenho-me.
E de aniversários se trata mais o que vier. A minha irmã, um dia depois de regressar ao “Alentejo profundo”, como diz, também comemorou aniversário.
Desde o restaurante onde janto, organizei um coro improvisado, formado pela cozinheira e os donos e cantamos-lhe os “parabéns a você…” ao telefone. Com tanto sucesso o fizemos, que, não estranhem se à vossa porta na noite de Reis, aparecer um barbudo com ares de indigente, uma cozinheira com gorro e avental, uma empregada de mesa com o respectivo pano no braço e laçarote, e alguém com uma factura na mão… correspondente ao valor da cantoria.
A quem não correu bem o aniversário, festejado nos últimos dias de Dezembro do ano defunto, foi ao meu irmão. Ofereceu-se uma viagem a Paris, acompanhado da mulher e uma das filhas e apanhou uma séria gripe que o levou a ser internado num hospital parisiense. E dali só teve alta com a recomendação expressa de não sair do quarto de hotel.
Muito azar e o que se chama: “ver Paris por um canudo.”
Chama-me a Dona Maria e diz que tem uma coisa a contar-me de que vou gostar. Aproximo-me e recita-me ao ouvido:
- “ Mário Esteves, vê lá se podes dar a tua cabeçada,
Que a cabeçada faça o seu serviço.
E se a bola meteres nas redes,
Ninguém tem nada com isso!”
Referia-se ao meu pai que jogou futebol.
Mas a Dona Maria não se ficou por aqui.
“Sabe, antes na cidade, havia uma rivalidade muito grande entre o Atlético e o Flávia (clubes que deram origem ao Desportivo de Chaves). Eu sempre fui do Atlético, como toda a sua família que conheci muito bem. Num jogo, o Riconcas do Atlético, rebentou a bola. O Grangeia, guarda-redes do Flávia, exclamou:
- Rapazes, já nem Cristo nos tira a vitória!
O Atlético estava a perder três a zero!”
O Riconcas ouviu e ripostou com raiva:
“- Nem Cristo, nem o c…! Não haveis de a levar!
Sabe qual foi o resultado?” Pergunta-me.
“ Cinco a três, ganhou o Atlético!” E despede-se nos seus sorridentes noventa anos.
Mário Esteves