Pecados e picardias
A Taverna
A taverna cheia de odores
Os melhores…idílicos sabores
Alimento da libido …das papilas
Escrutinando prazeres essas meninas
Prazeres frequentes obrigatórios
Guardados nas subtilezas da cozinha
Transformados em aromas invocatórios
Da inteligência da cozinheira dona Bertinha
Nesta hora da refeição …tanta gente
Como sentia a solidão… presente
Tinha de servir rapidamente o prato do dia
Era a pressa do retomar o trabalho do dia a dia
Desde a manhã a trabalhar …
Já começava a sentir o cansar
Mas hoje ia ser um dia diferente
Vinha o javardo e ela ia estar presente
Os homens…
Ignoravam as mulheres…sempre
Mas ela estava lá fazendo-se ausente
E às ordens…
Pensavam que ela não existia
O homem esse… para ele era a criada
Nunca demonstrava ver o seu ar de cansada
Nem a solidão que transmitia
Quantas vezes sonhava com a liberdade
Aquela de não ter de fazer nada
Quando a vida lhe desagradava
A vida de solteira …que saudade
Sentia o peso da dureza do dia a dia
Sempre que fazer as compras e o comer
O cansaço tirava-lhe agora a alegria
Que em tempos a sua face transmitia.
O homem à noite já nem a procurava
Ia para a cama já ela estava deitada
Fazia que dormia embora acordada
Aquela nostalgia até de madrugada
Mas hoje ia ficar a pé até tarde
Queria ver o que o javardo trazia
Perceber qual o motivo de euforia
O que na sua presença provocava alarde…
O javardo não lhe saía da cabeça
Mal podia esperar pela noite
Olhou para a comida na mesa
Acabou de almoçar à pressa…
O homem pouco comeu
Ela sabia que estava agitado
Sabia o que aconteceu
Tinha a cabeça no passado…
Perdeu a noção do tempo
Em que se tinham desencontrado
Onde ficou todo o alento
E o entusiasmo? Tudo acabado…
E a culpa ? De quem foi?
Sua …Dele…da vida
Agora unidos pela rotina
Acostumou-se, já nem dói…
Tinha de lavar a loiça
Preparar as merendas
Para ela era pouca coisa
Aguentava… até as contendas…
Fez pataniscas de bacalhau
Colocou-as dentro do balcão
Polvo com molho de colorau
Estufou moelas com açafrão
Hoje a excitação evitava o cansaço
Queria descobrir de uma vez por todas
O que se passava quando ele chegava
Há algum tempo que desconfiava
Apesar do movimento da tarde
Sentiu que ia custar a passar
Tinha mesmo que disfarçar
A ansiedade dor que arde
No fundo nunca se conformou
Com as desditas de ser mulher
Até consigo própria barafustou
Por se render à falta de poder
Mas um dia percebeu com clareza
O poder que tinha …à mesma
Quando o homem perdia o olhar
Em regaços proibidos…de tocar
Isabel Seixas