Pedra de Toque
O Cine Teatro de Chaves
Encerrado há mais de 30 anos, a atual Câmara, em boa hora, decidiu requalificar o antigo Cine Teatro da cidade, sito bem no centro do burgo.
Segundo projeto, o novo espaço dará lugar a um multiusos, que terá uma forte componente de investigação e de inovação.
Poderá voltar o teatro ao caroço da cidade, bem como o cinema e outras atividades.
Esta requalificação (a obra já é visível) era um velho sonho, uma grande aspiração para as nossas gentes.
Até pela sua localização este edifício poderá ser fundamental para a reanimação do nosso belo centro histórico.
Antes do Cine Teatro foi Cine Parque, uma sala lindíssima, cuja boca de cena estava ladeada por dois camarotes que a malta apelidou de “penicos” donde os mais jovens apreciávamos desenhos animados, o Bucha e Estica e outras vedetas do cinema mudo que nos proporcionavam francas gargalhadas.
Na geral, ao fundo da sala, com bilhetes baratinhos, nas matinés, víamos filmes agradáveis, sobretudo de aventuras no oeste Americano que a malta jovem apreciava, os célebres filmes de cowboys, alguns que viraram clássicos como o “Shane” ou “Da terra nascem os homens”, entre outros.
Na adolescência víamos fitas que puxavam ao sentimento e à lágrima no canto do olho. Recordo “Sissi”, “Joana D’Arque” e muitos mais.
Por aqui foram exibidas grandes fitas como “Os canhões de Navarone” ou “A ponte do rio Kwai” e o grande sucesso que trouxe muitos espanhóis a Chaves “O último tango em Paris”.
Mas no palco do Cine Teatro também se representaram peças, também se fazia teatro.
Para além de companhias de fora, os amadores flavienses aí se exibiam.
Ficaram na memória “O Frei Luís de Sousa” numa brilhante encenação de José Henrique Dias e muitos saraus do Liceu e da Escola Técnica que enchiam sempre a plateia e o balcão da sala.
Eu tive o orgulho e o privilégio de com outros interpretar as peças “O processo de Jesus” e “A gota de mel” entre outras, dirigidas pelo saudoso e amigo José Henrique.
Nas décadas de 50/60 e 70, o Cine Teatro foi muito importante para os habitantes da cidade e para a juventude que por cá foi crescendo.
Tornei-me cinéfilo e amante do teatro vendo espetáculos no velho Cine Teatro.
Não quero terminar esta crónica sem lembrar “o escurinho do cinema” que acontecia antes da projeção do filme.
O silêncio vinha dos camarotes onde os adolescentes timidamente apertávamos a mão da menina dos nossos encantos.
Era bonito e gostoso de mais.
Estou-me a lembrar de ti.
António Roque