Pedra de Toque
Estou tão triste, de estar triste…
Estou tão triste,
De estar triste…
A tristeza entra na pele,
Como o cinzento dos dias
E a humidade das noites.
E dói, mas não há quem acuda.
Antigamente,
as tuas mãos eram torres
da catedral em que me acolhia.
E o teu sorriso lenitivo,
Bálsamo que minorava.
Hoje, do teu semblante
Perturbadoramente sereno
Não sai um esgar
Que acenda a esperança.
As pálpebras pesam
E o corpo encarquilha.
O rio (sei de um rio, sei de um rio…)
Vai carreando as águas para a quietude do fim.
Quando estou triste,
Fico à espera, não de Godot,
Mas da tua sombra viva,
Poisada no meu peito.
Estou tão triste,
De estar triste…
António Roque